O OFICIAL E O OFICIOSO
Quem produz documento é o poder! Assim muitas coisas que por muito tempo existiram torna-se visíveis com a criação de documento que comprove sua existência.
A história do Brasil esta recheado de vilarejos que nasceram bem antes de sua constituição oficial. É notório que para se averbar precisa-se materializar o corpo, e isto é formalmente “fabricado” pelo Estado. Muitos locais foram constituídos com o modelo de “deixar chegar primeiro o bang-bang e depois de amadurecido como núcleo de habitação e constituído o local, manda-se o xerife”.
Há uma pendenga histórica e disputas ferrenhas quanto à idade de Santo Amaro e da Cidade de São Paulo. Falam que jesuítas e homens da expedição exploradora vinda com Tomé de Souza, após transpor exaustos a Serra do Mar, em 1552, resolveram edificar uma capela que receberia o nome de Santo Amaro, sem entrar no mérito se o lugar foi “batizado” por uma imagem em poder dos religiosos ou de um casal devoto.
Por uma contingência, estes primeiros exploradores entraram andando pela mata ou navegando em barcaças rudimentares dos “índios bons”. Parece ter havido ordens superiores do prelado para não se fixarem e atingirem mais a frente indo ao encontro dos que haviam subido pelo caminho do Padre José ou o que seria mais tarde a Calçada Lorena. Este caminho foi o primeiro escoamento da “Capital de São Paulo” para o litoral, onde estava o irmão do cacique da região de Ibirapuera (Santo Amaro) a aldeia de Piratininga do cacique Tibiriçá, em um local mais alto do planalto paulista contrário aos baixios de muita água de Santo Amaro.
Uma curiosidade que os “deões santamarenses” formalizam constantemente que a edificação da fachada e a porta de entrada da Matriz foi voltada para o Rio Jurubatuba, da aldeia de Caiubi em Pindorama pois era por onde se chegava vindo da atual Estação do Largo 13 da CPTM.
Outra localidade informal foi o lugarejo implantado por João Ramalho, casado com Bartira, irmão dos caciques citados, que foi obrigado a “destruir” sua Fortaleza da Borda do Campo, que parece ser outra referência que não a atual São Bernardo do Campo e seguir com o grupo que entrava na boca do sertão ainda intransponível para dentro da aldeia “fundar” São Paulo, localidade que já existia como aldeia de Tibiriça, onde se localiza o Pátio do Colégio na atualidade, e de onde se controlava entradas e saídas em observatório mais alto.
Outro questionamento leva a referências da expedição exploradora de Martim Afonso de Souza trouxe como ferreiro Bartolomeu Fernandes, também conhecido por Gonçalves e Carrasco, contratado por dois anos, para prover as necessidades de ferro da expedição e da colônia. Terminado o contrato fixou-se em solo paulista, tornando-se proprietário do sítio dos Jeribás e instalando, nas margens do Jurubatuba, afluente do rio Pinheiros, em Santo Amaro, a primeira forja do Brasil para produção de aço, menção de Anchieta em escritos de 1554 que já por si é documento de constituição de Santo Amaro anterior a primeira missa “oficializada” em 1560 pelo beato, este um documento válido pela aproximação do Estado com o Estado Religioso, ambos produtores de documentos “oficiais”, embora se conteste ambas datas, exigindo-se que Santo Amaro é mais “velho” que São Paulo no mínimo em dois anos, mas sem comprovação “oficial”.
Mais à frente, em 1607, alguns homens “fundaram” uma usina de ferro no Morro da Barra, em Santo Amaro, onde havia minério de baixa densidade edificando um forno catalão com malhos para forjar e fabricar alguns utensílios básicos, como enxadas, facões que facilitariam abrir picadas e penetrar na mata selvagem. O rei de Portugal somente, mandou edificar um Engenho de Araçoiaba, a Real Fábrica de Ferro São João do Ipanema, ou Fundição Ipanema, em Iperó, na região de Sorocaba, criada pela Carta Régia de dom João VI, em 4 de dezembro de 1810, e assim esqueceu-se as “oficiosas” usinas de ferro de Santo Amaro as margens do Rio Pinheiros; assim como pouco se falou que o primeiro veio aurífero do Brasil foi encontrado no Pico do Jaraguá a mando de Afonso Sardinha, o patrono da siderurgia no Brasil.
Depois já no século vinte o prefeito da Cidade de Santo Amaro de 1917 a 1928, Isaías Branco de Araújo, nasceu próximo a Igreja Santa Rita, na antiga Rua Manoel Preto, depois denominadas Avenidas Rio Bonito que passa a ser chamada mais a frente por Olívia Guedes Penteado.
Em depoimentos o citado prefeito falava sempre ter nascido no Socorro, não confundir com a cidade do interior paulista, sem se ater a extinção do município de Santo Amaro ao decreto numero 6983, de 1935, por intervenção federal de Armando Salles de Oliveira que expunha seus interesses na região formalizado em documento:
"Considerando que o Estado de São Paulo se dispõe a não só incrementar em Santo Amaro a criação de hotéis e estabelecimentos balneários que permitam o funcionamento de cassinos, como também já destinou verba para melhorar as estradas de rodagem que servem aquela localidade, facilitando-lhe os meios de comunicação rápida e eficiente com o centro urbano, decreta, artigo 1ª: Fica extinto o Município de Santo Amaro”.
Para enfraquecer o poderio econômico e financeiro de Santo Amaro, pois participava ativamente da produção e estava no trajeto da Ferrovia Companhia Paulista dos administradores da família da matriarca Veridiana Valésia da Silva Prado, grandes produtores de café, que escoava a produção para porto de Santos, foram aos poucos desmembrando Santo Amaro em regiões menores com administrações próprias e muitos interessados em administração política local incentivou-se os atos de 09 de outubro de 1938 que definia o distrito Capela do Socorro, depositária do abastecimento hídrico das represas que fornecia energia elétrica e potencial de abastecimento de água para a Cidade de São Paulo.
Entre os lagos Billings e Guarapiranga o urbanismo do engenheiro Luiz Romero Sanson, idealizou Interlagos ligada pela Auto-Estrada, hoje Washington Luís, e também o Aeroporto de Congonhas operado desde 1936. Interlagos também é anterior a sua data comemorativa, pois já era denominada de Cidade Satélite Balneária de Interlagos, sem entrar no mérito de anúncio jornalístico do local como aprazível.
Outro modelo do oficioso e o oficial é a Capela do Socorro, município atual de quase 490 quilômetros quadrados. Já em 1829 chegavam os primeiros colonos alemãs na Colônia Paulista.
Também houve a construção da represa Guarapiranga em 1906 que após seu término forneceu as condições para implantação da linha de bonde em 1913 que substituía as máquinas a vapor alemã Tramlok Krauß BN 2 da Companhia Carris de Ferro São Paulo a Santo Amaro, financiada com capital exclusivamente de administradores da Cidade de Santo Amaro, e abrangia 19 quilômetros indo até a Liberdade abastecendo a Cidade de São Paulo com carne, lenha, batatas e outros tantos viveres pela ferrovia operada de 1885 a 1913 quando a Light and Power, adquirente das linha a vapor Tramlok Krauß, substituído pelos bondes eletrificados.
Muitos que nasceram na região sempre tiveram uma participação ativa muito anterior à oficialização local. O povoamento de qualquer localidade acontece antes da produção de documentos pelo poder do Estado.
Desmembrar para melhor controlar faz parte de uma estratégia administrativa, quanto menores as áreas físicas maiores são as possibilidades de controle administrativo, político e financeiro.
Para fazermos um questionamento quanto datas:
Os hidroaviões que desceram na Represa de Guarapiranga na Primeira Travessia do Atlântico com os comandantes João Ribeiro de Barros e Francesco De Pinedo amerissaram no interior de São Paulo, na Cidade de Santo Amaro, no distrito da Capela do Socorro, em 1º de Agosto 1927, quando ainda não existia a referência Capela!!!
Entre o Oficioso e o Oficial Há um Grande Hiato Histórico!
Quem produz documento é o poder! Assim muitas coisas que por muito tempo existiram torna-se visíveis com a criação de documento que comprove sua existência.
A história do Brasil esta recheado de vilarejos que nasceram bem antes de sua constituição oficial. É notório que para se averbar precisa-se materializar o corpo, e isto é formalmente “fabricado” pelo Estado. Muitos locais foram constituídos com o modelo de “deixar chegar primeiro o bang-bang e depois de amadurecido como núcleo de habitação e constituído o local, manda-se o xerife”.
Há uma pendenga histórica e disputas ferrenhas quanto à idade de Santo Amaro e da Cidade de São Paulo. Falam que jesuítas e homens da expedição exploradora vinda com Tomé de Souza, após transpor exaustos a Serra do Mar, em 1552, resolveram edificar uma capela que receberia o nome de Santo Amaro, sem entrar no mérito se o lugar foi “batizado” por uma imagem em poder dos religiosos ou de um casal devoto.
Por uma contingência, estes primeiros exploradores entraram andando pela mata ou navegando em barcaças rudimentares dos “índios bons”. Parece ter havido ordens superiores do prelado para não se fixarem e atingirem mais a frente indo ao encontro dos que haviam subido pelo caminho do Padre José ou o que seria mais tarde a Calçada Lorena. Este caminho foi o primeiro escoamento da “Capital de São Paulo” para o litoral, onde estava o irmão do cacique da região de Ibirapuera (Santo Amaro) a aldeia de Piratininga do cacique Tibiriçá, em um local mais alto do planalto paulista contrário aos baixios de muita água de Santo Amaro.
Uma curiosidade que os “deões santamarenses” formalizam constantemente que a edificação da fachada e a porta de entrada da Matriz foi voltada para o Rio Jurubatuba, da aldeia de Caiubi em Pindorama pois era por onde se chegava vindo da atual Estação do Largo 13 da CPTM.
Outra localidade informal foi o lugarejo implantado por João Ramalho, casado com Bartira, irmão dos caciques citados, que foi obrigado a “destruir” sua Fortaleza da Borda do Campo, que parece ser outra referência que não a atual São Bernardo do Campo e seguir com o grupo que entrava na boca do sertão ainda intransponível para dentro da aldeia “fundar” São Paulo, localidade que já existia como aldeia de Tibiriça, onde se localiza o Pátio do Colégio na atualidade, e de onde se controlava entradas e saídas em observatório mais alto.
Outro questionamento leva a referências da expedição exploradora de Martim Afonso de Souza trouxe como ferreiro Bartolomeu Fernandes, também conhecido por Gonçalves e Carrasco, contratado por dois anos, para prover as necessidades de ferro da expedição e da colônia. Terminado o contrato fixou-se em solo paulista, tornando-se proprietário do sítio dos Jeribás e instalando, nas margens do Jurubatuba, afluente do rio Pinheiros, em Santo Amaro, a primeira forja do Brasil para produção de aço, menção de Anchieta em escritos de 1554 que já por si é documento de constituição de Santo Amaro anterior a primeira missa “oficializada” em 1560 pelo beato, este um documento válido pela aproximação do Estado com o Estado Religioso, ambos produtores de documentos “oficiais”, embora se conteste ambas datas, exigindo-se que Santo Amaro é mais “velho” que São Paulo no mínimo em dois anos, mas sem comprovação “oficial”.
Mais à frente, em 1607, alguns homens “fundaram” uma usina de ferro no Morro da Barra, em Santo Amaro, onde havia minério de baixa densidade edificando um forno catalão com malhos para forjar e fabricar alguns utensílios básicos, como enxadas, facões que facilitariam abrir picadas e penetrar na mata selvagem. O rei de Portugal somente, mandou edificar um Engenho de Araçoiaba, a Real Fábrica de Ferro São João do Ipanema, ou Fundição Ipanema, em Iperó, na região de Sorocaba, criada pela Carta Régia de dom João VI, em 4 de dezembro de 1810, e assim esqueceu-se as “oficiosas” usinas de ferro de Santo Amaro as margens do Rio Pinheiros; assim como pouco se falou que o primeiro veio aurífero do Brasil foi encontrado no Pico do Jaraguá a mando de Afonso Sardinha, o patrono da siderurgia no Brasil.
Depois já no século vinte o prefeito da Cidade de Santo Amaro de 1917 a 1928, Isaías Branco de Araújo, nasceu próximo a Igreja Santa Rita, na antiga Rua Manoel Preto, depois denominadas Avenidas Rio Bonito que passa a ser chamada mais a frente por Olívia Guedes Penteado.
Em depoimentos o citado prefeito falava sempre ter nascido no Socorro, não confundir com a cidade do interior paulista, sem se ater a extinção do município de Santo Amaro ao decreto numero 6983, de 1935, por intervenção federal de Armando Salles de Oliveira que expunha seus interesses na região formalizado em documento:
"Considerando que o Estado de São Paulo se dispõe a não só incrementar em Santo Amaro a criação de hotéis e estabelecimentos balneários que permitam o funcionamento de cassinos, como também já destinou verba para melhorar as estradas de rodagem que servem aquela localidade, facilitando-lhe os meios de comunicação rápida e eficiente com o centro urbano, decreta, artigo 1ª: Fica extinto o Município de Santo Amaro”.
Para enfraquecer o poderio econômico e financeiro de Santo Amaro, pois participava ativamente da produção e estava no trajeto da Ferrovia Companhia Paulista dos administradores da família da matriarca Veridiana Valésia da Silva Prado, grandes produtores de café, que escoava a produção para porto de Santos, foram aos poucos desmembrando Santo Amaro em regiões menores com administrações próprias e muitos interessados em administração política local incentivou-se os atos de 09 de outubro de 1938 que definia o distrito Capela do Socorro, depositária do abastecimento hídrico das represas que fornecia energia elétrica e potencial de abastecimento de água para a Cidade de São Paulo.
Entre os lagos Billings e Guarapiranga o urbanismo do engenheiro Luiz Romero Sanson, idealizou Interlagos ligada pela Auto-Estrada, hoje Washington Luís, e também o Aeroporto de Congonhas operado desde 1936. Interlagos também é anterior a sua data comemorativa, pois já era denominada de Cidade Satélite Balneária de Interlagos, sem entrar no mérito de anúncio jornalístico do local como aprazível.
Outro modelo do oficioso e o oficial é a Capela do Socorro, município atual de quase 490 quilômetros quadrados. Já em 1829 chegavam os primeiros colonos alemãs na Colônia Paulista.
Também houve a construção da represa Guarapiranga em 1906 que após seu término forneceu as condições para implantação da linha de bonde em 1913 que substituía as máquinas a vapor alemã Tramlok Krauß BN 2 da Companhia Carris de Ferro São Paulo a Santo Amaro, financiada com capital exclusivamente de administradores da Cidade de Santo Amaro, e abrangia 19 quilômetros indo até a Liberdade abastecendo a Cidade de São Paulo com carne, lenha, batatas e outros tantos viveres pela ferrovia operada de 1885 a 1913 quando a Light and Power, adquirente das linha a vapor Tramlok Krauß, substituído pelos bondes eletrificados.
Muitos que nasceram na região sempre tiveram uma participação ativa muito anterior à oficialização local. O povoamento de qualquer localidade acontece antes da produção de documentos pelo poder do Estado.
Desmembrar para melhor controlar faz parte de uma estratégia administrativa, quanto menores as áreas físicas maiores são as possibilidades de controle administrativo, político e financeiro.
Para fazermos um questionamento quanto datas:
Os hidroaviões que desceram na Represa de Guarapiranga na Primeira Travessia do Atlântico com os comandantes João Ribeiro de Barros e Francesco De Pinedo amerissaram no interior de São Paulo, na Cidade de Santo Amaro, no distrito da Capela do Socorro, em 1º de Agosto 1927, quando ainda não existia a referência Capela!!!
Entre o Oficioso e o Oficial Há um Grande Hiato Histórico!
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