quinta-feira, 2 de julho de 2009

PRIMEIRAS COLÔNIAS ALEMÃS NO BRASIL E A MILITARIZAÇÃO DO SUL

PRIMEIRAS COLÔNIAS ALEMÃS NO BRASIL E A MILITARIZAÇÃO DO SUL

A conjuntura do início do século dezoito, quando a França Napoleônica com pretensões imperiais foram derrotadas na batalha de Waterloo, pela Santa Aliança em 1815, a Europa se reorganizava com os vencedores exigindo seu butim aos derrotados. A Espanha sentiu a grande derrota, estava esfacelada, sem exércitos regulares e sem esquadra destruída pela Batalha Naval de Trafalgar em 21 de outubro de em 1805 na costa espanhola, quando enfrentou os ingleses do Almirante Nelson. A América espanhola nesta época com seus vice-reinos tornam-se independentes da Espanha que não possuía mais o poder do passado.

Portugal exige por parte da "Junta Provisional do Supremo Governo do Reino" a volta de Dom João VI, pois pelo Levante Liberal do Porto em 1820, exige o fim do protetorado inglês que assumiu após a derrota da França de Napoleão; além disso, há a exigência de recolonização do Brasil. Contra vontade a Corte portuguesa instalada no Vice Reino, no Rio de Janeiro, é obrigada a retornar em 1821. Dom João deixa no Brasil seu filho natural de Queluz, Portugal, Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon; primeiro imperador Pedro I do Brasil e durante sete dias no ano de 1826, Pedro VI de Portugal. Tudo concorria para a independência da America Ibérica, e assim sucedeu em todas elas após a derrota de Napoleão. Alem disto outro fato concorria para haver este intercambio as consortes do Imperador eram integrantes da Casa de Áustria e Baviera, com ligações de laços ao Sacro Império Romano Germânico.
A imigração alemã para o Brasil foi quase toda voltada para o povoamento da região sul, com o objetivo de ocupar terras ameaçadas pelos vizinhos espanhóis, de equilibrar a economia no sul do país, além da intenção de conseguir soldados para o Corpo de Estrangeiros, pois com a proclamação da independência, o Brasil perdeu parte de sua força militar formada por portugueses que seguiram para Portugal, assim eram necessárias providências urgentes de segurança da nova Pátria.

As terras do sul da América, anteriormente pertencentes à Espanha, precisavam ser militarizadas rapidamente pois as fronteiras no Prata sempre foram tensas e de conflitos, exigindo estratégias de proteção militar da fronteira do país. José Bonifácio, ministro do Reino e dos Negócios Estrangeiros e do representante da Província de São Pedro do Rio Grande, José Feliciano Fernandes Pinheiro, Visconde de São Leopoldo, pretendiam organizar uma linha de colônias germânicas desde Porto Alegre, precisamente na Colônia Alemã de São Leopoldo (1824), seguindo para o litoral próximo a Desterro, na Ilha de Santa Catarina indo para fronteira com o Paraná sendo provável atingir a Província de São Paulo, por ser estratégico o porto de Santos, responsável pelas relações comerciais e navegação do incipiente país.
A imigração alemã no Brasil foi o movimento imigratório intensificado a partir do século 19 para várias regiões do Brasil. As causas deste processo podem ser encontradas nos freqüentes problemas sociais que ocorriam na Europa e a farta disponibilidade de terras no Brasil.

O Governo fixado no Reino do Brasil, aproximou-se dos alemães para a causa brasileira de conseguir colonos e uma força militar que havia ociosa após as Guerras Napoleônicas, devido a afinidade com a família da imperatriz e pelo fato de a Alemanha não ser um país unificado e, ainda, não possuir colônias ultramarinas, afastando a possibilidade de uma reivindicação de autonomia dos germânicos em território brasílico, o que deveriam tomar cuidados específicos com pretensões nítidas de interesses anteriores a separação de Portugal, tanto por parte da Inglaterra, como as antigas forças de França e aliada desta a Espanha que sempre tiveram pretensões pelo território, além de sempre tirarem proveito em momentos oportunos do Brasil.Georg Anton Alouysius Von Schäffer ou Jorge Antônio Schäffer era um militar alemão que tornou-se recrutador de militares e colonos para o Brasil que após viajar à Europa, retornou Brasil com quatro famílias, perfazendo vinte pessoas recebendo de Dom João VI uma concessão de terras de 4356 hectares para fazer uma pequena colônia na experimental em 1818, com o nome de Frankental, colônia fundada perto da Colônia de Leopoldina, na Bahia. Ainda com a presença de Dom João VI, prevendo reestruturação política e geográfica da Europa faz as primeiras tentativas de colonizar o Brasil, autorizando em 1818 a fixação de 165 famílias alemãs, em Ilhéus, Capitania da Bahia, para cultivar fumo, cacau e cereais, seguida de uma segunda leva em 1819 para São Jorge, cerca de 200 famílias alemãs são instaladas no norte da Capitania da Bahia. Parece ter havido um projeto inicial de colonização planejada.

Após a independência do Brasil, foi nomeado "Agent d'Affaires Politiques" por para angariar soldados e colonos na Europa. Recrutar mercenários na Europa era proibido pelos países da Santa Aliança lideradas pela Inglaterra, e o fato do Brasil ser denunciado por Portugal como um simples território rebelde tornou a missão do major Schäffer ainda mais difícil por deixar a impressão de militarização. No início, seu recrutamento buscava, principalmente, soldados e poucos colonos, mas, à medida que a situação do Brasil foi estabilizando-se, o número de soldados enviados foi diminuindo e o de colonos aumentando. Schäffer também buscava contratar pessoas de profissões que dessem uma base à comunidade, como médicos e pastores. Em quatro anos, de 1824 a 1828, o major Schäffer conseguiu trazer para o Brasil mais de seis mil pessoas, pelo menos metade eram rapazes solteiros e soldados.
Contratados do major Schaeffer mercenários eram trazidos da Alemanha, para formar o "Corpo de Tropas Estrangeiras", no Exército Brasileiro, imediatamente após a proclamação da Independência, através do médico Anton Von Schaeffer, chegado no Brasil em 1821 e nomeado major da Guarda Imperial, pelo imperador D. Pedro I. Formaram dois batalhões de caçadores e dois de granadeiros. Os contratados, dois tenentes engenheiros,foram incorporados ao Exército Brasileiro, por não haver uma unidade de engenharia no Corpo de Tropas Estrangeiras: os tenentes Halfeld e Koeler, que foram, respectivamente, fundadores de Juiz de Fora e de Petrópolis.
A segunda expedição de colonos trazida pelo major Schaeffer, foram enviados para o Rio Grande do Sul, instalados onde hoje são as cidades de São Leopoldo, Novo Hamburgo e outras, em 25 de julho de 1824, com 39 imigrantes alemães a então desativada Real Feitoria do Linho Cânhamo, localizada à margem esquerda do Rio dos Sinos, dando início à Colônia de São Leopoldo.
A imigração alemã de colonização e uso da terra no Brasil pode ser classificada em duas categorias de acordo com o método aplicado e objetivos propostos:

1- imigração de parceria e
2- imigração baseada na pequena propriedade.

A imigração de parceria utilizava-se do método do “endividamento” e era voltada para o Sudeste brasileiro, principalmente São Paulo, considerando a existência, naquela província, de grandes latifundiários; visava à resolução do problema decorrente da extinção paulatina da escravidão relacionado à falta de mão de obra no cultivo do café, que a partir de meados do século XIX passa a ser o principal produto de exportação do Brasil.
A imigração baseada na pequena propriedade era composta por colonos livres e foi dirigida principalmente ao Sul do Brasil; tinha entre seus objetivos, povoar e militarizar a região, além de desenvolver uma agricultura voltada ao abastecimento do mercado interno.

Estes desbravadores tiveram muitas dificuldades, pois enfrentaram o descaso das autoridades em relação a sua situação. As terras a eles cedidas não eram muito boas para o cultivo, lugares sem estrutura e situadas no interior de matas virgens.
O Governo Imperial para incentivar os imigrantes a virem para estas terras faziam promessas de que receberiam 50 hectares de terra, com vacas, bois e cavalos; auxílio de um franco por pessoa no primeiro ano; isenção de impostos e serviços nos primeiros dez anos; liberação do serviço militar; nacionalização imediata e liberdade de culto. De todas essas promessas, somente a liberação de terras foram cumpridas, deixando os colonos a mercê da sorte.

As pretensões do Império Brasileiro e a militarização do sul confirmaram-se com a guerra da Cisplatina ou como dizem os catelhanos, Guerra del Brasil. Localizada na entrada do estuário do Rio da Prata, a Província Oriental era uma área estratégica, pois quem a controlava tinha grande domínio sobre a navegação em todo o rio, acesso aos rios Paraná e Paraguai, e via de transporte da prata andina. Foi um conflito ocorrido entre o Império do Brasil e a Províncias Unidas do Rio da Prata, no período de 1825 a 1828, pela posse da Província Cisplatina, a região da atual República Oriental do Uruguai. Foi o primeiro de quatro conflitos armados internacionais que o Brasil lutou pela supremacia sul-americana. Tendo o segundo sido a Guerra do Prata, o terceiro a Questão Uruguaiana e o último a Guerra do Paraguai. Juntas, integram o conjunto das Questões Platinas, na História das Relações Internacionais do Brasil.

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“Ao Brasil interessava ambos: soldados para reforçar o Exército brasileiro e colonos para iniciar uma nova economia com base na mão de obra familiar livre.”, in Flores, Hilda Agnes Hübner, Imigração Alemã 180 anos, História e Cultura

“A conquista da terra nas colônias não foi como as da terra de trigo nos Estados Unidos e Argentina, no século XIX. Essa conquista, difícil e lenta, fez do colono alemão o pioneiro do desbravamento”, diz Jean Roche no livro A colonização Alemã e o Rio Grande do Sul I, cap. I, pág. 51.

1 comentário:

Hoyer Grünhagen disse...

Recomendo a ver o livro do muito culto mercenárioalemao C.Schlichthorst com o título " O RIO DE JANEIRO COMO É 1824 - 1826" Foi editado em alemao e traduzido ao portugues em 1948, recentemente reeditado. Contem ampla lista dos mercenários alemaes do Exercito Imperial do Brasil e descreve as atitudes do von Schäffer na Alemanha para o recrutamento dos candidatos, na maioria pentitenciarios liberados com "mao beijada" das prisoes alemaes na época.