domingo, 24 de maio de 2020

O Navio alemão Windhuk e meu amigo Bubele (Erwin Kunz)


Um relato das tramas da história

No início da Segunda Grande Guerra, em 1939, o navio alemão Windhuk, (Canto do Vento) que fazia a rota de cruzeiro de Hamburgo, Alemanha, até a África do Sul, na Cidade do Cabo, foi surpreendido com a declaração de guerra impetrada pelos ingleses à Alemanha, obrigando o oficial tomar a decisão de camuflar o navio como embarcação japonesa “Santos Maru” e assim tomar o rumo do Brasil, fugindo do bloqueio naval inglês, chegando ao Brasil em 7 dezembro de 1939.
No auge da Segunda Guerra Mundial a embarcação foi confiscada pelo governo de Getúlio Vargas quando o Brasil entrou na guerra em 1942. Antes, porém os motores do navio foram “explodidos” na casa de máquinas, pois havia acordos bilaterais entre Brasil e Estados Unidos e não queriam entregar a parte motriz integra aos interesses americanos.
Depois disso seus tripulantes foram confinados em cidades do interior como Bauru e Pindamonhangaba e estavam sobre custódia do governo brasileiro que havia declarado guerra ao Eixo, Alemanha, Itália e Japão.
A data de 7 de dezembro de 1939 tornou-se comemorativa pois muitos dos tripulantes do Windhuk resolveram ficar no Brasil e assim criaram laços familiares por aqui. Se reuniam num restaurante batizado com o nome do navio na região de Moema.
Erwin Kunz tinha à época apenas 18 anos e era um “aprendiz de marinheiro” e trabalhava na cozinha do navio.
Tornou-se meu amigo e gostava do seu apelido carinhoso de criança “Bubele”, um alemão enorme com apelido de “Garotinho”! Era casado com dona Nazaré, portuguesa de origem, em segundas núpcias pois sua primeira esposa havia falecido em 1956.

Pesquisador da natureza, morava em Parelheiros, no Jardim São Norberto, e sua sala era composta por uma biblioteca com algumas preciosidades, em que ele, na sua vontade em aprender cada vez mais, extraía informações de seus livros. Falava que era ateu, mas ajudava a comunidade São Francisco sendo participante ativo.
Falava que ali perto havia a Cratera de Colônia, nome de uma cidade da Alemanha, nome dado pelos imigrantes alemães também neste local em São Paulo, que os acolheu em 1827, quando tudo isto era Santo Amaro. Parelheiros está localizado entre o bairro do Grajaú e Marsilac, já próximo da encosta do litoral paulista. A cratera tinha sido resultado de um impacto raro há alguns milhões de anos, feito por um meteorito, uma das poucas no continente sul-americano.
Neste local, nas proximidades referidas, trabalhei para a indústria fabricante de bicicletas "Caloi", no Centro de Detenção Provisória de Parelheiros, ladeado pela mata, cercado por altas muralhas, com arame farpado e corredor de vigia. Fazíamos manutenção de mesas para montagem de raios em seus respectivos aros das rodas, que eram recolhidos por caminhão baú, no fim da tarde. Grandes portões separavam os pátios, onde no primeiro havia pequena criação de carneiros de lã marrom, e num segundo portão, depois de passar por detectores de metais, entrávamos na área de trabalho do presídio. Era uma verdadeira produção planejada, dando aos detentos o direito de cada três dias trabalhados recuperarem um dia da penalidade.
Tudo isto estava ali próximo daquela bela vista verdejante, observávamos o local desta peculiaridade de proporções gigantescas do impacto, que nos tornávamos tão pequenos no espaço de onde surgiu o fenômeno.
Meu amigo foi embora em 2009 para o céu, de onde veio o meteorito, lá ele deve estar contando estas histórias de sua vida, do navio Windhuk e da Cratera da Colônia!









Quem quiser saber sobre o navio Windhuk há o livro O Canto do Vento, de Camões Filho, da Ed. Página Aberta



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