terça-feira, 31 de maio de 2011

Museu Paulista: A QUE SE PROPÕE PARA O ESTUDO HISTORIOGRÁFICO DE SÃO PAULO

BANDEIRISMO, INDEPENDÊNCIA E REPÚBLICA EM QUADROS

"Tornarem se senhores da memória e do esquecimento é uma das grandes preocupações das classes, dos grupos, dos indivíduos que dominaram e dominam as sociedades históricas. Os esquecimentos, os silêncios da História são reveladores desses mecanismos de manipulação da Memória Coletiva." Jacques Le Goff

Uma construção merece acima de tudo de material para ser idealizado e pode ser constituído de bom material ou não, e disto resultar a obra que pode primar pela qualidade ou simplesmente ocupar um espaço sem muita importância, apenas fazendo parte de uma paisagem, que por vezes precisará ser demolida para novamente ser construída com a qualidade que merece.

Todo registro histórico tem que ser baseado em fatos reais, pois se assim não for representada simplesmente um mito, algo para preencher um vázio que não se consegue explicar. Podemos criar a ilusão como fazemos com as crianças para demonstrar-lhes alguns momentos que se perpetuaram ao longo do tempo como uma fantasia para que seja demonstrado. A solidez dos conceitos passam obrigatoriamente por falsas idéias de construção imaginativa, e deste modo demonstrar a ilusão destes momentos que o poder idealizou como coisas obrigatórias, e é deste modo promovem algumas festas de confraternização, mas sabendo que o fato "verídico" é irreal e somente esta presente no inconsciente coletivo por força de um sistema de interesses. O que se deve ter em conta é que o poder se auto promove e difunde-se por vários meios uma condição irreal e se apropria de determinados valores opressivos para determinar o fato como verdade absoluta, como se isso fosse possível; enganando para manipular a massa.

Como o conceito já esta impregnado como fonte fidedigna e sem contestação evita-se aceitar outro modelo mais próximo dos fatos que se envolvem e buscam abarcar o momento histórico como padrão para ser transmitido as tantas gerações como fato consumado.

BANNER EXPOSTO NO MUSEU DE SANTO AMARO (PAULISTA)

O dia 18 de maio foi instituído como DIA INTERNACIONAL DOS MUSEUS, onde se concentra um saber do que foi um determinado momento contemporâneo e que houve por bem ser preservado para que admirássemos tudo quanto precedeu antes de nosso instante contemplativo, de nossa contemporaneidade, do saber que os Templos das Musas insistem em preservar como valores, local onde se concentra toda beleza que deve ser admirada por gerações vindouras, e que irão admirar, ou não, nossa obra para a posteridade. Muito será emoldurado em detalhes para que o objeto tenha seu merecimento reconhecido.

O que não se pode aceitar é emoldurar o irreal,  inclusive não há o direito de omitir-se nem  interpretar episódios acontecidos. Se fato  não aconteceu ou e se houve o fato, o feito  não pode ser alterado em uma fantasia que não condiz com as condições daquele momento histórico, construindo um quadro  bem pintado  que se torna simplesmente algo decorativo de uma sala pomposa, que se quer enaltecer e engrandecer o fato para torná-lo verdadeiro, mas que no mais alto contexto histórico é apenas uma obra decorativa, de um grande artista contratado em determinada época para relevar interesses de um poder absoluto que pretende criar seus heróis. Isto é feito para dar distinção a uma identidade nacional sem uma estrutura de participação efetiva social, aliás uma dimensão inexistente, pois as transformações brasileiras nunca foram revolucionárias a ponto de engendrar as condições participativas aprofundadas das bases populares. Estes fatos sempre, e todo momento histórico. saíram das muralhas do poder controlador das forças de reação que num primeiro instante usam a massa disforme para se apoderar de todo movimento destituindo-a de suas revindicações logo que se apoderam das ações.
A beleza do projeto do Museu Paulista foi de Tommaso Gaudenzio Bezzi e Luigi Pucci Tendo sido iniciada sua construção no ano de 1884, é um conjunto a ser admiravel do Museu Paulista contratado pela comissão de Obras do Monumento do Ipiranga, por intermédio de seu presidente o barão de Ramalho. Bezzi recepcionou o conde D’Eu em março de 1889, o qual se mostrou defensor, assim como Bezzi, de se efetivar a execução dos relevos decorativos destinados ao frontão do edifício. (Boletin - S. A. o sr. conde d’Eu -Correio Paulistano, São Paulo,27 de março de 1889).
POR FORA DO NOSSO MUSEU

O local ganhou jardins executados pelo engenheiro e paisagista belga Arsène Puttemans, inspirados no modelo francês de Versalhes, foi encarregado da jardinagem concretizada entre 1908 e 1909 e foi construído ao redor do edifício de estilo arquitetônico renascentista e permaneceu desocupado por muito tempo.

OS BELOS JARDINS DO CONJUNTO ONTEM E HOJE

O inglês Archibald Forrest comentou em 1912:

"Aos domingos e feriados, o passeio favorito do povo - italianos, negros, portugueses, alemães, paulistas e ingleses - é ir de carro da Praça da Sé até o Museu do Ipiranga. A viagem ocupa cerca de meia hora, e o percurso é feito saindo-se do Largo 7 de Setembro, descendo pela Rua da Glória, com suas pequenas casas uniformes, passando pelo Matadouro, e seguindo pelas alamedas arborizadas de ambos os lados e que vão em direção aos bairros, onde os edifícios avançam em todas as direções e os operários executam suas tarefas, apesar de ser domingo. Fora da cidade, chácaras de hortaliças, ricos gramados verdes, terra vermelha, abetos e pinheiros por todos os lados, o gado pastando no prado, vilas com telhados cor-de-rosa e fábricas surgindo entre os campos verdes. A maioria dos passageiros desce para os jardins do Ipiranga, situados em um terreno com largas calçadas, que vai se elevando suavemente, marginado por ciprestes, canteiros de flores muito bem tratados e todos os tipos de arbustos".

POR DENTRO DO NOSSO MUSEU

Compartilhamos deste mesmo entusiasmo e como permissão analítica onde estão todo o acervo onde os catálogos constam de 125 mil peças, entre objetos, iconografia e documentação dos períodos do século XVII até meados do século XX da História do Brasil, centralizadas na História de São Paulo, além de biblioteca tem mais de 100 mil volumes e documentação Histórica. Porque se limitam a demonstrar tão pouco acervo e por vezes modular salas com temas sem relevância da historiografia como expor contextos como invólucros de doces e dar tanta importância a quadros fabricados as pressas por contratos para preenchimento de espaços no advento republicano, um contraste a ser pensado, e com estruturas de obras onde pouco ou nada representam de concreto como o “quadro mais importante do acervo” onde retratou dom Pedro como um herói em comitiva suprema e este contexto foi encomendado a Pedro Américo bolsista em Florença, Itália, que criou o mito deste grito, e se retratou neste momento de 1822 levantando um guarda chuva em contumaz movimento acompanhando o desembainhar de uma espada imperadora, onde o de maior relevância esta do lado esquerdo do observador:

Um homem a direcionar o seu carro de boi em lida diária é o carreiro com seu carro de bois, retrata as margens plácidas perturbada pelo acontecimento retratando o que talvez fosse o real do povo brasileiro onde o espantado demonstra destoado do fato.
IMAGEM EXTERNA:  MONUMENTO À INDEPENDÊNCIA(Obra de Ettore Ximenes, 1922) 
Foto Carlos Fatorelli, 2011. Coleção: Fatorelli / COPYLEFT

 Afinal este é o nosso mais importante museu? Definitivamente não é esta pobreza que representa a importância histórica de São Paulo, exposta em acervo que não condiz com a realidade histórica e nem do movimento independentemente do mito!
Há na Pinacoteca do Estado um quadro que representa o museu paulista, De Salinas Y Teruel, "Festa Escolar no Museu do Ipiranga", de 1912, óleo sobre tela e que foi doado na década 1940 pela viúva do professor e juiz da Faculdade de Direito de São Paulo,José Manuel de Azevedo Marques, que também foi ministro das relações exteriores do governo de Epitácio Pessoa. Esta e outras obras da Pinacoteca podem ser retratadas pelos visitantes sem o constrangimento do Museu Paulista que mantém determinadas regras de controle para evitar fotografias do local com adestrados seguranças com comportamento mecânico que proíbem qualquer movimento para registrar uma visita interna, não se sabe ao certo a quem se dirigir, pois o preparo de orientação local é bem pouco.
O seu primeiro diretor foi Hermann Friedrich Albrecht von Ihering. A ele dirige-se Orville Derby em carta de 23de janeiro de 1893 na qual, desvenda completamente o caminho e as motivações que levaram à fundação do Museu Paulista, e não vê interesse por parte do governo paulista:

Em primeiro lugar, o governo de São Paulo não está especialmente interessado nem em estudos zoológicos nem no museu, considerando este último mais bem como uma espécie de elefante branco [...] uma opinião com a qual eu intimamente concordo. Ele consiste de uma coleção privada feita por um “curioso” e vendida por ele junto com a casa para um rico especulador durante o “boom” [do café], o qual fez presente da coleção ao governo e ficou com a casa. O governo, não sabendo o que fazer com ela e não desejando incorrer em despesa, “encostou” o museu na Comissão, e eu muito relutantemente aceitei o encargo a fim de preservar o que havia de valor nas coleções e para manter viva a idéia de um museu, que no futuro poderá se transformar em algo melhor. [...] Quando apelos me foram feitos para arranjar algo para o senhor aqui em São Paulo, tomei a idéia do museu e do trabalho zoológico na Comissão como os meios práticos para fazer o que me haviam pedido a fim de ajudar um colega que se supunha necessitado de um tal serviço. O que propus foi tanto quanto pude, naquelas circunstâncias. [...] A autorização para nomear um zoologista [...] foi um sinal de consideração a mim, não um interesse no Museu ou em pesquisa zoológica. [...] Como o sr. vê, o lugar oferecido foi criado ad hoc para o senhor, e se não aceitá-lo nenhuma indicação será feita. Apenas três pessoas em todo São Paulo, Dafert, Löfgren e eu, sentiremos muito sua decisão, os outros não ligarão a mínima ao assunto, quer a favor ou contra. Não entrei antes nesses assuntos porque não desejava que viesse para cá com algum tipo de obrigação pessoal para comigo [...] mas [...] vi pelas suas cartas que compreendeu de forma absolutamente errônea a situação. Ficarei encantado se você decidir vir e nos dar a sua cooperação no trabalho científico de São Paulo, o único lugar em que mais de um indivíduo está tentando fazer alguma coisa em todo o Brasil. Se, ao considerar toda a problemática, você decidir aceitar, por favor telegrafe a palavra “recebido”.
A inauguração do Museu ocorreu em 15 de novembro de 1890 e por ordem do governo republicano foi determinado como abrigo do Museu do Estado pelas doações do Coronel Joaquim Sertório e do coronel Pessanha e em 7 de setembro de 1895 foi inaugurada a instituição como museu de história natural adotando o nome de Museu Paulista, que deve estar em busca da República independente defendida em São Paulo na Convenção de Itu.

O estilo não é só o homem, o estilo é também a época"  (naturalista francês Buffon)

NOTA:

"Independência ou Morte" do pintor paraibano  Pedro Américo de Figueiredo e Melo (1843-1905) foi idealizada em óleo sobre tela de 4,15 x 7,60 metros, pintado pelo antigo aluno da Escola de Belas Artes de Paris, em 1888, em Florença, na Itália e pertence ao acervo do Museu da Cidade de São Paulo e é considerada a obra mais importante em exposição. O óleo sobre tela Independência ou Morte foi subvencionado pelo Império. Gonzaga Duque sustenta no livro Mocidade Morta, um Pedro Américo protótipo de pintor oficial. Aquele sujeito com aptidões para promover a própria arte, servindo-se de modo desinibido das instituições públicas. Em 1858, Américo escreveu carta a Pedro II: “Agora, pois que tenho os conhecimentos que para a Pintura poderia receber da dita Academia, para prosseguir na minha carreira indispensável é uma viagem à Europa, e como a Academia não me pode facultar os meios necessários para esta viagem, por ter ela preenchido o número de seus pensionistas, venho confiado na extrema bondade de Vossa Majestade Imperial solicitar a graça de me mandar particularmente acabar meus estudos na Europa.”

BIBLIOGRAFIA:

1) LIMA DE TOLEDO, Benedito. Museu do Ipiranga. Um futuro para o projeto de Tommaso Gaudenzio Bezzi e Luigi Pucci. Drops, São Paulo, 10.028, Vitruvius, jun 2009 . 2)

2) TAUNAY, Afonso d’ E. Guia da Seção Histórica do Museu Paulista. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 1937.

3) WITTER, José Sebastião (dir.). Museu Paulista, um monumento no Ipiranga: história de um edifício centenário e de sua recuperação. São Paulo: FIESP, 1997.

4) LOPES, Maria Margaret e FIGUEIRÔA, Silvia Fernanda de Mendonça. A Criação do Museu Paulistana Correspondência De Hermann Von Ihering (1850-1930) -Departamento de Geociências Aplicadasao Ensino/Ig-Unicamp

5) Os esplendores da imortalidade, de José Murilo de Carvalho
http://www1.folha.uol.com.br/fol/brasil500/dc_6_2.htm

segunda-feira, 30 de maio de 2011

O Jornal como Fonte para a Historiografia

A INVESTIGAÇÃO DO RECORTE JORNALÍSTICO

Quando a jornalista argentina Roxana Murdochowicz coloca com propriedade que jornais são “janelas de papel” mostra a relação entre aquele que faz uso da informação gerando entre o jornal e seu leitor uma análise dos fatos apresentados, com a imparcialidade da notícia, sem interferência julgadora, mas com o sentido investigativo do fato na pesquisa do jornalismo.

O jornal é a rápida informação escrita do fato, é algo existente, causado por ações provenientes do meio que é narrado como parte de um acontecimento e deve ser colocado com a fidelidade próxima da realidade daquilo que ocasionou a matéria exposta.

A janela transportada do jornal para o leitor ocasiona a leitura crítica formando opinião do acontecimento, e que nem sempre tem unanimidade analítica, e nisto está o papel da informação estampada nos jornais, evidente com correntes diversificadas de opiniões. Este é o papel do jornal na sociedade, gerar a crítica e desenvolver a capacidade do leitor questionar, perguntar, gerar a salutar discussão dos fatos pelo raciocínio e desenvolvimento daquele que se depara com a notícia, interesse daquele instante, embora haja o jornalismo historiográfico que resiste ao tempo no espaço demarcado pelo instante que fica registrado como ação de transformação.

Evidente que a notícia imediata causa o impacto do primeiro instante, sendo discutido muitas vezes por vários segmentos da sociedade com conclusões pessoais de várias maneiras, o que ocasionam controvérsias interessantes, e é isto que o jornal proporciona, causando o efeito que no burburinho das várias mentalidades passa a ser parte daquela cidade, de determinada localidade, nas fábricas, no comércio, em repartições governamentais etc.

A notícia tem que criar impacto inicial para ser geradora da discussão do acontecimento e isto aparece evidentemente na primeira página, onde se esboça o conteúdo do jornal, e estão as mais importantes manchetes e furos de reportagem, de algum experiente jornalista, que abarca determinada reportagem de interesse coletivo.

Fica um parêntese, citando fragmento intitulado Jornal: “Perspectiva de Análise e de Utilização como Recurso Didático no Ensino de Historia”, da professora Ana Lúcia da Silva:

“O historiador deve sempre, sem negligenciar a forma do discurso, relacioná-lo ao social”.

Há métodos de pesquisa que realmente é fascinante como análise crítica comparativa, ao dessecar a informação através de dois ou mais jornais, eliminando o que não são comuns entre ambos, passando a buscar aquilo que se próxima do fato e dele extrair o mérito da informação, tanto no quadro que se apresenta no âmbito do quadro nacional e/ou internacional, resultando deste modo o jornalismo comparado das informações para efeitos de pesquisa historiográfica.

Esta possibilidade esta perto da investigação cabendo averiguar os fatos decorrentes da notícia, extraindo dela o máximo possível de informações, evitando raciocínio dúbio e questionando os fatos que geraram a notícia, comparando e interpretando de maneira cientifica aquilo que é subsídio retirado da imprensa para ser composto e analisado, sendo filtrado o processo da historiografia social, e tirando proveito da fonte que se apresenta para análise e comprovação dos fatos.

As fontes jornalísticas serviram de base de informação para sociólogos, literatos, historiadores que complementaram suas pesquisas valendo-se de periódicos, entre eles estão Gilberto Freire, Florestan Fernandes e Roger Bastide, que são excelência em estudos científicos usados por muitos pesquisadores dos movimentos da sociedade.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

A PROLE IMPERIAL: A CONFORMAÇÃO DA ELITE

O INDEPENDENTE E SEUS DEPENDENTES

Dom Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon, mais conhecido entre nós como D. Pedro I,(Dom Pedro IV de Portugal) nasceu a 12 de outubro de 1798 no Palácio de Queluz, em Portugal. Era um dos nove filhos de Dom João VI e de Dona Carlota Joaquina de Bourbon. O destino quis que fosse ele o futuro autor de nossa emancipação política. Com a invasão de Portugal pelas tropas de Napoleão, veio para o Brasil em novembro de 1807, chegando no Rio de Janeiro em março de 1808, com nove anos. Aqui se fez homem. Quando do retorno de sua família a Portugal, em 1821, ficou no Brasil como Príncipe Regente. Influenciado por bons brasileiros, acabaria proclamando nossa Independência a 7 de setembro de 1822, sendo aclamado Imperador do Brasil a 12 de outubro seguinte. Apesar de nossa dívida de gratidão para com D. Pedro I, seu governo deixou muito a desejar, sendo obrigado a renunciar a 7 de abril de 1831, deixando aqui no Brasil seu filho D. Pedro II, então com cinco anos. De volta a Portugal, retomou, após longa campanha militar, o trono lusitano de seu irmão usurpador e morreu ainda muito jovem como Rei D. Pedro IV de Portugal, a 24 de setembro de 1834. Se foi um mau governante entre nós, deixou, entretanto, fama de bom amante. Com efeito, são lendárias as histórias e casos de D. Pedro I com as mais incríveis mulheres, compromissadas ou não. Ele próprio casou-se duas vezes, o que não o impediu de deixar uma  legião de filhos legítimos, legitimados ou não. Aqui tentamos apenas listar os mais bem documentados.


*Do casamento de D. Pedro com Da. Leopoldina, Arquiduquesa da Áustria, primeira Imperatriz do Brasil, houve sete filhos legítimos:

Da. Maria da Glória (1819);

D. Miguel (1820, morreu criança);

D. João Carlos (1821, morreu criança);

Da. Januária (1822);

Da. Paula Mariana (1823, morreu criança);

D. Francisco (1824, morreu criança);

D. Pedro de Alcântara (1825).

Houve ainda mais dois fetos abortados, o último deles em dezembro de 1826.

*Do segundo consórcio com Da. Amélia de Leuchtemberg,

Da. Maria Amélia, nascida em França a 1o. de dezembro de 1831.

*Dos que podem ser citados, com relativa segurança, como filhos naturais, teve D. Pedro I com: Marquesa de Santos, Da. Domitila de Castro Canto e Melo desquitada de Felício Pinto Coelho de Mendonça e já mãe de três filhos:

Isabel Maria (1824), Duquesa de Goiás;

Maria Isabel e Pedro, falecidos em criança;

Maria Isabel (1830), Condêssa de Iguaçu.

*Com a Baronesa de Sorocaba, irmã da anterior, Da. Maria Benedita Delfim Pereira, casada com Boaventura Delfim Pereira e já mãe de nove filhos:

Rodrigo Delfim Pereira (1830).

*Com Da. Joana Mosqueira:

José de Bragança e Bourbon.

*Com a austríaca Ana Steinhaussem Schüch, casada com o bibliotecário da Imperatriz:

Augusto Schüch (1817).

*Com a formosa mineira Da. Gertrudes Meireles:

Teotônio Meireles da Silva (1823).

*Com a poetisa mineira Luísa de Menezes (Luizinha):

Mariana Amélia de Albuquerque (1823).

*Com Da. Letícia Lacy, esposa de um violinista espanhol:

D. Luiz Pablo Rosquellas, nascido no Rio a 25 de abril de 1823.

*Com Da. Cleménce Saisset, casada com Pierre Felix Saisset e já mãe de dois filhos:

Pedro de Alcântara Brasileiro, nascido em Paris, a 23 de agosto de 1829.

*Com a bailarina do Teatro São João, Da. Noemi Valency:

um filho, nascido em Pernambuco e que viveu pouco tempo (1817).

*Com Da. Adozinda Carneiro Leão (Zindinha):

uma criança da qual não se teve mais notícias.

*Com Andreza dos Santos, preta quituteira do Palácio de São Cristóvão:

uma menina mulata, nascida em 1831.

*Com a esposa de um de seus ministros: (quem?)

Da. Urbana de tal.

*Era também filha de D. Pedro I, uma tal de Isabel de Bourbon e Bragança, nascida no Rio de Janeiro, de mãe desconhecida.

*Uma outra homônima, e morando na França, viúva de um tal Lafarge, afiançava também ser filha bastarda de nosso Imperador.

*Finalmente, com uma freira com abandono do hábito, na Ilha Terceira: um menino, nascido em 1832.

Somando tudo, podemos concluir que, de 1817 a 1832, num espaço de quinze anos, nosso primeiro Imperador foi pai de, pelo menos, umas 28 crianças, fora as de história duvidosa, que são muitas.

Um caso a parte: A Marquesa de Santos


Domitila de Castro Canto e Melo nascida em São Paulo em 27 de dezembro de 1797. Foi a mais famosa amante de Dom Pedro I, à qual concedeu os títulos nobiliárquicos de viscondessa e, depois, de marquesa de Santos. Filha do coronel João de Castro Canto e Melo primeiro visconde de Castro, e de Dona Escolástica Bonifácio de Toledo Ribas, casou-se em 1813 com o alferes Felício Pinto Coelho de Mendonça (1789-1833). Mudou-se para Vila Rica, onde nasceram seus dois primeiros filhos, Francisca e Felício. Deixou o marido retornando para a casa dos pais, após ser esfaqueada em 1815 e grávida de seu 3º filho. Deu a luz a uma criança batizada com o nome de João que veio a falecer logo depois. O casamento foi anulado por interferência real de Dom João VI, em 1819. Pouco antes da proclamação da independência, numa viagem a São Paulo, o príncipe regente conheceu e levou Domitila para a corte, onde viveria junto ao paço de São Cristóvão, de 1822 a 1829, no Palacete do Caminho Novo, que imperador lhe deu de presente, adaptado e decorado pelo artista Francisco Pedro do Amaral. Recebeu o título de viscondessa de Santos em 1825 e de Marquesa de Santos em 1826.

Dessa ligação com Dom Pedro I nasceram-lhes cinco filhos: um menino natimorto (1823) Isabel Maria de Alcântara Brasileira (1824–1898), duquesa de Goiás, Pedro de Alcântara Brasileiro (1825–1826), falecido antes de completar um ano Maria Isabel de Alcântara Brasileira (1827), duquesa do Ceará, que morreu com meses de idade, antes de lhe ser lavrado o título Maria Isabel II de Alcântara Brasileira (1830–1896)

Somente duas filhas chegaram à idade adulta. Isabel Maria Alcântara Brasileira, nascida no Rio de Janeiro RJ, em 23 de maio de 1824, sendo batizada na igreja do Engenho Velho como Isabel, filha de pais incógnitos a 31 de maio de 1824, sendo reconhecida como filha do imperador em 20 de maio de 1826, sendo registrada com o nome de Isabel Maria de Alcântara Brasileira, recomendada em testamento aos cuidados da imperatriz Maria Amélia. Recebeu o título de duquesa de Goiás e teve educação esmerada em colégios em Paris e Munique. Casou-se em 1843, com Ernesto Fichler, conde de Treuberg, deixando numerosa descendência.

A segunda filha, Maria Isabel II de Alcântara Brasileira (1830-1896) só teve o reconhecimento da paternidade às vésperas da morte do Imperador.

O relacionamento com Domitila foi rompido em 1829, que ao receber um grande patrimônio, voltou à São Paulo, passando a viver maritalmente com Raphael Tobias de Aguiar, um dos homens mais ricos da região e destacado político liberal, com quem se casou em 1842 e teve, deste relacionamento, mais seis filhos. Enviuvando em 1857 e dona de um grande patrimônio, dedicou-se na velhice a obras de beneficência. Faleceu vítima de enterocolite em 3 de novembro de 1867, sendo sepultada no Cemitério da Consolação, (inaugurado em 1857), em terras doadas por ela.

As amantes com as quais não teve filhos somam-se às dezenas... Numa carta datada de fins de 1831, Dom Pedro confessava a um amigo que “...não podia mais enrijecer certos músculos, o que o fazia com facilidade no passado”.

Usou tanto que gastou... Morreu corroído pela sífilis três anos depois, aos trinta e cinco anos e onze meses de idade.

 
BIBLIOGRAFIA:
 
SETÚBAL, Paulo. As Maluquices do Imperador. São Paulo: Clube do Livro, 1947


SETÚBAL, Paulo. A Marquesa de Santos. São Paulo: Clube do Livro, 1949


Curiosidades do Imperador: Créditos http://www.pdf4free.com


http://www.prodam.sp.gov.br/dph/museus/marquesa.htm

PÍCAROS, OS CHALAÇAS DA NAÇÃO: A ARTE DE ENGANAR

PÍCAROS da PENÍNSULA

Oriundo de Espanha, termo "pícaro" pode estar ligado ao vocábulo "picar", por analogia com os ofícios exercidos pelos ajudantes de cozinha , picadores de touros, nas touradas, auxiliares de

estrebaria. Outros sentidos associam-no ao de ralé, de posição menor na escala social. No contexto torno-se adjetivo de astuto, patife, falta de honra e de vergonha, aliada ao sentido de vida vagabunda, que o termo terá surgido pela primeira vez, na Farsa Custódia de Bartolomeu Palau(1545).

O gênero picaresco estréia na literatura com Lazarillo de Tormes (1554) e atinge a sua definição em Guzmán de Alfarache, obras de cunho autobiográfico em que se radica a caracterização do herói pícaro: é pobre e vagabundo, sendo a constante os elementos mais característicos do pícaro: folgazão e beberrão; trapaceiro, recorrendo a expedientes enganadores; desrespeitando bons costumes e bens alheios. Embora a figura do vagabundo, do boêmio e do marginal, seja tratada em contextos literários anteriores, coletâneas posteriores ao pícaro espanhol (nomeadamente por Bocaccio e Rabelais), o que dá uma singularidade pela sua localização geográfica da Península e consagra este gênero literário.

O pícaro é um produto social, dando-nos o romance picaresco um retrato realista da pobreza e corrupção moral da sociedade espanhola (e portuguesa) dos séculos XVI e XVII, com sua galeria de mendigos, prostitutas, ladrões e outros renegados, retrato da corrupção existente no reino.

PÍCAROS da PENÍNSULA PARA O BRASIL IMPERIAL

Os Pícaros brasileiros colocam o Brasil os mais férteis sistemas para a prática destes representantes, invertem o ato de trabalhar através da arte de enganar. É uma figura crítica espanhola de 1554, cuja função era revelar estruturas sociais, morais e éticas vigentes dentro de classes sociais distintas. Eles conseguem convencer as pessoas que seus atos ilícitos são favoráveis ao bem estar geral e não em benefício subjetivo, ou seja, o contrário da realidade. Ao Pícaro é proibido ter, pois está condenado a "adquirir", e a aquisição deve seguir de delitos. Os Pícaros estão condenados a utilizar em seus discursos, a palavra "eu" diante da sua afronta pública, enquanto os honrados utilizam a terceira pessoa na sua narrativa heróica.

Moral da história: a posse da honraria legítima vinha de herança, enquanto os pícaros tomam posse através do delito.

“PÍCAROS NO BRASIL”, OU “OS CHALAÇAS”

Francisco Gomes da Silva, nasceu em Lisboa filho bastardo do Visconde de Vila Nova da Rainha com uma aldeã pobre de 19 anos, que trabalhava como criada de quarto do Visconde, seduzida por este, registrando a criança como "filho de pais incógnitos". Apesar de não assumi-lo, o Visconde manteve um controle de vigilância e pagou oito mil cruzados ao seu protegido, Antonio Gomes da Silva, para assumir a paternidade do menino e o registrar como filho legítimo,além de ganhar por influência do Visconde, um emprego público como ourives da Casa Real.

O menino foi mandado para o seminário de Santarém, preparar-se para ser sacerdote, aprendendo a língua dos padres, o latim, e vernáculos correntes de então: francês, inglês, italiano e espanhol. Estava quase a ordenar-se quando chegaou a notícia dos preparativos da fuga da corte portuguesa para o Brasil. Abandonou o seminário, e com 16 anos viajou para Lisboa, decidido a participar dos acontecimentos, mas no meio do caminho foi preso por uma guarnição francesa e condenado como espião. Às vésperas de ser fuzilado, conseguiu evadir-se, chegando ao cais de Lisboa na mesma manhã em que D. João VI e sua corte embarcavam para o Brasil.Conseguindo por influência dos pais(por falta de um, tinha dois) acompanhou o pai adotivo fazendo parte da comitiva de 15 mil pessoas em fulga desenfreada pela invasão de Napoleão e que desembarcaria no Rio de Janeiro em março de 1808. Já no Rio, Chalaça passou a auxiliar o ourives Antonio Gomes, mas logo suas noitadas boêmias e desordeiras levaram-no a uma séria briga com o "pai". Em 1810 já se insinuara no palácio, obtendo a inclusão na lista de criados honorários do Paço de São Cristovão. Um ano depois, era nomeado moço Criado da Casa Real por D. João. Em 1812, aos 21 anos, já recebia algumas vantagens por sua atuação em "serviços reservados" prestados ao Príncipe Regente, pela sua bela caligrafia ao redigir documentos, tornou-se secretário.

Considerando que a corte era um ninho de intrigas entre facções rivais que se espionavam entre si, compreende-se que já começava a desenvolver ali algumas das "qualidades" que o tornariam famoso no Brasil Imperial. Tanto que em 1816 já era juiz da balança da Casa da Moeda e logo tornava-se o amigo favorito do príncipe D. Pedro, que encontrou no Chalaça o companheiro ideal para farras e escapadas noturnas.

D. João mantinha sua esposa, D. Carlota Joaquina sob discreta vigilância. O Chalaça logo teria papel destacado nesse jogo de espionagem familiar, o que lhe garantiu o ódio da espanhola, propensa a fugas amorosas. A esperta rainha esperava apenas uma chance para derrubar o bastardo insinuante. Denunciado pela rainha, num flagrante pelo próprio D. João VI numa sala do palácio em companhia da dama do Paço, D. Eugênia de Castro, ambos nus não deixava dúvidas quanto ao fato. D. João expulsou-o de seu serviço e baixou ordem de que o Chalaça deveria manter-se a uma distância mínima de dez léguas( mais de 60 quilometros) da Corte.

Chalaça abrigou-se na casa de um vigário conhecido do antigo seminário de Santarém, até que a intervenção de seu verdadeiro pai, o Visconde de Vila Nova, reabilitou-o junto a D. João.

A Rua Direita, hoje Primeiro de Março, era a mais importante do Rio de Janeiro do início do século XIX. Neste ambiente social em transformação, encontravam-se soldados, escravos, comerciantes e fidalgos, em busca de aventuras, lugar propício para um pícaro sem escrúpulos e intelectualmente bem dotado, agir.

Nosso primeiro Imperador sempre teve fraqueza imperdoável: gozava de estar rodeado de gente propícia a canalhice, e cercoou-o desavergonhadamente outro pícaro bem postado.

Em 1816, D.João VI elevou o servidor Plácido Antônio Pereira de Abreu ao cargo de “Chefe da Real Ucharia”, a dispensa de mantimentos do Palácio Real, onde eram armazenados todos os alimentos que abasteciam a mesa do rei. Mais tarde foi sócio de D. Pedro “num negócio de compra e venda de bois e cavalos”, costumava requisitar “toda a produção de determinado gênero alimentício”, revendendo o que sobrava a particulares por preços extorsivos. A situação atingiu tal nível de abuso que, em 1819, três anos depois, um grupo de cidadãos enviou carta de protesto ao rei. Nela, reclamava-se da “falta de galinhas para o socorro dos enfermos particulares, pois por dinheiro algum as podem encontrar senão em mãos do galinheiro da Real Ucharia”. Foi um pícaro perfeito aos custeios de outrem, chegando ao cargo de tesoureiro da Imperatriz, e espião desta, claro com galantes mimos reais dados de bom grado. •.

O amigo Plácido ampliou os ganhos do príncipe, que era de um conto de réis, pensão dada por D. João ao filho Pedro, que mal sustentava as alcovas das orgias. Pois bem, Plácido, tornou-se sócio de Pedro ao propor negócio escuso entre ele e o herdeiro do trono. O negócio estaria vinculado às tropas de animais que chegavam ao Rio de Janeiro, que seriam minuciosamente averiguados e depois se escolhiam os melhores animais da manada e recolhidos as estrebarias do Paço. Os tratadores lustravam o pelo dos animais, que num passe de mágica viravam puros sangues árabes. A trama era perfeita e o pangaré, da noite para o dia, tornava-se animal de raça perfeito e lucrativo, e o comprador saía honrado por ter adquirido um animal das cavalariças reais. A falcatrua descoberta pelo rei fez descompostura aos dois, proibindo patifaria além disso, servindo-se do nome da Casa Real. O afeiçoamento não terminou entre ambos, muito pelo contrário, ampliou o relacionamento entre o príncipe e o servidor do Paço.

O rei manda-lhe arranjar um casamento com alguma família real de Europa, para tirar-lhe do meio promíscuo. O principe d. Pedro de Bourbon e Bragança, primogênito de “El-Rey”, herdeiro do trono de Portugal, do Brasil e do Algarve, ficou compromissado, assumindo com a Arquiduquesa da Áustria, Dona Maria Leopoldina Josefa Carolina, filha de D.Francisco I. O Marquês de Marialva arranja os preparativos para a vinda da consorte ao Brasil.Logo mostrou-se a incompatibidade deste matrimônio, de dois gênios diferentes, e a feminilidade da Imperatriz era nula, a ponto de exporem ser seduzida por Maria Graham, dama de companhia, inglesa, na Quinta da Boa Vista. Por outro lado não se nega a cultura de D. Leopoldina contrastada com a rudeza do Bragança, que pouco se atinha aos livros. Ela não satisfez as “vontades” do Imperador, que buscava saídas com seus amigos pícaros palacianos, e sem estirpe, não adiantou o rei interferir para mudar o carater do Imperador, estava no sangue, por parte da mãe!

Voltando ao Chalaça, houve quem o chamasse de alcoviteiro e safardana, mais tais acusações não passavam de calúnias, e se fossem eram abafadas para não afluir como um grande embusteiro, e isto parece ter sido de sobra!

Se o Chalaça conseguiu ascender de simples serviçal a um dos mais influentes homens do Império brasileiro, isto aconteceu principalmente graças à sua privilegiada inteligência.

Além de habilidoso conselheiro, este companheiro de D. Pedro I, com quem deparou no “Botequim da Corneta” quando entoava trovas e lundus, e a contar piadas, patacoadas, lorotas. Assim Francisco Gomes não ganhou seu nome a toa, pois Chalaça significa gracejo, caçoada, zombaria. Com seu humor, acrescentado de seu talento musical, tirando inspiração de sua viola, vivia de galanteios enganadores. Possuía habilidade em intermediar encontros amorosos de D. Pedro I, fizeram com que ele fosse à companhia preferida do imperador em noitadas e serestas.

O personagem Chalaça esteve em todos os grandes acontecimentos da jovem nação brasileira: gritou junto com o Imperador, às margens do Ipiranga, e talvez esteve presente como secretário escrevendo a primeira Constituição, com sua bela caligrafia, dote que lhe abriram portas.

O Chalaça foi exemplo acabado de estadista safardana, figuras comuns e bem conhecidas do cenário nacional, até ganhou aberturas oficiais em todas as Secretárias de Estado e constituiu-se num modelo muito imitado pelos governantes brasileiros.

Ganhou honrarias e foi condecorado com a Ordem do Cruzeiro, Comenda da Ordem de Cristo, além de Comenda da Torre e Espada, como também tornou-se comandante da Imperial Guarda de Honra do Imperador, Procurador deste e Conselheiro de Estado, enfim serviu-se muito bem das oferendas agraciadas pelo Imperador, e sempre prestou-lhe honrados préstimos!

Chalaça estava tão ligado aos interesses das relações amorosas do Imperador, que não faltava sua vez em aproveitar os momentos de usurpar está preferência imperial por Domitila e ter repentes de elogios a senhora Marquesa de Santos:

Naquela bonita noite de verão, noite romântica de luar, foi com sorriso encantador que a senhora Marquesa de Santos acolheu o perfumado amigo do Imperador:

_ Seja bem vindo, meu caro Chalaça!

_Deus a salve e guarde senhora Marquesa!

Brejeira, a irradiar graças e feitiços, Dona Domitila começou risonhamente:

_Recebi ontem,com rosas, o convite para o banquete. E nem sei o que deva agradecer: se o convite, se as rosas...

_Oh, senhora Marquesa, as rosas...

_Lindas!Lá estão na jarra do meu tocador, é pena que emurcheçam tão breve. Se não, meu caro Chalaça, havia de me florir com elas para ir ao banquete.

_A senhora Marquesa não precisa florir-se... Atalhou o Chalaça madrigalesco; Vossa Excelência, mesmo sem uma flor, será fatalmente, a primavera da festa!(Setúbal, p.183- Marquesa de Santos).

Embora o desfecho pareça não ser aquele esperado pelo “emissário” do Imperador, para permear e servir-se das gentilezas de Domitila, nos primeiros contatos antes da chegada de D. Pedro e sua comitiva, ávido em pernoitar na alcova escolhida.

Neste dia o atrito entre Chalaça e Domitila parece ter causado mal estar, mas isso não tira o mérito de seus argumentos, em “preparar o caminho”.

Seu galanteio dirigido às damas dava-lhe ares de perspicácia, alem de trajar-se com bom gosto e requinte, a não se repetir na vestimenta mostrando ser conhecedor da arte da moda, até no simples penduricalho “plastom” a cair-lhe do pescoço, soçobrava quaisquer corações, fazendo-os apaixonarem-se, um verdadeiro “petiscador de mulherinhas” (Setúbal, p.119- As Maluquices do Imperador). Ardiloso e matreiro aos poucos ganhava altos conceitos na vida social da corte, talvez ate fazendo frente ao grande prestigio do Imperador.

Quando o Imperador quis fazê-lo marquês bateu-lhe de frente o maior vulto da história do ministério imperial: Caldeira Brant, Marquês de Barbacena, pretendendo contornar a oposição, e colocá-lo para organizar um novo ministério com o nome de seu amigo Chalaça.

Isto já era demais extrapolava a sanidade não existindo condições de representar o novo país diante das outras nações. Dona Amélia Beauharnais, Princesa da Baviera, Duquesa de Leuchtenberg, na qual a família tinha ligações com os Bonaparte, segundas núpcias do Imperador, apóia a decisão de Barbacena, pois o feito se concretizado seria um desastre diplomático, e um desastre para o novo Império, ainda se firmando como nação.

Chalaça deste modo foi enviado como diplomata brasileiro para Nápoles. Para seu “desterro” foram providenciadas as maiores regalias para uma boa viagem: bons vinhos, talheres, copos finos além de conceder pensão anual de 25 mil francos, nada mal para quem era bastardo, chegou fugido ao Brasil, perto de ser fuzilado pelo exército francês, quando da invasão de Napoleão em Portugal. Saia coberto de honrarias, de boa colocação, para representar o Brasil na Europa.

PÍCAROS JUSTIFICADOS DA NAÇÃO

Verdadeiros representantes picarescos, formadores das melhores escolas dos escroques atuais, representantes mais perfeitos dos chalaças que circulam em todos os “Paços da República”, buscando a passos largos tornarem-se ministros. Pena faltar hoje um ministério que diga não, antes de tornarem-se rufiões senadores.

NOTAS:

1) A expressão "pícaro de cocina" aparece pela primeira vez documentada no Libro de cocina do catalão Roberto Nola. A primeira versão castelhana desta obra, publicada em Toledo, data supostamente de 1477 (Cf. João PalmaFerreira, Do Pícaro na Literatura Portuguesa, Biblioteca Breve, 1981).


2) "Plastom", precursora da gravata, que função nenhuma tem na vestimenta masculina sendo um acessório descartável, pela sua inutilidade no contemporâneo instante, embora no passado serviu para limpar suor do rosto e a boca após alimentação, e era acessório de utilidade aos mouros invasores da Península Ibérica, embora querem alguns dar o mérito a Luiz XV, da França.


BIBLIOGRAFIA:


DINIZ, André e EDER, Antonio. Chalaça, O Amigo do Imperador. São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2006(quadrinhos).

TORERO, Jose Roberto. O Chalaça. São Paulo: Editora Objetiva, 1999.

SETÚBAL, Paulo. As Maluquices do Imperador. São Paulo: Clube do Livro, 1947

SETÚBAL, Paulo. A Marquesa de Santos. São Paulo: Clube do Livro, 1949

MILTON, Heloisa Costa e ESTEVES, Antonio R.(tradução). Lazarilho de Tormes.São Paulo:Editor 34, 2005

BAKTIN, Mikhail. VIEIRA, Yara Frateschi. (tradução). A Cultura Popular Na Idade Media e no Renascimento: O Contexto de François Rabelais. São Paulo: Editor Universidade de Brasília, 1987.


segunda-feira, 16 de maio de 2011

Alexandre Eder & Cia - Frigorífico Santo Amaro

A saga da Indústria pioneira de embutidos no Brasil

Alexandre Eder nasceu em 25 de maio de 1891, na cidade Hohenburg, na fronteira com a França, território da Alemanha, conhecida por seus monastérios beneditinos, homens de formação rígida do “orar e laborar” e que estiveram à frente na elaboração de produtos da gastronomia, tornaram-se conhecedores do “segredo” de embutidos e defumados além de idealizarem bons vinhos de videiras centenárias.

Praça do mercado - Marktplatzem Hohenburg

Era uma grande escola para o jovem Alexandre Eder que se especializou no primeiro ramo. Com o advento da Primeira Grande Guerra, com as animosidades acirradas entre França e Alemanha, resolveu partir. Na Alemanha, era técnico em carnes, pesquisava, aprendendo coisas a respeito da industrialização de carnes e seus derivados.
                                                                     Alexandre Eder

Desembarcou em Pernambuco, no Brasil, em 1914, no apogeu da Primeira Guerra Mundial como marinheiro em um navio com muitos imigrantes. Alexandre Eder acabou permanecendo algum tempo em Recife, onde para viver exerceu trabalho braçal, onde contava:

“Cheguei a São Paulo em 1915, depois de ter passado por várias cidades do interior de Minas, Goiás, Mato Grosso, onde sempre procurei me dedicar à pecuária”

Em São Paulo existia grande colônia alemã, onde se adaptou com facilidade por sua personalidade e também pelos conhecimentos técnicos adquiridos em sua terra natal. Foi assim que durante a Primeira Guerra Mundial trabalhou em vários estabelecimentos como técnico na fabricação de frios e conservas, mas estava interessado em ter seu próprio negócio. Pressentindo a formidável oportunidade neste campo ainda incipiente no Brasil, planificou as bases de seu sonho de jovem. Uniu-se a outro grande empreendedor, Max Satzke, também natural da Alemanha, nascido em 23 de abril de 1895, relação de amizade quando trabalhavam juntos no Frigorífico Continental, depois Wilson, onde decidiram firmar uma sociedade e trabalharem por conta própria, comprando o Frigorifico Schalfke, de Emma Schalfke, em Santo Amaro,

O COMMERCIO DE SANTO AMARO Nº 15- 4 DE SETEMBRO DE 1921

 onde residiam muitos imigrantes germânicos, descendentes dos primeiros colonos vindos para o Brasil em 1829 para o projeto do governo imperial instituindo a Colônia Paulista.

                                                                         Max Satzke

Foram estes os primeiros consumidores das salsichas, presuntos e frios produzidos pelos sócios, com a mesma técnica e padrão de qualidade que havia na terra de seus ancestrais, e depois também conquistaram a população local, de várias etnias, com o padrão de qualidade e diversificação de produtos.

Em 1º de junho de 1923 Alexandre Eder e Max Satzke adotaram a razão social “Alexandre Eder & Cia - Frigorifico Santo Amaro” e se esforçaram para ampliar o negócio, adquirindo terrenos para ampliar a nova fábrica no Município de Santo Amaro , que possuía reduzido número de empreendimentos industriais, quando iniciaram as atividades neste pequeno frigorifico, instalado na Rua Isabel Schmidt, depois abrangendo a esquina da Avenida Adolfo Pinheiro.

Era considerada verdadeira temeridade, pois à época o mercado não era abrangente e ainda não oferecia interesse de pessoas empreendedoras neste seguimento da indústria de frios, um campo a ser conquistado. A visão destes dois homens foi marcante no desenvolvimento industrial da organização que se processou paralelamente ao crescimento industrial de Santo Amaro.

REVISTA "INTERLAGOS" de março de 1951

A profunda significação da marca estava estampada em muitos estabelecimentos do segmento de embutidos: “Temos produtos do Frigorífico Santo Amaro”. Esse slogan determinava a preferência do consumidor pela excelência dos produtos que incluía frios cozidos e defumados, salames, presunto, salsichas Viena e salsichões Schubling e Nürenberg, mortadelas que deixavam o frigorífico todos os dias.

1928
Década 1950

Houve uma tentativa de verticalizar a produção na década de 1950, adquirindo uma fazenda no interior do Estado de São Paulo, onde foram introduzidas no Brasil, as primeiras matrizes de porcos brancos vindos da Alemanha, de carne mais tenra e com menos gordura, ideal para o lombo e pernil, mas as dificuldades operacionais levaram a idéia a ser arquivada para uma retomada posterior.
Com o advento da televisão o Frigorífico Santo Amaro cria se a propaganda rápida que era um slogan que marcou época em anúncios de produtos, onde em um desenho animado apreciava-se a conversa entre um boizinho e um porquinho:
“O que você vai ser quando crescer?”
“Salsichas, ué, mas só se for do Frigor Eder Santo Amaro!”
O Frigorifico usava no inicio das atividades as dependências do Matadouro Municipal de Santo Amaro, nas imediações da Praça Oswaldo Cruz,(atualmente denominada Praça Andrea Doria-em homenagem ao almirante genovês do século 15) com fachada para a Rua Borba Gato.

O gado era transportado para o matadouro, que muitas vezes se espalhavam por algum descuido a manada invadia casas ou algum desgarrado perdi-se no meio do mato. Assim para que houvesse um melhor planejamento, e Santo Amaro desativando as instalações de seu matadouro, o Frigorífico Eder resolveu ampliar suas instalações adquirindo terras para constituir a Fazenda Santa Gertrudes, 118 Alqueires, próximo ao Jardim Campestre, instalando um matadouro próprio no quilometro 26 da Estrada de Itapecerica da Serra, inaugurado no ano de 1964 com a presença de autoridades locais.

Fazenda Santa Gertrudes- ESTRADA DE ITAPECERICA DA SERRA

Quando a organização fez 50 anos de existência houve o depoimento importante à Gazeta de Santo Amaro, edição de 02 a 8 de junho de 1973, do diretor e jornalista Armando da Silva Prado Netto, com o título:

Frigor Eder 50 anos acompanhando a história de Santo Amaro

Há 50 anos quando Alexandre Eder e Max Satzke resolvera fundar a Alexandre Eder & Cia, todas as dificuldades naturais de um empreendimento estiveram à mostra, como um desafio aos dois iniciadores, tendo no trabalho e na dedicação suas principais armas.

Três funcionários apenas com igual número de pequenas máquinas elétricas, levam seus fundadores ao saudosismo: uma fase inesquecível, plataforma para uma estrutura empresarial que foi sendo formada, aumentada e reconhecida com o passar dos anos.

“Uma carroça e um cavalo lindo”, conta os dois, formava a frota de entregas da companhia que erguida em bases simples foi tomando forma gigante em torno de si mesma. Até hoje, meio século depois, já então como Frigor Eder S.A.(passando pela razão social de Frigorífico Santo Amaro S.A.) a empresa mantém-se em Santo Amaro, no mesmo local onde foi fundada na Rua Isabel Schmidt.

Muitas foram as dificuldades encontradas por Alexandre Eder e seu sócio Max, mas, cada adversidade tornava-se um motivo novo para elevarem a qualidade de seus produtos e Alexandre Eder via sempre mais razões para correr atrás da perfeição, tendo como arma para cativar o consumidor o sabor natural de suas mercadorias: “De 3 em 3 anos eu viajava para a Europa, estava sempre a procura de novas fórmulas de novas técnicas”.

A história do Frigor Eder S.A. e de Alexandre Eder e Max, está repleta de um romantismo e de uma coragem que a tornam não só peculiar, mas de fato fascinante. A coragem, o apego ao trabalho e a ousadia são seus aspectos mais marcantes.

Em São Paulo, após trabalhar 5 anos como técnico de um frigorifico, Alexandre Eder tomou a decisão de ter o seu próprio negócio, aplicando os amplos conhecimentos de que era possuidor numa iniciativa sua: ”Eu e meu sócio acordávamos as duas horas da manhã, preparávamos os produtos: salsichas, os defumados e dávamos início a sua distribuição”.

Com a carroça e o cavalo, a mercadoria era transportada ate a estação dos bondes de carga de Santo Amaro. De bonde, até a Praça da Sé, onde outra carroça os esperava para que os produtos e os derivados começassem a ser entregues. No começo ma distribuição visava apenas aos comerciantes do centro da cidade.

“Temos dois fregueses muito importantes, um símbolo para o Frigor Eder, a Casa Godinho , antigamente na Praça de Sé e hoje na Libero Badaró e Alberto Pantel, no Mercado Municipal Central, foram nossos primeiros clientes e o são há 50 anos.”

Trabalhando praticamente dia e noite, vendo dia a dia não só a aceitação com a exigência com seus produtos, Alexandre Eder foi sentindo a dimensão que a sua iniciativa alcançava: “Em 1936, já tínhamos aproximadamente uns 70 empregados e a nossa produção não era suficiente para os pedidos”.

Diante da contínua procura maior do que a oferta Alexandre Eder, viu-se obrigado a adotar novos sistemas, aumentar a produção:

“Em 1936 eu mesmo viajei para a Europa e com base em muitas pesquisas, trouxe uma fórmula para preparar presuntos de 48 horas, depois já estavam prontos para serem servidos. Foi um marco importante para a empresa”.

Tendo sempre como assessores técnicos especialistas na produção de salsinhas - produto base - Alexandre Eder foi sentindo o sucesso de sua iniciativa, mesmo que as dificuldades continuassem quase as mesmas, a necessidade de contratar novos elementos para a nossa indústria.

“Apesar disso, com a procura sempre aumentando, nossa preocupação esteve voltada para a qualidade dos produtos que distribuímos. De nada adiantava ter qualidade para apresentar somente no início e depois não conseguir manter um produto com um nível superior, portanto, com a mesma aceitação.”

No começo, os grandes compradores eram os donos das tradicionais casas de frios, como a Casa Godinho, mercado, os feirantes, os avulsos:

“À medida que víamos as transformações naturais da época se processarem, procurávamos nos adaptar a elas. Não parávamos nunca de pesquisar, de crescer.”

Crescendo sem perder as origens, liderar sem perder a disposição de vir sempre melhor:

“Quando iniciamos no mercado brasileiro, os frios e o verdadeiro presunto eram praticamente desconhecidos, nosso frigorifico se encarregou de tornar esses produtos populares. Hoje podemos nos orgulhar do que fizemos e do que ainda temos por fazer.”

****

Alexandre Eder e Max Satzke sempre foram homens dedicados ao trabalho e a luta que desenvolveram nos primórdios de sua organização graças ao espírito empreendedor e dedicação transformaram a iniciativa em uma florescente indústria que muitos serviços prestaram a Santo Amaro. Desenvolveram sábia política de entendimento com os empregados da organização, sempre mantendo o bem estar de seus colaboradores, destacando a preocupação pelos seus empregados.
RESQUÍCIO IMOBILIÁRIO DO FRIGORÍFICO SANTO AMARO
Alexandre Eder foi agraciado com o titulo de cidadão paulistano pela Câmara Municipal de São Paulo concedido em homenagem aos relevantes serviços prestados a cidade, pelo espírito de arrojo empreendedor, em 16 de junho de 1963, pelo exemplo de tenacidade e de confiança no futuro. Estes homens fizeram o que sonharam e partiram com o dever cumprido Max em 10 de julho de 1973 e Alexandre em 16 de dezembro de 1979.

O Frigorífico Santo Amaro, após os seus idealizadores, continuou a sua produção que já chegava perto de 30 toneladas de frios por dia sendo que a salsicha, que representava 70 % da produção era o “carro chefe” da empresa, o produto mais vendido, principalmente a granel em muitos estados do Brasil.


A indústria empregava na década de 1980 um contingente de 650 pessoas, da área administrativa e de produção, com um capital social de três bilhões de cruzeiros, um aporte respeitável à época. A família assumiu todo o complexo onde passou a ser dirigida por João Eder, Alexandre Satzke, Alexandre Eder Neto, João José Eder e Eduardo de barros Satzke, do patrimônio onde a fábrica em Santo Amaro, na Rua Isabel Schmidt, possuía maior significação, onde tudo se iniciou em terreno de aproximadamente 10 mil metros quadrados e com área construída de 13 mil metros quadrados, um matadouro em Itapecerica da Serra, onde eram abatidos 400 suínos por dia. Os porcos vinham de criadores da região sul do país e possuíam representações em vários locais do Brasil.

Naquele momento a produção era para mercado interno, mas, havia interesse de se globalizar e entrar em outros países, exigentes em qualidade, aliás o que não faltava a organização, fato que necessitava a ampliação das instalações para permitir inclusive barateamento de custos. Os tempos eram outros, e expandir obrigava entrar em novos investimentos financeiros o que deu aos grupos de investidores a posse de um patrimônio ofertado em hipoteca; assim parte deste patrimônio do Frigorífico Santo Amaro passou para os bancos e em 1990 e o restante foi vendido para o grupo Bolsa Nacional de Empresas. Em 1998, o frigorífico Eder Santo Amaro passou a administração e controle de novos proprietários, após completar “bodas de brilhante de existência” não mais brilhava no panorama do local que lhe inspirou o nome como Frigorifico Santo Amaro.


Referências:

Gazeta de Santo Amaro, 07 de junho de 1963: Alexandre Eder, exemplo de tenacidade, trabalho e patriotismo

http://www.casagodinho.com.br/acasagodinho.php

http://pt.wikipedia.org/wiki/Santo_Amaro_(distrito_de_S%C3%A3o_Paulo)

http://pt.wikipedia.org/wiki/Hohenburg
Depoimento de Carlos Ademir Ruedi, que foi responsável pela manutenção, na década de 1980, do Frigor Eder, sendo filho de Carlos Ruedi, que também trabalhou por 38 anos na citada empresa no setor da expedição.

Cemitério Campo Grande: Av. Nossa Senhora do Sabará, 1371, Jardim Marajoara

ALEXANDRE EDER(*25-05-1891 / +16-12-1979)
GERTRUDES EDER(*22-06-1900 / +10-04-1975)
MARGARETE KUERZINGER(*10-08-1889 / +02-01-1975)
JOÃO W. EDER(*28-09-1912 / +18-06-1985)

Notas:

1-Na época, os grandes frigoríficos instaladas na capital eram a Swift do Brasil, a Armour e o Frigorífico Matarazzo, precursores neste setor mas em outros segmentos.

2-Município de Santo Amaro: Em 1832, Santo Amaro tornou-se município separado de São Paulo, sendo instalado em 7 de abril de 1833. O município, então, abrangia todo o território ao sul do córrego da Traição (hoje canalizado sob a avenida dos Bandeirantes), estendendo-se até a Serra do Mar, incluindo as terras correspondentes aos atuais municípios de Itapecerica da Serra, Embu(a partir de 2011 acrescido“das Artes”), Embu-Guaçu, Taboão da Serra, São Lourenço da Serra e Juquitiba.

3-Incorporação dos 640 Km2 de Santo Amaro ao Município de São Paulo: A inauguração do Aeroporto de Congonhas, em 1934, foi uma das razões pelas quais o decreto estadual número 6983, de 22 de fevereiro de 1935, determinou a extinção do município de Santo Amaro, incorporando-o ao município de São Paulo. Durante a Revolução Constitucionalista de 1932 o Aeroporto Campo de Marte foi ocupado pelas tropas rebeldes, o que levou o Governo de Getúlio Vargas a procurar locais alternativos para o transporte aéreo em São Paulo. A área do antigo município foi então subdividida nos subdistritos de Santo Amaro, Ibirapuera, Capela do Socorro, e no distrito de Parelheiros.

4-A Casa Godinho (ainda em atividade)  é reconhecida nacionalmente ao longo dos anos pela diversidade e excelência de seus produtos, na sua grande maioria são importados. José Maria Godinho desembarcou em São Paulo em 1897, com apenas 14 anos, e como todos estrangeiros tinha carta de apresentação, ou seja, com qual família residiria. Trabalhou por 20 anos no Porto de Santos e em 1917 adquiriu uma quitanda no número 36 da Praça de Sé, em São Paulo.  A quitanda, que já existia desde 1888 virou um empório, mudou-se da Sé para a Libero Badaró, rebatizada de Casa Godinho. (Bianchi, Silvia Soler. Casa Godinho: Um Lugar de Memória na Cidade de São Paulo. Ed. Mackenzie)Era aqui que grandes nomes da história, como Assis Chateubriand, da política, como Adhemar de Barros e Jânio Quadros, da indústria, como José Ermírio de Moraes, entre tantos outros, abasteciam suas casas quando procuravam produtos de qualidade. Durante anos e anos, como se fosse uma tradição passada de pai para filho,a Casa Godinho sempre foi referência de compras paulistana. Tradição esta, ainda mantida por diversos clientes, que vêm aqui, como se nada tivesse mudado, fazer suas compras. 

5-As câmaras frigorificas chegaram a comportar 980 toneladas de carne sendo que cada câmara de cura tinha capacidade de produzir 10 toneladas por dia.

6- Vide: http://carlosfatorelli27013.blogspot.com/2010/11/as-industrias-e-desendustrializacao-em.html