quarta-feira, 27 de abril de 2016

O Bairro-Jardim Pacaembu e o “Estádio Paulo Machado de Carvalho”

O Início do Conceito de Planejamento Urbano em São Paulo: Cidade-Jardim

A  City of São Paulo Improvements and Freehold Land Company Ltd[1] ou simplesmente Cia. City foi fundada em Londres em 1911. Em 1912 instalava seu escritório em São Paulo introduzindo o conceito urbanístico das “garden-cities” inglesas, aproveitando a topografia e grandes áreas verdes existentes criando padrões de zoneamento diferenciados para a época, elaborando toda uma infra-estrutura como água, luz, esgoto, vias pavimentadas e transporte, diferenciando do conceito implantado até então em São Paulo que recebei as primeiras orientações de um plano diretor, ajudando na elaboração de leis municipais de zoneamento que só viriam a ser implantadas em 1972 dando direção a uma urbanização mais direcionada em São Paulo.

A Cia. City foi a empresa que ditou as normas urbanísticas modernas para a Cidade, com novos conceitos que influenciaram engenheiros e urbanistas que trabalharam sobre suas regras, como o caso de Jorge de Macedo Vieira que ao lado de Barry Parker, arquiteto e urbanista inglês responsável pelos projetos do Jardim América e Pacaembu colaborou e adquiriu vasta experiência profissional no conceito urbanístico da “cidade-jardim” espalhando-se pelo Brasil.

Tudo isso teve início através do urbanista e arquiteto francês Joseph Antoine Bouvard que viera rara São Paulo contratado pelo Prefeito Antonio Prado para elaborar um plano urbanístico para o Vale do Anhangabaú. Regressando a Europa procurou investidores convencendo-os no enorme potencial que se oferecia a nova Cidade. Um a gleba imensa estava aberta para novos empreendimentos e muitas dessas terras estavam com o empreendedores imobiliários locais.

A Cia. City assumiu o compromisso de drenar pântanos e charcos na margem do Rio Pinheiros onde depois se tornaria os Bairros Jardim América, seu primeiro loteamento, seguido dos bairros do Pacaembu[2], Alto de Pinheiros, Alto da Lapa, e outros.

“Inúmeras são as razões que aconselham a construção do lar próprio no Pacaembu”, anunciava a Cia. City em 18 de abril de 1938 o mais novo bairro paulistano. O bairro do Pacaembu já estava na planta da cidade desde 1914 e em 1920 havia somente duas construções no bairro: O Asilo dos Expostos e o Hospital Samaritano. Dentro do plano de urbanização local estava a canalização do Córrego e a Avenida Pacaembu, ocorrido em 1922. O loteamento do bairro do Pacaembu localiza-se no Vale do Ribeirão Pacaembu sendo que a da Companhia City iniciou a partir de 1925 e urbanização 998.130 m² acrescidos de mais 400.000 m², adquiridos da Santa Casa de Misericórdia.

O ESTÁDIO DO PACAEMBU

Da área do Bairro Pacaembu a Cia. City cedeu 76.000 m2 para o governo estadual que repassou à prefeitura. Assim em 1936 começava as obres do Estádio Municipal do Pacaembu[3] conforme projeto do Escritório Técnico Ramos de Azevedo-Severo e Villares.

O Estádio do Pacaembu foi inaugurado em 27 de abril de 1940, com capacidade para acolher setenta mil pessoas, teve a presença do então de Getúlio Vargas, então presidente do Brasil, do interventor  Adhemar de Barros e do prefeito de São Paulo Prestes Maia.

Dentre os eventos mais importantes da história esportiva do Estádio do Pacaembu, destacam-se como uma das sedes da Copa do Mundo de 1950.

 Outro destaque realizado no Estádio do Pacaembu foi a disputa de parte dos Jogos Panamericanos de 1963 sendo a cidade de São Paulo sede dos mesmos.

O Estádio Municipal do Pacaembu leva hoje o nome do empresário Paulo Machado de Carvalho o "Marechal da Vitória", por ter sido vitorioso nas campanhas das Copas do Munde de 1958 e 1962, como chefe da delegação brasileira.

O Pacaembu contava ainda com a Concha Acústica, usada para apresentações de ópera e música clássica. Ela, porém, foi demolida em 1969 para a construção do “Tobogã”, arquibancada lateral, atrás de um dos gols.

Em 2008, o estádio do Pacaembu ganhou o Museu do Futebol, que, por meio de equipamentos interativos e tecnológicos, conta a história do esporte brasileiro.

O Pacaembu faz parte da história de São Paulo e seu desenvolvimento vertiginoso segue novas tendências dentro de um plano diretor e alterações de zoneamento no século 21.                               


Referências:

O Estado de São Paulo, 18 de abril de 1938

BONFATO, Antonio Carlos. Macedo Vieira: Ressonâncias do Modelo Cidade-Jardim. São Paulo: Senac, 2008

Cadernos Cidade de São Paulo- Estádios, Instituto Cultural Itaú. São Paulo: ICI, 1994



[1] “Conhecida como Cia. City, a City of São Paulo Improvements and Freehold Land Company Limited foi organizada em 1911, com escritórios em São Paulo, Londres e Paris, associando o arquiteto Joseph Bouvard e o banqueiro Édouard Fontaine de Laveleye, ambos franceses, a um grupo de investidores e proprietários de terras nos arredores de São Paulo, integrantes da elite paulista e com acesso franco à cúpula político-administrativa do estado. Cincinato Braga, político paulista, Horácio Belfort Sabino, advogado e proprietário de terras, e Victor da Silva Freire, professor da Escola Politécnica e diretor de Obras Públicas da Prefeitura de São Paulo, estiveram ligados ao início da atuação da Cia. City. Lord Balfour, presidente da São Paulo Railway Co. e governador do Banco da Escócia, também fazia parte da primeira diretoria da empresa. Com os capitais reunidos, a Cia. City comprou aproximadamente 12 km² de terras nas vizinhanças das áreas que já vinham sendo ocupadas pelas camadas altas da sociedade local. Constituída, a companhia iniciou a urbanização de partes dessas terras e a venda dos lotes, entrando no movimentado mercado imobiliário paulistano. Ainda hoje a Cia. City é atuante nesse mercado e seu sucesso derivou, em grande medida, das estratégias inovadoras e bem traçadas que marcaram seus primeiros anos. Estavam entre essas estratégias, por um lado, técnicas de venda a prazo dos lotes, de financiamento da construção das casas e de seleção dos compradores e, por outro lado, a busca de soluções urbanísticas que tornassem diferentes e atraentes seus loteamentos”. (Jardim América, o subúrbio jardim em versão brasileira, TITO FLÁVIO RODRIGUES DE AGUIAR Arquiteto. Doutorando em História, UFMG)

[2] BAIRRO DO PACAEMBU
Localização: Pacaembu - Processo: 23972/85 - Tombamento: Res. 8 de 14/3/91 - Publicado no Diário Oficial do Estado: Poder Executivo, Seção I, 16.03.1991, p. 37/38 - Retificação: Poder Executivo, Seção I, 19.03.91 - Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico: Inscrição nº 23, p. 307, 25/04/1991

[3] ESTÁDIO PAULO MACHADO DE CARVALHO
Localização: Entre as Ruas Desembargador Paulo Passalacqua, Capivari e Itápolis e Praça Charles Miller Pacaembu Processo: 26288/88 - Tombamento: Res. SC-5 de 21/1/98 - Publicado no Diário Oficial do Estado: Poder Executivo, Seção I, 02.04.1998, p. 60 - Livro do Tombo Histórico: Inscrição nº 322, p. 81, 26/8/1998

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