segunda-feira, 1 de novembro de 2010

CASA DE DONA VERIDIANA E O TOMBAMENTO DO CONDEPHAAT

PESQUISA HISTÓRICA EM SÃO PAULO

Este artigo foi enviado para o CONDEPHAAT há um pouco mais de um ano, expondo as dificuldades em recolher informações da historiografia paulistana. Não pretendia expô-lo, mas devido as dificuldades inerentes a pesquisa de áreas de interesse historiográfico resolvi deixar aos pretensos “observadores existencialistas” as dificuldades que os aguardam, sendo que estes locais são vigiados com seguranças típicos destes locais, além de câmaras filmadoras inibidoras, mesmo expondo sermos apenas pesquisadores somos constrangidos em longas esperas, sendo recebido, na maioria dos casos, por um auxiliar, nunca um curador responsável pelo acervo, e o que há como resposta é a lacônica negação. Urge rever conceitos para que tenhamos acesso tanto quanto a mídia globalizada.

Ao
Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e
Turístico – CONDEPHAAT
Assunto: ANTIGA CASA DE DONA VERIDIANA

Estivemos no último dia 13 de março (2009) numa pesquisa da Arqueologia Histórica da Cidade de São Paulo. Dois objetivos estavam bem indicados para serem visitados: O Cemitério da Consolação e a sede da Chácara Vila Maria, em Higienópolis. Recolhemos informações da história e arte do cemitério, que sem dúvida podemos afirmar ser um museu a céu aberto de lápides que denotam o que foi o apogeu da industrialização da cidade de São Paulo; iniciada pelo desenvolvimento do setor cafeeiro do Estado. Tínhamos na bagagem muitas informações recolhidas em literatura bem formatada, como por exemplo:

1) Estado e Capital Cafeeiro Em São Paulo de Renato Monseff Perissionato
2) São Carlos e Seu Desenvolvimento - Contradições Urbanas de Um Pólo Tecnológico, de Alessandro Dozena
3) Segredos de Família, de Lia Fukui
4) Santa Veridiana - As Ferrovias Em Santa Cruz das Palmeiras, de Ralph Mennucci Giesbrecht
5) Café E Expansão Ferroviária-A Companhia E.F. Rio Claro, de Guilherme Grandi
6) Bens e Costumes na Mantiqueira, de Lucília Siqueira.

Enfim uma série de documentos importantes acrescidos de outros tantos que engrossavam este cabedal, da formação de todo este processo de desenvolvimento industrial tardio. Depois de ter em mãos uma informação importante que intrigava de uma das maiores representações femininas do seu tempo Veridiana Valésia da Silva Prado, que teimosamente consta em muita literatura acadêmica com ser o segundo nome “Valéria”, e pior ainda no www.dicionarioderuas.com.br de responsabilidade de instituto municipal dar como *“Valério”* mudando o gênero até do nome. 

Estava à minha frente gravada na lápide em letra de baixo relevo em campa simples, sem muita pompa, das grandes lápides familiares, o nome Veridiana Valesia da Silva Prado. 

No folder “História e Arte no Cemitério da Consolação”, na página 7, constava o túmulo de “Eduardo Prado era filho da lendária dona Veridiana Valéria da Silva Prado, filha do Barão de Iguape, com seu tio Martinho Da Silva Prado”. Embora houvesse esta grafia no folder fiquei satisfeito em ver grafado *Valesia*, diga-se sem acentuação, na pedra mortuária. Outro detalhe é que o folder “Guia de Apresentação” não constava a campa de tão ilustre dama da sociedade paulistana. Após recolher tais referências, desci para a Rua Mato Grosso em direção a Avenida Higienópolis, para conhecer a tão decantada residência de dona Veridiana, a Chácara Vila Maria, reduto de muitos intelectuais da época áurea de fomento artístico literário. Sabia de antemão tratar-se de um *patrimônio histórico artístico e turístico*, logo sendo assim fui visitá-lo, levando no arcabouço uma cópia da resolução do tombamento do CONDEPHAAT : ANTIGA CASA DE DONA VERIDIANA, Avenida Higienópolis, nº. 18, Processo 44.822/02, Tombo. Res. SC-96, de 28.12.06, com citação abaixo:

Vide: "Lembranças de São Paulo", de João Emílio Gerodetti e Carlos Cornejo, da Solaris Edições Culturais, 1999.
A Chácara denominada “Vila Maria”, cujo remanescente se encontra na junção das atuais Ruas Dona Veridiana e Av. Higienópolis, representa documento significativo do padrão de ocupação de vila suburbana da virada do Século XIX na cidade de São Paulo. O palacete foi construído em 1884 por Valésia da Silva Prado – Dona Veridiana, figura marcante da vida social, política e cultural paulistana no final do Império e inícios da República Velha. A edificação eclética, característica da elite paulistana de então, mesclando elementos da Renascença francesa e reminiscências renascentistas italianas, constitui-se marco da origem do bairro de Higienópolis. O tombamento contempla também as obras de arte incorporadas ao imóvel - pintura mural “Aurora” de autoria de Almeida Junior e a escultura em mármore de Victor Brecheret “Diana”; a massa arbórea; e o padrão atual de fechamento do lote, garantindo-se, assim, a visibilidade do bem.* Chegando à confluência das ruas Dona Veridiana e Avenida Higienópolis, no número 18, deparei-me com uma entrada muito bem protegida por seguranças particulares e um portão de aço fechado. Sendo o horário 15h45min horas, perguntei qual era o horário de funcionamento, após apresentar-me com interessado em pesquisa da família Silva Prado, os principais acionistas da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, que servia o Oeste Paulista no fim do século dezenove e início do século vinte. Após uma transmissão por rádio feita por um dos seguranças, adentrei a uma pequena sala aguardando alguém para dar-me aval da solicitação. Às 16h40min horas fui atendido por um senhor extremamente gentil, que me disse que a casa não estava disponível para visitação pública. Sem questionamentos falei de minha intenção de comunicar aos órgãos competentes para ver a possibilidade de conseguir meu intento. Por alguns instantes houve uma reflexão por parte dele antes de dar-me uma resposta, sendo que anteriormente mostrei-lhe parte da literatura de minha pesquisa, mostrando fotos que havia tirado no Cemitério da Consolação. Muito gentilmente “abriu exceção” expondo-me que o espaço era do *Iate Clube de Santos*, e que tomadas externas era-me permitido, mas que infelizmente as internas não poderiam ser feitas. Concordei, e em todo este processo fui acompanhado pelo senhor Antonio, duas moças também vinculadas em alguma pesquisa, e um acompanhante que estava comigo. Não pretendo tirar a autoridade de quem compete exercê-la, mas o que me causa certo constrangimento é ser impedido, e aqui argumento também em outras áreas tombadas, dificultando o trabalho de historiador exercido com dificuldade imposta por alguns. Tenho que deixar exposto que história de movimento, extraída “in loco” não deve ser marginalizada por quaisquer órgãos governamentais, pois patrimônio público a ele pertence desde que preserve sua integridade. Segui as determinações abaixo quanto às disposições legais, da casa que me parece ter sido o Iate Clube de Santos, implantado pelo neto de dona Veridiana, Jorge da Silva Prado; um tanto estranho ao olhar de historiador, parecendo estar em área pública vigiada pelo setor privado. Meu intento maior é divulgar e transmitir a memória histórica, embora a proteção em alguns casos sejam regidas em suas atribuições protetoras, mas sempre acato as medidas internas locais não as infringindo jamais, respeitando a lei imposta para o caso:

A Lei nº. 10.247, de 22.10.1968 criou o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico – CONDEPHAAT, cuja finalidade é proteger valorizar e divulgar o patrimônio cultural no Estado de São Paulo. Estas atribuições foram confirmadas, em 1989, pela Constituição do Estado de São Paulo:

*Artigo 261 - O Poder Público pesquisará, identificará, protegerá e valorizará o patrimônio cultural paulista, através do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo. *

Resposta Condephaat - condephaat@cultura.sp.gov.br
Data 18 de março de 2009
Prezado senhor Fatorelli:

Agradecemos o seu contato. Temos a informar, entretanto, que o tombamento não muda a propriedade do imóvel tombado. O principal responsável por este continua sendo o proprietário. No caso da residência de Dona Veridiana, portanto, o Iate Clube de Santos tem o direito de decidir quem entra ou deixa de entrar no local.
Atenciosamente, Executiva Pública, UPPH

2 comentários:

Fer Parolim disse...

Infelizmente sempre assim!

Flora disse...

Meu filho esta fazendo um trabalho sobre classificação de plantas. Tinha que escolher uma arvore do bairro para estudar, e escolheu justamente uma Ficus elástica situada nesse "imóvel"!! Agora estamos pesquisando um pouco, e queríamos "visitar a arvore", ter mais informações sobre o plantio desse jardim em geral e da arvore, cuidados com relação ao jardim... Super fechados!! Não tao gentis. Vamos vendo até onde chegamos...