segunda-feira, 15 de julho de 2024

Como um “padre português” construiu uma igreja no “fim do mundo”


Em 14 de julho de 2024, participando da missa dominical, meu pensamento vagava nas 4 paredes da Paróquia São Luiz Gonzaga. Quando entrei não reparei ao meu redor, mas depois de alguns minutos vi uma singela homenagem a quem o bairro Jardim São Luiz/SP deve reverências.

O bairro Jardim São Luiz era um jardim bruto, ainda em formação na década de 1960 quando chegou um “padre” que se precisava naquele momento para as causas Divinas, época de mudanças na igreja, de missas feitas em latim, com o padre de costas para a assembleia, que nós não entendíamos nada, mas de repente as celebrações mudaram para o português, se não éramos clássicos, ao menos entendíamos um pouquinho.

Deus em sua sabedoria ainda mandou um português legítimo da “Santa Terrinha” que fez estágio na Freguesia do Ó, para depois aguentar a “marimba” de um bairro que não tinha absolutamente nada, só mata fechada e um bocado de gente misturada de todos os cantos imagináveis.

Uma paróquia que tinha se formado recentemente, e que precisava se estabelecer em uma grande cidade e uma “arquidiocese”.

O bairro do Jardim São Luiz era o fim do mundo de tudo, tanto que nem bispo paulistano da época nunca pisou nessa terra, mandava um auxiliar uma vez a cada dia de São Nunca.

O padre português tinha que “rachar madeira” para que o Fogo do Espírito Santo baixasse no Jardim São Luiz, como ele fez em Pentecostes, afinal Deus não desampara, ele ampara, apara e corta as arestas.

A sorte era que aqui tinham homens do tipo ferro batido, eram duros como pedras e eram desses que a nova Paróquia se apegou. Se um falava que era assim, era daquele jeito mesmo e o padre novo abençoava.

Foi assim que esse padre português que vendia o almoço para comer a janta, recebia as diretrizes da igreja e conheceu um time de bispos que passaram antes de firmarem uma diocese na região. Aqui “desembarcaram” aos poucos bispos auxiliares, não os camisa 10 do time principal, amassando o barro que o povo já estava acostumado a amassar.

E desse modo, a trancos e barrancos o padre português se tornou também prefeito do bairro com reinvindicações perante o governo municipal, para fazer as melhorias necessárias de infraestrutura, que não era nenhum favor e sim obrigação de quem governa.

A paróquia era ponto de encontro na quadra de futebol de salão que enchia de gente em fins de semana, claro que o padre português esperto em sua sabedoria lusitana, só liberava a quadra para o futebol depois da missa, com os atletas presentes.

“Enfim um dia chegou ao fim” essa etapa e o padre português achou que era um engenheiro civil e chamou um bando de loucos, que não tinha nada a ver com a torcida do Corinthians, e montou o seu time, só com gente de pulso firme, afinal, derrubar qualquer um derrubaria, mas idealizar uma outra construção por fora da velha igreja já existente era coisa desafiadora.

A construção começou, escavações aqui, ali, acolá, paredes levantando conforme o dinheiro dava, comprava-se areia, faltava cimento comprava cimento faltava blocos e as missas acontecia no meio dessa confusão e entulho e um enorme buraco que hoje é o salão sob o piso da igreja propriamente dita.

Nesse salão ele guardava o seu carro, uma D-10, que arrombaram as portas improvisadas e levaram o veículo embora. Achou-se lá para as bandas do Ângela, toda “esquartejada” desmontada, deu polícia no caso e depois o padre saiu no lucro e “ganhou” uma D-20.

Quando foi a fase do reboco das paredes, o padre português foi levado para a justiça, pois o pedreiro queria cobrar mais do que o combinado, a causa foi ganha e um acerto “acertado”!

Foram anos a fio, até bancos não havia, o povo participava das missas em pé, imitando o padre, até que os Céus resolveram o problema e a organização da Gazeta deu as cadeiras de seu antigo cinema. Mas o padre português queria era que a igreja ficasse bonita, com belas portas e bancos de qualidade, demorou, mas um dia abriu-se as portas novas com bancos novos.

O padre português, quando a obra já era realidade, cismou que as paredes eram brancas demais, então veio um artista religioso e até ensinou gente daqui como fazer uma obra sacra.

Ficou tudo bonito, como o padre português queria que fosse para o povo de Deus e o Jardim São Luiz ficou famoso, vieram todos para conhecer o bairro, que agora é cobiçado pelos políticos que não vinham no fim do mundo!

O padre português não descansou um minuto até ver “tal qual Moisés a Terra Prometida”.

O padre português já estava cansado e Deus resolveu enviar outro padre com a fibra necessária para preservar a obra e para descansar na Terra o padre português, que dentro de si sabia que a missão foi comprida e cumprida, e em 15 de julho de 2022 o padre português da Ilha da Madeira, Edmundo da Mata, que tinha um molho de chaves igual a de São Pedro, foi embora dizendo a todos os jardinenses:

Inté!!!

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