Entre o século 19 e 20, o Brasil receberia seus primeiros imigrantes, incentivados por acordos bilaterais entre os governos do Brasil, ainda no IMPÉRIO, e governos da Europa e Ásia para que a mão de obra excedente em alguns países viessem satisfazer o desenvolvimento insipiente brasileiro. Em 1895 é assinado o Tratado de Amizade, Comércio e Navegação entre o Brasil e o Japão[1]. Um ano antes, Tadashi Nemoto, deputado representando o governo do Japão, estivera no Brasil e recomendou o envio de japoneses ao Brasil[2]. Em 1908 muitos imigrantes japoneses assumiram a responsabilidade de ajudar a construir uma nação de vários povos. Em 18 de junho de 1908, aportava em Santos o Kasato Maru com 781 imigrantes japoneses a bordo, que saíram do porto de Kobe numa viagem de 52 dias.
Uma geração corajosa assumiu o desafio, e dela surgiram os descendentes que fizeram no interior de São Paulo as colônias que desbravaram o sertão paulista.
Este é um breve relato dos tempos difíceis da lavoura, feito por Nikichi, conhecido no Brasil como Miguel e Dona Ekico Yoshida, que nasceu em 1929, em Pederneiras. A sua família era formada por sete irmãs e cinco irmãos. Primeiramente foram para o pontal do Paranapanema, na região de Presidente Wenceslau.
Os pais plantavam algodão e resolveram mudar para o norte do Paraná, ainda mata virgem onde estava a Colônia Esperança, formada por 100 famílias japonesas católicas e dividida em sete seções, sendo que a família Yoshida morava na seção 2. Nesta Colônia havia somente cultura, costumes e o idioma japoneses. A Colônia era assistida por Frei Xisto, natural da Alemanha, que falava fluentemente a língua do Sol Nascente e se desenvolvia através de relações da cultura importada da terra natal, onde as moças formavam o grupo de dança local, e muitas ainda participavam do escotismo e eram “bandeirantes”. Ainda havia grupos escolares brasileiros, porém as crianças aprenderam a língua portuguesa de forma decorada, sem conhecer o significado das palavras. Dona Ekico, formou-se em enfermagem[3] e trabalhou na Santa Casa até 1956. Voltou ao Paraná para ajudar no cafezal dos pais e dirigir a caminhonete da família para transportar sacas de café.
Seu Niikichi Mori, era da cidade de Nagasaki, no Japão, onde nasceu em 1927 e veio para o Brasil em dezembro de 1935, ainda criança, com apenas 7 anos, chegando no Porto de Santos, no
Hawai I Maru, em 22 de setembro de 1934.
Do Paraná resolveram vir para a capital para início de uma nova vida. A cidade São Paulo era ainda pequena, mas já estava em ritmo de expansão. Não havia muitos lugares lúdicos e as diversões estavam relacionadas em ir às sessões de cinema, que na década de 50 eram a grande atração dos fins de semana ou irem a um lugar aprazível como as represas da região sul, ou os rios vários para nadar ou pescar algum bagre, costume quase que religioso do povo japonês, que tem uma relação muito grande com a natureza e por vezes reunir-se em alegres “convescotes” debaixo das árvores frondosas do lugar. Assim os Mori chegaram a Santo Amaro e conheceram o local da Represa de Guarapiranga, uma maravilha com um “Monumento bonito na entrada”, era um cartão de visita da Represa!!! Um pouco mais a frente havia um loteamento da Companhia Paulistana de Terrenos, no bairro insipiente do Jardim São Luiz, onde adquiriram uma residência depois do Rio Pinheiros, o mais próximo de Santo Amaro e que foi município independente até 1935. Dona Ekico entrou para o ramo de armarinhos, que ficou conhecido no bairro como “Bazar da Dona Cecília”, e onde havia grande procura, pois “tinha de tudo” e foi referência por 26 anos.
http://www.saopaulominhacidade.com.br/list.asp?ID=1697
[1] Kaigai Kogyo Kabushiki Kaisha Companhia de Fomento Industrial do Além-Mar conhecida K.K.K.K.
[2] O Tratado de Amizade, Comércio e Navegação entre Brasil e Japão foi assinado em Paris, em 5 de novembro de 1895, pelo então Presidente da República do Brasil o paulista Prudente de Morais. Somente durante o governo do Presidente Affonso Penna (15/11/1906 a 14/06/1909), que se efetivou a primeira imigração japonesa, devidamente organizada, para o Brasil. O Governo Federal, juntamente com Governo do Estado de São Paulo, incentivou a imigração japonesa, como clausula: O Governo de São Paulo reivindicava mão de obra eficiente para a cultura do café.
[3] Em 1949 apareceu a oportunidade de estudar em uma escola de auxiliar de enfermagem em São Paulo. Esta escola era a primeira escola de Enfermagem reconhecida pelo governo federal, em 1940, pertencendo a Santa Casa de Misericórdia, centro de São Paulo, na Rua Cesário Motta. O frei da colônia a trouxe para São Paulo descendo na Estação da Luz no ano de 1949. Entrou no internato da comunidade São José, na Rua Martinico Prado, nº 71, referência da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, onde permaneceu de 1949 a 1951. Frei Bonifácio, do Largo São Francisco, apoiava e incentivava as novatas auxiliares de enfermagem que, juntamente com a diretora irmã Maria Gabriela Nogueira, ainda viva com 88 anos, reforçava o incentivo, pois para o estrangeiro a adaptação da língua é a maior dificuldade. A professora de português era exigente e obrigava o estudo constante, pois as calouras de enfermagem precisavam acompanhar as aulas de anatomia, fisiologia, bacteriologia orientadas na língua local. Sofreu muito por não entender e não falar o português direito. As colegas e as irmãs a ensinavam com paciência. Estudou muito e demorou a aprender a pronúncia e o sotaque da língua portuguesa. Com muita garra e determinação, ela se formou em 1952, juntamente com 25 formandas, na primeira turma de Auxiliares de Enfermagem da Santa Casa de Misericórdia.
[4] Em 1938, o Governo Federal começou a limitar as atividades culturais e educacionais dos imigrantes. Em dezembro, decretou fechamento de todas as escolas estrangeiras, principalmente as de japonês, alemão e italiano, começaram a sentir os sintomas do conflito iminente. Em 1940, todas as publicações em japonês tiveram a sua circulação proibida. Até o fim da guerra, os japoneses viveram um período de severas restrições, inclusive com confisco de bens.
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