IMIGRANTES ALEMÃES NAUFRAGADOS
Os emigrantes para Brasil partiam de Hamburgo, de Bremen, na Alemanha e mais tarde também de Amsterdã, na Holanda, este último porto preferido pelo imigrantes do sul da Alemanha, porque era facilmente acessível através do rio Reno. (FEY, p. 24, 2019)
O grupo de emigrantes do Palatinado em 7 de novembro de 1827 deslocou-se a para embarcar em dois veleiros
distintos o “Alexander” e o "Helena e Maria". Era um grupo grande de pessoas que
ficavam na fila para embarque a bordo de um dos dois navios.
Muitos foram separados de seus
filhos menores que realizaram a viagem em veleiros diferentes, com a esperança
de chegar ao mesmo tempo em Küsel[1]
que não puderam viajar a bordo do navio "Alexander", foram transferidos
para o navio "Helena e Maria".
A SEPARAÇÃO DAS FAMÍLIAS E O NAUFRÁGIO DO VELEIRO “HELENA E MARIA”
O veleiro “Helena e Maria[2]” foi
construído em 1813, em Maassluis, Holanda, recebendo o nome de Welbedagt. Era
um veleiro de dois mastros e dois decks, tipo brigue[3].
Em 4 de julho foi vendido e recebeu o nome de Thalia. Em 12 de dezembro de 1827
o veleiro sofreu alteração construtiva de 2 para 3 mastros e recebeu o nome de “Helena
e Maria”, sendo adquirido pelo capitão Bartolomeus Karstens, oriundo de Amsterdã.
Nessa reforma o veleiro teve suas dimensões originais diminuidas.(FEY, p. 42, 2019)
O veleiro "Helena
e Maria" partiu de
Amsterdã, do porto de Texel, a maior das Ilhas Frísias,
na Holanda, em 6 de janeiro de 1828 com
350 pessoas, e em 12 de janeiro de 1828 ao passar
pelo canal da Mancha em direção ao Atlântico, foi surpreendido com mau tempo e um furacão. O veleiro foi sacudido
pela tempestade sofreu avarias ficando a deriva, pois os seus três mastros foram
danificados[4]. Para
não adernar[5] os
mastros que sustentavam as velas, os mesmos foram encurtados pelos passageiros ficando
o “Helena e Maria” a deriva cerca de 40 quilômetros da costa da Cornualha, por
aproximadamente duas ou três semanas.
Os emigrantes foram resgatados pelo navio britânico “Plover Packet”[6]
sob o comando do Capitão Edward Jennings. Ele rebocou os destroços para o porto
de Falmouth. O capitão holandes Bartholomeus
Karstens, do veleiro "Helena e Maria" ofereceu uma
compensação monetária como retribuição por rebocarem os destroços do veleiro,
mas a gratificação foi recusada pelo capitão Edward Jennings do Plover Packet, dizendo
que julgou necessário fazer o resgate.
Falmouth - Foz do Rio Fal na costa sul da Cornualha, no Reino Unido. Fotos Andréa Dias
Um considerado número de iimigrantes que viriam ao Brasil, morreram em Falmonuth,
ou em consequência do naufrágio do veleiro “Helena e Maria”, ou ao longo do
tempo permanecendo em condições precárias, atacados por enfermidades causadas
pelo inverno, ou fadiga, ou pouca alimentação, numa espera longa aguardando pela
viagem ao Brasil.
Os emigrantes alemães haviam perdido todos os seus pertences na
tempestade e também o valor da passagem que pagaram antecipadamente para
viajarem e ao invés de estarem na América do Sul, o objetivo dos seus sonhos, viam-se
completamente desprovidos de tudo na Inglaterra invernal.
A cidade de Falmouth através do “Comitê para Socorro dos Emigrantes
Alemães Afligidos” conseguiram abrigar, nutrir e cuidar desafortunados
viajantes durante um ano inteiro. O Vice-Presidente desta Sociedade, Lord de Dunstanville,
teve uma grande participação nesta ação de socorro.
Somente no final de outubro o governo britânico decidiu cuidar do
transporte dos alemães para o Brasil. O veleiro “Helena e Maria” foi
reparado em um estaleiro, para seguir viagem, mas os imigrantes não aceitaram, pois,
inspeções feitas pela Marinha Inglesa, reconheceu a insegurança da embarcação.
Por fim
de bandeira inglesa, aportou em
Falmouth, com a incumbência de levar os emigrantes ao Brasil. Passaram a bordo para
em para
o Brasil. Os imigrantes alemães
eram formados por um grupo misto de 313 imigrantes de regiões diferente da
Alemanha: Moselanos, Palatinos e Hunsruck[7],
sobreviventes do naufrágio na Inglaterra.
O navio James Laing
foi posto à disposição dos colonos alemães por Felisberto Caldeira Brant, o
Marquês de Barbacena, de descendência alemã, diplomata brasileiro que, em
passagem por Falmouth, em 24 de setembro de 1828, quando acompanhava a rainha
D. Maria II, que contava apenas nove anos de idade, filha de D. Pedro I, pôde
constatar o triste estado em que se encontrava aqueles imigrantes que tinha por
destino o Brasil, sendo contratado o navio James Laing para leva-los
ao Brasil. os náufragos do navio “Helena e Maria”. (denominado supostamente ser
um navio chamado Cäcilia[8],
mas não há confirmação de sua existência).
O
navio James Laing foi construído em 1818, na cidade de Stockton, na Inglaterra.
Suas dimensões de convés eram de 32,7 metros de comprimento por 9,05 metros de largura,
com capacidade de transporte de 418 toneladas. Possuía casco com revestimento
de cobre para proteção da corrosão da água salgada do mar. Pertencia a empresa
de navegação James Laing & Sons, de Sunderland, Inglaterra.
Assim, em 03 de
janeiro de 1829, os alemães náufragos do veleiro “Helena e Maria” partiram em
direção ao Brasil, chegaram ao Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1829.
Dos dois navios, “Helena e Maria” e o “Alexander”
que sairam de Amsterdã, rumo ao Brasil, somente o veleiro holandês
"Alexander" com os seus 174 emigrantes alemães, chegou ao Rio de Janeiro, Brasil, sem
dificuldades aparentes, sendo que os imigrantes continuaram a viagem no dia 20
de junho de 1828 embarcando na sumaca[9] “Rocha” para serem levados
a Santos, e, em seguida para São Paulo, sob as ordens do intérprete,
Inspetor de colonização de estrangeiros, Johann Heinrich Kagel. (ZENHA, 17; 1950)
Deste modo as duas levas
de imigrantes ao Brasil depois de um ano puderam encontrar-se novamente após
embarcarem em Amsterdã em 7 de novembro de 1827.
Em 28 de dezembro de 1828 o
diretor da imigração comunica ao Conselho que os colonos tinham ido ver as
terras da Freguesia de Santo Amaro e que por documento escrito as aceitavam. O Conselho
da Província de São Paulo, realiza sessão extraordinária em 12 de fevereiro de
1829, em que fica instituída a Colônia Alemã, definitivamente em Santo Amaro. (ZENHA,
p. 28 e p..30; 1950)
Em 10 de abril de
1829, 342 passageiros somados de outros veleiros que aportaram em São Paulo, seguiram
viagem com destino a Porto Alegre, no costeiro Florinda e registrados como
chegados a São Leopoldo em maio de 1829.
Essa epopeia desta viagem foi
considerada como a 25 ª leva de imigrantes alemães chegadas
ao Brasil.
[2]
A embarcação que recebeu o nome
“Helena e Maria”, também chamado “Helena Maria”, que algumas vezes trocam-se erroneamente
o lado dos nomes femininos (Maria Helena) em muitas obras a respeito do assunto
do navio que naufragou na costa da Inglaterra, é chamado de Cacilia, Cacilie ou
Cecilia, nome esse que aparece na obra “Cem Anos de Germanidade no Rio Grande
do Sul”, do padre jesuíta Theodor Amstad (1851/1938) que veio para o Brasil em
1885.
[4]
Uma semelhança de fatos: O 1º embarque de imigrantes suíços
de ascendência alemã para o Brasil foi efetuado pelo navio Argus, ou
Argo. Era capitaneado por B. Ehlers e Peter Zink. O comandante do
transporte era Conrad Meyer. Partiu em 27.7.1823 do porto de Amsterdã na Holanda
e chegou no Rio de Janeiro no dia 7.1.1824. Trazia 284 imigrantes, sendo 150
soldados e 134 colonos destinados a Colônia Alemã de Nova Friburgo no Rio de
Janeiro. O navio enfrentou fortes tempestades ainda no Mar do Norte, vindo a
perder o seu mastro principal, obrigando-o a atracar na Ilha Texel na Holanda,
de onde, após consertado, reiniciou a viagem em 10.9.1823.
[5]
Pender,
abater duradouramente (embarcação) sobre um dos bordos, quer pelo deslocamento
da carga, quer pelo impulso do mar ou do vento (navio a vela), ficar de banda.
[6]
Consta que o Plover
Packet, também fez viagem em direção ao Brasil, chegando ao Rio de Janeiro em 7
de março de 1829 (FEY, p. 24, 2019)
[7]
Hunsruck
( Hoher Rucken) significa Lombas Mais Altas. Região de planalto ondulado
encrustado entre os rios Reno, Mosela, Sarre e Nahe, situada na parte sudeste
das montanhas Renânia-Palatinado com 400 e 800 metros de altitudes. Dominam a
paisagem os morros Idarkopf e o Erbeskopf.
[8] Friedrich Huttenberger autor de How the Guilgers came to Brazil-An emigration in 1827- the rediscovery of a forgotten Palatine emigration, escreveu artigo a partir de sua pesquisa sobre imigrantes palatinos deixando claro que o navio Cacilia não existiu e que o navio se chamava na realidade Helena e Maria. (FEY, p. 43, 2019)
[9]
Embarcação pequena de 2 mastros,
usado comumente na América do Sul
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