quinta-feira, 25 de março de 2010

OS TERRATENENTES DO BRASIL (18): Termos Pejorativos Usados para Designar os Povos da América

DESMERECER E DIVIDIR PARA MELHOR GOVERNAR[1]

Observação: Sem julgamentos inerentes aos termos, não há neste texto conotação alguma de racismo, ou algo pré-concebido, ou divisão de crenças quanto às origens destas construções, mas valendo-se deles para compreensão histórica de valores e como os mesmos foram usados ao longo do tempo pelos do poder para dividir e melhor governar, tanto nas origens da Península Ibérica quanto nas colônias achadas e divididas entre si por Espanha e Portugal, e que os conflitos, quando houve entre ambos, foram contornados pela hegemonia da Península.
Palavras chave: Eurocentrismo, Península Ibérica, árabe, mourisco, mudejar, Marranos, Melungeon, Zambo, cafuzo, cambujo, mulato, Cholo, mestizo, castizo, criollo, crioulo, mameluco, caboclo, caipira, matuto

Na Europa onde apenas pertencer ao governo e ser cavaleiro das ordens de guerra eram ocupações dignas da nobreza, a aristocracia menor se expandia com os "hijos d’algo". Estes “filhos de algo”, origem da palavra "fidalgo" preenchia todos os cargos administrativos e eclesiásticos, numa Europa de “sangue azul” que mantinham hierarquias de controle e domínio.
Eurocentrismo era a prática de ver o mundo de uma perspectiva européia com uma crença implícita, consciente ou inconscientemente, a preeminência dos europeus ocidentais. O termo implica a crítica dos interesses e valores em detrimento dos não-europeus.
Os efeitos desta condição de superioridade européia começou lentamente no século 15 e continua no hodierno. O caráter progressivo da imposição da cultura européia foi implantado nas conquistas das Américas, África, Pacífico e Australásia, região da Oceania que compreende a Austrália, Nova Zelândia e ilhas vizinhas, no Oceano Pacífico.

Mesmo as civilizações em bom estágio de cultura como a Arábia, Pérsia, Índia, China, México, Peru e Japão foram consideradas subdesenvolvidas em comparação a Europa dos colonizadores, que sempre impuseram uma óptica de desprezo às demais culturas considerando-se superiores aos povos subjugados, prevalecendo à estrutura hierárquica imposta a qualquer preço, submetendo as outras culturas, extinguindo-as, prevalecendo a idéia de ser superior no mais elevado da hierarquia e, portanto, mais próximo do ápice da nobreza do que os subordinados que estavam em um estrato inferior.

Na Peninsula Ibérica encontramos o Mudéjar, que permaneceram após a Reconquista da mesma. Refere-se ao termo árabe para "doméstico" ou "domesticado" e que se utiliza para designar mulçumanos espanhóis que permaneceram vivendo na Peninsula após a “Reconquista” pelos cristãos, submentendo-se ao controle político, dando-lhes o direito de prosseguir a prática da sua religião e utilizar o seu idioma e seus costumes. Com a Reconquista adaptou-se o costume vigente na Península Ibérica, a al-Andalus árabe, com garantias de proteção política e religiosa às populações que se submetessem ao novo poder. Estas comunidades islâmicas, denominadas de “aljamas”, agora sob domínio cristão, receberam o nome de mudejares, que no vernáculo árabe definia a submissão mediante um pacto de garantias, que poderiam ser políticas ou religiosas. “Mudajalat” tinha sua raiz na expressão “mudayyan”, referindo-se a “gente que permanece” ou “grupo dominado”, e, por conseguinte tributários e vassalos submetidos à nova ordem estabelecida.

Depois da Reconquista optou-se pela “Limpieza de sangre”, usado tanto por espanhóis quanto por portugueses, que para ambos significava a ancestralidade sem mistura dos tempos da invasão árabe. Eram àqueles peninsulares considerados puros, “cristãos velhos”, sem nenhuma ligação com judeus ou mulçumanos, que mais tarde serão obrigados a acatar a crença propagada pela igreja romana, impondo-lhes o cristianismo e aceitos como “cristão novos”. A nobilidade espanhola começou em torno do 9º século quando se estabeleceu a forma militar clássica de ocupação das terras pela cavalaria medieval, processo que durou por longos cinco séculos recuperando terras da Península Ibérica em mãos de ocupantes árabes, e seus vários califados. Deste modo estabeleceu-se na Península uma estrutura baseada na nobreza e uma linha de ancestrais que demonstraram poder levantando a espada para indicar a força da defesa de seus escudos que deram origem aos seus brasões, demonstração de lealdade, e que nas veias corriam o sangue azul e que seu nascimento não tinha sido contaminado pelo inimigo de mistura “escuro-descascada”.

Esta estrutura formatada de desvalorização do outro, sem aceitação de seu modelo não poderia ser repetida no Novo Mundo, pertença pela “graça de Deus” e mais sobre a força da espada que havia se levantado contra o “impuro mouriscado, misturado” fora das purezas determinadas e não vai admitir as imperfeições de quaisquer povos que fujam as regras dos dois poderes da Península, Portugal e Espanha, e para isso usará de termos pejorativos para segregar e melhor controlar, aqueles sobre o julgo do barbarismo transportado para a América.
Embarque de Mouriscos para Valencia, por Pere Oromig
Marranos, Cristãos-Novos da Península Ibérica

Na mesma linha os judeus conversos foram denominados “marranos” [2]. O termo "marrano" teve interpretação extraída da palavra hebraica anussim, ou "conversos forçados". É exatamente o caso daqueles judeus que tiveram de abandonar o judaísmo, e aceitar a fé cristã praticada na Península Ibérica. Um dos problemas enfrentados pelos judeus descendentes de marranos é o seu reconhecimento por outros judeus e para alguns, os marranos não são judeus verdadeiros e precisam de uma conversão de retorno à fé, a Fênix de Abraão, ave mitológica retornada das cinzas.

O termo marrano pode ter suas raízes na palavra árabe “máhram”, que significa “coisa proibida”. Essa palavra designa o cervo ou porco, animal proibido tanto para os muçulmanos como para os judeus. Na Espanha, a palavra marrão é usada para designar o leitão desmamado antes de ser castrado para engorda, que biblicamente é considerado animal impuro, referência pejorativa para denegrir os judeus forçados a se converter ao cristianismo chamados de cristãos-novos ou marranos. Outro termo encontra-se na junção de duas palavras hebraicas: MAR (amargo) + UNA (nós), dando origem ao um novo sentido para marrano, designando em hebraico “Nossa Amargura”.
Anussin é o termo hebraico usado para designar os marranos e significa “forçados”. Benei-anussim significa filhos, “ben anús” refere-se ao “filho forçado”, ou descendentes daqueles forçados a se converter, os marranos, e, que procuram retornar ao Judaísmo.

Melungeon os primeiros colonos da America do Norte

A instabilidade promovida pela Inquisição espanhola, pode ter sido responsável pelo primeiro assentamento permanente de muçulmanos em direção ao Novo Mundo mais precisamente na America do Norte.
Estes muçulmanos eram conhecidos como Mudajjan na Espanha, uma palavra que originou provavelmente o termo Melungeon vindos nas frotas de limpezas étnicas, de berberes muçulmanos recrutados a partir da região berbere galega das montanhas ao norte de Portugal em 1567.

O que pode este mistério Melungeon significar como fundamento desta origem muçulmana? Há duas palavras em turco: “melun" significa “amaldiçoados ou condenados” completada pelo restante da palavra com sentido de "vida" ou "alma", que utilizada em conjunto traduz-se como "aquele cuja vida ou alma foi amaldiçoada." O que parece ser uma referência aos primeiros muçulmanos que se submeteram a esta “pena” pelo oceano para se livrar das perseguições da Península aos não cristãos e que se propagaram pelo sudeste dos Estados Unidos. Uma vez no Novo Mundo, estes prisioneiros muçulmanos foram submetidos ao trabalho escravo nas plantações de açúcar e nas operações de mineração, talvez remanejados também ao Caribe e ao continente da América do Sul.

Em meados do século 17, havia pessoas que viviam entre tribos da Virgínia e Carolina do Norte, que foram descritos como índios escuros, talvez a cor cobreada moura, e que eram conhecidos como "Portugals." Em 1690, exploradores franceses anunciaram a descoberta de "mouros cristianizados" nas montanhas de Carolina.Quando os ingleses chegaram ao continente em meados século 18, grandes colônias dos chamados "Melungeons" já estavam estabelecidas no Tennessee e Carolina. A palavra Melungeon tornou-se mais um termo depreciativo, classificação para "ninguém em absoluto". O Melungeons, expulsos de suas terras e negados seus direitos, por vezes, assassinados, sempre maltratado, quase perderam o seu patrimônio, parte de sua cultura, os nomes de origem e sua religião original, mas não a sua estrutura genética.
Zambo era um termo espanhol, sendo que em português usa-se cafuzo para referir a mesma expressão ao termo. Era usado pelo império espanhol para identificar indivíduos da América espanhola que haviam miscigenado com africanos ou ameríndios. Outros termos foram sendo criados como um sinônimo ou semelhanças referidas aos zambos como cambujo que era a miscigenação do zambo com o ameríndio, numa segunda linhagem. Atualmente o termo refere-se a ancestralidade de africanos ou ameríndios, denotando que o africano e ameríndio produz o lobo, sinônimo para zambo, os zorros astutos dos altiplanos, fugindo da condição de escravos se refugiaram também na América Central.

No Caribe e parte da América do Sul, formaram comunidades e como exemplo ter-se-ia a República Dominicana e o Haiti que se mestiçaram com os tainos, os nativos da Ilha e que foram considerados renegados pelos colonizadores. Nas costas do Belize e Honduras era denominado garifuna, formado pela misiginação de índios Caraibas e Arawak com africanos refugiados nessas ilhas. Na Nicarágua, são reconhecidos nos miskitos, oriundos de um motim em um navio português com escravos da Guiné chegando à costa da Nicarágua, onde muitos apresentam traços africanos.
Mulatto denota uma pessoa com de ancestralidade branca e negra. O termo deriva do árabe e pode criar certas confusões em sua citação. Alguns dicionários definem a origem da palavra ao termo árabe “muwallad”, etimologia de mulato com o significado para “uma pessoa de ancestralidade misturada”. Muwallad é literalmente “nascido, procriado, produzido, gerado”, com a implicação de ser pertencente ao seio entre os árabes, mas não de sangue árabe puro. Muwallad é derivado da palavra raiz WaLaD (Árabe: transliterado do árabe direto do ولد: waw, lam, dal), onde a pronuncia árabe coloquial pode variar extremamente. Walad refere-se a “descendente, prole, herdeiro; criança; filho; menino; animal novo, jovem.". Muwallad refere-se à prole de homens árabes com estrangeiras, mulheres não-árabes. O termo muwalladin é usado ainda no árabe contemporâneo para descrever crianças de pais árabes e de mães estrangeiras.

Cholo é um termo de uso corrente, como criollos, pelos espanhóis no século 16, e foi aplicado aos indivíduos de ancestralidade ameríndia, ou outra origem proveniente desta origem. Atualmente o uso preciso de Cholo variou extensamente de épocas e lugares diferentes, mas perdeu a conotação negativa. Cholo, é um termo aplicado a pessoas de ascendência indígena com espanhol. A palavra “xolotl” (pronunciado “cholotl”) foi subtraida de uma palavra Asteca com o significado de cão,de onde resultou a connotação negativa para aplicar aos seres humanos.

O uso do termo é gravado primeiramente em um livro publicado em 1609 e em 1616, Comentarios Reales de los Incas por Inca Garcilaso De La Veja, onde escreveu:

“a criança de um macho preto e de uma fêmea índia, ou de um macho índio e de uma fêmea preta, chama-se mulato e mulata. As crianças destes é que se chamam cholo. Cholo é uma palavra das ilhas de Barlavento, que são as ilhas do sul das Pequenas Antilhas, no Caribe; significa cão, não da variedade respeitável mas de origem má reputação; e os espanhóis usaram-no para insulto e o vitupério”

No México Colonial os termos cholo e chacal eram sinônimos para indicar o “mestizo”[3] de união européia (Espanha) com ameríndia ou castizo de ancestralidade ameríndia. Sob a casta imposta pelo sistema de colonial na América, cholo era aplicado originalmente às crianças resultantes da união de um Mestizo e de uma ameríndia. O termo “cholo” tornou-se elemento caracteristico do Peru e evoluiu para caráter honroso dos habitantes do país onde são identificados sem complexo, como “cholos”. Em anos recentes, a migração extensiva aos centros urbanos maiores e a difusão de valores culturais além das cidades em áreas rurais, resultaram para inclusão de números vastos dos povos. "Cholas" e "Cholitas" são mulheres que adotam formas de vestir-se muito semelhante entre si, com vestidos e blusas revestidas de um chalé de uso apropriado, variado e bem colorido. Cholas possuem o cabelo enrolado, uma identidade impar, até apropriando um chapéu coquinho para dar uma aparência singela.

Os Criollos eram aqueles que formavam uma classe social no sistema de castas das colônias estabelecidas pela Espanha no século 16 na América Latina, compreendendo quem tinha ancestralidade espanhola e veio fixar-se na América. Criollo era uma classe abaixo daquela da Península, eram os colonos transportados para a América, considerados acima dos outros povos fixados como ameríndios e escravos africanos. De acordo com o sistema de casta, um criollo poderia legalmente ter algum ancestralidade ameríndia e não perder sua posição social. Nos séculos 18 e inicio do 19, as mudanças políticas espanholas para as colônias criaram tensões entre os criollos e Peninsulares. Os nacionalistas das guerras da independência eram em grande parte criollos.
A palavra criollo e seu correlato português crioulo, derivam do “verbo criar”, significando “produzir” ou nascido fora da origem. O termo foi usado nos estabelecimentos ao longo da costa africana ocidental pelos portugueses, quando do inicio das navegações rumo às Índias. O termo originalmente distinguia os membros de qualquer grupo étnico estrangeiro que eram nascidos localmente daqueles transportados da terra natal, no caso da Península, e que constituíram ancestralidade étnica misturada. Assim, nas colônias Portuguesas de África, crioulo era uma pessoa local transportada na descida pela costa africana. Na América portuguesa, crioulo era uma pessoa originária do preto puro, de ancestralidade africana.
Nas colônias espanholas, criollo era um espanhol de origem que fosse nascido nas colônias, ao contrário do espanhol peninsular também de pais espanhóis, mas nascido na Península, em território de Espanha. Os ingleses adaptaram o termo “creole” tal qual o francês créole, do espanhol criollo ou português crioulo.

No Brasil o termo tornou-se genérico a todos os que predominavam daqueles que tinham ancestralidade africana, que devido a suas raízes étnicas múltiplas e à extensão geográfica do país, não houve uma concentração de descendentes, não constituiu um grupo étnico coeso, único, não havendo uma separação de várias etnias africanas.

O mameluco, o “caboclo”, o caipira e o matuto
"Caipira picando fumo" José Ferraz de Almeida Júnior,óleo sobre tela, 1893.Pinacoteca do Estado de São Paulo

Sem considera-los forçosamente sinonimos vemos outras influências nos referidos termos, para uma manobra de controle para estipular um modelo de segregação e afastamento destes que eram considerados sem muita influencia no sistema desenvolvido, mas usados como parte integerantes para apossamento das terras pela ocupação, modelo praticado à época para determinar a quem pertenceria por esta qualificação, ou simplesmente ocupar para mandar.

Os mamelucos refere-se a palavra árabe para escravos que geralmente serviam a seus amos como pajens ou criados domésticos, e eventualmente eram usados como soldados pelos muçulmanos. Os primeiros mamelucos serviram os califas que os recrutavam em famílias não muçulmanas capturadas em áreas, onde não predominavam a cultura árabe. O uso de não muçulmanos justifica-se sobretudo porque os governantes islâmicos, muitas vezes lidando com conflitos tribais e debatendo-se com as intrigas e para manter o poder, muitas vezes desejavam depender de tropas sem ligação com as estruturas familiares e culturais de poder estabelecidas, motivo meramente político. As vantagens das tropas-escravas, formadas por maelucos, é que eram estrangeiros, estranhos as culturas árabes, possuiam o estrato mais baixo possível na sociedade, não poderiam conspirar contra o governante sem correrem o risco de ser punidos.
O termo caipira é um termo tupi Ka’apir ou Kaa-pira, que significa “cortador de mato”, referência dada pelos índios guaianás do interior do estado de São Paulo, deram aos colonizadores sentido de caboclos ou mamelucos, resultado da mistura de grupos indígenas e brancos. É também uma designação genérica dada, no Brasil, aos habitantes das regiões situadas principalmente no interior que retiram a subsistência da agricultura de sustentação, e às vezes referido como também como matuto, fruto de um processo de elementos que foram aos poucos incorporando em suas vidas o modelo de ser “encaixados” na mata original existentes, que era o habitat nativo e que resultou, para esse novo elemento, também seu espaço, considerado, desde então, como rural.
O termo teve sua origem no Estado de São Paulo, onde o núcleo original do caipira formou-se Região do Alto Tietê, estão entre as primeiras vilas fundadas no interior de São Paulo, durante o Brasil colonial, e de onde partiram algumas das importantes bandeiras no desbravamento do interior brasileiro, passando a Minas Gerais como “capiau”, palavra também significando “cortador de mato”.

O "caboclo" foi formado por um modelo de abandono e marginalização implantada pelos colonizadores para a conquista formando núcleos desamparados na mata e da opressão aos povos indígenas.

Outros termos persistem em descaracterizar um grupo de indivíduos:
1) SUDACA: é uma expressão depreciativa utilizada para referir-se aos sulamericanos muito freqüente na Europa. Usa-se o também termo “Sudaquia” para referir-se a América Sul.
2) JETAS DE LA PAMPA: porcos da planície (pampa=planície em quéchua)
Jeta tem vários significados para qualificar as feições podendo ser focinho de animal, ou no sentido de ser cara de pau

3) NACO é um termo usado freqüentemente na América Central, mais especificamente nas fronteiras do México para descrever alguém sem conduta social, de mau gosto sem uso refinado da expressão verbal e falta de gosto da maneira de vestir, além de mal educado, referindo-se geralmente aos estratos mais baixos e também às pessoas que adquiriram posição social através de um poder recente adquirido pelo dinheiro, os novos ricos. 4) COOLIE era um trabalhador não qualificado vindo do a partir do Extremo Oriente, particularmente China e Índia contratados para subsistência ou de baixos salários, a partir do século 19, usados para carregarem e descarregarem navios. A palavra coolie pode derivar do Hindi qūlī e que significa “o trabalhador do dia”,àquele que se sujeita as jornadas de quaisquer labor. A escravidão tinha sido difundida no império britânico, mas a pressão social e política conduziram libertação pelo Ato de Comercio Escravo de 1807; dentro de algumas décadas, muitas outras nações européias libertaram os escravos. Mas o intensivo trabalho colonial de produção de açúcar e plantações do algodão para abastecer as tecelagens inglesas, ou as minas de carvão para abastecer as siderurgias de produção de aço ou para movimentar as recentes estradas de ferro que estavam sendo exportadas pelo mundo requeria mão de obra alta e barata, a opção foram os coolies. Foram enviados também para a América, para suprir a falta de mão de obra, onde era usado até para recolher “guano” no Peru, fertilizante natural das fezes de aves de alto nível de nitrogênio, e foi exportado a partir do século 19 para a Europa. O comércio desta mão de obra proveniente dos coolies foi um modelo disfarçado de um novo escravismo.

CONSIDERAÇÕES:

Na realidade, quanto as procedências e suas diferenças variadas, mas assimiláveis ao longo do tempo através de uma miscigenaçâo diversificada faz de todos mestiços, pessoas que são descendentes de duas ou mais etnias, espécie humana[4], grupos étnicos variados[5]. Vale à pena considerar e celebrar a nossa etnia e nossa complexa ancestralidade. Uma amalgama fundida em um cadinho efervescente que forma outra estrutura diferente e mista. O poeta Octavio Paz, escreveu que o labirinto do mestizo (mestiço), estava na extremidade, “aquela de todos os homens”.

Gráfico das referências criadas para controle: ESPANHA

CRUZAMENTOS: Referências usadas por Colonizadores na América Espanhola

ESPANHOL+ ÍNDIA=MESTIZA

ESPANHOL+ MESTIZA=CASTIZA

ESPANHOL+NEGRA=MULATO

ESPANHOL+ MULATA=MORISCA

PRETO+ ÍNDIA=CHINA CAMBUJA

CHINA CAMBUJA+ ÍNDIA=WOLF (LOBA)

LOBA+ ÍNDIA=ALBARAZADO

ALBARAZADO + MESTIZA=BARCINO

ÍNDIO + BARCINA=ZAMBAIGA

CASTIZO+ MESTIZA=CHAMIZO

MESTIZO+INDIA=COIOTE

Referências de controle nos cruzamentos: PORTUGAL

Português+Ameríndio=caboclo (mameluco)
Ameríndio+Africano=cafuzo (zambo)
Português+Africano=mulato (mulatto)

Os métodos repressivos dos colonizadores foram bem semelhantes, mesmo quando administrados por conceitos diversos tiveram o mesmo modelo de ação para exercer seus domínios, e requerer valores descabidos, como a invasão de terras[6] que pertenciam anteriormente aos autóctones ameríndios. O poder sempre se assemelhou ao longo do tempo, somente trocou sua roupagem para prevalecer seus interesses, mas o uso da coerção foi sempre de intimidação e desrespeito a alteridade. Manter um povo na penumbra do saber dando-lhe o mínimo de subsistência é um modelo retrogrado de submissão, que fomenta o desespero e a violência, uma nação não tem que possuir medo de seus filhos para prover-lhes condições para que haja respeito mutuo, e se não houver de ambas as partes participação de crescimento, a nação sucumbe e seu povo torna-se submisso a outro povo mais coeso.


BIBLIOGRAFIA

Grande dicionário espanhol – português, português-espanhol.Espasa-Calpe S.A., Madrid. 2001

Lacey, Robert. Aristocrats. Hutchinson, British Broadcasting Corp., 1983.

Izquierdo Labrado, Julio. “La en Huelva y Palos do esclavitud (1570-1587) “ (em espanhol). http://www.mgar.net/var/esclavos3.htm.

Morner, Magnus.La mezcla de razas en la historia de América Latina, Buenos Aires, Paidós, 1969.

Mattos, Hebe. As cores do silêncio, 2ª Edição, Nova Fronteira, 1998.

FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala. Formação da Família Brasileira sob o Regime de Economia Patriarcal. Editora Record, Rio de Janeiro, 1988.

Holanda, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil, 9ª ed., Rio de Janeiro, José Olympio, 1976.

Prado, Paulo. Retrato do Brasil, org. Carlos Augusto Calil, 8ª ed., São Paulo, Companhia das Letras, 1996.

Schwarcz, Lilia. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil , 1870-1930, São Paulo, Companhia das Letras, 1995.

Paz, Octávio. O labirinto da solidão e Post-scriptum; tradução de Eliane Zagury. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2ª Edição, 1984.

Brent Kennedy é o autor de "O Melungeons: A ressurreição de um povo orgulhoso”. Artigo na Islâmica Horizons Magazine (November/December 1994) a nd republished here with permission. (Novembro / dezembro de 1994).

Saraiva, Antônio José. Inquisição e Cristãos-novos. 5ª Ed., Lisboa, Editorial Estampa, 1985.

http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2000/populacao/cor_raca_Censo2000.pdf.
"The Race Question", UNESCO AND ITS PROGRAMME, 1950.
http://unesdoc.unesco.org/images/0012/001282/128291eo.pdf

QUADROS: Las castas. Anonymous, 18th century, oil on canvas, 148x104 cm, Museo Nacional del Virreinato, Tepotzotlán, Mexico e Miguel Cabrera, oil on canvas


ANOTAÇÕES:

[1] Como se tornou prostituta a cidade fiel, cheia de retidão. Outrora habitou nela a justiça, mas agora habitam os homicidas. A tua prata converteu-se em escória; o teu vinho misturou-se com água. Os teus príncipes são infiéis, companheiros de ladrões; todos eles amam as dádivas, andam atrás das recompensas. (Isaías, 1: 20-23)

[2] Cripto-judeus é como foram designados os judeus obrigados a praticarem a sua fé em segredo, ficando nos “subterrâneos” , escondidos para praticarem a fé que professam mas que efeito das perseguições religiosas, publicamente praticam outra religião.

[3] Do latim mixticius, misturado.

[4] A palavra "raça" não deve ser utilizada para dizer que existe diversidade humana. A palavra "raça" não tem base científica. Ela foi usada para exagerar os efeitos das diferenças aparentes, ou seja, físicas. Não se pode basear nas diferenças físicas: a cor da pele, o tamanho, os traços do rosto, para dividir a humanidade de maneira hierárquica, ou seja, considerando que existem homens superiores em relação a outros homens, que seriam postos em uma classe inferior. Eu te proponho não mais utilizar a palavra "raça”. (Le racisme expliqué à ma fille, Tahar Ben Jelloun)

[5] A palavra "etnia" é derivada do grego ethnos, significando "povo". Esse termo foi utilizado para se referir a povos não-gregos, então também tinha conotação de "estrangeiro", que foi usado para diferenciar os de fora, os gentios.
Etnia compreende os fatores culturais, nacionalidade, a afiliacão tribal, religião, língua e tradições, enquanto raça compreende apenas os fatores morfológicos, como cor de pele, constituição física, estatura e traço facial.
Recorrer ao termo raça(antigo conceito antropológico) para os humanos sempre esteve ligado a questões políticas, com utilização dominadora e de estratificação social.
No conceito biológico de espécie hoje em dia o taxon* mais aceito é o de Dobzhnzsky e Mayr e tem-se que: "Espécies são grupos de populações naturais que estão ou têm o potencial de estar se intercruzando, e que estão reprodutivamente isolados de outros grupos".(*taxonomia; tassein/classificar+nomos/ciência)

[6] Ai de vós os que ajuntais casa com casa e ides acrescentando campo a campo, até chegar ao fim de todo o terreno! Porventura haveis de habitar sós no meio da terra? (Isaías, 5:8)

1 comentário:

Anónimo disse...

estava conversando com meu pai quando falei a palavra CAFUZO e então ele me contou que achava que conhecia essa palavra então fomos procurar e achamos algumas coisas.Aqui se explicaram todas as nossas duvidas.
excelente site.