segunda-feira, 15 de outubro de 2012

CASA BANDEIRISTA DO ITAIM BIBI: UM PARTO DO SÉCULO 18 AO 21

“São Paulo” tem vergonha de seu passado de taipa!


Parece que o sistema imobiliário quando pretende uma área de real valor imobiliário não mede esforços para adquiri-lo, independentemente onde esta gleba esteja de preferência em lugar enobrecido com o tempo por esforço único de seus antigos moradores que fizeram aquele espaço tornar-se valioso.
A luta dos “itahyenses” antigos, fora algo surpreendente muitas idas e vindas a órgãos como o estadual CONDEPHAAT, (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo) e o municipal CONPRESP, (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo) e ajustes de termos vários de preservação perante compromissos com o Tribunal de Justiça e o Ministério Público de São Paulo.
Hoje duas torres enormes de19 andares cada um, “olha” do alto a imponente Avenida Brigadeiro Faria Lima, no Itaim[1]-Bibi da Construtora Brookfield. Ainda faltam alguns ajustes assumidos de melhorias das malhas viárias do entorno, mas isso, perante o grandioso empreendimento é coisinha “micha”. A mega construção fica no quadrilátero entre a Avenida Brigadeiro Faria Lima, fachada principal nº 3.477 a 3601, e as Ruas Horácio Lafer, Aspásia e Iguatemi.
O empreendimento se sobressai com imponência com seus 70 mil m² de área construída e que tem o valor estimado de aluguel em 2012 de R$ 200,00 o m² sendo que no meio há uma das denominadas casas bandeiristas do século 18, bem no meio das duas torres, algo surrealista, pois faltou pouco para nada disso existir, pois “São Paulo” tem vergonha de seu passado de taipa!
Tudo isto implantado em uma área de 19 mil sendo que restou  aproximados mais de 700 para a Casa Bandeirista com seu entorno de “quintal” perfazendo no total 2000 m², ou seja aproximados 10% da área total. O restauro coube Brookfield Incorporações e ao Grupo Victor Malzoni dono do empreendimento.
Casa Bandeirista – passou a denominar um modelo de moradia específica do planalto paulista, diferente das habitações rurais do mesmo período de outras localidades do Brasil.
Isto será “os restos mortais” deste espaço que antes comportava  construção do século 18, que por estar próximo ao rio Jurubatuba (atual Pinheiros) possuía mata nativa circundante de origem da Mata Atlântica.
 Havia neste local quando da colonização o aldeamento da tribo do cacique dos guaianases, Caiubi, irmão do cacique Tibiriçá, e de Bartira casada com João Ramalho, que consentiu ser instalado o Colégio de Piratininga, o centro de São Paulo.
 Com o desenvolvimento local estas terras passaram a fazer parte de alguma sesmaria tendo como primeiro registro da casa e venda da mesma para Dona Joaquina Duarte Ferraz com escritura de 19 de abril de 1858 que o vendeu a Carlos Ablas que depois transferiu para João Ribeiro da Silva em 30 de abril de 1864. Este último falido foi passado a gleba em 20 de dezembro de 1882 para o doutor Antonio Pinto do Rego Freitas, sendo por inventario depois passado para sua esposa e depois ao seu genro Bento Ribeiro dos Santos Camargo que repassou a área de 120 alqueires ao general José Vieira Couto de Magalhães, em 1896, último presidente da Província republicana de São Paulo. Seu filho José Couto de Magalhães herdou a área e fez reformas e falecido a propriedade foi arrematada em hasta pública, sendo que os familiares tinham preferência. Foi arrematada,em 1907, pelo médico Leopoldo Couto de Magalhães, (irmão do José Vieira Couto de Magalhães) aumentando a área para 148 alqueires acrescida a sua propriedade anterior. 

Entre os herdeiros de Leopoldo Couto de Magalhães que feita a partilha em sete glebas coube ao filho Leopoldo Couto de Magalhães Junior, apelidado de "Bibi" as terras no valor de 62:564$213,fazendo o loteamento desta extensa chácara, denominada por Itaim-Bibi, sendo a venda completada em 1914. Com problemas financeiros, seu filho Arnaldo Couto de Magalhães disponibilizou a casa para aluguel, assim foi sede do Abrigo de Santa Maria, entre 1918 e 1921. A edificação foi adquirida pelo médico Brasílio Marcondes Machado, em 1922, tornando-se a sede do Sanatório Bela Vista conhecido por receber e tratar doentes mentais cujas atividades se encerraram em 1980, pois o local havia sido adquirido em 1977 pela empresa Comercial Bela Vista S/A, que se tornou proprietária do imóvel.
Em 20 de julho de 1980, o grupo liderado por Naji Nahas & RMC Finança Investimentos S.A, adquiriu o terreno, havendo um processo requerido ao Condephaat impetrado pela associação mobilizada do bairro para tombamento[2]. Em 1995 foi usada a área para funcionar um estacionamento que prevaleceu até 2007.
Hoje o que antes fora apenas um posto avançado dos jesuítas que implantavam “missões religiosas” tornou-se de grande valor econômico e imobiliário sendo o terreno mais caro por m² já vendido avaliado em São Paulo. O terreno foi comprado de empresas portuguesas (Blue Stone e Sociedade  Vendome Empreendimentos e Participações Ltda), que representavam investidores do Catar, país do Oriente Médio. (em fevereiro de 2008 era anunciado: “um terreno de 20 mil metros quadrados, arrematado esta semana por nada menos que R$ 500 milhões pelo fundo inglês de investimentos McCafferty. É o mais caro pedaço de terra já vendido em São Paulo - o preço por m² chegou a R$ 25 mil. No local será erguido um hotel de luxo da rede Four Seasons, o primeiro da marca no País”.)
As obras começaram em junho de 2008 e findam-se em outubro de 2012 os edifícios corporativos do consórcio formado por Brascan Residential Properties, Company e o Grupo Malzoni.






Bibliografia
Sede do sítio Itaim: História de uma ruína Folha de São Paulo de  12/12/2007
Claudia dos Reis e Cunha. Patrimônio bandeirista paulistano métodos e critérios de preservação.VITRUVIUS 119.01 ano 10, nov 2011

Associação Grupo Memórias do Itaim Bibi e Centro de Referência da História do Bairro do Itaim Bibi/SP
Terreno de R$ 500 milhões terá hotel de luxo em SP-29 de fevereiro de 2008 O Estado de São Paulo
LOPES, Helena de Queiróz Ferreira. TOLEDO, Vera Lúcia Vilhena de.Itaim-Bibi. São Paulo:Departamento do Patrimônio Histórico, 1988


[1] Ita-i, do tupi: pedra pequena, seixo de rio.

[2] SEDE DO SÍTIO ITAIM- Rua Iguatemi, 9 - Itaim
Processo: 20640/78      Tomb.: Res. 46 de 13/5/82      D.O.: 21/5/82
Livro do Tombo Histórico: Inscrição nº 225, p. 62, 19/1/1987
As referências mais precisas do Sítio Itaim remontam a 1846, quando pertenceu a Anna Joaquina Duarte Ferraz. Em 1896, após sucessivos proprietários, foi adquirido pelo general Couto de Magalhães que ampliou o seu patrimônio comprando terras à sua volta. Por volta de 1915, seu sobrinho, Leopoldo Couto de Magalhães, apelidado de "Bibi", iniciou o loteamento da área. Após sediar o Abrigo de Santa Maria, entre 1918 e 1921, a edificação foi adquirida pelo médico Brasílio Marcondes Machado, em 1922, tornando-se a sede do Sanatório Bela Vista, cujas atividades se encerraram em 1980.
Construção típica de meados do século XVIII, em taipa de pilão, conservava, até à época do seu tombamento, características do seu partido original. Atualmente, encontra-se em ruínas. Fonte Maria A. G. de Decca e Vilma L. Gagliardi


2 comentários:

Andrea Montellato disse...

Adorei seu blog.
sou professora de história no bairro do Itaim e sempre busco material para aas crianças conhecerem a história do Itaim. já entrei em contato com o grupo de memórias, temos vários depoimentos de moradores antigos, algumas fotos...mas no momento estou procurando material sobre o Itaim do século XVI e XVII...aldeamento indígena, pinturas de época, entre outros. sabe onde posso encontrar?
obrigada,
Andrea Montellato

Carlos Fatorelli disse...

Sua pergunta é sobre um detalhe do recorte histórico que muitos querem encontrar material palpável, pois haviam pequenos aldeamentos, como Santo Amaro, Embu, Pinheiros, locais estes que foram fundados por jesuítas por volta de 1560.
Metrô
Quando da construção da linha 5 do metrô, de Santo Amaro à Chacara Klabin, colaborei com informações da região nas prospecções de solo do setor de arqueologia contratada pelo metrô, só que esta concessionária não me disponibilizou o material produzido. Acredito que esta poderia ser a primeira fonte de pesquisa.
USP
Há algum tempo, numa terraplenagem encontraram-se na região do Morumbi vestígios de um povoamento indígena, e este sim talvez com probabilidade de ser do século do início colonizador. Deve haver respostas deste sítio arqueológico na USP.
Arquivo Municipal Washington Luís ( Estação Tiradentes do metrô)
No Arquivo Municipal há muitas revistas com reproduções de documentos e uma delas você poderá acessar: O Tupi em São Paulo, revista de 1953, autor Jorge, J. David
Não sei se haverá algo específico sobre o Itaim-Bibi, nestes três locais, seria necessário um aprofundamento para buscar estas fontes.
Quaisquer dúvidas existentes, contate.
Fatorelli