segunda-feira, 28 de junho de 2010

Represa de Guarapiranga e a Volta do Monumento ao Paredão

Parques Públicos na Orla da Represa de Guarapiranga

Há uma “gentrificação”, enobrecimento da cidade de São Paulo e que agora se expande para o extremo sul do município na orla da Represa de Guarapiranga, em operação desde 1907, época em que no Rio Pinheiros, construiu-se o canal de alimentação que passa pela ponte da Estrada do Guarapiranga, ligando-se com a Represa, sendo referência os fundos do Clube Atlético Indiano, de muita tradição, fundado em 1930. Desta origem segue o que se denominou chamar de Barragem, ou popularmente Paredão, barreira de contenção das águas da Represa. Em 1906, a Light iniciava as obras da conhecida Represa de Santo Amaro, depois denominada Represa de Guarapiranga, com barreira de contenção de 1,5 km de comprimento, 19 metros de altura e armazenagem para 200 milhões de metros cúbicos de água.

Neste início da orla, em 1927, amerissaram intrépidos pilotos da Primeira Travessia do Atlântico, nas pessoas de Francesco De Pinedo, italiano, natural de Nápoles, e João Ribeiro de Barros, brasileiro, natural da cidade de "Jahú", e onde se erigiu o Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico, para perpetuar a história e em homenagem ao fato, e que por longos quase 60 anos permaneceu um marco intocável, sendo que em 1987 o Governo Municipal transferiu o monumento para a Praça Nossa Senhora do Brasil, no Jardim América, local que não possuía nem vínculo com a travessia do Atlântico, nem com a Represa Guarapiranga. Seguindo pelas Avenidas De Pinedo e João de Barros, que também se seqüestrou o Ribeiro, será construído o primeiro parque da orla da Represa Guarapiranga, com nome de "Parque Barragem", que muito bem caberia o nome "Travessia do Atlântico". Esta orla no passado também já possuiu o galhardo nome de "Riviera Paulista". Este parque será inserido na história da Capela do Socorro, e de todos quanto, de alguma maneira, fazem parte desta região de Santo Amaro, São Paulo. Partindo deste ponto até a esquina da Avenida Robert Kennedy, que também, um dia, chamou-se Avenida Atlântica, ligada ao fato da travessia citada, teremos aproximadamente 90 mil metros quadrados previsto investimento na ordem de 1,5 milhões de reais. Seguindo à frente já na Avenida Robert Kennedy, antiga Atlântica, teremos o segundo parque com a denominação "Parque Praia de São Paulo", que terá limites em frente de grandes clubes náuticos e outros afins, como o São Paulo Athletic Clube (SPAC), São Paulo Yatch Clube (SPYC), Yatch Clube de Santo Amaro (YCSA), Marina Atlântica, Golf Center Interlagos, em frente ao clube Centro Associativo Fazenda Estadual, CAFE, n.º 2447, da referida avenida. Um pouco mais à frente temos o Club ADC, Marina Silvestre, Bombeiros Interlagos, com larga experiência em salvamento de submersão, pois próximo à base há o que, costumeiramente, os banhistas de fins de semana chamam de Prainha, que carece de cuidados especiais, pois se trata da Guarapiranga Beach Paulistana. Segue mais à frente o Clube Desportivo Municipal (alterado atualmente para "Comunitário" por autoridades municipais) de Iatismo (CDMI). Tudo isto está demarcado em área física de 18 mil metros quadrados de parque inteiramente arborizado, com orçamento próximo de um milhão de reais.

Nas proximidades deste, um pouco adiante na Avenida Robert Kennedy, teremos o terceiro parque com o nome "Parque Castelo", área de extrema beleza e preservação onde encontramos o Clube de Campo Castelo, sendo seus limites na outra margem com o campo de futebol do Barcelona Capela, e abrangerá 87 mil metros quadrados, também orçados próximo de um milhão de reais.

Após este, teremos o quarto parque previsto para 538 mil metros quadrados, o maior deles, com investimento na ordem de 5,4 milhões de reais, denominado "Parque Nove de Julho", onde se estruturarão quadras diversas, ciclovias, campos de futebol, pistas, enfim, uma série de complementos que deverão ser disponibilizados ao lazer diário da população, pois há um número grande de bairros adjacentes a todos estes empreendimentos que serão idealizados.

O quinto e último é o "Parque São José", com 95 mil metros quadrados, embora tenha dimensões semelhantes aos dois primeiros terá investimento maior, na ordem de 5,7 milhões de reais, pois será constituído de uma infra-estrutura reforçada de equipamentos por estar próximo das confluências das Avenidas Robert Kennedy e Senador Teotônio Vilela, onde há grande contingente populacional, tendo como ponto de referência de localização, atrás da Universidade de Santo Amaro, UNISA, unidade Interlagos, próximo a cidade Dutra, onde do outro lado segue-se em direção ao "Autódromo José Carlos Pace", comumente chamado de Interlagos, em homenagem a um dos grandes pilotos brasileiros, dentre tantos, onde se destacam curvas marcantes como a Curva "S" do Senna, do lendário e inesquecível piloto Ayrton Senna, sem esquecer-se dos irmãos Fittipaldi, que muitas alegrias trouxeram ao esporte automobilístico, juntamente com Nelson Piquet, e outros tantos excelentes pilotos brasileiros!Assim, pela expansão da cidade de São Paulo sobre a periferia do extremo sul de São Paulo, há necessidade de uma infra-estrutura compatível ao local, pois estamos dentro de um manancial necessário ao bem estar humano, e que a população merece, sendo necessária sua "preservação" deste investimento próximo dos quase 15 milhões de reais, vindos dos governos Estadual, Municipal e do Banco Mundial.

Volta também em julho de 2010, ao seu local de origem o "Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico", do escultor italiano Ottone Zorlini, inaugurado em 21 de agosto de 1929, que homenageia o feito dos heróicos aviadores, que foi erigida na Represa do Guarapiranga, um marco e reparação do Governo Municipal, responsável por aprovar a remoção em 1987, onde o administrador sempre tem responsabilidades dos feitos do poder a que se sujeita!


"Desistimos de incriminar as circunstâncias e de com elas nos preocupar quando vemos outrem aceitar as mesmas circunstâncias plácida e alegremente. Quando as coisas não correm na medida dos nossos desejos, muito contribuirá para o nosso contentamento pensarmos nas coisas agradáveis e encantadoras que nos pertencem; na mistura, o melhor eclipsa o pior. Quando os nossos olhos são ofuscados pela claridade excessiva, nós acalmamo-los olhando para a verde relva e para as flores; todavia, mantemos a mente absorta com o que é penoso e forçamo-la a remoer sem trégua os vexames, desviando-a violentamente de pensamentos mais reconfortantes".
(Plutarco, in "Do Contentamento")

Totem Fascista ou Monumento aos Heróis Aviadores da Travessia do Atlântico e o Monumento à Independência.

Translado definitivo: julho de 2010, da Praça Nossa Senhora do Brasil, Jardim América para o Parque Barragem, Capela do Socorro; Santo Amaro, São Paulo. Valor R$ 394.992,77 Deparamo-nos com o contexto estampado em matutino de circulação corrente em São Paulo, com os dizeres: “Totem Fascista de volta à Guarapiranga”. Parece que o Monumento aos aviadores da primeira travessia do Atlântico, sem escala e suporte naval, é tudo: estátua, totem menos ser o que representa sua real constituição: Monumento!

Não irei declinar novamente sobre estátua e monumento, mas o que representa a matéria e a especificada definição totem, pelo acadêmico Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, em o Novo Aurélio, Dicionário da Língua Portuguesa, século XXI, Editora Nova Fronteira:

“totem: em diversos povos e sociedades, animal, vegetal ou qualquer entidade ou objeto em relação ao qual um grupo ou subgrupo social, coloca-se numa relação simbólica especial, que envolve crenças e práticas especificas, variáveis conforme a sociedade ou cultura considerada”.
Que há relação simbólica do Monumento por ser um épico humano, onde o momento permitiu o ato heróico que culminou com o sucesso da chegada, é fato notório e confirmado pelos anais históricos, mas não uma prática de ancestralidade. Existe um fato que precisa ser exposto às gerações que não participaram do momento histórico, mas não se trata de um objeto de peregrinação de cunho religioso.
O "Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico", de Ottone Zorlini, não é mera estátua, nem um totem, mas realmente um Monumento, pois “Monumento é Documento”, de feitos humanos, o único animal a fazê-lo em registro histórico! Outro fato é a repetição do termo “fascista”, também já colocado em texto anterior, mas se há interesse em refletir como algo desmerecido, temos outro monumento representativo, no Ipiranga, de Ettore Ximenes, escultor italiano, onde nos vértices da base do pedestal central
“em cada vértice, formado pelos quatro painéis em granito, que envolvem a base do pedestal, há um fascio, símbolo do império romano, que significa o poder de vencer os inimigos da nação”, explicação esta que se encontra no interior do referido “Monumento à Independência”, do Brasil! Além disso, na entrada das escadarias externas do Museu Paulista, conhecido por Museu do Ipiranga, há também os referidos fascios completados com as franquisques! Não se define em momento algum que ambas as representações tenha cunho do autoritarismo! Isto deixa evidente a importância dos Monumentos à Independência do Brasil e Aos Heróis Aviadores da Travessia do Atlântico, suas reais representações.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

SONHOS MONUMENTAIS

Santo Amaro, São Carlos, Jau e a Volta do Monumento aos Aviadores

Raridades da aviação fizeram-me deslocar por 350 quilômetros, acrescidos pela ida a cidade de Jau, do comandante João Ribeiro de Barros, para vê-las neste maravilhoso acervo no “Museu Asas de Um Sonho”, da TAM, em São Carlos, além de certa relação com a cidade, pois meu bisavô casou-se na cidade em 1904. Saímos de São Paulo com a convicção de ir ao encontro da história, memória da audácia de homens desbravadores, e que minha formação acadêmica sempre perseguiu.
Quando jovem estudava na Avenida De Pinedo confluência com Avenida João de Barros, (outro erro crasso, pois falta o Ribeiro) onde neste local situava-se o Monumento pela amerissagem da primeira travessia Atlântica, entre continentes, nome antigo da avenida que circunda a Represa de Guarapiranga, depois mudada para Avenida Robert Kennedy, nome este sem relação alguma com o feito histórico. Depois de formado em mecânica industrial tornei-me projetista de ferramentas de fundição de motores Mecedes-Benz, na extinta SOFUNGE, na Vila Anastácio, Lapa, e lá passei a admirar ainda mais o pioneirismo da industrialização paulista, embora tardia, dava todo o suporte as necessidades “destes homens malucos e suas máquinas voadoras”. Fui estudar história, pois estava no sangue como autodidata; alcancei o bacharelado e licenciatura e assim comecei a perseguir um sonho: reabilitar a volta do monumento seqüestrado de Santo Amaro, na Capela do Socorro. Textualizei em 2008 “A Represa do Guarapiranga e a Primeira Travessia do Atlântico” dando referência ao "Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico", de Ottone Zorlini com escultura de bronze, denominada “Vitória Alada”, lembrança do sonho de Ícaro.
O descrédito por parte dos detentores de recursos do Estado fazia-nos perseverar e acreditar mais em poder reaver para o local citado o Monumento, e não estátua, em homenagem aos intrépidos aviadores, e que fora “seqüestrado” ao tempo do governo municipal, do então prefeito Jânio da Silva Quadros e levado em 1987 para a Praça Nossa Senhora do Brasil, na região do Jardim América, local sem vínculo nenhum com a travessia.
A saga do hidroavião JAHÚ e a volta do monumento tornaram-se obsessão. Em 2008 tentei rever o avião, que anteriormente estava na OCA, no Ibirapuera, Museu da Aeronáutica, mas o museu da TAM à época havia fechado para reforma, fiquei um pouco apreensivo por não saber quando poderia rever o JAHÚ, pois o mesmo havia sido abandonado anteriormente e estava em disputa judicial, havia o desrespeito com a “obra prima”, caso corriqueiramente comum com a história do país.
Neste ínterim o foco era lutar em prol da história pelo retorno do Monumento ao seu local de origem. Fiquei contente quando meia dúzia de abnegados estava sonhando o que eu também sonhava, integramo-nos para ir às autoridades locais buscar respaldo e adesão. No primeiro instante as autoridades mostraram-se céticos, sem saberem a importância do que nós achávamos importante, que era o Monumento no seu local de origem, na Represa de Guarapiranga. Fomos expondo a idéia como formiguinhas repassando nossa intenção ao rol de nossas relações. Os políticos não pareciam interessados, mas historiador “é um teimoso até a idéia se concretizar”; vendo uma oportunidade de efeito político os mesmos que se recusaram no passado abraçaram a causa e assim o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico, CONDEPHAAT, dava o aval para a volta do Monumento que tanto buscávamos reaver.
Repentinamente foram disponibilizados para operação de desmonte e montagem em seqüência criteriosa com recursos de emenda parlamentar, R$ 394.992,77 com centavos e tudo, para transportar o Monumento, marco da aviação. A batalha chegava ao fim, e o poder assumiu assim o retorno, com documentos oficiais. Esperamos que o translade seja feito com festividade à altura do feito, pela aviação brasileira sobrevoando o local com o merecimento que se faça jus.
Coincidentemente a TAM reabriu seu magnífico acervo para visitação, fato esperado por mim com certa ansiedade. Programamo-nos em ir atrás de rever nas “Asas de Um Sonho”, um sonho solitário que se tornou solidário, do Savóia Marchetti S-55 que foi parte integrante desta história, com os motores em V perfeitamente conservados, e aqui enaltecemos a perseverança da família Amaro e seu inesquecível comandante Rolim, pois como único exemplar no mundo, depois do que passou o hidroavião, podemo-nos orgulhar como brasileiro de possuir a única peça existente no mundo e com os dois motores Isotta Fraschini ASSO 500 HP
Do museu ainda deixo outra ressalva que era estar em frente com o Paulistinha, da Companhia Aeronáutica Paulista, de Baby Pignatari, da família Matarazzo, empresário da Caraíba Metais, que apaixonado por aviação e por uma atriz, nascida na Itália, à princesa Ira de Furstemberg brilhou nas telas do cinema, construiu nas matas afastadas da cidade um local aprazível para recebê-la convidando seus amigos, o arquiteto Oscar Niemeyer e o paisagista Burle Marx, (no hodierno nome perpetuado como parque) a dar o requinte ao local virginal de Mata Atlântica, no costado da Chácara Tangará, hoje condomínios entre Vila Andrade e Morumbi, em São Paulo, uma divisão de águas entre o urbano e o subúrbio.

O Thundebolt P-47 foi outro avião marcante, uma pelos feitos heróicos do “SENTA A PÚA!”, na campanha da segunda guerra mundial que a audácia do grupo de aviação de caça da FAB transformou ases da mais alta estirpe, muitas vezes sem o reconhecimento merecido por parte do Estado, mas foi também um “Monumento” que marcou meus olhos infantis quando meu pai levava-me a visitar os “oriundi” no “Bairro do Bixiga”. Estava lá um P-47 imponente na Praça 14 Bis, a praça esta lá sufocada pelos prédios e o Thundebolt “sumiu”. Uns falam que lá nunca houve um avião, outros que era a réplica do 14 BIS, mas minha mente gravou um instante óptico e ela não mente para mim.Depois seguimos para a cidade de Jau, paramos na “Praça Siqueira Campos” onde há um Monumento erigido em 1953, no centenário da cidade do comandante João Ribeiro de Barros e logo abaixo, na “Praça da República”, há talvez o mais antigo monumento relacionado ao feito, homenagem esta feita em 1927 pela comunidade sírio-libanesa, um pouco escondido atrás de uma fonte, entre folhagens. Seguimos ao “Cemitério Municipal Ana Rosa de Paula” e deparamos com o Mausoléu do Aviador, iluminado pelos raios de sol refletidos na morada de quem lutou muito e partiu cedo, mas deixando o legado de um sonho perseguido com todas as diversidades encontradas. Tive a feliz aproximação no Museu, com o presidente João Francisco Amaro, clássico anfitrião, requisitado pelos visitantes inclusive este missivista, falei de “nosso” sonho, ele ficou admirado, citei o valor do “resgate” do Monumento, ele ficou impressionado, disse-lhe que seria remoção e recuperação das peças, inclusive o “Capitel Compósito Romano” e limpeza do Ícaro Alado, não saberia dizer se o custo estava dentro dos parâmetros, mas havia na apresentação dos responsáveis um amadurecimento profissional.

Isto foi parte do que vi, indescritível, mas um pouco da historia da aviação nacional, e “quem dormiu e não sonhou perdeu o sono por não sonhar”!

"Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico”: Data Vênia

*"Que disse, fiz, portanto feito está."

"Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico", de Ottone Zorlini. Escultura em bronze com coluna romana autêntica em granito rosa doada pelo rei Victor Emanuel atualmente localizada na Praça Nossa Senhora do Brasil, esquina da Avenida Brasil com a Rua Colômbia, Jardim América, com translado definido para orla da Represa Guarapiranga, "Parque Barragem".

1) Monumento ou Estátua
Aos egrégios representantes do poder, há colocações de suma importância histórica quanto ao retorno do “Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico”, que por si já se define como tal, pois “Monumento é Documento” e visto desta maneira pelos historiadores. Monumento é obra ou construção destinada a transmitir à posteridade a memória de fato ou pessoa notável; estátua é escultura em três dimensões, que representa figura humana, ou não, por vezes sem expressão definida de valor histórico, portanto temos diante disto o que representa a obra em homenagem aos aviadores do Atlântico, Francesco Zefinelli, o Marquês De Pinedo e João Ribeiro de Barros, epopéia do pioneirismo heróico da tripulação, pois foi o primeiro feito realizado sem acompanhamento naval, somente realizado com o que havia de melhor em instrumentação à época.

2) Vitória Alada

No topo de um alto pedestal, uma escultura de bronze, chamada de “Vitória Alada”, lembrança do sonho de Ícaro, apontando na direção do Oceano Atlântico. Na face frontal do pedestal de granito, estrelas de bronze compõem a constelação do Cruzeiro do Sul, além de dois fascios que se encontram nas laterais; um deles com a esfera celeste e a inscrição “Ordem e Progresso” da bandeira brasileira; o outro, o símbolo de Roma: a loba amamentando os irmãos Rômulo e Remo.

3) Autor da Obra: O Italiano Ottone Zorlini

Outro fato relevante é quanto ao autor da obra. Evidentemente que possuímos grandes expressões na arte escultural que engrandece sobremaneira este campo expressivo e de reconhecimento internacional, mas ao dizer que o monumento em questão é obra genuína nacional foge ao contexto e expressa uma inverdade histórica.
O monumento que faz parte de um contexto que recebeu a sensibilidade de Ottone Zorlini, nascido em Treviso, Itália, em 20 de setembro 1891, fixou residência em São Paulo a partir de 1928 aonde veio a falecer em 06 de junho 1967. Inicia sua trajetória profissional, aos 13 anos, quando começa a trabalhar em uma fábrica de cerâmica; em Veneza a partir de 1906, cursa a Academia de Belas Artes, freqüenta os ateliês do escultor Umberto Feltrin e do ceramista Cacciapuoti. Na cidade berço renascentista executa várias obras e em 1927, vem para o Brasil realizar o “Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico” com participação da Sociedade Dante Alighieri, edificado junto à Barragem da Represa de Guarapiranga, próximo ao local das amerissagens, concluído em 1928 e inaugurado no dia 21 de agosto de 1929, definida pelo autor como “a junção ideal da época da Roma Antiga às modernas conquistas que renovam e perpetua a grandeza do passado”, obra realizada quando já possuía 37 anos, Em São Paulo berço da imigração italiana conheceu artistas como Mario Zanini, Francisco Rebolo e Alfredo Volpi, integrantes do “Grupo Santa Helena”, com os quais viajava para pintar os arredores da cidade e trechos do litoral paulista, integrando-se depois na formação do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo.
4) Os Fascios

Outra questão a elucidar é quanto à representação dos adornos laterais que causam polêmicas, apresentados e definidos na mídia como símbolo do fascismo:
“Dois fascios (feixes de lenha, que sustentam machados) de bronze nas laterais também ajudaram a apimentar a polêmica. Na época da primeira transferência, o passado controverso não foi esquecido: "Acaba hoje instalação do monumento fascista nos Jardins" e "Monumento ostenta símbolo fascista" foram títulos de reportagens na época da transferência da obra para os Jardins. A justificativa do prefeito Jânio Quadros era que a escultura estava "escondida" na zona sul”.
Primeiramente não é lenha, ou qualquer madeira tosca, para usar como combustível, mas forma a representação das varas de jurisdição a cargo da justiça. O termo latino “fasces”, na expressão fasces lictoris "feixe de lictor", era simbologia de origem etrusca incorporada pelo Império Romano, associado ao poder e à autoridade, denominado fasces lictoriae, por ser carregado pelo “lictor”, o qual na Roma Antiga, em cerimônias oficiais (jurídicas, militares e outras de poder) precedia a passagem de figuras da suprema magistratura, abrindo caminho em meio ao povo. O lictor era encarregado de convocar o réu, quando fosse solicitado pelo magistrado.
O Ícaro de asas abertas como que a fitar a imensidão do espaço e a sobrevoar a rota escolhida desponta o Cruzeiro do Sul, que são as cinco estrelas fixadas na base de sustentação. Na parte frontal do monumento apresenta-se a coluna romana que demonstra a beleza do “capitel” que remete o homem na busca incessante da perfeição. Em ambos os lados estão à representação da aplicação da lei, um molho de varas que era levado pelo “lictor”, o magistrado romano, e ao centro do fascio a “franquisque”. Um deles no Monumento tem a esfera celeste e a inscrição “Ordem e Progresso” da bandeira brasileira; o outro, o símbolo de Roma: uma loba alimentando os irmãos Rômulo e Remo. Durante a Segunda Guerra Mundial, os fascios de bronze do monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico foram retirados, pois diziam que refletia alusão ao fascismo, e toda simbologia que lembrasse os movimentos nacionalistas do Eixo, Itália, Alemanha e Japão foram proibidos, inclusive a língua.

5) Franquisque

Quanto a “machadinha” trata-se realmente de um “machado de guerra” de nome “franquisque” que foi utilizado durante os anos iniciais da Idade Média pelos francos, de onde extraiu-se o nome. Esta arma tornou-se característica desse povo, em especial durante os anos de 500 a 750 d.C. Apesar de ser mais comumente associada aos francos, por sua notória utilização durante o reino de Carlos Magno (768-814 d.C.), era também utilizada por outros povos germânicos, incluindo os anglo-saxões. A primeira referência ao termo francisque surge no livro "Ethymologiarum sive originum, libri XVIII", de Isidore de Sevilha (c. 560 - 636 d.C.), como o nome utilizado entre os espanhóis referia-se aos francos para se referir a estas armas, provavelmente porque eram utilizados pelos povos além dos Pirineus, para penetrar atacando e rasgando com puxão brusco e cortante o corpo do combatente inimigo.

6) Coluna Romana:

A Sociedade Dante Alighieri propôs a construção de um monumento “Aos Heróis da Travessia do Atlântico” junto à barragem do Guarapiranga, próximo ao local das amerissagens, inaugurado no dia 21 de agosto de 1929.
Escultura de bronze sobre pedestal de granito com fustel romana autêntica de granito rosa, doada pelo rei Victor Emanuel, retirada em escavação arqueológica milenar recém-descoberta no Monte Capitólio, em Roma. Em “Inventário de Obras de Arte em Logradouros Públicos da Cidade de São Paulo” tem citação como jônica, mas suas características são uma somatória junto ao estilo coríntio, valendo-se da união das duas para formar a ordem compósita. Para celebrar a aventura dos compatriotas, Benito Mussolini, primeiro-ministro da Itália, pelo reinado de Victor Emanuel, entre 1922 e 1943, enviou a São Paulo a coluna que foi incorporada à parte inferior do monumento pelo autor da obra.
A cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, também recebeu uma coluna romana do Monte Capitólio, doada em 1931. Implantada no Pátio do Instituto Histórico e Geográfico, na Cidade Alta, era conhecida como “Coluna Capitolina” ou “Coluna Del Prete”. Comemora a travessia em linha reta e vôo direto, sem escalas, de Roma à praia de Touros, realizada pelos aviadores Carlo Del Prete e Arturo Ferrarin em 1928. Associada à figura de Mussolini, a coluna foi derrubada em 1935, durante a Intentona Comunista.

7) Mussolini

Mussolini, primeiro-ministro da Itália entre 1922 e 1943, buscava interesses estratégicos nos vôos pioneiros e queria criar pontos de apoio para sua frota aérea. O tenente-coronel Francesco De Pinedo assumiu a direção do Estado Maior da Aeronáutica e era chamado por Mussolini de “Senhor das Distâncias” por causa da viagem pelo Atlântico e pelas duas Américas. O hidroavião Savóia Marchetti S-55, com amerissagem estilo catamarã e com características militares, recebeu o nome de “Santa Maria”, lembrando a descoberta da América pelo navegador genovês Colombo, nome de uma de suas caravelas. No livro “Il Mio Volo Attraverso l’Atlantico e le Due Americhe”, De Pinedo relata que, durante sua permanência no Rio de Janeiro, foi convencido por “oriundi” de São Paulo, onde a colônia italiana era numerosa, a desviar sua rota e pousar na Represa de Guarapiranga em Santo Amaro, quando sua rota previa parar apenas em Santos. Assim o hidroavião chegaria à Represa de Guarapiranga, com efusão da multidão às margens da represa aclamando o feito do sucesso. Deste modo abriram-se novos horizontes para implantação da aviação comercial unindo continentes distantes.

Em 1985, o Instituto Cultural Umbro-Toscano de São Paulo solicitou a readequação do local de implantação do monumento à Prefeitura. A entidade temia pela integridade da obra, e o translado foi realizado pelo governo municipal em 1987, cujo resgate histórico ocorrerá no ano de 2010, com seu retorno ao local de onde nunca deveria ter saído; às margens da Represa de Guarapiranga, São Paulo.

*"Cui dixit, fecit, autem factum est."

VIDE:
Federico, Maria Elvira Bonavita. Meio Ambiente e Degradação Cultural. São Paulo: FAPESP, 2005

CAPITEL DO "MONUMENTO AOS HERÓIS DA TRAVESSIA DO ATLÂNTICO"

Capitel com Volutas e Folhas de Acanto: Ordem Compósita

O "Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico" foi idealizado pelo escultor italiano Ottone Zorlini; atualmente localizada na Praça Nossa Senhora do Brasil, esquina da Avenida Brasil com Rua Colômbia com translado definido para a Orla da Represa de Guarapiranga, "Parque Barragem", na Capela do Socorro, São Paulo, local da amerissagem dos aviadores, comandante Francesco De Pinedo e João Ribeiro de Barros em 1927; com hidroaviões Savóia Marchetti em reide.

O Monumento foi edificado junto à barragem de Guarapiranga, concluído em 1928 e inaugurado no dia 21 de agosto de 1929, definida pelo autor como “a junção ideal da época da Roma Antiga às modernas conquistas que renovam e perpetua a grandeza do passado”. Monumento este formado por escultura em bronze denominada “Vitória Alada”, lembrança do sonho de Ícaro, além do Fuste, (do latim: pau de madeira), que é o elemento vertical de apoio, constituindo a parte central, fazendo a ligação entre a base de apoio (socalco de sustentação da coluna) e o capitel, constituindo desta forma a coluna, onde o fuste é de autêntico granito rosa doada pelo rei Victor Emanuel, da Itália.
O Capitel soluciona problemas técnicos e estéticos sendo normalmente a parte mais trabalhada da coluna, a parte mais característica de uma dada ordem ou estilo. A arte romana sofreu influências Gregas e Etruscas, no entanto, não deixou de ser original. O Estado fez das grandes obras de engenharia, dos edifícios públicos e da escultura monumental um meio de propaganda política. A arquitetura romana integrou elementos arquitetônicos gregos, das ordens Dórica, Jônica e Coríntia. Mas os romanos acrescentaram aos estilos herdados, duas novas formas de construção: Toscana e Compósita. O interesse para entendimento do Capitel do Monumento em homenagem aos aviadores da primeira travessia do Atlântico, sem suporte marítimo, fica concentrado na ordem compósita.
A compósita foi uma ordem desenvolvida a partir dos desenhos das ordens jônica e coríntia.

Até o período do Renascimento a ordem foi considerada uma versão tardia do coríntio. Trata-se de um estilo misto em que se inserem no capitel as volutas do jónico e as folhas de acanto do coríntio.
Ordem Coríntia e compósita, esboço de Jean Goujon, referência Vitrúvio

O traçado do capitel compósito é o mesmo que o empregado para o capitel coríntio, a única diferença consiste na alteração das volutas, que são desenhadas nesta ordem da mesma forma que as da ordem jônica. Os antigos romanos, quando tomaram uma parte da ordem jônica e outra da coríntia, fizeram um composto para reunir numa só ordem toda a beleza possível.
Fica expressa que o Capitel, do "Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico" exige recuperação e estudo mais apurado da ordem de sua constituição, não se resumindo a simplesmente remanejá-lo sem uma interferência histórica!
VIGNOLA, Giacomo Barozzio de. Tratado Prático Elementar de Arquitetura (estudo das cinco ordens); ilustração de J.A. LÉVEIL. F. & Cia Editores, RIO DE JANEIRO.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Vigiar e Punir!

É MUITO MAIS IMPORTANTE SER MILITAR DO QUE PROFESSOR!

Educar é uma causa a ser atingida pelas maiores nações do mundo, formação e competência para tornarem-se povos livres. No Brasil isto é assunto secundário, e pode sentir a reflexão disso quando vemos dois pesos e duas medidas e uma distância muito grande, verdadeiro abismo entre as votações pelos egrégios representantes da nação, que acordam sobre pressões diferentes das duas profissões em questão, sendo que obrigam a aceitação do piso do professor enquanto dos policiais discutem até se exaurir, pois o receio de serem acuados é muito maior por parte das estruturas policias do que pelas estruturas educacionais e suas representações. Ainda gera mais penitenciárias modernas em detrimento às escolas!!!
Há outros fatores que o idealismo gerador do saber ainda insiste em formar as gerações, embora precariamente, sem a obrigação do Estado em formar cônscios homens compromissados em transformar uma realidade de espúrias soluções paliativas, que se militariza ao invés de humanizar seus cidadãos!

Alguns fragmentos confirmam estes argumentos, se são evidências dos fatos:

1) MEC divulga reajuste de 7,86% a professores a partir de 2010 - 30 de dezembro de 2009
Após consultar a Advocacia-Geral da União (AGU), o Ministério da Educação divulgou nesta quarta-feira que o piso salarial dos professores terá um reajuste de 7,68% em 1º de janeiro de 2010. A aplicação do percentual eleva o piso de R$ 950 para R$ 1.024,67 para uma jornada de 40 horas semanais. Embora a interpretação da AGU não seja vinculante, esta será a recomendação do MEC aos entes federados que o consultarem sobre o tema. O ministro da Educação, Fernando Haddad, disse nesta quarta-feira que tem convicção de que Estados e municípios têm condições de pagar o piso salarial dos professores, no valor de R$ 1.024,67.

2) Câmara aprova PEC sobre piso salarial de policiais e bombeiros
A Câmara dos Deputados aprovou há pouco, em primeiro turno, proposta de emenda à Constituição (PEC) que institui piso salarial para servidores policiais civis e militares. De acordo com o texto aprovado, a remuneração dos servidores ativos, inativos e pensionistas integrantes das polícias Civil e Militar, incluindo os bombeiros militares será fixada em lei federal.

Agência Brasil - 03/03/2010

Pela proposta aprovada, até que a lei federal institua o piso nacional e o índice de revisão anual, o valor para o menor cargo ou graduação (soldado) será de R$ 3.500 e de R$ 7.000 para o menor posto ou patente militar (oficial). A proposta estabelece o prazo de 180 dias após a promulgação para o inicio da implantação do piso nacional. A aprovação do piso nacional ocorreu após muita polêmica e discussão no plenário da Câmara.

3) Policiais pressionam Câmara por votação de piso salarial - 20/05/2010 Agência Estado

Medida provisória 479

O plenário da Câmara ficou praticamente refém na noite de ontem até o início da madrugada de hoje pelas galerias tomadas por policiais. Eles pressionavam para a votação das propostas de emenda constitucional que fixa o piso salarial nacional da categoria e que cria a polícia penal. Às 11h30 da noite, o clima de tensão crescente fez que se suspendesse a sessão e convocasse uma reunião de emergência com os líderes partidários em busca de uma saída para o impasse. Grande parte da reunião com os líderes foi em busca de uma saída para encerrar a sessão. Deputados estavam prevendo agressões por parte dos policiais assim que Maia encerrasse a sessão sem a votação do projeto.

O que fazer?