sexta-feira, 12 de novembro de 2010

DESENVOLVIMENTO EM SÃO PAULO: FORÇA MOTRIZ DA CIDADE

DA LENHA DE SANTO AMARO AO GÁS E A ELETRICIDADE DOS FINANCIAMENTOS INGLESES NA CIDADE DE SÃO PAULO

A Rua do Gasômetro, na cidade de São Paulo, foi aberta por volta de 1870, ligando a Rua Tabatinguera ao Brás, porque a engenharia da usina de gás THE SAN PAULO GAZ COMPANY, escolheu o local como sendo o ideal para a construção de uma fábrica de produção de gás, que iria fornecer para a cidade de São Paulo, e iria substituir a iluminação antiga, estando próximo do Rio Tamanduateí.
“O primeiro ensaio de iluminação em São Paulo (...) era deficientíssimo. Uma enorme geringonça de ferro, pregada na parede de uma esquina, estendia por cima da rua um longo braço, em cuja extremidade estava dependurado um lampião. Colocados de longe nas rua principais, a luz desses lampiões, alimentada com azeite de peixe, difundia uma claridade mortiça(...)projetando longas sombras movediças quando o vento balançava os lampiões.” (in CAMPOS, p.36 – citação VIEIRA BRUNO-1830/40)

THE SAN PAULO GAZ COMPANY

Devido à insuficiência da iluminação na cidade, em 1863 foram contratados os empresários Jose Dutton e Francisco Taques Alvim, que se propuseram ao fornecimento de iluminação de hidrogênio carburado. Repassará, mais tarde, esses direito para a THE SAN PAULO GAZ COMPANY, empresa de capital inglês constituída em Londres em 1869, sendo que a concessão foi feita para manufatura e distribuição de gás obtido por quaisquer meios para iluminação pública e particular por 25 anos. Foi escolhido o carvão para a exploração do gás que teve início em 1870, como experiência e “a iluminação a gás foi inaugurada em São Paulo na noite de 31 de março de 1872”. (in,MOURA,p.250)
Com o sucesso do empreendimento foi concedida autorização para funcionamento assinada entre as partes em 28 de agosto de 1872, época em que a cidade possuía 30 000 habitantes. Era estimulado, desta maneira, outro modelo de iluminação que a partir de 1840 fora instalado na parte central da cidade de São Paulo, 101 lampiões abastecidos com azeite de peixe, que anteriormente também se usava como carburante o óleo de mamona e o óleo de baleia. Em 1873, já havia 700 lampiões a gás na cidade, que se multiplicaram e caracterizaram a iluminação pública. Até 1899 perdurou esse sistema, quando foi criada a THE SÃO PAULO RAILWAY, LIGHT AND POWER COMPANY LIMITED, com sede em Toronto e capital inglês. Já à época São Paulo, em 20 anos (1893) possuía um pouco mais de 120 000 habitantes.

Um momento único: O elo das transformações
A partir de 1880 a THE SAN PAULO GAZ COMPANY expandia seus negócios com o desenvolvimento dos fogões e o uso do gás de cozinha. Assim o contrato para fornecimento de gás assinado em 1863 por 25 anos, prorrogou-se até 1897, pois o governo paulista promulgou a lei numero 440, de 1896, que dispunha sobre a fabricação de gás para o uso doméstico e industrial, incentivando a partir de bônus de 20% a menos para o consumo do gás doméstico em relação ao de iluminação pública, incentivando a população no uso de fogões a gás em substituição dos fogões a lenha e carvão de hulha. Havia também a prática de uso do querosene:
“O querosene (desenvolvido a partir de 1853) era um combustível difundido nas residências paulistas. Alem dos fogareiros e latas improvisadas, eram comercializados também fogões de ferro movidos a querosene” (in, SILVA, p.51)
À época de 1908 a 1912 era presidente de São Paulo, Manuel Joaquim de Albuquerque Lins que conseguiu despontar como um dos maiores presidentes paulistas no auge do crescimento do Estado, construindo edifícios e expandindo o sistema de armazenamento da rede escolar, criando o ensino técnico agrícola, que era a necessidade daquele momento, justamente quando houve grande expansão na cafeicultura paulista e com a chegada de grandes contingentes de imigrantes, que graças aos preços elevados do café no mercado internacional, permitiu grande expansão agrícula completada com a expansão de redes ferroviárias.

A capital paulista também se expandia com a chegada dos imigrantes vindos de todos os cantos da Europa e precisava ser organizada para receber todo esse contingente. Antonio Prado foi quem deu estrutura para a cidade. Tinha sido Ministro da Agricultura do Império, foi conselheiro e por quarto legislatura foi eleito prefeito de São Paulo, quando aconteceu a primeira eleição municipal, empossado em 21 de novembro de 1898 permanecendo no cargo até 1911.
“Autorizou loteamentos que deu origem a novos bairros e substituiu o gás de carvão que iluminava logradouros pela energia elétrica” (in PONCIANO, p.54)
Pátio da Companhia Carris de Ferro de São Paulo a Santo Amaro, em 1903 na Villa Mariana, depósito da carga: LENHA

O produto farto e barato era a lenha. Henrique Raffard(vide na bibliografia nº 5) observava na São Paulo do século 19:

“Cabe aqui dizer que a lenha, que outrora vinha de Santo Amaro e outros lugares circunvizinhos da Paulicéia, onde se vendia a preço de 4$ cada carrada, hoje é trazida em grande parte pelas vias férreas, regulando o seu preço 2$500 ou 5$ quando rachada e cortada em pequenos pedaços uniformes, existindo empresas montadas para esse fim, as quais trabalham com serras movidas a vapor”. (in SILVA, p.49)
Locomotiva: Tramlokomotive a Vapor Krauss (Alemanha) Tipo BN2 da Krauss Maffei JA & Company, carregada de lenha proveniente da Cidade de Santo Amaro na Estação do Encontro, atual cruzamento das Avenidas Bandeirantes e Jabaquara

A THE SAN PAULO GAZ COMPANY em relatório datado de 1911, quando a cidade em censo de 1910 já comportava 375 439 habitantes, senda a metade de imigrantes, observava os limites do uso da lenha com combustível:
“Acredito que temos aqui um vasto campo para operações (...). Para isto, basta conhecermos as condições de vida em São Paulo, onde se cozinha com lenha, que está se tornando escassa devido ao desmatamento nos arredores da cidade, para preservarmos o inevitável e constante crescimento na substituição da lenha pelo gás nas cozinhas da cidade de São Paulo”. (in SILVA, p.49)

A Casa das Retortas, inaugurada em 1872, próxima às margens do rio Tamanduateí abrigaria o Gasômetro, da companhia inglesa "The San Paulo Gaz Company", para introdução da iluminação pública da cidade.

A emenda prorrogou-se até 1911, quando o gás de cozinha tinha uma diferença de 33% em relação ao fornecimento do mesmo gás para iluminação. No mesmo ano o Governo do Estado assinava o primeiro contrato com Light para Iluminação. Até o ano de 1916 ainda havia 8.605 lampiões a gás e 864 lâmpadas elétricas, na cidade de São Paulo.

Nesta época uma nova tecnologia avançava para competir com o gás, era a eletricidade produzida por usinas de quedas d’água. O grupo, que mais tarde era reconhecido popularmente como LIGHT, adquiria em 1920, o controle acionário da THE SAN PAULO GAZ COMPANY para controlar o sistema de iluminação pública da cidade, além de se prestar a assumir várias empresas do serviço urbano. A construção da Usina da Parnaíba em 1901 viabilizou o fornecimento em uma escala maior de energia elétrica, aproveitando a abundante força hidráulica existente no Brasil, tanto para o uso domestico, quanto para iluminação pública e industrial, onde as poucas máquinas de produção motriz eram a vapor. Em uma explanação há de se colocar que a THE SAN PAULO GAZ COMPANY ficou com a responsabilidade para o fornecimento de gás domestico e permanecia com a iluminação publica de algumas áreas prestas em contrato e a THE SÃO PAULO RAILWAY, LIGHT AND POWER COMPANY LIMITED
Inauguração da linha de bondes Bom Retiro, em 12 de maio de 1900

exploraria a iluminação pública e doméstica alem do transporte público, pois a empresa havia adquirido em 1901, em batalha judicial, o controle da empresa Companhia Viação Paulista, que utilizava bondes de tração animal, além de haver logrado a aquisição de água e luz do Estado de São Paulo.

Bibliografia:
1) SILVA, João Luiz Máximo da. Cozinha Modelo: O Impacto do Gás e da Eletricidade na Casa Paulistana(1870-1930)São Paulo: EDUSP,2008
2) CAMPOS, Candido Malta; GAMA, Lúcia Helena; SACCHETTA, Vladimir (Organizadores). São Paulo, metrópole em trânsito: Percursos Urbanos e Culturais. São Paulo: Editora SENAC, 2004.
3) MOURA, Carlos Eugenio Marcondes de (Org). Vida Cotidiana Em São Paulo No Século XIX – São Paulo: Editora UNESP, 1999
4) PONCIANO, Levino. Todos os Centros da Paulicéia. São Paulo: Editora SENAC Sõ Paulo, 2007
5) *RAFFARD, Henrique. Alguns Dias na Paulicéia, in Revista do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, tomo LV, parte II( 3º e 4º trimestre), Companhia Typoghraphica do Brasil, RJ, 1892

*Júlio Henrique Raffard nasceu aos 26 de dezembro de 1851, no Rio de Janeiro, onde seu pai, Eugênio Raffard, era cônsul suíço. Sua descendência era de emigrados franceses, sendo dos Raffard, por parte de pai e dos Lafonte de Montelimart, por parte de mãe. Raffard foi um notável empreendedor. Homem de grande iniciativa fundou o Engenho Central de São João de Capivari, em 1883, implantando a primeira usina açucareira em São Paulo.

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