quarta-feira, 1 de maio de 2013

Fundição de Val d'Osne e o Parque Buenos Aires, Bairro de Higienópolis, São Paulo.

Produção e Reprodução historiográfica


Investigação deve existir sempre que as provas não são consistentes. Isso acontece quando os depoimentos deixam dúvidas, e deste modo deve-se recorrer a novos parâmetros para elucidar e comprovar os desvios investigativos anteriores. Historicamente devemos sentir cada momento e fazer a diferença entre reprodução e produção histórica. Quando reproduzimos com critérios de “copistas” podemos criar situações repetitivas de fatos que não condizem com o real, aquilo que é palpável de fato, e deste modo retransmitimos constantes enganos que são repassados sem questionamentos. As fontes devem ter embasamento de pesquisa e possuir critérios analíticos.

O objetivo desta explanação é demonstrar que o campo investigativo diz respeito às duas peças da fundição francesa Val d’ Osne que estão disponíveis a visitação pública no Parque Buenos Aires, em Higienópolis, na Avenida Angélica, altura do nº 1500, São Paulo. 

 OBSERVATÓRIO ASTRONÔMICO – 1931

O espaço urbanístico de pouco mais de 20 mil metros quadrados, foi criado a partir de uma área que pertencia a Germaine Lucie Burchard, filha de Martin (também chamado Martinho) Buchard, (Em 1890, esse comerciante alemão, juntamente com Victor Nothmann compraram parte da região do Barão de Ramalho e iniciaram o loteamento das terras, primeiramente denominado “Boulevard Burchard”, mas que não vingou sendo reconhecido mesmo como Higienópolis) incorporada ao município pela Prefeitura em 1912, com o intuito de preservação e conservação da vista do Vale do Pacaembu como um mirante e onde foi instalado anteriormente um telescópio, como observatório de , onde hoje há a escultura Mãe[1], do professor da FAUUSP e escultor, Caetano Fracaroli, confeccionada em mármore com massa física de 20 toneladas.

 Mãe, obra de Caetano Fracaroli


OBSERVATÓRIO ASTRONÔMICO da POLI – 1933. Foi demolido em 1968. A Praça Buenos Aires se transformou em Parque e, no lugar do observatório, foi construída uma área de lazer infantil e instalada a obra "Mãe" (crédito das fotos: em pesquisa)

Na gestão do prefeito Raymundo da Silva Duprat ( Barão Duprat- 1911 a 1914), o urbanista e paisagista francês Joseph Antoine Bouvard foi contratado com a finalidade de projetar a construção de parques e praças que embelezassem a cidade, dando continuidade em suas intervenções urbanas no governo de Washington Luís (1914-1919). Seu trabalho, que ficou conhecido como Plano Bouvard tinha como colaborador em sua equipe outro paisagista francês, Cochet, que resultou na implantação de um estilo conhecido com “paysager”  desenvolvida com um refinado paisagismo somando o setor lúdico, propondo o lazer no uso destes espaços livres como lazer de massas, mantendo os padrões de higiene da expansão das grandes cidades mantendo a estética urbana além de propiciar as condições de filtração do ar da cidades em franco desenvolvimento industrial. 

Dois grandes jardins públicos, um no Vale do Anhangabaú e outro na Várzea do Carmo, posteriormente denominado como Parque Dom Pedro II entregue na gestão de Firmiano de Morais Pinto (1920-1926) em comemoração ao Centenário da Independência e onde foi implantada a obra “Jovem Pajem”. 

A fundição francesa Val d’Osne também colaborou com duas obras do Parque Buenos Aires, em Higienópolis, onde estão localizadas as obras “Leão Lutando com uma Serpente” e “Veado Lutando com Três Tigres” também da fundição Val d’Osne implantadas no local e encomendadas pelo paisagista francês Bouvard que em 1912, que concebeu a Praça Higienópolis, que depois de um ano passou a denominação Praça Buenos Aires, alterada para Parque no final de 1987.
“Leão Lutando com uma Serpente”
“Veado Lutando com Três Tigres”
 
Em Relatório de 5 de maio de 1911, Bouvard sugere a construção de três parques na cidade de São Paulo, o da Várzea do Carmo, o do Anhangabaú e a Praça Buenos Aires. “Lugares de passeio para os habitantes, focos de higiene e de bem estar, necessário à saúde pública, tanto moral como física”.

O urbanista e paisagista francês Joseph Antoine Bouvard, havia sido Diretor do Serviço de Arquitetura, passeios e Jardins de Paris, havendo participado das feiras internacionais de Paris, Viena e Londres, e possuía dados de planejamento urbano que trouxe na bagagem em suas intervenções urbanas em Buenos Aires, Argentina e São Paulo, Brasil.

Obras  “Leão Lutando com uma Serpente” e “Veado Lutando com Três Tigres” da Fonderies du Val d'Osne foram produzidas em ferro fundido e não em bronze fundido!!!

ACIMA: obras “Leão Lutando com uma Serpente” e “Veado Lutando com Três Tigres”  da Fundição Val d’Osne, fabricadas em ferro fundido cinzento


O acervo da fundição francesa Val d’ Osne, na cidade de  São Paulo é pequeno, mas mesmo assim pouca importância é dada às duas obras que estão depositadas no parque Buenos Aires: “Leão Lutando com uma Serpente” e “Veado Lutando com Três Tigres”, e que aparecem em vários sites e com as denominações simplificadas de “Leão Atacado” e “Veado Atacado” e produzidas, ambas, em bronze o que não condiz como material utilizado, pois as referidas peças foram produzidas em ferro fundido!

A Fundição Val d’ Osne que perpetou a arte em peças fundidas em ferro tinho o nome pomposo e merecido de “Société Anonyme des Hauts-Forneaux et Fonderies du Val d'Osne, idealizada com autorização Édito Real da França em 5 de abril de 1836 e foi sem dúvida a empresa que embelezou muitas praças e parques pelo mundo afora, inclusive dando graça a Praça-Parque Buenos Aires, em Higienópolis, com suas duas obras “Leão Lutando com uma Serpente” e “Veado Lutando com Três Tigres”, trazidas a pedido do paisagista francês Joseph Antoine Bouvard para complemento urbanístico em São Paulo.

Outras Obras do Parque Buenos Aires, em Higienópolis
Dom Bernardino Rivadávia, de J.C. Oliva Navarro.
Escultura do Lago, Figura mitológica de casal de seres marinhos: Anfitride e Tritão.
Escultura "Emigrantes"(réplica),de Lasar Segall.
Herma do ex-prefeito Firmiano de Morais Pinto, de Luiz Morrone.
Nascer, de Daisy Nasser.
O Tango, de Roberto Vivas.




Vide complemento no blog:


A Fundição de Val d'Osne e a Aurora de Santo Amaro, SP 

http://carlosfatorelli27013.blogspot.com.br/2013/04/a-fundicao-de-val-dosne-e-aurora-de.html


Bibliografia:

Niemeyer, Carlos Augusto da Costa. Parques infantis de São Paulo: Lazer como expressão de cidadania. São Paulo: Annablume- FAPESP, 2002.

Homenagem aos Mestres: Esculturas na USP. Comissão de Patrimônio Cultural da USP. EDUSP. 2002.

Guia dos Parques Municipais de São Paulo:

Bairro de Higienópolis. Cadernos Cidade de São Paulo. Editor: Instituto Cultural Itaú. São Paulo. 1996.


Sites auxiliares:

 
http://smdu.prefeitura.sp.gov.br/historico_demografico/1900.php

http://www.monumentos.art.br/monumento/mae


 


[1] Idealizada para homenagear as mães do Brasil, a escultura foi criada em 1965, mas somente inaugurada em 13 de maio de 1970. Para o artista, a escultura deveria estar exposta na parte baixa da praça, próxima ao espelho d’água, rodeada de grama, “como se brotasse da terra”, e não no alto da área circundada por concreto.

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