PADRE
EDMUNDO, DA PARÓQUIA SÃO LUIZ GONZAGA, BAIRRO JARDIM SÃO LUIZ-Homenagem Póstuma
Padre
Edmundo, o Bita do seminário que ecoava no Echus de Ibaté, de São Roque, junto de
teus amigos que gostavam de cantar em latim, e depois no Ipiranga que te constituiu
sacerdote, em 1963.
Falar
de alguém que marcou uma região por quase seis décadas não é necessário, sua
obra foi concluída, combatestes o bom combate! “Arregaçastes as mangas” e
fostes seguindo os passos de “Quem” te enviou para cá, um lugar distante da
Capital, o fim do mundo, uma boca de sertão, mata selvagem!
Podias
ter ficado tranquilo onde te mandaram pela primeira vez, lá na Freguesia do Ó,
um lugar que estava mais perto do que acontecia em São Paulo.
Não
sei como o bispo de São Paulo de então, convenceu-te a assumir uma incipiente
paróquia no longínquo bairro do Jardim São Luiz, mas viestes, com teu
entusiasmo de juventude, ou talvez por vontade de conhecer o desconhecido,
lugar de operários, donas de casa e criançada aos montes, inclusive este
missivista!
Era
um desafio, ninguém queria ser pároco e vigário ao mesmo tempo, de uma igreja
inacabada, de falta de tudo, os padres vinham uma vez ou outra, acho que vinham
porque Deus os obrigava a vir! Vinham da
Verbo Divino, da Chácara Santo Antônio ou do Capão Redondo, faziam as oblações
e sumiam por um mês!
Então
chegou um padre maluco, o Degas (como falavas de ti mesmo) para morar num lugar
que nem a Santa Sé sabia onde era, mas você “casca grossa” não arredou pé,
permaneceu na sua missão e todo domingo elevava a eucaristia implorando aos
céus forças para suportar a messe!
Quando
você chegou acho que o Santo Padroeiro tomou um susto, pois ambos se pareciam,
o povo até brincava com a semelhança de ambos.
Tinhas
que fazer algo para agregar, e construístes para os jovens se aproximarem da
paróquia: fizeste uma quadra de futebol na parede lateral e o curso de
madureza, para que houvesse atividade lúdica e estudo, conhecimento necessário para
um dia sermos integrados a sociedade e depois adquiriste um projetor enorme e
passavas filmes religiosos refletido na parede externa da paróquia.
O
tempo foi passando e você casando gente, e claro que disso nasciam crianças aos
montes e você batizava quase que em mutirão. Lembro-me de tua satisfação quando
em um domingo batizastes mais de 40 recém-nascidos, nessa época foi um grande acontecimento social, tudo
registrado em enormes livros pesados, que depois de muito tempo, vangloriavas
de teres batizado milhares de jardinenses.
A igreja ficava entupida de gente até do lado
de fora. Essas crianças depois cresceram e faziam a primeira comunhão, e
crismavam-se e o bispo vinha e ficava horas nesse rito, muitos até se sentavam
de canseira e “suavam aos cântaros”!
Você
ficava de longe observando a multidão, orientava aqui e acolá, com as mãos
postas e um sorriso maroto de português sagaz! Teu nome “corria coxia”, eras o
padre, o prefeito, o delegado, tudo ao mesmo tempo na região, e batias de frente com os políticos de São Paulo
e muitos se aproveitaram de ti!
Corria
aos “quatro ventos” que padre Edmundo
era bravo, não o era, era justo e de um coração sem tamanho, orientou muita
gente que levou saudade do padre para outros arrabaldes, onde ainda hoje seu
nome é lembrado.
Um
dia, como lá em Pentecostes “baixou o Espírito Santo” no padre Edmundo e ele veio dizendo que a população
do Jardim São Luiz tinha crescido muito
e que precisava construir uma nova paróquia. Arrumou um bando de loucos, que
aceitaram o desafio, que por um pouco
mais de uma dezena de anos, conseguiu-se levantar do chão as quatro paredes o
que foi considerado um grande milagre da primeira comissão, pois “saímos dos
alicerces e tínhamos chegado a cumieira”!
Formastes
mais de meia dúzia de sacerdotes, uns mereceram-te, e vinham de longe para
revê-lo, outro nem tanto, mesmo residindo perto de ti, não tinham o apreço que
merecias!
Destes
a paróquia o tom da beleza que nenhuma outra tinha na Diocese recém-formada, e
olhavas orgulhoso como a dizer como fez o Criador vendo que tudo que foi feito
até então era bom, e dizias: “o que foi feito, feito está”!
Não
aceitaste o título de monsenhor, acho que serias reconhecido e darias a
paróquia o nome de Santuário, mas não
quisestes e decisões se respeitam e tivestes os teus motivos.
Podia-se
ficar aqui fazendo elogios de “rasgar seda” por muito tempo, por suas obras que
não se limitou apenas a construir uma paróquia!
O
tempo, esse incontrolável, foi cansando-te, já não tinhas a garra de antes, e
não andavas por si mesmo e fizeram de ti algo que não se reconhecia o sacerdote
de outrora, e mandavam e desmandavam até em “tuas coisas” pessoais, e como está
escrito:
Cingiram
tua cintura e te levavam aonde não querias ir!
Suas
forças findaram-se, o corpo cansou!
Seu
legado no Jardim São Luiz é eterno, e a quem amastes corrigistes e educastes e plagiando
o poeta de tua santa terrinha: “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”,
findastes tua missão, hoje a tua festa é no Céu !!!
Parabéns,
padre Edmundo pelos seus 90 anos de sucesso terreno, neste dia de 15 de
fevereiro de 2025!
(Fotos,
retrospectiva de um tempo)