quarta-feira, 13 de junho de 2012

São Benedito, o “abre alas” das procissões e romarias

Devoção: Irmandades e festas

Todas as romarias onde comumente há os andores costumeiros e os estandartes que abrem a cerimônia têm-se o costume comumente aceito de estarem no cortejo às representações do santo onde se dirige a romaria (exemplo Bom Jesus), seguido, do santo padroeiro local, de onde parte a romaria e vindo acompanhado da Virgem de  Aparecida, padroeira do Brasil. Um dos fatos que nos fez relembrar os passos das antigas peregrinações era sempre estarem alinhados todos os santos do cortejo sendo que a abertura da caminhada peregrina estava presente São Benedito. Há todo um relevante cumprimento as tradições, mas parece que em alguns lugares o santo protetor dos cozinheiros não teve a sua importância perpetuada.
SANTO AMARO-SÃO PAULO-ESTANDARTE Á FRENTE

Este santo tem dentro do sincretismo religioso uma importância impar sendo além de protetor da cozinha, (e cozinheiro!) onde os adeptos preservam sua imagem em pequeno nicho central. Há ainda o oferecimento das primeiras xícaras de café matutinas para que não faltasse alimento, além de outro costume do interior é colocar três galhos de salsa para afastar apuros financeiros.
NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO DA PENHA DE FRANÇA-SÃO PAULO

Os estandartes das procissões de romeiros são apresentados em reverência a Deus com a benevolência do santo intercessor de alguma causa procurada pelos devotos, os quais alcançados por preceitos espirituais.
VILA DAS BELEZAS-SÃO PAULO-ANDOR

Assim segue todo cortejo das procissões onde a presença das irmandades, devotos de São Benedito, é ponto de honra, com a corte seguindo o cortejo, dando ao santo Benedito a sua complacência perante o tempo: a presença do santo esta relacionada ao bom tempo no dia da procissão ou romaria, para que não chovesse durante o cortejo.

Há ainda o costume do levantamento do mastro através do “capitão do mastro”, onde se prepara anteriormente um tronco com diâmetro médio, que não envergue cortado na lua minguante, geralmente pintado com cores vivas primárias predominantes, onde o azul simbolizando os céus, com detalhes do branco, como culto da fertilização da Terra mãe, símbolo de fecundidade e fartura.
O mastro é costume antigo desde os tempos medievais, onde os cruzados seguindo para o Santo Sepulcro marcavam cada território em referência a determinado santo, com um mastro que representava sua presença.
São Benedito é um santo festeiro, onde se acompanha na caminhada dos andores e estandartes, as congadas, moçambiques[1] e batuques.
VENERÁVEL ORDEM 3ª DO ROSÁRIO - PELOURINHO -SALVADOR/BAHIA

As irmandades foram perdendo suas referências no espaço dos grandes centros urbanos e deste modo as festividades foram abarcadas pelo poder público, mas sem o brilho da identidade das festividades anteriores, pois não possuíam mais o envolvimento das comunidades, que ao seu modo tinha um pertencimento de lugar, primordial nas festas, com ás libações de alegria dos coloridos subjetivos de cada participante, além dos quitutes, competia uma função numa mistura de gêneros sem preconceitos de várias gerações juntas, efusivas e radiantes.
CHAPADA DOS VEADEIROS-GOIÁS-COMUNIDADE DE SÃO JORGE

O cortejo das procissões tradicionalmente era iniciado pelo “guião da irmandade” levando uma cruz onde se ostentava a bandeira, com cordões pendentes que retinham a força dos ventos.
LARGO PAISSANDU-SÃO PAULO-IGREJA NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO
Estas festividades chegaram ao Brasil por influência portuguesa, quando da vinda dos negros africanos, estes começaram a cultuar Nossa Senhora do Rosário, chamada também de Nossa Senhora dos Homens Pretos. A devoção a Nossa Senhora do Rosário mais tarde foi associada também a São Benedito e sua festa é realizada sempre uma semana após a Páscoa.
APARECIDA-SÃO PAULO-IGREJA DE SÃO BENEDITO




Biografia:

BARROS, Cleusa M. Matos de. São Benedito, O Santo Negro. São Paulo: Paulus, 1982

FELÍCIO, J.G. Murade. São Benedito, Um Santo Festeiro. São Paulo: Ed. Santuário, 1993

ELIADE, Mircea.Trad. Fernandes, Rogério. O Sagrado e o Profano. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

REIS, João José. Batuque Negro: Repressão e Permissão na Bahia Oitocentista. Festa Cultura e Sociabilidade na América Portuguesa. São Paulo: Hucitec/FAPESP/Imprensa Oficial, 2001

BASTIDE, Roger. As Religiões Africanas no Brasil. São Paulo: Ed. Pioneira, 1971

Revista do Arquivo Municipal, ano 12 (1946) Volume 107: Festas e Tradições de Tietê


[1] A dança é considerada “dança de religião”, e também conhecida como “Dança de São Benedito”. No bailado existe uma vestimenta branca, com algum colorido representativo, azul e vermelho, seguido de guizos (paiás) amarrados às pernas batidos em sons ritmados, onde o mestre tira os versos respondidos pelos cantantes conforme o esquema da música (da linha ou ponto)  batem seus bastões de madeira cruzando-os em X seguido de coreografia.

Sem comentários: