quarta-feira, 4 de setembro de 2013

O Jardim São João e “seu” João Manecão

Pioneirismo no Extremo Sul da Cidade de São Paulo

A área que atualmente representa o Jardim São João foi concebida em gleba de terra pertencente ao saudoso João Manecão emérito tanto quanto outros que desenvolveram a região do bairro, hoje situado no Distrito do Jardim São Luiz, região do extremo sul da Cidade de São Paulo.

João de Oliveira, carinhosamente chamado João Manecão, podia-se dizer ser uma pessoa folclórica e bem conhecida na região de Santo Amaro desde os tempos da “Padaria 15”, próximo ao Largo 13 de Maio, atrás da Matriz de Santo Amaro, onde costumeiramente dirigia-se para degustar alguma guloseima ou por a prosa em ordem com seu amigo “Mané” dono da panificadora, ou indo pelas ruas caminhava em direção à “Padaria Brasileira”, em Santo Amaro, do seu Tertuliano, outro pioneiro, que mais tarde, em 1957, também implantava a primeira padaria do Jardim São Luiz, denominada Panificadora São Luiz, próximo ao “feirão coberto” idealizada pelo prefeito Faria Lima, que infelizmente foi destruído.

Manecão possuía uma área próxima a atual Rua Nova do Tuparoquera, no bairro do Jardim São Luiz, próximo à Fundação Julita, para onde resolveu se deslocar com sua primeira esposa Zulmira.

Aqui se abre um parêntese para citar a “Fundação Julita” que foi idealizada em 1951 por iniciativa de Antônio Manuel, (que também possui reconhecimento local no nome do colégio do Jardim São João), em homenagem a sua companheira Julita que tantas alegrias e lutas participaram na comunidade, e que como último alento, incumbiu seu esposo de transformar a chácara em um espaço útil ao benefício comunitário do bairro. 

Um presente, uma dádiva, em uma área preservada de belezas em seus 47.000 metros quadrados, com raras árvores araucárias, onde a população desfruta até os dias de hoje de programas gerais de lazer, educação e cultura.

Há que se lembrar também nesta localidade do “Lar Maria Albertina” outra entidade beneficente de grande valor humanitário e que por muito tempo abrigou meninas órfãs e atualmente mantém o Centro de Educação Infantil pela abnegação da Congregação das Irmãs Franciscanas de Ingolstadt, Alemanha. 
  
A região, na década de 50 era uma mata virgem, com jatobás e boas jabuticabeiras, alegria das crianças, uma ou outra residência, que onde hoje se localiza hoje os prédios do CDHU, no Jardim Celeste e parte do Parque Said Murad . Havia no mesmo local uma olaria que muito contribuiu ao crescimento da região, implantada numa tosca “choupana”, cujo bem mais precioso era o forno de fabricação dos tijolos de barro moldados em forma de madeira, incrustado como um castelo dentro da mata.

Com o falecimento de sua primeira esposa e tendo sua filha de pouca idade, João Manecão resolveu contrair segundas núpcias com a senhorita Lourdes, no ano de 1967, realizada na Paróquia São Luiz Gonzaga, pelo então um jovem sacerdote recém chegado, Edmundo da Mata, tendo como padrinho, Candido Alves da Silva, Candú, outra família tradicional santamarense.

Manecão era um típico homem do campo apreciando coisas simples, não rejeitando um franguinho caipira bem feito em panela de ferro, cozido em fogão à lenha enfumaçada.
O nosso querido personagem Manecão sempre andava de paletó e prevenido com um guarda-chuva nas mãos seguia seu ritual costumeiro e religiosamente participando das missas dominicais na Paróquia São Luiz Gonzaga com a família e os filhos, Inês e João com a mãe das crianças mantendo o asseio da “roupa de missa”. Ainda manteve um terceiro relacionamento com dona Francisca sempre morando na região.

Tinha como compromisso orientar jovens na catequese e ficava orgulhoso em pousar com os meninos de branco e azul marinho e as meninas de vestidos simples, brancos como a pureza de toda criança. 



Devido a sua religiosidade, quando da instituição do Bairro São João, Manecão doou a parte mais alta do lugar para ali ser instituída a Capela São João Batista que atualmente recebeu nova denominação, sendo rebatizada como “Santa Rosa de Lima”, em cerimônia religiosa tornando-se Paróquia a partir de 29 de outubro de 2006.

João Manecão participou com seu jeito simples da história do bairro, sendo um dos pioneiros que marcaram o desenvolvimento local, ele partiu desta vida, mas será sempre recordado por todos que de certa maneira foram à causa desta lembrança e que foi, sem dúvida, pioneiro do Jardim São João.



segunda-feira, 2 de setembro de 2013

O SAGRADO E A SECULARIZAÇÃO EM PIRAPORA

O RELIGARE E A FESTA: DINÂMICA DOS ESPAÇOS DISTINTOS

Obs.: Não há intenção de responder o instante do “religare” entre o céu e a terra através da percepção do Ser Supremo que acreditamos pela confiança de interceder nas ações humanas pela fé do entendimento de Sua Existência.

Mitos: todos os povos possuem explicações para os fenômenos que não são compreendidos na realidade de determinado tempo e espaço e deste modo apega-se a símbolos para transmitirem os fenômenos que o homem não possui discernimento, conhecimento suficiente para entender a causa e o efeito, e, assim constrói alguns entes que por meio de ações que estes conseguem transmitir aliviam de certa forma a condição do não explicado, sagrando por meio do simbolismo o argumento de entendimento mesmo que para isso recorra-se a explicações através de uma simbologia, que dá ao sobrenatural aquilo que consola o racional, mesmo que seja uma força irracional. 

Lenda[1]: busca-se na oralidade seus conceitos da fantasia numa mistura de realidade com acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais. As lendas alteram-se com o passar das gerações agregando outros valores e interpretações variadas contadas ao longo do tempo e modificadas pelas comunidades que aquela estrutura pertença. Quem conta um conto, aumenta um ponto, e deste modo o imaginário se mistura ao cotidiano e os feitos de heroísmo do passado.
O sagrado e o profano constituem duas modalidades de ser no Mundo, duas situações existenciais assumidas pelo homem ao longo da sua história, dependendo das diferentes interpretações que o homem visualiza.

“Antes da fé, compreender para crer; depois da fé, crer para compreender.”(Santo Agostinho, teólogo)

Max Müller (1823-1900). Em Ensaio da Mitologia Comparativa (Essay on Comparative Mythology, 1856) explica a criação dos mitos pelos fenômenos naturais, sobretudo as epifanias (manifestações divinas) do Sol e o nascimento dos deuses por uma “mutação da linguagem”: o que, originariamente, não passava de um nome, nomen, tornou-se uma divindade, numen[2].


No livro de Rudolf Otto[3], O Sagrado (Das Heilige, 1917) ao em vez de estudar as idéias de Deus e de religião, analisa as modalidades da experiência religiosa. Negligenciando o lado racional e especulativo da religião, voltando-se, sobretudo para o lado irracional, não como uma idéia, uma noção abstrata, uma simples alegoria moral. Aparece deste modo a descrição manifestada na “cólera” divina[4].
O sagrado manifesta-se sempre como uma realidade inteiramente diferente das realidades “naturais”. O homem toma conhecimento do sagrado porque este se manifesta, se mostra como algo absolutamente diferente do profano, indicando o ato da manifestação do sagrado (hierofania[5]).
Manifestando o sagrado, um objeto qualquer se torna outra coisa e, contudo, continua a ser objeto participante do meio (cósmico) envolvente. Uma pedra sagrada nem por isso é menos uma pedra; aparentemente nada a distingue de todas as demais pedras. Para aqueles a cujos olhos uma pedra se revela sagrada, sua realidade imediata altera-se numa realidade sobrenatural. Para aqueles que têm uma experiência religiosa, toda a Natureza é suscetível de revelar-se como sacralidade cósmica e apega-se a crer por uma confiança que isso transmite.

O Espaço sacro

Para o homem religioso, o espaço não é homogêneo: o espaço apresenta rupturas; há porções de espaço qualitativamente diferentes das outras.
“Não te aproximes daqui, disse o Senhor a Moisés; tira as sandálias de teus pés, porque o lugar onde te encontras é uma terra santa.” (Êxodo, 3: 5)

Há, portanto, um espaço sagrado, e por conseqüência “forte”, significativo, e há outros espaços não sagrados, e por conseqüência sem estrutura nem consistência, (imaterialidade) em suma, sem forma. (amorfo)

O espaço ocupado não apresenta uma definição, mas tem sua estrutura sem direção definida, não há um padrão mensurável como a definição do espaço dada por uma geometria.

O desejo do homem religioso de viver no sagrado equivale, de fato, ao seu desejo de se situar na realidade objetiva, de não se deixar paralisar pela relatividade sem fim das experiências puramente subjetivas, de viver num mundo real e eficiente e não numa ilusão. Esse comportamento verifica se em todos os planos da sua existência, mas é evidente no desejo do homem religioso de mover-se unicamente num mundo santificado, num espaço sagrado. Na realidade, o ritual pelo qual o homem constrói um espaço sagrado é eficiente à medida que ele reproduz a obra divina. A fim de compreendermos melhor a necessidade de construir ritualmente o espaço sagrado, é preciso insistir um pouco na concepção tradicional do “mundo”: assim o “mundo” todo é, para o homem religioso, um “mundo sagrado”.

O Céu é concebido como uma imensa tenda sustentada por um pilar central (como uma lona de circo): a estaca da tenda ou o poste central da casa são assimilados aos Pilares do Mundo e designados por este nome. Esse poste central tem um papel ritual importante: é na sua base que têm lugar os sacrifícios em honra do Ser Supremo Celestial.

Toda morada situa se perto do “poste” (Axis mundi), pois o homem religioso só pode viver implantado na realidade em constante locução com o absoluto (Ser Criador). “A habitação não é um objeto, uma máquina para habitar”; é o Universo que o homem construiu para si imitando a Criação exemplar dos deuses, a cosmogonia. (do grego κοσμογονία; κόσμος "universo" e -γονία "nascimento")  Toda construção e toda inauguração de uma nova morada equivalem de certo modo a um novo começo, a uma nova vida, um renascimento constante.

Os santuários mais antigos eram a céu aberto ou apresentavam uma abertura no teto: era o “olho da cúpula”, simbolizando a rotura dos níveis, a comunicação com o transcendente. Graças ao Templo que o Mundo é re-santificado em sua totalidade. Vê-se nas abóbodas centrais cristãs a representação da cúpula dos céus. A santidade do Templo está ao abrigo de toda a corrupção terrestre, e isto pelo fato de que o projeto arquitetônico do Templo é a obra divina encontra-se perto do Céu.

Todo o mundo é Obra Divina, porque foi criado diretamente pelos deuses e consagrado, portanto “cosmizado”, pelos homens, ao re-atualizarem ritualmente o ato exemplar da Criação. O homem religioso só pode viver num mundo sagrado porque somente tal mundo participa do ser, é concreto e existe realmente. Essa necessidade religiosa exprime uma inextinguível sede ontológica (do grego ontos "ente" e logoi, "ciência do ser"). O homem religioso é sedento do Ser Supremo, o homem é um ser religioso, portanto não se esvazia em crer.

O “Caos” é terrificante, pois envolve o mundo habitado e corresponde ao terror diante do nada. O espaço desconhecido que se estende para além do seu “mundo”, espaço não cosmizado, porque não é consagrado, simples extensão amorfa onde nenhuma orientação foi ainda projetada e, portanto, nenhuma estrutura esclareceu ainda este espaço profano.

Vimos que o simbolismo do Centro do Mundo informa não somente os países, as cidades, os templos e os palácios, mas também a mais modesta habitação humana. Em resumo, cada homem religioso situa se ao mesmo tempo no Centro do Mundo e na origem mesma da realidade absoluta, muito perto da “abertura” que lhe assegura a comunicação com o divino, num “religare” constante.

A FESTA PARTE DE UMA SACRILIDADE

Uma festa desenrola se sempre no tempo original. É justamente a reintegração desse tempo original e sagrado que diferencia o comportamento humano durante a festa daquele de antes ou depois. Em muitos casos, realizam-se durante a festa os mesmos atos dos intervalos não festivos, (tempos comuns) mas o homem religioso crê que vive então num outro tempo, que conseguiu reencontrar o “tempo de agora e de sempre” (em latim, illud tempus mítico).
Na festa reencontra-se plenamente a dimensão sagrada da Vida, experimenta se a santidade da existência humana como criação divina. Nas festas, ao contrário, reencontra-se a dimensão sagrada da existência, ao se aprender novamente como os deuses ou os antepassados míticos criaram o homem e lhe ensinaram os diversos comportamentos sociais e os trabalhos práticos.

SAMBA DE PIRAPORA

O motivo que tornou Pirapora do Bom Jesus um ponto de encontro, espontâneo e não oficial, de batuqueiros de diversas partes do estado de São Paulo, tem origens históricas que remontam ao ano de 1725 e se relacionam inicialmente ao catolicismo, qundo do encontro da imagem.

 Acredita-se que, nesse ano, no dia 6 de agosto, foi encontrada uma imagem do Senhor Bom Jesus deitada nas pedras do rio Tietê e que, dias depois, o santo teria realizado o milagre de fazer um homem mudo voltar a falar. A notícia da presença do santo milagreiro no local passou a atrair romeiros do interior do Estado, que iam a Pirapora em busca de milagres ou empenhar e pagar promessas.
Primeira Festa: 6 de agosto de 1730

No começo, famílias de fazendeiros deslocavam-se para o então vilarejo e levavam consigo seus escravos. Enquanto o senhorio rezava ao santo, a escravaria fazia seus batuques à distância. Após a abolição da escravatura, ex-escravos e seus descendentes continuaram a frequentar Pirapora do Bom Jesus durante as romarias.
Bumbos e batuques de Pirapora fundaram o samba paulistano - JORNAL Página Zero, 25 de janeiro de 2008

“...Pirapora constituiu para mim o melhor regalo da infância.. Hoje, atinge-se esse Santuário de Bom Jesus creio que numa hora de automóvel. Naqueles tempos era um viagem que lembrava o século 16. Saíamos muito cedo. Descíamos do trem da estação de Barueri e aí vinha nos buscar uma estranha condução que se compunha de boi e cavalos. Eu ia de carro de boi com mamãe, papai a cavalo e o séquito de comadres, compadres, parentes e senadores de qualquer modo. Interrompia a marcha da caravana uma parada em Parnaíba e daí longamente atingimos Pirapora. Meu pai alugava uma casa, pois nós demorávamos às vezes mais de uma semana e não havia hotel. O bulício festeiro, as danças no barracão, os leilões de prendas e as solenidades da igreja, era tudo uma série ininterrupta de músicas e cantos que deslumbravam os olhos num renovado espetáculo popular. O rio miraculoso, onde fora encontrada a imagem do Bom Jesus, espraiava sua verde toalha entre as pedras que os romeiros partiam a fim de levar para casa como amuleto. H Havia uma ponte que me parecia enorme e que mais tarde para minha visão de homem, diminuiu e ficou do tamanho de um brinquedo”.  Oswald de Andrade- Um homem Sem Profissão: sobre as ordens de mamãe. c. 1895

 “...o bumbo chorava em malabarismos expressivos grandes golpes seguidos dum gemer de batidinhas repicadas a que finalizava sempre o golpe seco em contratempo, no último quarto de um compasso”. Mario de Andrade. O Samba Rural Paulista


Batuque de Pirapora / Geraldo Filme
Eu era menino
Mamãe disse: vamos embora
Você vai ser batizado
No samba de Pirapora
Mamãe fez uma promessa
Para me vestir de anjo
Me vestiu de azul-celeste
Na cabeça um arranjo
Ouviu-se a voz do festeiro
No meio da multidão
Menino preto não sai
Aqui nessa procissão
Mamãe, mulher decidida
Ao santo pediu perdão
Jogou minha asa fora
Me levou pro barracão
Lá no barraco
Tudo era alegria
Nego batia na zabumba
E o boi gemia
Iniciado o neguinho
Num batuque de terreiro
Samba de Piracicaba
Tietê e campineiro
Os bambas da Paulicéia
Não consigo esquecer
Fredericão na zabumba
Fazia a terra tremer
Cresci na roda de bamba
No meio da alegria
Eunice puxava o ponto
Dona Olímpia respondia
Sinhá caía na roda
Gastando a sua sandália
E a poeira levantava
Com o vento das sete saias
Lá no barraco
Tudo era alegria
Nego batia na zabumba
E o boi gemia
Lá no barraco
Tudo era alegria
Nego batia na zabumba
E o boi gemia.

Simbolismo

Maria Esther Camargo Lara está à frente do Samba de Roda de Pirapora do Bom Jesus, grupo este fundado na década de 1940, nos barracões, com Honorato Missé (1903-1964) e que hoje é o nome do Espaço Cultural Samba Paulista Vivo de Pirapora. Hoje dona Maria Ester abre o samba com voz forte e rouca entoa versos alegres ainda rodopia em volta do próprio corpo seguida do bumbo que dá o tom da seqüência de outros sambistas cantadores, dançarinos e dançarinas em grandes saias floridas.



OUTRAS REFERÊNCIAS

ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano (tradução Rogério Fernandes) São Paulo: Livraria Martins Fontes Editora Ltda., 1992
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OTTO, Rudolf. O Sagrado. Petrópolis: Vozes, 2007.

Prefeitura Municipal de Pirapora do Bom Jesus End: Praça dos Poderes Municipais, 57 – Centro – CEP: 06550-000 






[1] Lenda origina-se do termo em latim legenda, ou aquilo que deve ser lido, sendo que inicialmente contavam histórias de heróis e seus feitos, como lendas escandinavas que através das histórias perpetuaram-se as tradições dos povos e aquilo que faz parte de sua cultura.
[2] Suas teses tiveram um sucesso considerável e só perderam a popularidade pelos fins do século XIX depois dos trabalhos de W. Mannhardt (1831 1880) e Edward Burnett Tylor (1832 1917). W Mannhardt, em seu livro Wald und Feldkulte (1875 77), mostrou a importância da “baixa mitologia”; sobrevivente ainda nos ritos e nas crenças dos camponeses. Durante a primeira metade do século XIX surgem outros movimentos. Emile Durkheim (1858-1917) julgava ter encontrado no totemismo a explicação sociológica da religião. (O termo totem designa, entre os Odjibwa da América, o animal cujo nome o clã usa e que é considerado o antepassado da raça.) já em 1869, J. F. Mac Lennan afirmava que o totemismo constitui a primeira forma religiosa. Mas investigações posteriores, sobretudo as de Frazer, mostraram que o totemismo não se difundiu por todo o mundo e que, portanto, não podia ser considerado a forma religiosa mais antiga. Entre esses etnólogos, podemos citar Fr. Graebner. Leo Frobenius, W. W Rivers, Wilhelm Schmidt na Europa, e a escola americana de Franz Boas. Wilhelm Wundt (1832 1920), Willian James (1842-1910) e Sigmund Freud (1856-1939) propuseram explicações psicológicas da religião. A fenomenologia da religião teve o seu primeiro representante autorizado em Gerardus van der Leeuw (1890-1950).

[3] Rudolf Otto passou a ser conhecido pela obra Das Heilige, livro escrito em 1917 e que figura entre os clássicos da Filosofia da Religião. Nasceu em Peine, na Alemanha, em 1869 e faleceu em 1937. Era de família protestante, tornando-se pastor, teólogo e filósofo. Foi professor da Universidade de Göttingen de 1897 a 1907. De 1901 a 1907 foi colega de Edmund Husserl, neste período Husserl lança o novo método de investigação filosófica, denominado posteriormente de fenomenologia.

[4] Rudolf Otto esforça se por clarificar o caráter específico dessa experiência terrífica e irracional. Descobre o sentimento de pavor diante do sagrado, diante desse mysterium tremendum, dessa majestas que exala uma superioridade esmagadora de poder; encontra o temor religioso diante do mysterium fascinans, em que se expande a perfeita plenitude do ser. Rudolf Otto designa todas essas experiências como numinosas (do latim numen, “deus”) porque elas são provocadas pela revelação de um aspecto do poder divino. O numinoso singulariza se como qualquer coisa de ganz andere, radical e totalmente diferente: não se assemelha a nada de humano ou cósmico; em relação ao ganz andere, o homem tem o sentimento de sua profunda nulidade, o sentimento de “não ser mais do que uma criatura”.
[5] Hierofania (do grego hieros (ερός) = sagrado e faneia (φαίνειν) = manifesto) pode ser definido como o ato de manifestação do sagrado, algo de sagrado se revela.