quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Maria Coelho Aguiar, Mãe de Amador Aguiar, do Banco Bradesco e nome de Avenida no Bairro Jardim São Luiz, em São Paulo!

MARIA COELHO AGUIAR, MÃE DE AMADOR AGUIAR DO BANCO BRADESCO

 Nossa história começa com um depoimento de quem conviveu com Amador Aguiar:

Em 1949 o Banco Noroeste[1] transferiu o jovem Laudo Natel[2] (que foi governador de São Paulo) para a cidade de Lins, onde foi promovido a caixa e a pró contador onde teve contato com o gerente da casa bancária, Amador Aguiar, que nas palavras de Natel era:

“Um gênio das coisas simples”.

 O gerente da agência do Banco Noroeste de Lins era Raul Dias Toledo e o contador era Honório Rodrigues Costa. Laudo Natel, veio para a agência de Pirajuí, permaneceu no Banco Noroeste de dezembro de 1937 a agosto de 1943, transferindo-se, a convite de Amador Aguiar, para o Banco Brasileiro de Descontos, recém fundado.

A família Aguiar e Silva

Amador Aguiar nasceu em 11 de fevereiro de 1904, na fazenda Arindeúva (Fazenda Dumont), na cidade de Ribeirão Preto, em São Paulo. Era o terceiro de 13 filhos do casal João Antonio de Aguiar Silva e Maria Coelho Aguiar que viviam do campo, na lavoura de café.

Registro de batismo de Amador Aguiar

Sua mãe, Maria Coelho Aguiar nasceu em 26 de julho de 1882, em São Paulo, filha de José Mathias Coelho e Emília Cândida de Jesus. Ela faleceu em 24 de novembro de 1952, em São Paulo, aos 70 anos.

Seu pai João Antonio de Aguiar Silva nasceu, em 28 de agosto de 1873. Seu avô, de nome homônimo, João Antonio da Aguiar Silva, tinha 51 anos e sua avó, Guilhermina Martins da Costa Passos, 33. O pai de Amador Aguiar, João Antonio de Aguiar Silva, faleceu em 1º de janeiro de 1926, aos 52 anos.

João Antonio de Aguiar Silva e Maria Coelho Aguiar, casaram-se em 15 de outubro de 1898, em Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil. Eles eram pais de pelo menos 9 filhos e 4 filhas:

Jayme de Aguiar e Silva (1900–1963); Teófilo de Aguiar e Silva (1902–?);; Amador Aguiar (1904–1991); Abílio Aguiar e Silva (1905–1966); Guilhermina Aguiar e Silva (1908–?); Ozório Aguiar e Silva (1909–1964); Elói Aguiar e Silva (1910–?) Acácio Aguiar e Silva (1912–?); Henrique Aguiar e Silva (1915–?); Otília Coelho Aguiar (1916–?); Emília Aguiar Silva(1920–?); Jacyra Aguiar e Silva (1922–?); Mário Coelho Aguiar (1925–?).

Amador Aguiar, saiu de casa aos 16 anos com problemas de relacionamento com o pai, João Antônio Aguiar Silva, abolindo seu sobrenome Silva, evitando assim uma boca a menos para alimentar.

Tornou-se tipógrafo em Ribeirão Preto fazendo composição tipográfica, corpo 8, claro e negrito, de dois jornais “A Tarde” e “Diário da Manhã”, sendo que já obtivera alguma experiência numa gráfica de Sertãozinho, na Tipografia Pieroni, na Praça 21 de Abril. Depois transferiu-se para Bebedouro onde conseguiu um emprego nas oficinas dos jornais “A Vanguarda”, “Jornal de Bebedouro” e “Gazeta de Bebedouro”, mas perdeu o dedo indicador da mão direita em uma máquina tipográfica, mudando deste modo de profissão.

Amador Aguiar ao lado da impressora Liberty, em que começou sua carreira como tipógrafo – Foto de 1985-Acervo de Amador Aguiar

A família Aguiar era muito próxima de Francisco Schmidt[3] , grande fazendeiro de Ribeirão Preto, onde João Antônio teria sido administrador de suas fazendas, mas o chefe da família teria perdido todos os seus bens por razões das crises, relacionadas com a geada, crise do café, febre amarela e ataque de gafanhotos, que aconteceram em 1918.

O fazendeiro Francisco Schmidt morreu em 1924 e em 1926 faleceu João Antônio de Aguiar Silva. Forçado pelas circunstâncias, Amador Aguiar, tornou-se arrimo de família, dando suporte a família numerosa.

Em cada visita que fazia à casa materna, deixava cheques assinados e pré-datados. A mãe transformou a casa num ateliê de costura, tendo boa clientela, fazendo roupas de vários feitios, inclusive ternos masculinos. Para manter a casa ainda cozinhava e vendia marmitas, valendo-se da experiência de quando morava nas fazendas e preparava as refeições dos colonos. Foi assim que os filhos foram educados até seguirem o próprio rumo.

Amador Aguiar casou-se com 21 anos, no dia 24 de setembro de 1925, com Eliza Silva Aguiar e tiveram um casal de filhos, que morreram antes de atingirem um ano, Rubens Aguiar (1927) e Clarice Aguiar (1930) disso resultando a impossibilidade de não terem mais filhos. No ano seguinte, o casal mudou-se para Birigui, onde Amador Aguiar tornou-se office-boy (contínuo) do Banco Noroeste.

No final da década de 1930 adotaram duas meninas gêmeas Lia Aguiar e Lina Aguiar e um pouco mais tarde uma outra menina, Maria Ângela Aguiar.

Era um homem simples que tinha aversão em usar meias e confessou certa vez a Laudo Natel, com quem trabalhou:

“Eu devo muito a asma, é que ela não me deixa dormir e eu aproveito para estudar”.

 
O Futuro 
Banco Brasileiro de Descontos S/A.

A Casa Bancária Almeida & Cia, com sede em Marília, instituição financeira anteriormente denominada Almeida & Nogueira, foi fundada pelo Coronel Galdino de Almeida com seu sócio José da Silva Nogueira. A Casa Bancária Almeida & Cia tinha como presidente, o filho de Galdino, José Alfredo de Almeida, que ocupou o cargo até a década de 1960, sendo sucedido pelo seu cunhado, Dr. José da Cunha Júnior.

José Alfredo de Almeida, conhecido por Zezé de Almeida, nasceu em Igarapava em 1º de novembro de 1909 e faleceu em Marília em 30 de janeiro de 1971. Veio para Marília na década de 1920, para organizar as vendas do Patrimônio da Vila Barbosa, de propriedade da firma Almeida & Nogueira. Depois fundou com seu cunhado Dr. José da Cunha Júnior a Casa Bancária Almeida & Cia., que se transformou depois no Banco Brasileiro de Descontos S/A. José Alfredo de Almeida[4] alguns anos depois veio a fundar uma companhia de aviação[5] civil no país .

Sob o comando do então presidente e controlador da Casa Bancária Almeida & Cia, José da Cunha Júnior, que era uma espécie de correspondente bancário do Banco do Brasil pra servir de intermediário para os fazendeiros e agricultores do interior, em 1943 preparava-se para transformar-se no Banco Brasileiro de Descontos, Bradesco, tendo sido seu idealizador, José Carlos Negreiros, preparado para assumir, mas que faleceu antes da empreitada, devido a um infarto.

Os fundamentos do Banco Brasileiro de Descontos (Bradesco)

Foi necessário contratar alguém para o cargo e foi cogitado o nome de Amador Aguiar que estava no Banco Noroeste, de Marília, para assumir como diretor gerente, recebendo o bônus de 10% das ações do novo banco.

Amador Aguiar caminha por Marília (SP), à época da fundação do Bradesco – 1943

Assim se inicia as atividades do Banco Brasileiro de Descontos (Bradesco) em 10 de março de 1943, com novo estilo de abordagem dos demais bancos, rompendo-se o balcão de aproximação do gerente com o cliente, e deste modo em menos de um ano das antigas 6 casas bancárias da antiga da extinta Almeida & Cia, passou para 16 agências com o Bradesco.

Com essa postura e muita determinação, Amador Aguiar percorreu todos os cargos existentes, até assumir o de gerente geral.

Em 1945 Amador Aguiar ofereceu a gerência de uma nova sede na Cidade de São Paulo transferida para a rua Álvares Penteado, em pleno centro financeiro da cidade de São Paulo para Laudo Natel que se mudou para a capital, fixando residência na Vila Mariana, assumido, mais tarde o cargo de secretário geral do Bradesco.

No início da década de 1950, Amador Aguiar adquiriu um computador, ainda um tipo robusto com um armário, para facilitar no serviço, sendo o primeiro a ser adquirido por um banco brasileiro. Com a filosofia de expansão dos negócios bancários Amador Aguiar resolveu mudar depois a sede de São Paulo para outra cidade.

Sete anos após se fixar na cidade de São Paulo, a administração do banco foi levada para a cidade de Osasco, na Vila Yara, em terreno de 32 hectares que resultaria num bairro modelo que seria denominado Cidade de Deus, inaugurada em 10 de março de 1953, que deste projeto visionário, abrigando o setor administrativo do Bradesco, onde abriga hoje até o Museu e a Fundação Bradesco[6].

 Nesta época o Bradesco já contava com agências nas principais cidades de São Paulo e em quase todos os estados do Brasil. Em 1969, Amador Aguiar passa de superintendente à presidência do Banco, por ocasião da aposentadoria do Dr. José da Cunha Junior.

Sua esposa Elisa Silva Aguiar faleceu em 1986 tendo outro relacionamento com antiga funcionária do banco, Cleide de Lourdes Campaner Aguiar, de 1990 até 1991.

Permaneceria durante 47 anos no Banco, deixando o cargo de Presidente do Conselho de Administração em 12 de fevereiro de 1990, data em que foi agraciado com os títulos de Presidente Emérito da Organização e Fundação Bradesco.

Seu hábito simples interiorano, fazia-o fugir dos holofotes, reservando-se a coisas mais importantes a resolver do que aparecer no meio midiático. Faleceria em 24 de janeiro de 1991, deixando uma biografia que se mantém como fonte constante de admiração.

“Seu Brandão”, o sucessor de Amador Aguiar

Lázaro de Mello Brandão começou a trabalhar como escriturário na Casa Bancária Almeida & Cia em 1º de setembro de 1942, e atuou nos mais altos cargos do Bradesco, onde conheceu Laudo Natel, que se tornou governador do Estado se São Paulo. “Seu Brandão” galgou todos os degraus do banco. Em 1963, já com 21 anos de casa, foi promovido a diretor e, em 1977, assumiu a vice-presidência como provável sucessor de Amador Aguiar, então com 73 anos.

Lázaro de Mello Brandão foi considerado um dos maiores banqueiros da América Latina, ele dedicou mais de 75 anos ao banco que viu nascer. Em janeiro de 1981 assumiu a posição de presidente do Bradesco, sucedendo ao então presidente Amador Aguiar. Este continuou como presidente do Conselho de Administração. Em fevereiro de 1990 exerceu a função de presidente do Conselho de Administração, em face da saúde debilitada de Amador Aguiar.

Em 2019, Lázaro de Mello Brandão, o jovem humilde de carreira longeva, presidente e chairman do Bradesco, falecia aos 93 anos.

Considerações:

Independentemente de ser sobre alguém que dirigiu um banco, o que importa nisso tudo é o conteúdo de como ocorreu os fatos, esse desenrolar, essa trama de uma família numerosa.

Por longo tempo percorri atrás de quem era essa senhora Maria Coelho Aguiar, talvez até uma década, ninguém sabia nada de nada, até que culminou em um resultado, após uma incansável busca, afinal o resultado valeu a pena, e a história dessa família, independente do clímax de um final de vencedor, é de uma perseverança fora do comum de várias etapas galgadas com persistência de muito trabalho!



OBSERVAÇÃO:

Fica aqui registrada menção ao amigo e pesquisador de história, Carlos Gilberto Alves, que em nossas extensas correspondências incentivou-me a aprofundar nesse caso, que se arrastava por muito tempo, pois pouco há sobre Maria Coelho Aguiar, inclusive na Página do Dicionário de Ruas de São Paulo, página pertencente a prefeitura paulistana, que resume o conteúdo a respeito de Maria Coelho Aguiar, a ser benemérita apenas, sem descrever nada dos fatos e feitos, que lhe dê consistência histórica.

 

 

Referências:

VIVEIROS, Ricardo. Laudo Natel, Um Bandeirante. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2010

CAVALCANTI, Pedro. Amador Aguiar - uma história de intuição e pioneirismo. São Paulo: Editora: Grifo, 2015

https://ancestors.familysearch.org/en/LT5K-JLP/maria-coelho-aguiar-1882-1952

https://ancestors.familysearch.org/en/GZGT-XBD/joao-antonio-de-aguiar-e-silva-1873-1926

https://ancestors.familysearch.org/en/9VRF-PTF/amador-aguiar-1904-1991

https://administradores.com.br/artigos/amador-aguiar-a-gloriosa-e-tragica-historia-do-ex-presidente-do-bradesco

https://pt.wikipedia.org/wiki/Banco_Noroeste 

https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%A1zaro_de_Mello_Brand%C3%A3o

https://pt.wikipedia.org/wiki/Galdino_de_Almeida

https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%A1zaro_de_Mello_Brand%C3%A3o

https://braziljournal.com/lazaro-de-mello-brandao-o-timoneiro-do-bradesco/

https://www.istoedinheiro.com.br/seu-brandao-1926-2019/

http://museubradesco.org.br/pages/capitulos/amador-aguiar.html

https://pt.wikipedia.org/wiki/Galdino_de_Almeida

https://pt.wikipedia.org/wiki/Aerovias_Brasil

 



[1] Wallace Cockrane Simonsen, filho de Sidney Martin Simonsen e Robertina Cockrane Simonsen, nasceu no Rio de Janeiro, em 23 de maio de 1884. Casou-se com Maria Emília Moretson Simonsen, com quem teve oito filhos. Seus primeiros estudos foram no Colégio São Luiz, em Itu. Obteve seu primeiro emprego em 1899, trabalhando como escriturário no Banco do Comércio e Indústria, em Santos. Atuando na corretagem do café, galgou carreira impressionante, se transformando anos depois no presidente-fundador do Banco Noroeste e em influente figura das elites paulistas e brasileiras.

[2] O gerente da agência de Lins era Raul Dias Toledo e o contador era Honório Rodrigues Costa. Laudo Natel, veio para a agência de Pirajuí e permaneceu no Banco Noroeste de dezembro de 1937 a agosto de 1943. 

[3] Francisco Schmidt, nascido no Reino da Prússia como Franz Schmidt, (Osthofen3 de outubro de 1850/São Paulo18 de maio de 1924). 

Foi um fazendeiroempreendedor e político prussiano naturalizado brasileiro, radicado em Ribeirão Preto. É denominado como o terceiro "rei do Café". Em 1890, por um acaso do destino, a fazenda Monte Alegre passava das mãos do maior devedor para as mãos do maior saldo positivo da região de Ribeirão Preto, pois foi vendida justamente por João Franco de Morais Otávio para Francisco Schmidt. O valor do negócio foi de exatos 600 contos de réis. Em princípio, Francisco Schmidt comprou a fazenda Monte Alegre em sociedade com o coronel Arthur Aguiar Diederichsen, outro importante fazendeiro e empreendedor da colônia alemã em Ribeirão Preto. Passadas duas semanas, no entanto, Schmidt comprou a parte de seu sócio, passando a ser o único proprietário. A partir de 1890, sob administração de Francisco Schmidt, há um novo período na história da fazenda Monte Alegre, marcado pela prosperidade econômica e pelo desenvolvimento estrutural. https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Schmidt 

[4] José Alfredo de Almeida, foi Prefeito interino de Marília, quando da primeira gestão de João Neves de Camargo em 1934. No Governo de Adhemar de Barros foi presidente da Vasp, quando fundou as Aerovias Brasil S/A . Pouco antes de seu falecimento cedeu à Prefeitura de Marília, área para ser doada à Fundação de Ensino Eurípedes Soares da Rocha. Fonte: Paulo Corrêa de Lara - Comissão de Registros Históricos e Armando Raineri - Jornal do Comércio de 1990 https://web.archive.org/web/20150226160332/http://www.asruasdemarilia.com.br/busca.php?texto=658&pagina=677&logradouro=17297

[5] Empresa de Transportes Aéreos Aerovias Brasil S/A foi uma companhia aérea brasileira fundada em 1942, sendo adquirida pela Real Transportes Aéreos em 1954, formando assim o Consórcio Real-Aerovias. Em 1961 à Aerovias Brasil, foi incorporada à Varig que também adquiriu o Consórcio Real-Aerovias.

 [6] A Fundação Bradesco, instituição dedicada a prestar ensino de qualidade para jovens de baixa renda, foi uma das maiores sacadas do empresário. Aguiar entendia a necessidade de formar jovens capacitados para atuarem dentro das agências e construírem uma carreira no Bradesco. A primeira escola da rede foi aberta em 1962; hoje são 40 escolas em todo o Brasil e mais de 112 mil alunos matriculados.

 

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