sábado, 20 de fevereiro de 2021

Alfonso Martín Escudero e a Chácara Alfomares em Santo Amaro, São Paulo

Este é um dos casos mais emblemáticos da história de Santo Amaro.

Há algumas interrogações nessa estrutura, que remonta à guerra civil espanhola, pois Alfonso Martín Escudero foi condecorado com a Ordem da Grande Cruz, a maior honraria do governo espanhol.


Alfonso Martín Escudero nasceu em 10 de junho de 1901 em Brihuega (Guadalajara). Empregou-se numa loja de tecidos em Vigo, onde depois abriu uma empresa do ramo com um amigo em La Coruña. Com talento natural para o comércio, manteve relações com grandes fabricantes de tecidos da Catalunha, que o encarregaram da venda exclusiva de grandes lotes de tecidos muito procurados no mercado. 

Edificou empresas de porte considerável na Espanha, como a Alfomelo Iron Mining Company para explorar uma concessão mineira em Lubrin (Almería), em conjunto com uma subsidiária transportadora de minas que escoava o minério extraído em Lubrin, exportando-o para países europeus que tinham grande necessidade de minério de ferro. Na época, ele também adquiriu a empresa C.U.P.A., que possuía uma grande extensão de terreno no Paseo de la Castellana em Madrid. Esses minérios de grande importância para a indústria em geral, também abasteceram a indústria bélica da Segunda Guerra Mundial.  

Seu espírito empreendedor o levou a cruzar o Atlântico abrindo negócios em Cuba. Quando pressentiu que a ilha passaria por grandes transformações, mudou-se para o Brasil, onde, após várias transações comerciais, adquiriu ações de um banco em São Paulo.

Chegou ao Brasil com o equivalente a 2 milhões de dólares em 1954, portanto já com 53 anos de idade. Há uma referência de que Escudero fosse casado na Espanha com Lucia Lavandera Spina, e um detalhe chama atenção: eram casados em separação de bens. Parece que quando chegou ao Brasil, em agosto de 1954, ele já estava viúvo e sem filhos.

A gestão do banco Casa Bancária Belembolia, fundada em 1939 por italianos, com apenas uma agência em São Paulo, trouxe-lhe um conhecimento de primeira mão da situação econômica e comercial do país.  Desse início resultou em 1957 o Banco Alfomares, com a matriz situada na Rua da Quitanda, 123.

 


Criou uma fundação em 27 de junho de 1957, em Madri, que leva seu nome.  Em 1968 o Banco Alfomares possuía 42 agências sendo vendido depois para o Banco do Paraná por 18 milhões de cruzeiros (moeda à época), que seria em torno de 6 milhões de dólares. Assim, adquire toda riqueza e torna-se proprietário de alguns terrenos na Avenida Paulista.  

Consta que, para o alargamento da Avenida Paulista, ele doou 119 m2 em 1972, como muitos proprietários também, variando a metragem doada por cada um. Há registro de uma empresa, Martinero Comércio LTDA, situada à Avenida Angélica, 2364, que era também seu domicílio.  

Alfomares recebeu esse nome devido ao seu último proprietário ALFOnso MARtín EScudero.

Bem antes disso a área pertenceu ao doutor Paulo de Souza Queiroz, político influente no governo estadual e federal no século 19 e início do 20. De 1885 até o final do século havia requerentes de terras, sendo o auge de se distribuir "datas" (lotes de terrenos) pela Villa de Santo Amaro, que de 1832 a 1935, manteve-se administrativamente independente da cidade de São Paulo. 

Só a título de curiosidade, em Ata de 1891 (Revista do Arquivo Municipal, nº63, p.163) há pedido no Alto da Boa Vista a saber:

 “Um requerimento de Gabriel Vieira da Silva e João Antonio Pedroso, requerendo títulos definitivos de duas datas que lhes foram concedidas, sendo uma cada um à rua da Liberdade a título gratuito em terreno municipal, para poderem transferir a terceiros e, com o produto desta, comprarem então outras duas em terreno municipal e mais perto da Villa. Despacho: A Intendência resolveu indeferir o requerimento visto os suplicantes não terem cumprido com a praxe estabelecida pela mesma. Sala da Sessões 3 de julho de 1891. Padre Luiz Bittencourt.” 

Outro pedido de “datas” (lotes de terrenos) (Revista do Arquivo Municipal, nº62, p.259): “Eugenio Bueno, pedindo nove datas de terreno na rua General Ozorio sob números 107, 108, 109, 110, 111, 112, 113, 114 e 115 bem como as datas do Campo das Perdizes sob números, 37, 38, 39, 40, 41. Despacho: Ao alinhador para informar. Santo Amaro, 12 de maio de 1891. Padre Luiz Bittencourt.”

Isso prova que as terras da Villa de Santo Amaro estavam disponíveis a quem quisesse se estabelecer, com nenhum custo pelas terras ou a um custo baixíssimo. Um proprietário provável do que viria a ser conhecida por Alfomares, foi  Charles Emmett Waddell, nascido no Texas, EUA, em 1897, que fazia parte, no Brasil, a partir da década 1940, da diretoria da “Reprensagem e Armazenagem de Algodão S.A.” tornando-se um dos integrantes do comércio de algodão brasileiro, Membro da Câmara Americana de Comércio (São Paulo) e da União Cultural Brasil-Estados Unidos. Em 1936, foi um dos grandes acionistas da Anderson Clayton & Co, além de investimentos no setor algodoeiro do Nordeste do Brasil. 

Consta que o local foi anteriormente chamado de Chácara Narcisa, em homenagem a Narcisa Andrada de Souza Queiroz, esposa de Paulo de Souza Queiroz, uma gleba talvez de 5 alqueires, onde estavam os 63 mil metros da Alfomares, algo em torno de 3 alqueires.



Residência da propriedade

Tanto Charles Emmett Waddell, quanto Alfonso Martín Escudero se conheceram bem antes, pelas relações comerciais de ambos, sendo o primeiro um dos integrantes de exportação de algodão brasileiro e o segundo um dos grandes fornecedores de tecido na Espanha. Não se descarta a possibilidade de Charles Emmett Waddell ter adquirido a Chácara do Francês, no caso de Júlio Contier, e depois ter encontrado um comprador em potencial, Alfonso Martín Escudero.

Alfonso Martín Escudero, já com 88 anos é assassinado em 1º de março de 1990 em seu escritório na Paulista, e não fica nenhum rastro do fato. (Estadão 30 de agosto de 1997- missa). 

Consta no documento de registro do imóvel do Jardim Alfomares, com memorial datado de 06 de fevereiro de 2004, que a área possui 63.687,29 m2, possuía um palacete para residência, uma casa e outras benfeitorias, situados à Rua Visconde de Porto Seguro, 293 (antiga Estrada de Aracassu), estes lançados pela Prefeitura do Município de São Paulo, pela Rua da Fraternidade nº 803, com área total construída de 1528,00 m2, e que a inventariante é Blanca Antonia Martín Escudero, e que na data do documento (26 de junho de 1985) era ainda solteira, com residência em Madri, Espanha, em Passo del Pintor Rosales, nº 16.  Blanca Trindad Martin Escudero casou-se com José Martin Zamorano em Madrid, com comunhão de bens em 14 de setembro de 1987.  Em 1989, Alfonso Martín Escudero fez seu testamento aberto, deixando todos os seus bens para a "Fundação Benéfico Docente Alfonso Martin Escudero" então recorrida no STJ pela filha adotiva Blanca.  Seus bens foram arrolados e foi pedido pela Fundação que fossem a ela adjudicados já que pelo testamento esta seria a herdeira universal. Hoje é uma área importante para todos santamarenses que lutam pela preservação da fauna e flora de Alfomares!


Obs:

O exposto é apenas um fato histórico e está sujeito a revisão sem prévio aviso. 



Vide o link:

Por que do nome Chácara Narcisa, atual Alfomares, no Alto da Boa Vista, em Santo Amaro/São Paulo?

http://carlosfatorelli27013.blogspot.com/2020/12/por-que-do-nome-chacara-narcisa-atual.html

ALFOnso MARtín EScudero=ALFOMARES

https://carlosfatorelli27013.blogspot.com/2020/12/alfonso-martin-escuderoalfomares.html 



Referências jornalísticas:

Correio Paulistano, 29 de abril de 1941

A Razão, 06 de outubro de 1936

O Estado de São Paulo, 12 de outubro de 1973

O Estado de São Paulo, 10 de junho de 1997

O Estado de São Paulo, 30 de agosto de 1997

Jornal do Brasil, 22 de maio de 1988

Correio da Manhã, 20 de outubro de 1963



Outras referências: 

BROTERO, Frederico de Barros. Descendência do Barões de Souza Queiroz. Revista de Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, p. 441-484

GUERRA, Juvencio e Jurandyr. ALMANACK COMMEMORATIVO DO 1º CENTENARIO DO MUNICÍPIO DE SANTO AMARO. São Paulo: Estab. Graphico Rosolillo, 1932

Registro de Imóveis, matrícula 171.932

Fotos: Fundação Benéfico Docente Alfonso Martín Escudero; outras em pesquisa.

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