sábado, 26 de dezembro de 2015

A Catedral de São Paulo, o artífice Daniele Amato Pascale e o Jardim São Luiz/SP

Italianos Fazendo São Paulo

Há sempre algo a ser revelado nos recônditos da história, antes da mesma representar algo histórico. Precisa-se antes de tudo muito trabalho de abnegados que trabalham incessantemente antes de um fato histórico representar algo de relevância.

A SEDE RELIGIOSA DE SÃO PAULO

A nova Sé começou a ser projetada quando em 7 de junho de 1908 o Papa Pio X por decreto elevou a Diocese de São Paulo a categoria de Arcebispado e o primeiro bispo  local Dom Duarte Leopoldo e Silva foi promovido a Arcebispo Metropolitano. Em 25 de janeiro de 1912 foi anunciada a demolição da antiga Catedral da Sé para ser construída outra na metrópole paulistana. Foi convocado em 1913 para essa grande missão o professor da Escola Politécnica de São Paulo, Maximilian Emil Hehl.










Destes longos 50 anos da construção até as comemorações do 4º Centenário, onde a comissão dos festejos esteve a cargo de Ciccillo Matarazzo (Francisco Antônio Paulo Matarazzo Sobrinho) que comandou um grande “staff” para que os festejos fossem cobertos de glória para a cidade de São Paulo, naquele longínquo 25 de janeiro de 1954.




Houve muito trabalho realizado na Catedral, inaugurada pelo arcebispo Dom Carmelo de Vasconcellos Motta. Muitas pedras vinham da Europa até eclodir a 2ª Grande Guerra, que dificultou a importação sendo então extraída material da pedreira de Ribeirão Pires, em São Paulo. As torres só viriam a ser completadas em 1967.









Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo

Retrocedamos um pouco na história e veremos alunos do Liceu de Artes e Ofícios trabalhando com grande entusiasmo e afinco pela Catedral “nova” de São Paulo, a Nova Sé, após ser demolida a antiga onde hoje está o Monumento ao Apóstolo do Brasil e elevado a santo, Padre José de Anchieta[1].


Em 1954, quando a Cidade de São Paulo comemorava o seu 4º Centenário, muitas obras que foram idealizadas com grande criação artística pelo Liceu de Artes e Ofícios, sendo que na Catedral da Sé as portas de quase uma tonelada foram fabricadas e montadas no Liceu a partir de projeto de Anhaia Melo, além de muitas confecções internas como os bancos e púlpitos foram instaladas na grandiosa obra de arquitetura neo-gótica. 


   
Temos diante deste cenário uma escola de primeira oficio técnico, incentivando muitos filhos de imigrantes a buscarem “um caminho na vida”, que então eram encaminhados para o Liceu de Artes e Ofícios, na Avenida Tiradentes, onde hoje temos a Pinacoteca, bem em frente ao monumento em homenagem a Ramos de Azevedo, que mais tarde, com a transferência da Faculdade Politécnica de São Paulo foi também remanejado para as dependências da Cidade Universitária. Este era o ambiente urbano que diuturnamente freqüentava o menino Daniele Amato Pascale.

Daniele Amato Pascale, de família italiana, nasceu em 13 de agosto de 1934, na Vila Mariana, na Rua Humberto Primo, 909, na antiga Avenida Rodrigues Alves, que mais tarde ganhou mais dois nomes, Avenida Ibirapuera e Avenida Vereador José Diniz, até o encontro da Avenida Adolfo Pinheiro, em Santo Amaro.

Por contingências do deslocamento urbano do operariado paulistano a família Pascale resolveu mudar-se para Santo Amaro e deste modo Francisco Pascale e sua esposa Vincenza Amato Pascale deslocou-se com toda família para a região ainda pouco habitada, vindo a residir na Rua Jupi, travessa da Avenida João Dias em 1942.

ITÁLIA: Santa Maria de Castellabate

De Santa Maria de Castellabate*, no sul da Itália, da terra de antepassados que vieram “fare la América”, estavam seus avós Daniele Pascalle e Maria Angela Trombetta Pascale, por parte de pai, e Gustable Amato e Clorinda Sauzano Amato, avós de Daniele por parte de mãe, que tiveram o registro imigratório a partir de Carmila Amato e Vicenza Piccirilo Amato, seus bisavós, que aportaram em Santos em 1912, começando deste modo a saga da família no Brasil.




(REFERÊNCIAS WIKIPEDIA)

(* O nome deriva do Castelo de Sant'Angelo, construído pelo abade Costabile Gentilcore em um local estratégico. Após sua morte, a fortaleza foi chamada pela população local pelo nome de seu criador, dando origem ao nome da vila de acordo com esta linha etimológica: "Castrum abbatis" ou  "Castelo do Abade” e deste derivou-se para "Castellabate".)

 Lungomare Pepi


Palazzo Perrotti e torre Pagliarola

Pela efervescência da Cidade de São Paulo em franco desenvolvimento, a família enveredou-se para o ramo da construção civil fazendo parte dos profissionais que edificaram a Nova Catedral da Sé de São Paulo.

Enquanto isso os filhos de seu Francesco e dona Vicenza eram encaminhados para as escolas públicas existentes: Tulia, mais tarde seguiu o caminho religioso se tornou Irmã Missionária do Jesus Crucificado. Tinha ainda outra moça de nome Maria, depois Assumpta e os meninos que seguiram pelo ramo técnico sendo que José tornou-se engenheiro civil e Daniele foi para a afamada Escola Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo. Em 1949 fez parte do corpo técnico que confeccionou as portas, bancos e púlpitos, confessionários da Catedral de estilo gótico da Sé de São Paulo. Ao todo havia nesta turma de marceneiros, aproximadamente 40 jovens entre marceneiros e entalhadores que trabalharam incessantemente de 1949 a 1954, ano de “fundação da nova” Sé paulistana. Evidentemente que caixilhos e outras peças de ferro ou aço não estavam no campo especifico de confecção em madeira e foram fabricadas por outras equipes de estudantes.

 Bisavós de Daniele Amato Pascale: Vicencia Piccirillo Amato e Carmeno Amato.

FRANCESCO PASCALE E VINCENZA AMATO PASCALE


A família teve participação efetiva na obra da Catedral, sendo que seu avô Gustable foi um dos colaboradores da montagem do Monumento representativo da primeira travessia do Atlântico, obra do italiano Ottone Zorlini, que foi erigido na Avenida De Pinedo em 1929, no bairro da Capela do Socorro, contratado pelo Circollo Italiano que na época não mediu esforços para tal empreitada. 






MONUMENTO AOS HERÓIS DA TRAVESSIA DO ATLÂNTICO: 3ª MONTAGEM NO ATUAL PARQUE DA BARRAGEM NA CAPELA DO SOCORRO


Gustable ainda fez parte do grupo de empreiteiros da torre da Igreja da Saúde, em São Paulo, seguido dos familiares Arthuro Amato e Rafael como edificadores da Catedral.

Em 1952 a família adquiriu um terreno amplo na Rua 3, atual Rua Osvaldo Pires de Souza, no Bairro do Jardim São Luiz, da Companhia Paulistana de Terrenos.À época este incipiente bairro de operários pertencia ao 30º subdistrito de Santo Amaro.

Em 1955 Daniele Amato Pascale mudou-se para o Bairro do Jardim São Luiz, casando-se em 10 de setembro do mesmo ano com a senhora Maria de Lourdes Barbosa tendo aumentado a família Pascale com os filhos, Francisco, Rosana, Márcia, Rosely e Luciana.
Daniele Amato Pascale

Os seus sogros Sabino e Temedia Barbosa também adquiriram terrenos no antigo local onde foi construído Feirão Coberto pelo então prefeito de São Paulo, Faria Lima, hoje Praça José Fernandes Camisa Nova, no Jardim São Luiz. Esta área foi desapropriada com indenizações irrisórias para os proprietários, somado aos Pascale estava "Chico" Furukawa, nipônico que já havia construído sua residência no local.


CASA DOS FURUKAWA ONDE HOJE É A PRAÇA JOSÉ FERNANDES CAMISA NOVA


PRAÇA JOSÉ FERNANDES CAMISA NOVA (atualmente)

Adquirindo experiência neste ramo de marcenaria Daniele Amato Pascale, já com formação adquirida foi trabalhar  na região do Brooklin na Zeller Decorações, tendo á frente o suíço Teodoro e seu filho Adriano Zeller, onde permaneceu até o ano de 1990.

Deste modo mais um “oriundi” faz parte do desenvolvimento de São Paulo e que dignifica o lema “honra e trabalho” do grande industrial, o Conde Francesco Matarazzo, filho também de Santa Maria de Castellabate, Itália para “fare São Paulo”.


Vide também:

BAIRRO JARDIM SÃO LUIZ, São Paulo/SP


A “Fundação Santos Dumont” e os restos mortais de Bartolomeu Lourenço de Gusmão
http://carlosfatorelli27013.blogspot.com.br/2013/07/a-fundacao-santos-dumont-e-os-restos.html







[1] Em 10 de agosto de 1736 o Papa Clemente XII declarou o Padre Anchieta como Venerável.João Paulo II beatificou-o em 22 de junho de 1980. O Papa Francisco assinou em 3 de abril  de 2014 o decreto que proclama santo o jesuíta espanhol José de Anchieta. A assinatura ocorreu durante uma reunião entre o pontífice e o cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação das Causas dos Santos, responsável por todos os processos de beatificação e canonização existentes na Santa Sé. Em 24 de abril de 2015 um ano após ter sido declarado santo pelo papa Francisco, São José de Anchieta recebeu o título de padroeiro secundário do Brasil, sendo o padroeiro oficial do país ao lado de Nossa Senhora Aparecida.

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