domingo, 24 de março de 2019

A tela “Independência ou Morte”: Uma ficção com ressalvas como documento histórico!

OS ACONTECIMENTOS HISTÓRICOS DA INDEPENDÊNCIA


Em 1822 o imperador do Brasil dom Pedro I, veio para a Província de São Paulo com sua comitiva do Rio de Janeiro onde partiu a 14 de agosto, pela Estrada Real, entrando na topografia de São Paulo de 800 metros acima do nível do mar, chegando a Freguesia da Penha de França em 24 de agosto, após 634 km, seu último pouso antes de entrar em São Paulo. Viera para apaziguar divergências entre os membros da junta do governo provisório, conservadores e liberais, que desde o ano anterior dirigiam os destinos da Província de São Paulo, que resultou na eclosão, no dia 23 de maio de 1822, de revolta que ficou conhecida como Bernarda de Francisco Ignácio.
Em 5 de setembro, foi à Santos a fim de inspecionar as fortalezas e visitar pessoas da família de José Bonifácio, seu ministro de Estado. Teria saído de Santos em torno das 5 horas da manhã com a comitiva, montada em muares, de regresso a São Paulo, no sábado, por volta das 16 horas, dia 7 de setembro de 1822, quando D. Pedro e a comitiva se encontravam no alto de colina próxima do riacho do Ipiranga, quando recebe intimação de Portugal.
O Príncipe teria saído de Santos em torno das 5 horas da manhã. Em média, a comitiva, teria andado pouco mais que 6 km por hora em movimento montada em muares. Após proclamar a independência do Brasil, no dia 10 de setembro de 1822, deixou a Capital, partindo para o Rio de Janeiro!
O QUADRO DA INDEPENDÊNCIA E SUAS INCONGRUÊNCIAS
A tela “Independência ou Morte” ficou conhecida como “O Grito do Ipiranga” foi feita pelo artista Pedro Américo (1843-1905) em Florença, na Itália, a partir de 1886 e concluída em 1888, portanto 66 anos depois da independência do Brasil. Foi a Família Real que encomendou a obra. A ideia era ressaltar o poder monárquico do recém-instaurado império. Houve atraso da construção do edifício do Museu do Ipiranga (hoje Museu Paulista da USP), que foi inaugurado em 7 de setembro de 1895, quase seis anos depois da proclamação da República.
Foi uma cena produzida pela imaginação do pintor, longe até do Brasil, pois à época estava na Itália e lá foi produzida a tela.
O próprio autor da obra reconheceu que seria impossível fazer uma relação entre a pintura e o episódio. Não apenas porque havia uma grande diferença de tempo entre o fato e o retratado na tela, mas também porque não seria possível reconstituir minuciosamente o acontecido, faltavam dados do fato.
O imenso painel pintado por Pedro Américo, tem 7,60 metros de comprimento por 4,15 metros de altura. Entre sua concepção e seu acabamento, perpassam uma série de interesses políticos, que se relacionam ao declínio da monarquia brasileira e até aos ideais republicanos do pintor, embora este fosse protegido de D. Pedro II.
Foi evocada a história sendo inventada e teatralizada, de modo que a perpetuar a memória no imaginário popular. Dom Pedro foi colocado como mito fundador do novo país na obra deixando de ser um simples governante para tornar-se o herói e líder, cavalgando em um cavalo garboso, com uniforme de gala e comandando um batalhão elegante que respondem ao brado memorável de forma unívoca, vigorosa e harmoniosa e representam, junto com alguns camponeses que assistem a cena, representando o povo.

Algumas situações expostas no quadro que foram criadas como sentido "poético" pelo autor:

A comitiva que acompanhava o príncipe regente D. Pedro não era muito grande como representado.
Nem Dom Pedro e nem a comitiva estavam vestidos com os uniformes de gala, mas sim roupas mais grosseiras de algodão para enfrentar a longa jornada.
D. Pedro estava montado em uma mula, muito usado para grandes viagens.
A famosa Casa do Grito colocada na tela como um dos símbolos do Dia da Independência, não existia. Seu primeiro registro é de 1884, ou seja, 62 anos depois.
O grito da Independência não aconteceu de fato às margens do Ipiranga como consta no quadro. D. Pedro estaria em cima de uma colina sofrendo dores de um "mal gástrico" (crise de diarreia), dos excessos alimentares em Santos.
O quadro mostra homens simples e carros de bois. O povo não participou do ato.
Pedro Américo se retratou na cena empunhando um guarda chuva e usando cartola, evidentemente que não fazia parte desse momento histórico.

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