Como os alemães chegaram em Santo Amaro
A 6 de janeiro de 1827, o veleiro “Helena e Maria” (erroneamente denominado também de Cäcília) zarpou do porto de Bremen, trazendo a bordo grande leva de imigrantes rumo ao Brasil, onde se estabeleceriam como agricultores ou como soldados para o conflito da região Platina, no Rio Grande do Sul.
Após seis dias de viagem, no dia 12 de janeiro, às
13h, os tripulantes do veleiro “Helena e Maria” foram surpreendidos por uma
forte tempestade que, durante quase 24 horas, causou graves danos ao veleiro.
Vinte colonos e dois marinheiros morreram afogados. Em dezembro de 1828 chegou a Falmouth um navio chamado James
Laing, sob o comando do capitão Sughure, que levaria os imigrantes alemães ao
Brasil.
O navio James Laing foi custeado por Felisberto
Caldeira Brant, o Marquês de Barbacena, de descendência alemã, diplomata
brasileiro da época, que, em passagem por Falmouth, em 24 de setembro de 1828, acompanhando
Maria II, filha de D. Pedro I.
Assim, em 03
de janeiro de 1829, os alemães partiram em direção ao Brasil, chegando no Rio de Janeiro
em 19 de fevereiro de 1829.
“Uma parte dos imigrantes que não puderam embarcar
no “Helena e Maria”, que naufragou na costa da Inglaterra, vieram para São Paulo
no navio Alexander, que aportou em Santos. Os emigrantes alemães que
chegaram ao Brasil no navio holandês "Alexander" eram 174 colonos
alemães[1]
que continuaram viagem no dia 20 de junho de 1828 embarcando no sumaca[2] “Rocha”
para serem levados a Santos, e, em seguida para São Paulo, sob as ordens do intérprete,
Inspetor de colonização de estrangeiros, Johann Heinrich Kagel.
Dessa tripulação que constava 149 famílias
alemãs em direção ao Brasil, compreendia 926 indivíduos, incluindo 72 não
casados. Na Colônia de Santo Amaro, foram localizadas 336 pessoas. Na vila de
Conceição de Itanhaém ficaram 39 pessoas, e 57 em Cubatão de Santos e algumas
foram para outras regiões ou permaneceram na cidade e dedicaram-se a diversos
trabalhos e ofícios. Os colonos que foram localizados em Santo Amaro eram, na
sua maioria, prussianos-renanos, da região de Hundsrueck. Parte deles aceitou
as propostas do Governo, acordados entre os dois países para acolhimento
inicial antes do embarque na Alemanha, que eram as seguintes:
1) Cada família receberia uma doação de 150
Morgen, medida de área tradicional alemã, onde um morgen era a área para
trabalho de um homem em um dia. Um morgen correspondia a 400 braças quadradas,
sendo uma braça quadrada correspondente a 4,84m2, logo um morgen seria
equivalente a 1936 m2 que estava relacionado a medida agrária padrão que
Portugal denominada jeira, medida antiga romana e representava uma jeira(iugerum)
a quantidade de terra que um homem podia arar em um dia com uma junta de bois
atrelados ao arado.
Do exposto podemos definir que o acerto
contratual entre os governos da Alemanha e Brasil à época, foi definido em 150
morgen, ou seja 290.400 m2 o que representava 29 hectares de terra a cada qual
disposto a vir arar terras virgens na região de Santo Amaro.
2) Cada pessoa adulta receberia ainda,
durante um ano e meio,160 réis diários em moeda e cada criança receberia metade
dessa quantia;
3) Bois, cavalos, ovelhas seriam fornecidos
pelo Governo, devendo o valor desse gado, em moeda ou espécie, ser restituído
dentro de quatro anos;
4) Os colonos que tivessem vindo por conta do
Governo teriam isenção de impostos por oito anos e, os que tivessem pago suas
passagens, por dez anos;
5) Os colonos ficavam na obrigação de tomar armas,
quando em caso de perigo fossem convocados pelo Governo;
6) Recrutamento obrigatório para as crianças;
7) O governo ficava obrigado ao pagamento dos
honorários de médicos e padres, durante ano e meio. Outros colonos, geralmente
os protestantes, não aceitaram essas condições e preferiram adquirir terras
para cultivá-las logo que se apresentasse a oportunidade.
Em 29 de junho de
1829, depois de acordos foram assentados no planalto de Santo Amaro, na então
Província de São Paulo, os primeiros imigrantes alemães originários de
Hundsrück, Estado da Renânia-Palatinado. O assentamento ocorreu nas áreas
compreendidas entre a Serra do Mar, em terras a quatro léguas de Santo Amaro,
ao sul da Freguesia, próximo ao Ribeirão Vermelho e a Serra do Mar. Um grupo de
129 colonos aceitou estabelecer-se na Freguesia de Santo Amaro, realizando-se
uma cerimônia para sorteio das terras entre 94 famílias que desejavam estabelecer-se
no lugar destinado à Colônia em Santo Amaro.
Em 1837, Santo Amaro
era responsável pela produção batatas no município de São Paulo, passando a ser
considerado o "celeiro da capital", além de fornecer arroz, feijão,
milho e mandioca entre outros gêneros alimentícios. Também comercializavam no
Mercado de São Paulo gado, aves, madeira e carvão. Os alemães fundaram vilas
como Cipó e Parelheiros, referência a parelhas de disputas entre cavaleiros
alemães e caboclos brasileiros que já estavam nas proximidades, e que parece
ter tido anteriormente o nome de Santa Cruz.
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