A “revolução” industrial tardia do Brasil e a alteração
de mãos:
WALITA=PHILIPS / WAPSA=BOSCH
WALITA=PHILIPS / WAPSA=BOSCH
1-Eletro Indústria Walita Ltda
De uma modesta empresa denominada Indústria Luminotécnica
Waldemar Clemente Ltda surgiu a renomada empresa Walita. Neste período, o
descendente de alemão, Waldemar Clemente, era engenheiro da General Eletric.
Em 1939, Waldemar Clemente monta seu escritório
de representação de material elétrico, originando uma pequena fábrica no Largo
do Arouche, desenvolvendo tomadas, plugs, interruptores e calhas de iluminação.
Como consequência, logo no ano seguinte, em 1940,
a Walita inicialmente se instalou em um pequeno terreno de 500 metros quadrados, na Rua Álvaro Alvim, número 79, no
bairro paulistano da Vila Mariana. A empresa se especializou em iluminação
fluorescente, tornando-se referência de qualidade em todo o país.
Em 1943, um novo acaso
viria a transformar a história da Walita projetando seu nome. Convidada pela
Ford e outras montadoras a colaborar na fabricação de aparelhos de gasogênio (no
auge da Segunda Guerra, todo combustível era voltado para o fim bélico e houve
falta da gasolina e começou-se a adaptar carros movidos a gasogênio.), a Walita
começou a produzir motores para ventoinhas que serviam para controlar a
temperatura do equipamento. A experiência com motores foi tão bem-sucedida que,
em 1944, Waldemar associou-se ao irmão (Antônio), dando início à fabricação de
eletrodomésticos.
A empresa passou a ter a razão
social Eletro Indústria Walita Ltda. O nome Walita se formou da junção do nome
de Waldemar com o de sua esposa, Lita Clemente, que teve grande participação no
desenvolvimento da empresa, resultando o nome que representaria qualidade e
garantia nos aparelhos domésticos: WALITA.
O
Brasil ainda estava buscando novos rumos com o final da guerra, saindo de sua
condição exclusivamente agrícola, expandia para setores industriais. Neste
momento surge a novidade que iria projetar o nome Walita a partir de 1944: o
liquidificador modelo Walita-Nêutron, o primeiro aparelho a sair
da linha de montagem totalmente fabricado no Brasil. A empresa fabricou e
comercializou o modelo de liquidificador o Nêutron de 1944 a 1960, tornando-se
o campeão de vendas da empresa.
Em 1945, a Walita produz o primeiro ventilador produzido
no Brasil. Com o final da segunda guerra mundial, há grande produção de eletrodomésticos
começam a surgir importados no mercado nacional, como batedeira de bolos, aspirador
de pó, centrífugas, enceradeiras com uma e três escovas, ferro elétrico, e a Walita
evolui com projetos e fabricação própria. Em 1946 são produzidas as primeiras batedeiras
nacionais.
Os
nomes "Liquidificador" e "Centrifuga", foram assim batizados
pela Walita. Em 1947, a Walita se torna empresa Sociedade Anônima com capital investido
de um milhão de cruzeiros velhos, agora sendo nomeada de Eletro Indústria Walita
S.A.
A empresa
não se limitava a produzir os aparelhos, mas levava ao público o conhecimento
para utilizá-los com eficiência de ensinar e produzir a culinária com suas receitas,
através da Escolinha Walita, criada em 1953.
Em 1955 a Walita exporta para
o Uruguai. Nesta época chegava à casa de meio milhão de aparelhos produzidos.
Em 1957, a Walita desenvolve o Motor Monofásico
aplicado em seus produtos.
Em 1963, a razão social da empressa em franca
expansão passa a ser Eletro Indústria Walita Ltda
Entre 1968 e 1969 inicia-se a
construção de uma nova fábrica da Walita, em Jurubatuba, na Avenida Eng. Euzébio Stevaux
823, no bairro Capela do Socorro/Interlagos, região de Santo Amaro,
São Paulo. (Atualmente é a Unidade Nações Unidas do SENAC)
Com o 1º Plano de Desenvolvimento Econômico
aplicado no Brasil, começa a diminuir o ritmo de investimentos. A Organização
Philips do Brasil, empresa sediada na Holanda, em 1971, decidiu comprar a Walita
Eletrodomésticos Ltda. A nova nomenclatura passa a ser Philips do Brasil -
Divisão Walita, mantendo a marca como nome fantasia, ampliando sua participação
de componentes de cozinha na América Latina.[1]
A Walita continua a desenvolver uma gama grande
de produtos como batedeiras, liquidificadores, ferros de passar, cafeteiras,
espremedores; barbeadores, depiladores, secadores de cabelo e acessórios de
reposição.
Em 1994, faleceu o fundador da Walita, Waldemar
Clemente, aos 89 anos.
Em janeiro de 2000, a Walita inaugurou a fábrica
em Varginha, Minas Gerais com investimento na ordem de 4,5 milhões de reais. No
ano de 2004, a Philips incorporou seu nome junto à marca Walita, criando,
assim, a linha de produtos Philips Walita.
Outros aparelhos foram
sendo desenvolvidos a partir de então surgindo nesse segmento ventiladores,
batedeiras de bolo, aspiradores de pó, ferros elétricos, exaustores,
centrifugas, furadeiras e tantos outros aparelhos eletro domésticos e ferramentas
motrizes.
2- WAPSA: Walita Auto-Peças
S.A.
O Grupo Industrial Walita
era integrado pela Eletro Indústria Walita Ltda e a Wapsa Auto-Peças S.A., para
atender a demanda crescente de eletro domésticos ainda insipiente no Brasil dos
anos de 1940 somada a demanda de componentes automotores da segunda metade da
década de 1950.
A Wapsa Auto-Peças S.A. primeiramente possuía a razão social
Walita Auto-Peças S.A., e fazia parte do Grupo Industrial Walita.
A WAPSA foi fundada em 28 de
maio de 1957, em São Paulo, idealizada para produzir equipamentos elétricos
para veículos, que começaram a ser fabricados no Brasil através do Plano de Metas
do governo federal dentro do estabelecido pelo Grupo de Estudos da Indústria
Automobilística, que ficou conhecido por GEIA[2].
Neste mesmo ano o Grupo Industrial Walita firmou contrato e assistência técnica com a The Eletric Auto Lite Company[3], com razão social mais tarde alterada para Prestolite International Corparation, com sede em Toledo, Ohio, Estados Unidos. Em 1958, a Walita consegue junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico, BNDE, financiamento na ordem de 58 milhões de cruzeiros.
Toda essa transação
possibilitou a construção da Fábrica Walita Auto-Peças, WAPSA, que se estabeleceu
em Santo Amaro, á Rua Dr.Rubens Gomes Bueno, anteriormente denominada
Rua Piratininga, número 462. Essa fábrica foi
idealizada com o mais alto padrão de máquinas operatrizes para produção de dínamos,
motores de partida, caixas de reguladores, distribuidores, bobinas de ignição,
e outros tantos componentes usados pelos fabricantes veiculares que começou a
produção nacional iniciada pela Mercedes Benz.[4]
Para testar seus equipamentos a WAPSA patrocinava eventos automobilísticos no Autódromo de Interlagos (José Carlos Pace) em São Paulo.
Para testar seus equipamentos a WAPSA patrocinava eventos automobilísticos no Autódromo de Interlagos (José Carlos Pace) em São Paulo.
As exigências de nacionalização
deveriam chegar na casa dos 95% e as montadoras precisavam ter toda estrutura
para atingir esse objetivo exigido pelo governo brasileiro. Anteriormente as
peças vinham desmontadas e eram montadas no Brasil e o fabricante estrangeiro detinha
a licença sobre o veículo. Esse processo era chamado CKD, kit completamente
desmontado.[5]
A República Federal da Alemanha[6] tinha o Brasil como uma de
suas prioridades comerciais e para investimentos privados e o Brasil em franca
expansão em uma “revolução” industrial tardia, estimulou
a produção nacional de automotores expandindo rodovias em detrimento das
ferrovias.
Para atingir o alto nível de
produção foi formado um corpo técnico pela Walita que recebeu todo o
conhecimento na matriz da Prestolite, Ohio, Estados Unidos, que foram os responsáveis para dar início
nas atividades industriais da empresa Wapsa no início de 1958 sendo a
inauguração da fábrica ocorrida em 18 de dezembro de 1958 em uma área de 14.200 metros quadrados cuidando de formar pessoal para um corpo técnico de assistência
de eletricidade de veículos e de mecânicos especializados que foram formados na
Escola Técnica de Serviço da própria empresa e uma escola móvel montada em
chassi monobloco da Mercedes Benz para atender a demanda em vários locais do Brasil.
O pronunciamento do
próprio Presidente da República em Mensagem ao Congresso Nacional compelia a estimular
a produção industrial:
“Ainda no que toca à política
geral, outra medida a que o governo atribui grande importância refere-se à
atração dos empresários estrangeiros que, com a sua técnica e o seu capital,
poderão prestar valiosa ajuda na construção do nosso parque industrial. São
condições essenciais de uma política de estímulo ao capital estrangeiro a
estabilidade política, cambial e monetária.”
A década de 1950 foi
início do boom industrial no Brasil, onde o setor industrial foi alavancado com
implantações de indústrias de base.
A Wapsa Auto Peças passou
ao controle da Robert Bosch Ltda[7]. A
tecnologia empregada na WAPSA era importada da Prestolite. Em 1984, a Bosch
adquiriu parte das ações da Prestolite e passou a fornecer a tecnologia para os
produtos da WAPSA. Em 1994, a Bosch comprou 100%
das ações da WAPSA, incorporando-a à unidade ao grupo Robert Bosch no Brasil.
Em 1998, foi transferida
para Campinas a produção de motores de partida e alternadores de veículos
pesados, ficando em São Paulo a fabricação de pequenos motores, como limpadores
de para-brisa, acionamento de vidro e motores de ventilação e arrefecimento. São Paulo somente poderia
ser competitiva se houvesse a junção da produção de Campinas com a de São
Paulo. O objetivo era transferir todo efetivo até 2005 para Campinas.
Hoje ambas empresas mudaram de donos e de cidades.
Hoje ambas empresas mudaram de donos e de cidades.
*Philips do Brasil Ltda-Divisão Walita
End.: Av. Otto Salgado, 250 - Rezende, Varginha, Minas Gerais
*Robert Bosch Ltda (WAPSA)
End.: Via Anhanguera, km 98. Vila Boa Vista, Campinas, SP.
Referências:
MARCOVITCH, Jacques. Pioneiros
e Empreendedores: A Saga do Desenvolvimento no Brasil. São Paulo: EDUSP,
2003.
Brazil, Survey of U.S.
export opportunities. U.S. DEPARTMENT OF COMMERCE, Domestic and International
Business Administration, Bureau of International Commerce, august 1974
IANNI,
Octávio. Estado e Planejamento Econômico no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1986, 4a ed.
Revista "Em Guarda", Ano 4,
número 1
BANDEIRA, Moniz. O Milagre
Alemão e o Desenvolvimento do Brasil.: As Relações da Alemanha com o Brasil e a
América Latina (1949-1994). São Paulo: Editora Ensaio. 1994
[1] Em 24 de julho de 1924, surgia a Philips Brasil SA,
no Rio de Janeiro, com objetivo de importar lâmpadas incandescentes e
posteriormente, rádios receptores
[2] Em 16 de junho de
1956 no governo de Juscelino Kubitschek houve a nomeação do almirante Lúcio Martins Meira para o
Ministério da Viação e Obras Públicas, sendo criado o GEIA (Grupo de Estudos da Indústria Automobilística) que reunia
empresas fabricantes de autoveículos, como automóveis, comerciais leves,
caminhões, ônibus e máquinas agrícolas automotrizes, como tratores
de rodas e de esteiras, cultivadores motorizados,
colheitadeiras e retroescavadeiras. Conforme previa o GEIA,
até 1960, 90% de peças dos caminhões e utilitários vendidos no Brasil deveria
ser de componentes nacionais. Para automóveis de passeio, 95%.
[3] A Ford entrou no lucrativo mercado
de reparos e peças de reposição no final dos anos 50. Após esforços iniciais
insatisfatórios para comercializar peças de reparo, a Ford começou a explorar
outras opções de marketing. Acreditando que um bom nome comercial era uma chave
que poderia abrir as portas do mercado de peças de reparo, a Ford iniciou
negociações com a Electric Autolite Company. A Electric Autolite, fornecedora
principal de peças para a Chrysler, era uma grande fabricante de peças de
reparo de automóveis. Em 1961, foi alcançado um acordo segundo o qual a Ford
adquiriu da Electric Autolite o nome comercial "Autolite", uma
fábrica de velas de ignição em Ohio, uma instalação de baterias no Michigan,
direitos limitados de distribuição e os serviços de vários funcionários. “Os
ventos da mudança” foram notáveis na indústria automotiva e, em 1961, a Ford
Motor Company de Dearborn, Michigan, adquiriu o nome comercial de “Autolite”,
juntamente com a Divisão Spark Plug em Fostoria, Ohio e a Usina de Bateria
Owosso em Owosso, Michigan. A parte remanescente do Electric Autolite foi
renomeada como "Eltra Corporation". A principal fábrica da Eltra
estava localizada na Champlain Street, em Toledo, e em 1962, após problemas
contínuos de trabalho e a deterioração dos equipamentos de fabricação, a
fábrica foi desmantelada e reorganizada com sua subsidiária Prestolite, cuja
sede de quatro divisões era em Toledo.
[4] A
Mercedes Benz (Daimler) começou a fabricação do caminhão L-312,
que ficou conhecido por Torpedo[4] que saiu da
linha de montagem em São Bernardo do Campo, São Paulo, no dia 28 de setembro de
1956.
[5] CKD (Completely
Knock-Down) é um kit das partes completamente desmontadas de um produto. É
também um método de fornecimento de peças para um mercado, particularmente no
transporte para nações estrangeiras, e serve como uma forma de contagem ou
determinação de preços. No estado do Rio de Janeiro na década de 1940, por
necessidade de alta produção industrial de aeronaves para o esforço de guerra foi
idealizada uma fábrica para construção
de motores de alta performance de aviões, tratores e tanques, em cooperação
brasileira-americana sendo o equipamento obtido por intermédio do Empréstimo e Arrendamento
e créditos pelo Banco de Exportação e Importação. O Know-how pertencia a Wright
Aeronautical Corparation e a Fairchild Engine and Airplan Corporation. Coube ao
brigadeiro Antônio Guedes Muniz dirigir toda a empreitada para serem produzidos
motores radiais aeronáuticos. Em 1949 essas instalações estavam ociosas e o
Brasil aproveitando as instalações formou consórcio com a empresa italiana Isotta
Fraschinni a empresa Fábrica Nacional de Motores, que ficou conhecida por FNM.
Nessas instalações foram iniciadas a produção de caminhões de 7,5 toneladas de
capacidade, sob licença italiana. O modelo D-7300 da FNM em 1949, era impulsionado
por motor de 6 cilindros diesel de 7,3 litros e 100 cv, nunca se soube ao certo
na nacionalização de peças, mas provavelmente representava 1/3 de peças
produzidas no Brasil, o resto era proveniente da Itália.
[6] Através do cônsul alemão, Friedrich Karl von
Oppenheim, as conversações entre os dois países foram feitas com empresários
alemães com Alfried Krupp von Bohlen und Halbach da firma Fried Krupp, gigante
do setor siderúrgico e com a firma Daimler-Benz, tendo com seu representante
Fritz Konecke. A Alemanha tornava-se assim o 2º maior parceiro do Brasil, atrás
somente dos Estados Unidos. As bases de reconstrução da Alemanha do pós guerra,
teve no Brasil, seu mais fiel colaborador, pois a Alemanha teria que repor todo
o investimento do Plano americano Marshall de reconstrução da Alemanha. E o
Brasil viu a possibilidade de atrair investimentos vultuosos para sua economia
até da implantação da indústria nacional de automotores, além de ter capital
para idealizar sua nova capital, Brasília. Nos
primeiros cinco anos, da Alemanha Federal, fundada em 1949, o PIB cresceu uma
média de 8.8% ao ano, em 1955, até cresceu 12%. O Milagre Económico Alemão adveio de suas estruturas industriais para sua
recuperação econômica e quitar sua parcela do Plano Marshall (conhecido oficialmente como Programa
de Recuperação Europeia) de aproximadamente 1,45 bilhões de dólares, em várias divisões
contratuais, entre 1948 e 1951, correspondendo a 10,34% do montante total dos
14 bilhões de dólares de recuperação da Europa.
[7] A área de Tecnologia Automotiva é
o setor mais significativo da Bosch, com vendas de 23,2 bilhões de euros em
2001, sendo responsável por 66,8% do seu faturamento total. A empresa Robert
Bosch Ltda. iniciou suas atividades no Brasil em 1954, durante a implantação da
indústria automobilística. Atualmente, o Grupo Bosch controla no Brasil a
Robert Bosch Ltda, com cinco plantas industriais, e mais três empresas
resultantes de fusões. Das cinco plantas industriais da Robert Bosch, três
estão localizadas no estado de São Paulo, duas na cidade de Campinas e uma na
capital. Na Bahia, a planta funciona no centro industrial de Aratú, e no
Paraná, localiza-se na cidade industrial em Curitiba. As duas maiores plantas
produtivas da Robert Bosch Ltda. no Brasil são as de Curitiba (Paraná) e de
Campinas (São Paulo), sendo esta última, a maior e mais antiga unidade no
Brasil, fundada em 1956. No Brasil, são produzidos pela Robert Bosch Ltda. os
seguintes materiais3 : componentes autoelétricos, ignição eletrônica, injeção
eletrônica, gerenciamento de motores, máquinas e sistemas industriais,
ferramentas elétricas, sistemas de freios, buzinas, motores de acionamento,
máquinas de embalagem, velas de ignição, bobinas asfálticas, platinados,
reguladores mecânicos e sistemas de injeção a diesel.
Sem comentários:
Enviar um comentário