quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

RÉQUIEM: Padre Edmundo, Parabéns pelos 89 Anos, Após Muito Trabalho (15-02-2024)

 “O HOMEM É FEITO DE SEUS FEITOS E HÁ MUITAS COISAS NESSE MEIO”

Em muitas biografias existentes, são tão curtas que pelo jeito a pessoa não fez nada na vida, ficou parada num lugar como uma estátua.
Esse não é o caso do "Bita", apelido de quem viria a se tornar o padre Edmundo, o português da Ilha da Madeira, aportado com toda família, lá pelas bandas do Bairro da Saúde, Vila Clementino.
Ele dizia que ajudava o pai, que tinha o apelido de “Botinudo” que trabalhava no Mercado Municipal da Cantareira, e sabendo onde o “calo aperta e a barriga dói”, montou dois tabuleiros no Largo do Paissandu, para os Gêmeos Helder e Edmundo venderem frutas, mas o Edmundo contava sorrindo essas peripécias, que não deu muito certo, pois ambos comiam mais do que vendiam.
Com o tempo a família enviou o “traquina” para o Seminário de São Roque e lá foi o Bita, num internato de formação religiosa. Por muito tempo os amigos vinham vê-lo na Paróquia São Luiz Gonzaga e cantavam músicas em latim, faziam parte dos que idealizaram a Revista ECHUS DO IBATÉ, que se contava fatos acontecidos com o grupo. Desse pessoal, fui apresentado para o Adílio, Barizon e Walter Barelli. Padre Edmundo foi formado ainda no tempo do Concilio de Trento, com o clero presidindo de costas para os paroquianos. Padre Edmundo recebeu a sua missão sacerdotal em 1963, em um grande momento de transformações internas da Igreja.
O padre Edmundo “desembarcou” no bairro Jardim São Luiz, beirando os 30 anos, em 1964, vindo da Freguesia do Ó. A igreja do bairro tinha sido elevada a paróquia recentemente. Já havia a Sociedade Amidos do Bairro, onde as reivindicações sociais eram propostas. “Isso aqui era só barro”, como diziam os velhos, asfalto nem pensar, e a “condução” (ônibus) parava em frente a Capelinha Nossa Senhora da Penha (onde hoje é o mercado Assaí) e que hoje tem-se a santa que era da Capela, fazendo parte do patrimônio da Paróquia São Luiz Gonzaga.
Essa Capela (sem se ater a detalhes) um dia de maio de 1973 foi derrubada, deu confusão, deu briga, um xingava pra lá, outros mandavam os outro para um monte de lugares, e o Padre Edmundo entrou na confusão, mas não teve jeito, e a Empavi, firma de pavimentação e limpeza do Rio Pinheiros ( esse rio é “limpo" há pelo menos 50 anos) assumiu a área física com seus equipamentos.
Um dia santo (tem algum dia que não é?) fizeram um palanque no Jardim São Luiz e vinha uma “corriola” de políticos e anunciaram que haveria a missa. O padre já estava de “saco cheio” e falou que não iria, mas foi, porque senão era mais encrenca.
Estava assim formada a tentativa do Impeachment do padre! Reuniram-se num salão de um armazém grupos distintos e novamente uma ala para cá e outra pra lá contra e a favor do padre, afinal, ninguém é unanimidade e no Jardim São Luiz o bispo de São Paulo nem aparecia, mas tinha um núncio deste, Dom Fernando. Como notícia ruim voa a jato, um dia o auxiliar do bispado apareceu na paróquia para apaziguar os ânimos e acho que ele falou para o padre Edmundo “ficar de boa”. O padre Edmundo ficou quieto por pouco tempo.
Tem muito mais o que se contar:
O velho João Manecão que era dono de todas as terras do atual Jardim São João era muito religioso, dava catequese para a gurizada e gostava do padre Edmundo e deu um pedaço de terreno para o padre fazer uma capela, com uma condição apenas: ele queria que a capela tivesse o nome de João e assim o padre levantou quatro paredes e batizou o lugar do cimo do morro de João Batista. Precisava alguém para tomar conta do lugar e o padre colocou um caseiro que lá ficou por mais de uma década e levou o padre para justiça, alegando que tinha parte do terreno e por pouco não deu m...mudança, e a mudança o padre pagou o caminhão, para se ver livre e un$ trocados por fora.
Mudaram o nome da São João e eu fiz a história do João Manecão, que acho que ficou triste com essa decisão da mudança de nome para Rosa de Lima. (Apagaram a história real!!!)
Político no bairro era anunciado aos domingos, eles vinham aos montes, abraçava e beijava a criançada, o modus operandi, do passado que não mudou em nada e o padre Edmundo com toda sagacidade, anunciava em alta voz que que fulano iria dar o cimento, o cicrano iria dar a areia, o milheiro de alvenaria, e deste modo resolveu-se a falta de capital para se fazer algo que por vezes nem acredito que a coisa andou, mas o povo arregaçou as mangas.
Mas tem mais problemas que apareciam no dia a dia. A nova matriz foi construída por fora e as máquinas fizeram uma cratera no meio, para ser construído o salão, depois das paredes feitas o engenheiro, disse que precisava diminuir o vão, mas as paredes já estavam feitas, foi outra encrenca, e não é que o salão tem duas paredes, um grudada na outra.
A comissão formada pela velha guarda por pouco não cometeu um homicídio e o engenheiro sumiu para sempre. Depois contratou-se um mestre de obras para rebocar as paredes. Lá foi o padre para justiça novamente, pois o pedreiro achou que o combinado estava errado e queria mais bônus.
A casa do padre foi a última coisa a se derrubar, mesmo chovendo mais fora do que dentro, na sala toda encharcada com fotografias antigas que ele deu-me a caixa com elas toda molhadas e grudadas, que o fotógrafo Shizuo ensinou-me a recuperar e hoje deve estar em algum lugar com parte de sua história. Deste momento nasceu o projeto “A Fotografia Como Concepção Histórica”.
Nesse salão “das paredes duplas” aquele amigo de seminário Walter Barelli enviou o projeto para montar o “Programa de Auto Emprego”, PAE, com cursos variados de quase um ano de duração. Tinha uma pequena verba que reverteu para a Paróquia, era melhor pingar do que secar.
Ainda no salão o padre fez a fábrica para fazer suas próprias estruturas de vigas pré-montadas, até balaústres fabricavam-se. O padre Edmundo tinha a fama de bravo, pode até ser, mas se era muito bravo o coração dele era do mesmo tamanho ou até maior e muitas vezes ajudou àqueles irmãos de ordem e até na edificação da paróquia Santa Edwirges enviou estruturas de concreto armado fabricadas no Jardim São Luiz.
Fazer uma igreja bonita do jeito que ele planejou iria ser feita custasse o que custasse.
As primeiras missas na nova paróquia os paroquianos ficavam em pé, não tinha bancos. Havia um rapaz, que nem participava na paróquia ofereceu-nos cadeiras de cinema da Gazeta , na Avenida Paulista, fomos buscar à noite, com um caminhão de outro amigo, num dia de chuva, pois era o último dia para ser retirado. Assim o povo ganhou o conforto do assento, até o padre contratar a Macampe, bancos de primeira que 125 famílias assumiram o custo em livro de ouro.
Quando os bispos vinham visitar a paroquia São Luiz Gonzaga o “rega bofe ou engasga gato” era de uma fartura descomunal e ainda tínhamos que escutar que éramos uma igreja particular, mesmo trabalhando muito.
Sacerdotes, muitos dos atuais, foram encaminhados por padre Edmundo para a atual Diocese Campo Limpo, mesmo até quando esta era apenas um projeto, ou para outras Dioceses, como de Santo Amaro ou a de São Paulo. Muitos voltaram para agradecer ao “Velho”, mas outros nem tanto, outros teriam que enaltecerem-no eternamente pelos préstimos que sempre dele partiu genero$o. Ele ficava feliz quando um voltava, como aquele que voltou limpo para agradecer a Jesus.
Muitos o elevaram, muitos o estimaram, muitos nem tanto, muitos parasitaram, muitos enfim o tem como alguém que por longa data lutou pelo Bairro Jardim São Luiz e elevou em todos os momentos sagrados o nome Deus, amando sua escolha de sacerdote, foi autêntico, pois amigo não precisa sempre concordar com o amigo, deixando registrado que AQUELES DE AMO, CORRIJO E EDUCO!
No início desta missiva, como um prefácio expusemos que há biografias que parecem estátuas paradas, esse não foi o caso do Padre Edmundo, tem muito a se rever, como fonte viva, não letras mortas.
As próximas gerações devem saber que existiu uma pessoa que esteve presente em todos os momentos da vida cristã de cada morador do Bairro Jardim São Luiz e adjacências e que contribuiu para esses jovens estarem hoje nesse Jardim!
Que em seu “próximo aniversário de 90 anos” seja comemorado com uma herma em um pedestal, ou em uma praça ou na paróquia em sua homenagem para eternizar seus feitos em prol de muitos!
....tenho dúvidas se ele gostaria de tal homenagem, mas seria merecedor!!!

PARÓQUIA SÃO LUIZ GONZAGA PRESBITÉRIO


DOM FERNANDO
SEMINÁRIO SÃO ROQUE-CONFRATERNIZAÇÃO



SEMINÁRIO SÃO ROQUE



CAPELA SÃO JOÃO BATISTA
JOÃO MANECÃO CATEQUESE
JOÃO MANECÃO CASAMENTO
BANCOS DO CINEMA DA GAZETA
ESTRADA PRINCIPAL

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