terça-feira, 15 de janeiro de 2013

SANTO AMARO DE JURUBATUBA, SÃO PAULO: QUEM ÉS TU?

PREDICADO LEGAL: DOCUMENTO DE REGISTRO OFICIAL (1552 e/ou 1560)

Tibiriçá e Potira tiveram a filha Terebê, da tribo dos guaianazes, irmã de Bartira que se casou com João Ramalho. Terebê casou-se com Pedro (ou Pero) Dias e foi batizada com o nome Maria da Grã, sobrenome “emprestado” da família Grã do Padre Luis da Grã, segundo provincial do Brasil e primeiro superior do colégio formado nos campos de Piratininga.

Pedro Dias era natural de Portugal, da família de Parente Dias Velho e transferiu-se para São Vicente como irmão leigo da Companhia de Jesus, passando em seguida para São Paulo de Piratininga, na fundação do colégio de Piratininga, em 1554, com os outros padres jesuítas. O cacique Tibiriçá tinha pelo Irmão Pedro Dias uma especial amizade, de modo que quis que ele se casasse com sua filha de nome Terebé, depois batizada com o nome de Maria Grã. "Como viesse desse enlace grande vantagem para o efeito de congraçar os portugueses com os índios (...), consultou-se o geral da ordem, que era Santo Ignácio de Loyola, então residente em Roma, sobre o assunto, e por ele foi resolvido que, querendo o leigo, se casasse, para o que o desligou dos votos. Obtida a licença, casou-se Pedro Dias com a segunda filha do cacique Tibiriçá, a qual tendo o nome indígena de Terebé, foi batizada com o de Maria da Grã (também, as vezes, referida como Graça). De Terebé teve Pedro Dias os filhos Clara, Felippa e João. Casando-se uma segunda vez com Antonia Gomes, teve ainda Francisco, Feliciana e Paula. 

Pedro Dias ocupou o cargo de Juiz Ordinário em São Paulo, falecendo, com testamento, em 1590. (Leme, Genealogia paulistana, v. 8, p, 6) O casal foi estabelecido em “Viapuera” tiveram 13 filhos que foram os primeiros Troncos Paulistas (conforme Alfredo Ellis Junior), que deu origem as famílias de Borba Gato, Pontes, Eiró, Leme, Dias, Toledo, Piza, e muitas outras que completam a genealogia de Santo Amaro Paulistana.

A fundação da cidade de São Paulo, somada a ousadia portuguesa com apoio dos índios Guaianazes (Inhapuam-buçu) do maioral Inhapurambuy, Tibiriçá, e pela presença dos jesuítas, que trouxeram para o Planalto a espiritualidade de Ignácio de Loyola, ficaram registrados na historiografia de São Paulo: Martim Afonso de Souza, João Ramalho, Manuel da Nóbrega, Manuel de Paiva,  José de Anchieta e os morubixabas Tibiriçá e Caiubi[1]

MONUMENTO "A FUNDAÇÃO DE SÃO PAULO"- OBRA DE LUIZ MORRONE/1962
Ao aceitar o cargo de capitão-mor da Índia, Martim Afonso de Souza[2], nomeou sua esposa Ana Pimentel em documento assinado em 3 de março de 1534, procuradora para administrar a Capitania de São Vicente[3], com escrituras de doação assinadas em Lisboa, em 1536, e em São Vicente, em 1540 (consta no Dicionário de Mulheres Célebres, editado no Porto, por Lello e Irmão, em 1981). Ana Pimentel tornou-se governadora da capitania, tendo sido a primeira mulher a exercer um cargo executivo no Brasil. Após nomear Brás Cubas capitão-mor e ouvidor da capitania, em 1545, Ana Pimentel cancelou a ordem de Martim Afonso de Sousa, autorizando o acesso dos colonos ao planalto paulista, onde a terra era mais fértil e o clima mais ameno. Com esse ato, os primeiros povoadores de Piratininga, homens e mulheres, subiram em direção ao planalto, atravessando a Serra do Mar, auxiliados por índios entre o litoral e a “Boca de Sertão”, desconhecida dos “achadores” da terra de Santa Cruz.

A Capitania de São Vicente foi chamada de São Paulo desde o fim do século 17, terras de Martim Afonso de Souza e seu irmão Pero Lopes de Souza. Abrangia desde Cabo Frio até Bacia da Prata próximo a Maldonado, terras de Espanha. Para o interior abrangia terras de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.

Segue o relato sobre a mudança das aldeias:

“Para mais comodamente poderem instruir os neófitos, aconselharam a Martim Afonso Tibiriçá e a Caiubi, senhor de Jeribatiba, já muito velho, que transferissem suas residências para junto ao Colégio futuro. Conformaram-se ambos a vontade dos padres, e Tibiriçá veio levantar suas casas onde hoje está o Mosteiro de São Bento.”

Dúvidas de Datas de São Paulo

“ Há tempos, segundo Tito Lívio Ferreira, O Estado de São Paulo publicou uma carta assinada pelo Sr. Pedro Neves, do Instituto Histórico e Geográfico de Santos, referente ao Dia de São Paulo...deve ser comemorado em 5 de setembro de 1558, porque nesse dia foi criado o município de São Paulo”.

MONUMENTO "GLÓRIA IMORTAL AOS FUNDADORES DE SÃO PAULO" - AMADEU ZANI - FUNDIÇÃO ORESTES BONGIROLAMI/ROMA

Tito Lívio Ferreira, Afonso de Escragnolle Taunay, Aristides Lobo e Aureo Resende investigaram o assunto:

“em Apontamento históricos e geográficos da Província de São Paulo, informa: 5 de maio de 1558. Data do foral de vila dado por Martim Afonso de Souza à povoação de Piratininga, segundo a História da Capitania de São Vicente escrita por Pedro Taques de Almeida Paes Leme em 1765”.

Varnhagen  em sua História Geral do Brasil diz que a Vila de Piratininga conseguia do donatário um foral próprio, com data de 5 de maio de 1558.

“No ano de 1560 verifica-se, em obediência à aprovação de Mem de Sá, a transferência dos moradores de Santo André para Piratininga. Na terra piratiningana continuam a servir os vereadores e juízes de andreenses. Azevedo Marques em seu livro depõe: - Mem de Sá ordenou a extinção de Santo André e erigiu a Vila de São Paulo por provisão de 5 de abril de 1560.

Considerações: 

Santo Amaro Paulistana estava em uma região entre o litoral e a Boca de Sertão, era a ponte ente o mar e aquela que viria a ser São Paulo de Piratininga. Evidente que possa haver um elo de datas anteriores ao seu “nascimento”, pois as expedições vinham com o intuito de reconhecimento das terras de El Rey de Portugal. Datas são focos conflitantes quando não se encontram documentos oficiais, ou do Estado ou da Igreja, que possuía toda autoridade de exercer funções de registro. A primeira carta escrita sobre a fundação de São Paulo está desaparecida, mas por algum motivo foi reescrita uma segunda por Anchieta datada de setembro de 1554 que foi enviada a Roma onde consta das Cartas de Anchieta, o seguinte:

PÁTIO DO COLÉGIO: Paredes internas de taipa de pilão do antigo Colégio dos Jesuítas quando da demolição, em 1953, do Palácio do Governo. (Agênica O Estado de São Paulo)

Por isso, alguns irmãos mandados para esta aldeia no ano do Senhor de 1554, chegamos a 25 de janeiro e celebramos a primeira missa em uma casa pobrezinha e muito pequena no dia da conversão de São Paulo, e por isso dedicamos ao mesmo nome a esta Casa”. 

Os superiores deveriam “escrever” ao provincial e este a hierarquia maior em Roma, muitas delas escritas em duas línguas, no caso espanhol e latim, de domínio do Irmão Joseph de Anchieta, ordenado em 1566, logo não tinha este “venerado irmão” os encargos atribuídos à função de sacerdote até aquela data, ou seja, os ofícios litúrgicos eram professados por sacerdote ordenado, talvez houvesse o direito de proclamar a celebração. mas sem o direito da consagração litúrgica!

Outro detalhe é o primeiro registro de terras em Santo Amaro, talvez por força da autoridade de documento de Ana Pimentel,governadora da capitania  de São Vicente, uma gleba que por muito tempo foi de 640 Km2,  data de 12 de agosto de 1560: duas léguas de terras na margem esquerda do rio (atual Rio Pinheiros) então chamado de Jeribatiba,(Jurubatuba) doadas aos padres jesuítas. 
MONUMENTO "A ALDEIA DE NOSSA SENHORA DOS PINHEIROS"- OBRA DE LUIZ MORRONE/1971

Data-se desta época a denominação Santo Amaro, (que não se trata da Capitânia de Santo Amaro!) homenagem dos jesuítas que trouxeram de Portugal uma imagem do Santo, embora se confira segunda hipótese da doação da imagem por parte do casal João Paes e Suzana Rodrigues, para a Capela Nossa Senhora da Assunção de Ibirapuera, ambos vindos com o capitão maior da esquadra de exploração, que se dirigiu em direção ao Rio da Prata, de onde a embocadura escoava riquezas da América espanhola, Martim Afonso de Souza, para lavrar terras recebidas em sesmaria, primeiros latifúndios da terra, cujo documento original encontra-se hoje no Arquivo Nacional, em aldeamento dos naturais e caminhos indígenas.

O predicado Legal do registro oficial é o documento que nos remete ao estudo historiográfico, de resto é a oralidade fluente local, sem baseamento oficial!


Bibliografia:

Porchat, Edith. Informações Históricas sobre SÃO PAULO NO SÉCULO. São Paulo: Editora Iluminuras Ltda, 1993 
Nelly Martins Ferreira Candeias, Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo - http://www.jbcultura.com.br/IHGSP/pateo.htm        

Kehl, Luis Augusto Bicalho. Simbolismo e Profecia na Fundação de São Paulo: A Casa de Piratininga. São Paulo: Ed. Terceiro Nome
Neves, Cylaine Maria das. A Vila de São Paulo de Piratininga. São Paulo: ANNABLUME, Fapesp, 2007. 
Schumaher, Schuma; Brazil, Érico Vital. (organização). Dicionário Mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade biográfico e Ilustrado. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor , 2000. (vide também “Ana Pimentel, a Primeira Mulher à frente de uma Capitania no Brasil”, da autoria de Luisa de Paiva Boleo)
Rodrigues, Rosicler Martins. Cidades Brasileiras: Do Passado ao Presente, Ed. Moderna, 2ª edição, SP, 2003.
MADRE DE DEUS, Frei Gaspar da, Memórias para a História da Capitania de São Vicente Hoje Chamada de São PAULO. São Paulo: Weisflog Irmãos, 1920(Terceira edição)
Marques, M.E. Azevedo. Apontamentos históricos, geográficos, biográficos, estatísticos e noticiosos da Província de São Paulo seguidos da cronologia dos acontecimentos mais notáveis desde a Fundação Da Capitania de São Vicente até o ano de 1876. Tomo II, São Paulo: Itatiaia, 1980. 
Vide:
Datas Históricas: Santo Amaro, Capela do Socorro e Outras http://carlosfatorelli27013.blogspot.com.br/2010/08/o-oficial-e-o-oficioso-quem-produz.html

Datas comemorativas e intervenções em Santo Amaro http://www.saopaulominhacidade.com.br/list.asp?ID=3508

Genealogia Paulistana, Luiz Gonzaga da Silva Leme (1852-1919) Vol VIII - Pág. 03 a 52. Tit. Dias - http://www.arvore.net.br/Paulistana/Dias_1.htm



[1] Caiubi: possuía aldeia de Tumiaru (São Vicente) depois se deslocando para “Virapuera”, separando-se do irmão Tibiriçá, da aldeia de Piratininga.

[2] Martim Afonso de Souza nasceu em 1500  no “Concelho” de Vila Viçosa, Distrito de Évora, Portugal. Filho de Lopo de Sousa e de Brites de Albuquerque. Era primo do primeiro Governador-Geral do Brasil, Tomé de Souza. Os preparativos da empreitada começaram em 1530 previstos uma esquadra de mais de 400 homens, para a exploração e a proteção do litoral do Brasil. Passando pela Baia da Guanabara, fundou, em 22 de janeiro de 1532, a Vila de São Vicente. Em 1534, foi nomeado Donatário da Capitania de São Vicente, pelo rei de Portugal, Dom João III. Em 1533 retornou a Portugal, tendo, então, sido nomeado Governador-Mor do Mar da Índia. Faleceu em Lisboa, Portugal, em 21 de julho de 1564, após ter servido como administrador das Índias Orientais.

[3] São Vicente foi “descoberta” pela expedição de Gaspar de Lemos, em 1502, que batizou a ilha em homenagem a São Vicente Mártir, teve o nome ratificado por Martim Afonso de Sousa em 22 de janeiro de 1532. D. João III decidiu organizar uma expedição para explorar suas terras Além Mar. em 31 de dezembro de 1531 a embarcação partiu com cerca de 400 pessoas. Entre os quais estavam tabeliães e oficiais de Justiça, padres e soldados da armada expedição com munição, tecidos, ferramentas, utensílios domésticos e outras necessidades básicas e as primeiras mudas de cana-de-açúcar do Brasil.
Aportou na Bahia e depois no Rio de Janeiro, seguindo para o sul até Cananeia, no litoral paulista, próximo a divisa com o Paraná. Foi para o rio da Prata, na fronteira entre Argentina e Uruguai. Na volta, chegou em 20 de janeiro de 1532 à Ilha de Santo Amaro (Guarujá) fundando Vila de São Vicente em 22 de janeiro. Em 22 de agosto de 1532  instalou-se a primeira Câmara Municipal das Américas. foram realizadas as primeiras eleições do continente americano.

4 comentários:

vilton giglio disse...

Fatorelli.

Otimos registros feitos por vc.realmente sabia informalmente de alguns dados sôbre São Paulo e Santo Amaro,agora formalizados através dos seus escritos. Inclusive fatos que auxiliam jovens ou nem tantos a saber sôbre nossa Sampa.

Um abraço.

Estanislau Rybczynski disse...

Carlos, voce conta , descreve histórias que não se aprende nas escolas, principalmente as de Santo Amaro, desvenda elos perdidos, acrescenta dados.
Mas o que mais me impressionou foi aquela placa com os dizeres que a original em bronze sobre a primeira missa em São Paulo foi furtada e não foi reproduzida por não haver uma cópia, lamentável, mais um dado histórico perdido, quem sabe um dia apareça. parabéns.
Estanislau

Fabio Xavier de Lima disse...

Só posso dar parabéns pelo ótimo trabalho!

ARISTEUCAMPOS disse...

Parabéns pelo seu blogger
Olha o que eu achei no mercado livre hoje.
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Será que não é o roubado!!!!????