quinta-feira, 22 de março de 2012

A LEI DAS CARROÇAS E A INSPETORIA GERAL DE SANTO AMARO/SP

Registros da transição dos veículos com tração animal para os automóveis 
          
O transporte em São Paulo iniciou através do serviço de tílburis[1] - veículos de aluguel a cavalo. Sua organização data de 1865, através da iniciativa de Donato Severino, que estipulou uma tabela de preços e horários para seus veículos. Este tipo de veículo teve uma sobrevida extraordinária, prestando serviços até as primeiras décadas do século XX.
Ultimamente há certos pareceres municipais que fazem retroceder sobre valores que foram inquestionáveis em determinada época, onde o sistema de transporte era feito no lombo de mulas, carroças. Há ainda por este rincão o uso deste tipo de transporte, que os pequenos sitiantes usam para deslocamento ou para carretos. Foi criada em Bauru, a Lei das Carroças, pelo decreto-lei 11.123/2010, que obrigava o condutor a fazer vistoria e curso de condução, emplacar o veículo e instalar micro chip no cavalo. Disto resultou uma rejeição dos carroceiros onde somente um apresentou-se, levando a prefeitura local a rever sua posição.
 Avenida Maria Coelho Aguiar, Distrito Jardim São Luiz, São Paulo
Então isto fez com que pensássemos como isso foi alterado ao longo do tempo e ainda resiste como um meio de locomoção importante onde motorização veicular, acontecida no final do século 19 ainda tem adeptos que resistem em manter suas parelhas.

Há vários registros onde aparece um dado curioso: a mutação de um momento ao outro, ou seja, da supremacia da carroça para os veículos de motores a explosão[2].
PLACA DO MUNICÍPIO DE SANTO AMARO
O registro em livro muito bem ordenado consta:
Servirá este livro para registro das cartas de habilitação para condutores de veículos. As suas folhas cujo numero se declara no termo de emolumento, vão por mim rubricadas com a rubrica que faço uso na qualidade de Prefeito Municipal.

Santo Amaro, 12 de agosto de 1929.

Fazemos aqui considerações não de todos os registros mas uma mostra deste momento.

*Carta nº 1080
Concedido ao snr Iteuji Nishida, japonês, solteiro, carta para “cocheiro” com dois animais, pagou os emolumentos constantes ao recibo nº 1253.

Inspetoria de Veículos 9 de setembro de 1929
O Inspetor Geral
Pedro M. Borba

*Carta 1081
João Dias, brasileiro, casado, carta para condutor de automóvel como profissional, pagou os emolumentos – constante no recibo 1257 foi examinado em carro Chevrolet, Digo “Ford Cambio”.

Inspetoria de Veículos 10 de setembro de 1929
O Inspetor Geral
Pedro M. Borba

*Carta 1091
Concedida ao snr José dos Santos, carta para condutor de automóvel, digo, cocheiro com quatro animais, pagou os emolumentos constantes ao recibo 1285.

Inspetoria de Veículos 17 de setembro de 1929
O Inspetor Geral
Pedro M. Borba

*Carta 1097
Concedida ao snr Rinaldo Campsi, para condutor de motocicleta conforme foi examinado em maquina “Harley-Davidson” pagou os emolumentos constantes ao recibo 1307.

Inspetoria de Veículos 21 de setembro de 1929
O Inspetor Geral
Pedro M. Borba

*Carta 1114
Concedida ao Snr. José de Moraes, brasileiro, para condutor de automóvel como amador. Sob concessão gratuita por ordem do Sr. Prefeito Municipal.

Inspetoria de Veículos 21 de setembro de 1929
O Inspetor Geral
Pedro M. Borba

Nota-se que no mesmo livro de registro há carroças, motocicletas e automóveis, havia uma transição que não diferenciava quanto ao efeito do registro da inspetoria geral, e os veículos automotores tendiam aos importados da América do Norte.
Vide:
http://www.carlosfatorelli27013.blogspot.com.br/2012/03/o-automovel-em-sao-paulo.html

[1] Tílburi era um carro de duas rodas e dois assentos (tibureiro e passageiro), com capota, e atrelado a um animal. Foi inventado por Gregor Tilbury, na Inglaterra, em 1818, e trazido ao Rio de Janeiro como transporte coletivo, através da França, em 1830. Foi usado em serviço de aluguel. O Padre William Paul Tillbury, conhecido no Brasil como Guilherme Paulo Tillbury, Thomas Trilby ou William Tilbury, nasceu no dia 25 de Janeiro de 1784, passou grande parte de sua vida como missionário no Rio de Janeiro, falecendo, em 1863, e nada tinha de parentesco  COM O INVENTOR e por incrível coincidência, foi um dos primeiros proprietários do Tilbury. Quando o viam chegar, falavam: "Lá vem o Tilbury". O termo ficou associado ao inventor, mas por aqui também ao homônimo deste.
[2] Depoimento de Lourenço Miranda Borba, que foi taxista, entre os anos de 1956 a 1970, em Santo Amaro, falando sobre seu pai, Pedro Miranda Borba, que foi inspetor de trânsito no longínquo final da década de 20, do século 20.

1 comentário:

pepecaetano disse...

Como sempre excelento texto. Parabéns. Agora seu blog está diretamente ligado ao blog El Mono Verde em língua portuguesa.