UMA AUTO-ESTRADA, A AVENIDA ATLÂNTICA E A DAS PARELHAS
São Paulo possui uma “arqueologia histórica” que esta soterrada por uma “camada de fatos” que se resume em fragmentos que por vezes precisam ser escavados para trazer a luz do conhecimento como determinadas regiões se tornaram grandes aglomerados de subúrbio.
Fomos “escavacar” parte desta busca na região de Vila São José e Icaraí, ao longo da antiga estrada de Parelheiros, local onde houve, um dia, parelhas de animais, pelos lados da atual Avenida Teotônio Vilela atravessando a Capela do Socorro.
CROQUI PROVÁVEL DA LOCALIZAÇÃO ANTIGA PONTE SOBRE O RIO PINHEIROS E ACESSO DE SANTO AMARO
No passado a ousadia de inglês Louis Romero Sanson[1], engenheiro britânico, que havia tido experiência anterior de construção deste tipo em Caracas, Venezuela, foi responsável pela construção da “Auto-Estradas Sociedade Anônima”, que ligaria São Paulo a Santo Amaro e que depois se tornaria a Avenida Washington Luis e também responsável pela expansão da região de Interlagos, anunciada como um verdadeiro Oasis, cercada de matas e duas belas represas, antes chamadas de Represa Velha de Santo Amaro e Nova, ou seja a de Guarapiranga e Billings. A idéia de construir o balneário entre dois lagos foi definido através do francês que trabalhava no projeto de urbanismo, Alfred Agache.
A Sociedade Anônima Auto Estradas foi formada em 1927 para construções de várias obras de infra-estrutura, incluindo uma “super estrada” ligando a Cidade de São Paulo a Cidade de Santo Amaro. A Auto Estrada, um avanço tecnológico à época, passou a ser denominada depois de Avenida Washington Luís, foi construída saindo da Avenida Brigadeiro Luiz Antonio para Santo Amaro, com 11,5 quilômetros. Depois passava por um segundo posto denominado Vila Sofia que completava o percurso até a represa com 2,5 quilômetros. Pela concessão foi permitida a sociedade cobrança de taxa de uso por um período de 15 anos, e que após esse período seria repassada sem ônus para a Câmara Municipal de Santo Amaro. Uma junção de interesses fazia com que não onerassem os cofres públicos com a participação de acionistas da sociedade que controlaria o “pedágio”, completada com a participação dos proprietários de terras que seriam ressarcidos por compensar a passagem de uma auto-estrada moderna, além de expansão da localidade com vendas de lotes com despesas de propaganda e venda por conta da Sociedade Anônima Auto Estradas. Para tal empreitada a empresa responsável pela construção desembolsaria, para o arrojado projeto, a soma “astronômica” de Rs 3.000.000$000, valores em réis, moeda circulante de então.Para uma comparação o Município de Santo Amaro possuía receita anual de Rs 300.000$000, ou seja despenderia seus recursos para construí-la em 10 anos, sem investimentos em outras áreas importantes. Hoje essa parceria seria definida como “Parceria Pública Privada”, para benefícios de muitos e “pode talvez incentivar alguns outros municípios a adotar uma solução semelhante para obtenção de vias de transporte de que carecem com urgência” com indicação colocada no compêndio de "Santo Amaro, Escorço Histórico", da década de 1930.
Foto Agosto 1936- Operários na Construção Auto Estrada de São Paulo para Santo Amaro
1938: ESTRADA EM OPERAÇÃO
AEROPORTO DE CONGONHAS E A AUTO ESTRADA / WASHINGTON LUÍS
O engenheiro Sanson foi responsável também pela construção do Aeroporto de Congonhas, num plano diretor de ampliação da cidade implantou ainda o Autódromo José Carlos Pace, nome em homenagem ao piloto brasileiro de fórmula um, e que era conhecido como Autódromo de Interlagos, inaugurado 12 de maio de 1940 e administrado pela “Auto-Estradas Sociedade Anônima” até 1954, quando passou a administração municipal.
MAPEAMENTO: REFERÊNCIA DA COLÔNIA PAULISTA
TRÊS MOMENTOS DA AVENIDA TEOTÔNIO VILELA/PARELHEIROS:
Vista Geral década de 30, logo após ano de 1960 e a última dezembro de 2010 (Na da vista geral vê-se a casa do sítio e a esquerda a Capela São José-Acervo da Biblioteca Prestes Maia)
Um pouco à frente, desta incursão pela história, entramos na bifurcação da Avenida Interlagos e Avenida do Jangadeiro acessando Avenida Teotônio Vilela. Quase uns três quilômetros à frente estavam terras que um dia fizeram parte de um projeto imperial de ocupação do território brasileiro por colonos.
Vimos ao alto a Capela São José, que está localizada do outro lado da Avenida Teotônio Vilela subindo a rampa da Praça, no Icaraí. É uma capelinha singela ao alto, um marco de um passado glorioso destes colonos alemães, terras da “boca do sertão paulista” do tempo do Império que fizeram parte da gleba das famílias SCHUNCK que ousou desbravar e fixar raízes, que juntamente com família ROSCHEL vieram para a região em 1829, quando da implantação da primeira Colônia em São Paulo e uniram-se famílias em laços matrimoniais.
Há um
vinculo muito forte entre a Paróquia São José com a família de Adda Poletti
Roschel que foi uma das benfeitoras deste patrimônio sacro. Casou-se com José
Boemer Roschel, sendo que o casal teve oito filhos a saber: Cida Reimberg, Lurdes,
Amaro, Jaime, José, Conceição, António e Benedito Luiz Roschel, onde a família exerce
larga influência de identidade e pertencimento com a região que anteriormente
fazia parte da “Cidade” de Santo Amaro.
Voltando para Santo Amaro, descemos na antiga Avenida Robert Kennedy, perto do Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico, pronto para descerrar a manta de sua “reinauguração”, que marcou um feito épico da Travessia do Oceano em 1927 pelos aviadores Francesco Di Pinedo e João Ribeiro de Barros, mesma época do início da construção da Represa Nova de Santo Amaro, a Billings, maior reservatório de água da Região Metropolitana de São Paulo através do “aprisionamento” das águas rio Grande, iniciada também em 1927 pela Light & Power fornecedora de energia elétrica para a Cidade de São Paulo completada no inicio da década de 30 do século passado.
DIA DAS TRÊS INAUGURAÇÕES: 19 DE DEZEMBRO DE 2010
O Monumento “atualmente” está acessível e pode-se contemplá-lo sem dificuldades, pois está "aberto" para visitação e graças ao esforço da sociedade civil e dinheiro público houve por bem trazerem o Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico de volta a “sua terra natal” para tornar-se parte integrante dos parques recém inaugurados na orla da Represa de Guarapiranga. Deste modo o poder público fez uma correção histórica, recuperando este símbolo depois de 23 anos de ausência “descansando” na região dos Jardins, voltou e foi reinaugurado em 19 de dezembro de 2010, com as pompas de praxe para fixá-la novamente nas margens da Represa de Guarapiranga, depois da insistência por parte dos moradores que “fizeram” este lugar com esforço pessoal, aprazível, mas esquecido pelas autoridades, os maiores responsáveis pela degradação local, sem investimento em infra-estrutura, e isto consta a falta de captação e tratamento de águas de uso humano lançado diretamente nas represas.
FECHAMENTO DE RUAS PÚBLICAS NA AVENIDA ATLÂNTICA COM TUBOS
INDICAÇÃO TARDIA: "NÃO CONSTRUA EM LOTES ILEGAIS"
Houve por bem “também” alterar o nome da Avenida Robert Kennedy para seu nome de Avenida Atlântica, originalmente aberta e depois ampliada para o loteamento como do Jardim Veleiros, feita pela Empresa Brasileira de Terrenos Ltda,
e que surgiram nesta época incorporado a outros nomes sugestivos das belezas que remetia a pátria dos colonos e que originou a Vila Friburgo, conforme anunciado na década de 1930:
ANÚNCIOS:Crédito "Santo Amaro, Escorço Histórico"
Somado a esta loteamento estava o denominado "Interlagos - Balneário Satélite de São Paulo" da década de 30 da construtora e imobiliária ligada aos empreendimentos da "AESA - Auto Estradas S.A.".
Entre 1963 e 1965 houve necessidade de ampliar a “picada” cortada na mata original que saia do Largo do Socorro e que iria encontrar o empreendimento da Auto-Estrada que se unia a Interlagos. Nascia à Avenida Atlântica ampliada durante a gestão do prefeito de São Paulo, Francisco Prestes Maia, quando era o subprefeito de Santo Amaro Fernando Scalamandré Junior. Começava a corrida pela apropriação indébita pelo interesse deste “novo nicho”, abrindo-se um mercado imobiliário por contrato entre partes, muitos em volta das represas, sem preservação de mata ciliar para evitar assoreamento.
Criadouro de caramujos!!!
Proibido criação de moluscos nas represas!!!
CICATRIZES VISÍVEIS ESCORREGAM PARA DENTRO DA REPRESA
Por este motivo, estes locais não possuem, até em dias atuais, escrituras de posse lavradas por cartórios de registros. Muitos incautos se tornaram “proprietários” enganados por empresários do setor imobiliário atuando como grupo de pressão em muitos “projetos” que foram “aprovados” em gabinetes em troca de apoio político.
Havia na região os trens da Sorocabana que alimentava o Porto de Santos e cortava com seus trilhos locais primaveris, de mata intocável que passou a formar outros bairros ainda mais distantes, eram jardins da Primavera.
A concessão de uso de solo tornou-se posse definitiva por uma condição de “usucapião”, adquirido por estabilização da posse por tempo. Com conivência do poder, que sem projeto e planejamento, passou a recolher impostos locais para “engordar” verbas municipais, passando a atitude a consolidar as áreas legalizadas em margens das represas abrindo espaço sem precedentes anteriores em disputas da força e sem um Plano Municipal de Habitação, na área de Região Metropolitana de São Paulo após a anexação dos 660 quilômetros que pertenciam a Cidade de Santo Amaro e passou ao Município de São Paulo!!!
MAPA MOSTRA A DIVISA DO CORREGO DA TRAIÇÃO(AV. BANDEIRANTES) DIVISA DE SANTO AMARO COM SÃO PAULO E DEMAIS MÚNICIPIOS
Ainda pelo trajeto, dirigimo-nos para a direção do Largo 13 de Maio, marco central de Santo Amaro, onde a Matriz do bairro permanece “silenciosamente” fechada por riscos eminentes à integridade de quem participa do cotidiano na localidade e que busca “interditada”, mobilização para recuperação deste marco santamarense, sufocada pela expansão local.
O EXTERNO E O INTERNO DA CATEDRAL DE SANTO AMARO: URGE PROVIDÊNCIAS!
Um exemplar da Gazeta de Santo Amaro da semana anunciava que se dariam os acontecimentos do dia 19 de dezembro de 2010.
Lendo com tranqüilidade deparei-me com os expressivos momentos distintos: o anúncio da reforma da Biblioteca Prefeito Prestes Maia, antiga Biblioteca John Kennedy, em Santo Amaro e sobre a entrega do Parque da Barragem e a reinauguração do Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico agregando tudo a sua volta, e também alteração do nome da Avenida Robert Kennedy para Atlântica.
COMO UM GOL DE PLACA ESMURRANDO O AR: RETORNO 19 DE DEZEMBRO DE 2010
As formalidades já estavam encaminhadas pelos representantes municipais, três inaugurações em um único evento: a entrega do Parque Barragem, a reinauguração do Monumento aos Aviadores e a alteração do nome da Avenida Robert Kennedy.
Os Kennedy , deste modo, perderam o vinculo nominativo na região, ovacionados há quase 50 anos esquecidos na contemporaneidade, com alteração do nome da Biblioteca Municipal de Santo Amaro, que possuía o nome John Kennedy passando a ser denominada Prefeito Prestes Maia e da referida Avenida, efeitos do vinculo do passado, da Doutrina do Destino Manifesto Americano e fruto da “Aliança para o Progresso” entre os países da América da década de sessenta e que foram responsáveis de liberação de fundos financiadores para o Brasil. Um novo paradigma contemporâneo define não ser mais possível colocação de nomes de estrangeiros em logradouros “respeitando” a Lei nº 14.454, de 27 de junho 2007 que determina que as placas das ruas, avenidas, praças e logradouros públicos contenham informações sucintas sobre a origem, significado ou biografia de quem empresta o nome à via pública e vedada a denominação de vias e logradouros públicos em língua diferente da nacional.
Atualmente tudo isto esta localizada ao extremo sul do Município de São Paulo, na região de Capela do Socorro, e formada pelos distritos de Socorro, Cidade Dutra, Grajaú, com uma superfície de 134 Km², que corresponde aproximadamente a 10% do município de São Paulo, sendo que 90% estão em áreas de proteção de mananciais, que abastece 30% da população da região metropolitana de São Paulo, e que precisa ser cuidada para evitar o colapso do impacto da ocupação desordenada e prioridade com o meio ambiente referida na Agenda 21, ou seja, o século que preservar a vida da Cidade de São Paulo que passará forçosamente na preservação da água dos mananciais, ou sucumbir por errôneas opções do planejamento da cidade em que se quer viver.
PREOCUPAÇÃO COM O LOCAL: GAZETA DE SANTO AMARO 16 DE OUTUBRO DE 1970
[1] VIDE: "Congonhas era um campo verde, só se via barba-de-bode": Relato é de Jean Sanson, filha do engenheiro que projetou o chamado Campo de Aviação nos anos 30.
3 comentários:
Gostaria de saber de onde foi retirada a imagem "Riviera Paulista - Represa de Santo Amaro / Empreza brasileira de terrenos." Antecipadamente, obrigada.
(nuria.barbosa@yahoo.com.br)
Apesar dos meus 62 anos tenho na mente quando criança na existência no lado esquerdo da ponte antiga do socorro um resto de uma armação que um dia foi ponte onde passava o bonde até o largo do socorro estrutura esta que deve estar enterrada lá se não foi retirada. Lembrei-me pelo esboço da matéria. E tem gente que duvida que o bonde foi até o Largo do Socorro. Abraço de um leitor assíduo. Ademir
Bom dia!
Tenho 33 anos, e recentemente em 2014, vi os trilhos do bonde na Alameda Santo Amaro. Eles estavam enterrados debaixo do asfalto,e com a atual obra do corredor de ônibus eles vieram a tona!
Apesar de não ter pego à época dos bondes, fiquei muito emocionado quando vi os trilhos na Alameda!
Grande abraço!
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