terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

“TUDO COMO D’ANTES NA TERRA DE ABRANTES”: AS DESTRUIÇÕES DAS CHUVAS E O PODER OMISSO.

Um pobre ajuda outro pobre!

“Os livros não são de quem os tem, mas de quem os lê”! Recolhi da estante “Então Foi Assim- Os Bastidores da Criação Musical Brasileira”, de Ruy Godinho, volume 1, 3ª edição da Abravideo, onde há relatos de como muitas canções brasileiras foram idealizadas e a singeleza destes momentos memoráveis e sublimados pela inspiração humana. Deparei-me com a letra do samba “Zelão”, do compositor João Mansur Lutfi, conhecido no meio musical como Sérgio Ricardo, que foi também cineasta e autor de trilhas sonoras de Glauber Rocha. Por ocasião do Festival de Música Popular Brasileira, da TV Record, de São Paulo, em 1967, inscreveu sua música Beto Bom de Bola, que foi classificada para a final. Foi apupado pela platéia, não o deixando prosseguir, acabou por quebrar seu violão e atirá-lo sobre o público proferindo “Vocês Venceram”, em uma época de “transe” contra o golpe militar ocorrido no Brasil em 1964. Isto não faz parte do livro citado, mas ocorreu como fato real e gravado pela emissora, sendo seu ato de protesto pelo momento repressivo.

O que está relatado no livro é que na cidade do Rio de Janeiro, em 1960, desabou um “violento temporal, desses que causam enchentes e alagamentos, provocam desabamentos e deslizamentos, soterram favelados e causam mortes.”
O autor morando um pouco acima da tragédia via pela janela a desolação e vendo despencar uma enorme barreira, mas que por sorte não causou maiores danos, pois haviam poucas moradias por perto. Assistido o noticiário ficou impressionado com a declaração de uma senhora em resposta a um repórter ávido em recolher uma notícia diferenciada:

“Mas agora como vocês vão viver depois dessa tragédia?

Como vocês farão, por exemplo, com comida?

“Aqui não vai ter muito problema com isso não. Um pobre ajuda outro pobre até melhorar”.

Este diálogo já mostrava omissão do poder público e o descaso com o povo brasileiro e a vergonha do Estado em não dirigir objetivos de geração de bem estar social por muito tempo.
O caso ocorrido há meio século vem mostrar a insensatez de ocupação desordenada e sem opção aos desamparados por longa data, e que causam reflexos de geração em geração, onde os governos manipuladores dão o mínimo necessário de subsistência, sem ações concretas de melhorias e que por falta de amparo causam proporções devastadoras. A sensibilidade do artista ficou no registro analítico desta ótica na canção “Zelão” onde imprimi todo lamentável fato com as causas e efeitos naturais que afligem muitos pelo descaso.

Zelão

Todo o morro entendeu quando Zelão chorou
Ninguém riu, ninguém brincou e era carnaval
No fogo de um barracão
Só se cozinha ilusão
Restos que a feira deixou
E ainda é pouco só
Mas assim mesmo Zelão dizia sempre à sorrir
Que um pobre ajuda outro pobre até melhorar
Choveu... Choveu
A chuva jogou seu barraco no chão
Nem foi possível salvar violão
Que acompanhou morro abaixo a canção
Das coisas todas que a chuva levou
Pedaços tristes do seu coração
Mas todo o morro entendeu quando Zelão chorou
Ninguém riu, ninguém brincou e era carnaval

Este fato repetitivo há muito é evidente e proclamado ao longo do tempo pelos estudiosos cientistas e pesquisadores, onde os efeitos naturais ocorridos no meio ambiente por intempéries, causam devastação em encostas ocupadas pela população que só acontece pela omissão e falta de políticas públicas do Estado brasileiro.

Todos os governos que ocupam o Estado são cúmplices, não há exceção, pois cada qual com sua participação partidária criam a cada ciclo, análises evasivas culpando sempre os governantes anteriores, não escapam do “minha culpa”, pois as mentiras são eternizadas por seus lideres arcaicos, despóticos que demandam unicamente seus próprios interesses e perpetuam-se no congresso por longa data, como senadores e deputados federais ávidos pelo poder vitalício, uma perfeita ditadura de mando, ditadores de seus cargos, controlando com um paternalismo de “pão e circo eterno” oferecidos àqueles que vivem a mercê das migalhas em investimentos sociais e que jamais chegam aos necessitados, a quem se deveria direcionar medidas eficazes de planejamento de ocupação de áreas de risco, evitando assim ocupação de áreas eminentes aos deslizamentos de superfícies e seu entorno, ceifando vidas caras nas encostas do Brasil.

O tempo do mandato destes escroques governantes deveria ser de duas legislaturas, evitando se perpetuarem no poder, como acontece com os mandatos dos governantes do executivo, presidentes e prefeitos, obrigando a rotatividade do poder em todas as esferas, evitando deste modo as influências maléficas de nichos de controle dos benefícios partidários, que, aliás, ocupam os cargos de vários escalões sem o mérito reconhecido por falta de formação ao compatível cargo ocupado.A essência morosa das repartições públicas estão proporcionalmente imbricadas nesta incapacidade destes gestores que controlam estas esferas que não buscam resultados eficazes não aplicando soluções de efeitos para resolver o problema crucial do bem estar do povo não respondendo a real importância da grandeza do país, importador de toda sua necessidade.

A riqueza da nação é meramente extrativista, ou de um visionário que teima concorrer com as multinacionais. Não se agrega valores em beneficiamento e se exporta “in natura” toda a riqueza de solo, com equipamentos das próprias empresas extrativistas que controlam o mercado internacional e cavam os morros indo nas entranhas e no útero da terra.
Mudar o modelo de gerenciamento dos benefícios provenientes destas riquezas advêm de medidas para os benefícios serem revertidos as melhores condições sociais, não simplesmente beneficiamento das oligarquias, mandando as “favas” as favelas e cortiços e a ocupação de áreas de belezas naturais frágeis e de riscos eminentes que também são cobiçadas pelo setor imobiliário ávidos de lucros imediatos.

Nosso compromisso é imediato, não há como protelar mais esta situação de desgoverno, onde os efeitos naturais dizimam sonhos de independência, restando a morte dos filhos seus, que não foge à luta, mesmo largado a própria sorte, que o fogo agora também destruiu, e era carnaval...

Sem comentários: