sábado, 31 de julho de 2010

Acuso o Retorno do Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico

O SOL POR TESTEMUNHA E A LUA POR TESTAMENTO

Acuso o sol por testemunha e a lua por testamento, iluminando o regresso do Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico. Ambos contemplam a efemeridade humana, respeitando os feitos históricos do passado. Estes faróis da Terra, que iluminam distintamente dois momentos cíclicos, o dia e a noite, resolveram ao mesmo tempo, parar em contemplação como a dar boas vindas, presentes a iluminar a glória deste acontecido em outro tempo[1]. Os céus resolveram participar e davam o prazer no crepúsculo, encontro do azul do dia e o escuro da noite. Estes astros distantes, pousados nas bases do firmamento, geradores dos ciclos, compeliu os homens a apossarem-se da sapiência divina no tempo e no espaço, medindo-o para distinguir o contemporâneo. Hoje os reflexos da aurora refletiam as gotas do sereno da madrugada, e o Ícaro alado brilhava e a umidade em seu “corpo seminu” recebia a claridade que precede o nascer do sol.
Acuso a vinda deste Símbolo para todos que não conhecem fiquem de posse deste conhecimento, única herança duradoura, legado disponível de uma geração a outra. Os homens fazem história, uns menos outros mais, mas independendo da intensidade todos sem exceção contribuem com seu quinhão. Acuso às gerações que num determinado momento e com conhecimentos de então, ousou-se enfrentar o que era difícil, mas não impossível, conseguindo triunfar contra as intempéries, o dia e a noite para cruzar as águas oceânicas do Atlântico. Acuso como fato histórico o vôo entre continentes ocorrido em 1927 e registrado pelos antigos historiadores, que os contemporâneos se baseiam para defender suas teses acadêmicas.
Acuso por documentos existentes a data dos assentamentos idealizados pelo poder de então, o registros que em 21 de agosto de 1829 foi edificado o Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico para relembrarem o épico desta proeza e coragem humana.
Acuso que em 1987, o poder do Estado, outra contemporaneidade, ousou-se na “calada da noite tendo, a lua como única testemunha” usurpou-se o direito de contemplação do ÍCARO que dava as boas vindas àqueles que visitavam a Represa de Guarapiranga.
Acuso que o poder detém a força de persuasão, criando outra atmosfera transferindo o Monumento para outro lugar sem expressividade com o fato nenhuma aproximação com o
Monumento Pça Nossa Sra. do Brasil-Jardim América(Esquina da Rua Colômbia com Av. Brasil)
momento histórico, achou, e “quem acha vive se perdendo” que era sua competência em definir como sua a propriedade do Monumento, e como simples objeto arranjou outro espaço, mas o sol refletindo na estrutura do Monumento acusava outro reflexo. Acuso o fato como mérito da realidade de muitos em conseguir o julgamento favorável pelo retorno por quem competia e pelo discernimento, enfim, após uma ausência de 23 anos.
Acuso que embora pareça que há uma preocupação das autoridades a mesma tomou para si como conseqüência única de seus atos, e se o fosse não faria mais que sua obrigação, pois foi o poder do Estado que seqüestrou o Monumento.
Acuso que em 2010, outra geração, houve por bem, não deixar cair no esquecimento e batalhar pela restituição do Monumento às suas origens. Acuso que houve mobilização local, tanto quanto o fizeram no passado nossos genitores que não deixaram cair no esquecimento em homilias familiares transmitidas pela oralidade. Acuso que há na região da Capela do Socorro, locais nominados que arremetem ao instante referido da travessia e citações dos aviadores; localidades que denotam aproximação com água, mar e ar, enfim tudo que são lembranças de um momento único e inesquecível, que as novas gerações não sabem, pois não há divulgação histórica, embora haja decreto para lembrarem-se do fato como currículo escolar.
Mausoléu Perpétuo do Comandante JOÃO RIBEIRO DE BARROS

CIDADE de JAHÚ-SÃO PAULO (com outro crepúsculo!)

Acuso que para recolher informações geraram-se idas e vindas, viagens longas, entrevistas, leituras devoradas unicamente pela aquisição de conhecimento deste momento histórico.
Acuso que não houve a divulgação merecida do fato e nenhuma mensagem quanto ao seu verdadeiro sentido.

Acuso a falta de citação no local o que representa o Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico, e também a falta de indicação de discriminação de custos por serviços prestados por empresas contratadas por licitação.
Acuso a indignação das gerações passadas, mas tudo tem seu tempo, e os mesmos deixaram o legado de não desistir da causa pela qual se acredita; morrer sim, desistir nunca.

Acuso que esta chegando ao fim esta jornada, mas não se deve “baixar a guarda” para que os aventureiros momentâneos não assumam o mérito pelo qual não trabalharam. Se quiserem fazê-lo comecem a criar medidas efetivas para recuperarem a Represa de Guarapiranga, sem debates estéreis de assembléias montadas para aplausos das realizações efêmeras do poder, pois é obrigação dignificar as gestões no tempo contemporâneo! Acuso gratidão por todos àqueles que colaboraram em Prol do Retorno do "Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico" para a Barragem da Represa de Guarapiranga, São Paulo, e, que em momento algum houve conotação política partidária nas ações, somente e unicamente o interesse da importância histórica do Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico.

Acuso que esta data (me) é extremamente cara e somente caminhei até aqui unicamente pelo amor retribuído por muito tempo, e que está eternamente guardado, independente do tempo e espaço em que ele se apresentou; receba nas alturas, morada das "velhas águias", o parabéns merecido pelo afeto proporcionado!

Nota:
[1] “O presente é o passado mais recente”










sexta-feira, 30 de julho de 2010

Perpétuo Socorro pela Represa Monumental

Alerta: Um Capítulo da História da Represa de Guarapiranga

Regozijos devem sentir muitos pelo auspicioso momento, embora tantos não terão o prazer de ver o retorno do “Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico” previsto para agosto de 2010, talvez, sendo reinaugurado em 21 de agosto, data em que foi feito em 1929 a pompa de instalação do “Memorial” na esquina das Avenidas De Pinedo com João(Ribeiro)de Barros e que muito representaram naquele momento.

Um Largo próximo a uma Capela foram aos poucos sendo habitado por uma necessidade da aproximação da Serra do Mar, com o porto de Santos, por onde afluíram os primeiros colonos. O local por muito tempo sofreu a carência e o abandono do poder público e sem saneamento e critérios de ocupação o local foi perdendo sua vegetação natural e as belezas que encantaram a tantos brasileiros e estrangeiros. A continuidade do Objetivo:
Werena Çukurs; Hilda G. Sterchele; Neuza Meneghello; Edmundo Manzini; Vilton e Estanislau
A divina providência um dia deu-te o nome que merecias “Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro”, de incessante e constante “luta perpétua” em “busca de socorro”.

Muitos levantaram a bandeira da indignação, não deixando que pisassem nela sem respeito ao local. Na década de 60 foi criada a “Sociedade Amigos do Socorro” que muito representou pela causa da preservação do local e mais tarde pelo que simbolizava a história, exigiam o retorno do Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico. Seu presidente José Fonseca Lima, com outros moradores da região, sempre atentos as transformações locais, requeriam dos administradores a infra-estrutura básica de ocupação e também, mais tarde, pela restituição do Monumento, e justamente no ano de sua volta, acontece seu passamento, ficando registrado o réquiem de uma luta.

Silenciosos colaboradores, esquecidos do poder público, estavam atentos as transformações, mas viam com tristeza o desrespeito com um “lugar tão bonito”, a Represa de Guarapiranga. O aviador Gunars Çukurs, que percorreu por muito tempo a superfície com seu hidroavião Seabee, um Republic RC-3 de fabricação americana de 1946, chegou ao local em 1957, proveniente de Santos onde passou uma temporada após a família ter se fixado no Rio de Janeiro, na Lagoa Rodrigo de Freitas, onde mantinham atrações que foram incorporadas ao lazer turístico da Riviera Paulista. Sua filha Werena relata com precisão de conhecimento adquirido, pois nasceu e viveu cercada de escunas, e dos aviões Seabee e Albatrozes da FAB que pousavam na represa para treinamento, que representava o dia a dia da família, onde todos tinham uma aproximação de trabalho, além de aero-barcos, como o Bidú, exposto no Clube Santa Paula em 1961 que poderia navegar sobre as ondas mediante uso de hidro-foils, um sistema de “braços” laterais articulados e adaptados às embarcações para diminuir o atrito com a água. De tempos em tempos havia inspeção dos referidos equipamentos que precisavam de manutenção constante do peitoril da aeronave que sofriam desgaste nas amerissagens, ou das quilhas dos barcos que requeriam manutenção. O trabalho era árduo e constante para conseguir a aprovação do Departamento da Aviação Civil, DAC. A oficina dos Çukurs representava uma sala de aula acadêmica, de saberes de verdadeiros inventores, que testavam eles próprios seus aparelhos e as modificações. Seu pai Herberts havia chegado ao Japão na década de trinta com um projeto pessoal de um avião que denominou C-6, e também à África com o seu C-3.As invenções estavam no sangue da família.

Assim às margens da Represa de Guarapiranga surgiram ultraleves, flutuadores e a recuperação de uma “verdadeira jóia rara” um sonho antigo, recuperar um Helio Courier. Gunars tinha o sonho de recuperar um Hélio Courier que tinha a facilidade de decolar em pistas muito curtas; queria adaptar flutuadores e decolar de uma rampa em frente a sua casa.
Por vezes havia ondas enormes formando marolas que todos precisavam ancorar as embarcações pela força dos ventos.
Aos poucos alguns proprietários de glebas de terras resolveram lotear a região em grandes lotes e aos poucos a ocupação tornou-se desenfreada e clandestina, terrenos vendidos sem nenhum controle e sem averbação municipal, com grileiros apossando-se da bacia que abastecia 30% da reserva de água natural da capital. Deste modo a represa começou a perder seu encanto, e sua característica foi agravada pela falta de saneamento básico que contivesse detritos provenientes de uma população cada vez mais numerosa. As reportagens da década de 60 que continham sugestões de “apreciação de arvoredos” e atração turística internacional com águas plácidas, passa a combater o desordenado modelo sem um plano de ocupação planejada, que competiam ao poder público omisso.Houve instantes de alerta de década de 80 quando o aviador Gunars, consumindo mais de 500 litros de combustível sobrevoava numa altitude de vôo permitido do espaço aéreo, mostrando e alertando as autoridades locais a degradação local.

Daquela data até o presente nada ou pouco foi feito. Até que o homem se cansou e em 1994 pousou para sempre o seu amigo “Seabee” no hangar, a “Abelha do Mar” parava sua missão após decolar por mais de 50 mil vezes. Via-se escassear os turistas pela degradação local, afinal ninguém em sã consciência vive as margens da sujeira de lixo e excrementos lançados a vazão de 1000 litros por segundo.
Até os peixes foram embora e seguiram-nos as aves, pois o alvorecer e o crepúsculo tornaram-se fétido.
Os aviões Albatrozes de outro proprietário voaram também para outras margens, levados para Ibiúna, para contemplarem outras maravilhas da natureza e o Seabee, como no passado, “retornou” ao Rio de Janeiro, talvez sendo recuperado para formar o acervo o Museu Aeroespacial, MUSAL, na Avenida Marechal Fontenelle, 2000, Campo dos Afonsos, pois consta estar de posse de outros experientes pilotos que o conservam em nome da história. O local em outros tempos um Oasis perdeu sua importância turística por interferências externas que culminou com a perda do grande apogeu que possuía. Um S.O.S. foi colocado como alerta ao SOCORRO urgentíssimo a mais de três décadas pelo aviador Gunars que em depoimento as TVs, ele alertava: “Infelizmente a represa está secando”. A natureza se vinga da falta de cuidados que se exige a quem oferece(u) muito por São Paulo. Houve uma correria de plenária de egrégios representantes legislativos para instituir o dia do bairro, como se isso fosse à principal urgência da realidade local. Urge medidas claras para o uso dos frutos deste antigo rincão, sem os paliativos momentâneos que só agravam o deserto e o abandono!Ações efetivas com aplicação das leis de proteção dos mananciais devem ser aplicadas para coibir a cobiça, além de romper a burocracia política que usa o momento propício dos palanques para lançar seus tentáculos como salvadores momentâneos.
As velhas águias merecem o reconhecimento das “Asas Aladas” pendentes, do sonho do homem em atingir o ápice das alturas do “Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico”, olhando o horizonte dos céus da liberdade que serão contempladas de agora em diante do novo Parque da Barragem, na Capela do Socorro!!!INDICAÇÃO DE CUSTO DE OBRAS EM SÃO PAULO:

UM MERO ESQUECIMENTO OU IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA?













terça-feira, 27 de julho de 2010

Uma Represa no Socorro com Veleiros

O MONUMENTO AOS AVIADORES CONTEMPLA(VA) O FUTURO

De repente nos vimos cercados de informações de suma importância da oralidade simples mais fiel ao acontecimento, dito por amigas ou familiares que aos poucos descortinava um saber adormecido no subconsciente. Fomos recebidos com o calor humano, adentrando em um dos muitos lares da Capela do Socorro, na Rua Lido, número 318, uma rua que sai da conhecida Ipanema, da Avenida Rio Bonito, completada pela Rua Olivia Guedes Penteado, antiga Rua Manoel Preto, a rua das boiadas e do campo de futebol do Bandeirante, hoje ocupado por galpão industrial, próximo do clube desportivo e recreativo dos funcionários do Serviço Federal de Processamento de Dados, Serpro, ou da casa antiga do seu Juvenal já “condenada” pelo progresso ou o templo japonês uma das primeiras construções locais.
Os nomes são propícios ao lugar, e Veleiros se avizinhava confundindo onde se inicia um e termina seus limites. Começamos timidamente com perguntas típicas do recolhimento histórico local, que dona Nair da Silva Petrovics, residente na Rua Lido desde a década de 60, anteriormente moravam próximos da Igreja Santa Rita, uma referência onde tudo era mata fechada e a rua era uma trilha. Seu irmão Virgílio comenta a família Luz, ou seu Angelim que entregava carne em seu Ford pela região.
LARGO CAPELA DO SOCORRO EM 1936 E 2005 EM PONTOS DISTINTOS

Os filhos Marcel e Valdir participam dos debates orais recordando fatos da Avenida Atlântica, nome referência aos moradores antigos, reflexo do feito histórico acontecido da década de 20 e a primeira travessia do Atlântico, ou ainda as dificuldades da guerra e o racionamento do pão. Bate-se e rebate-se em acaloradas conclusões, do uso do trem da FEPASA que descia para a baixada santista, indo para Itanhaém, e que possuía sua estação sob a ponte da Capela do Socorro e os escassos ônibus que após o termino dos bondes a CMTC fazia seu ponto final na Rua Victor Manzini obrigando os moradores atravessar para a outra margem do Rio Pinheiros.
Animais "descansando" ao lado da "nova" ponte do Socorro 1964
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Os dois filhos completam as informações provenientes de uma mãe orgulhosa em declarar o passado do pai Carmelo Jacinto da Silva, que constituiu família com Mertila Luiza Sterchele da Silva, onde as recordações sobre um tropeiro lapidado pela lida do oficio com muares e cavalos de raça, coberto com capa de pelerine, uma espécie de estola de pele de animal, protegendo o corpo das intempéries e que serviu também na construção da estrada da Serra do Mar.
Da estirpe dos Sterchele temos declaração de dona Hilda Guimarães, que por muito tempo participou da organização com seu esposo Antonio Amir Sterchele, diretor social dos concorridos dos bailes da Brahma, obrigatório traje social dos cavalheiros e longos para as damas, em Santo Amaro na Rua João Alfredo, apoiado por Antonio Cordeiro Filho seu presidente.
No auge das declarações completa-se com as recordações do juiz de paz Mario Branco do cartório da Rua dos Italianos, hoje a Amaro Luz, ou do farmacêutico Jeremias, ainda na ativa, e a farmácia do senhor Wilson, que com o receituário do doutor Albecir medicava como clínico geral, na Rua Manoel Preto entre a Atlântica e a De Pinedo. Hoje o posto de gasolina dos “turcos” Aref e Joed, que antes abasteciam os poucos veículos locais estão sem as bombas e não possui a pompa de outrora dos Ford bigodes que acorriam para a barragem para usufruir das benesses da represa, nas escadas do paredão atrás do Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico.
De repente outro golpe na efêmera democracia fechou o local, pois os “revolucionários” consideraram o local área de segurança nacional, impedindo o lazer e atividades locais, cercando as margens, evitando o acesso. Aos poucos o local perdeu a característica de suas atividades, em campos de futebol onde a Usina despejava o óleo brilhante, engraxante, de tempos em tempos, já poluindo o local e dos passeios em barcos e do hidroavião Seabee. Deste modo aos poucos fecharam os restaurantes, o Bar do Peixe, da época que havia um criadouro natural e nas marinas as embarcações foram recolhidas. O Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico, último resquício dos áureos tempos, foi retirado para apagar o passado!!!

segunda-feira, 26 de julho de 2010

RELEVÂNCIA HISTÓRICA DA REPRESA E DO MONUMENTO DE GUARAPIRANGA

Oralidade dos Fatos: SUJEITO E OBJETO

Numa linha de investigação cientifica debatemos com obstáculos que escondem reais momentos históricos. A oralidade permanente transmitida por gerações, sendo o primeiro modelo de conservação da história, evidentemente anterior a escrita, passando através de gerações, recolhida do fato pela tradição no tempo e no espaço. Muito hoje é refletido como fonte de pesquisa acadêmica entre povos autóctones que não conheceram a escrita, mas mantiveram vivas suas raízes originais.

Quando buscamos o saber deste conhecimento histórico, e somente o homem detém este legado, recolhem-se fragmentos dos fatos úteis da existência humana. Há em tudo isto o sujeito e o objeto a ser estudado que compete ao agente investigador recolher as “tragédias ou farsas” que culminaram com o processo. Este agente não tem a competência do julgamento, mas sim recolher o maior número de sucedâneos que originou uma transformação; não se reserva na busca do furo jornalístico, formalismo momentâneo e impactante, da ansiedade dos bastidores do imediatismo, mas um incessante compromisso que denota algo duradouro perpetuado na história humana.

Há nisto um comprometimento de ações, por vezes, não verdades absolutas onde o sujeito e o objeto se confundem, e requer pesquisa metodológica, buscando considerações do porquê de determinado momento histórico. Um critério é se aproximar das raízes da oralidade e de seus conhecedores. Evidente que a ação do tempo pode deixar vestígios mínimos que uma “arqueologia” histórica deve delinear os fatos por suas camadas existentes.
No hodierno estamos diante de recolhimento da oralidade da Capela do Socorro, parte da estrutura geográfica de um antigo município de São Paulo, hoje um distrito populoso, Santo Amaro[1]. Na década de 20, do século 20, ainda era um local insipiente, mas que foi aos poucos cativando pelas suas belezas naturais de verdadeiras “praias” costeiras e turísticas, a Riviera Paulista, onde se construiu as represas Billings e Guarapiranga, esta última antes denominada Represa Velha ou Represa de Santo Amaro. Um local pontuado no mapa de São Paulo de relevância geradora de energia elétrica e depois, a partir de 1928, servindo de abastecimento hídrico para a cidade. Evidentemente que com a expansão da cidade abriu suas margens a ocupação sem um plano diretor distinto as importância requerida de preservação e a ocupação territorial que não respeitou critérios por muito tempo denunciados. Muitos depoentes são críticos quanto a fato, e parece existir unanimidade em demonstrar a falta de saneamento básico para conservação local.

A represa de Guarapiranga dividida por lagos originado pelo represamento do rio que lhe originou o nome, foi elaborado pela empresa canadense Light de 1906 a 1909. Possui(a) uma área de 34 mil quilômetros quadrados e um perímetro de 85 quilômetros com variações de profundidades chegando próximo dos 15 metros, que devido ao assoreamento constante de suas margens, por perda de matas nativas, estão diluindo esta margem às condições gritantes quanto a sua capacidade de reservatório. Muitas veias de irrigação deste local são abastecidos por mais de 30 pequenos e médios córregos como o Guavirutuba, M’Boi Mirim e Guaçu, Rio Bonito, Rio das Pedras, Tanquinho, Itupu, Parelheiros, enfim tantos quanto fazem parte constante da manutenção da beleza natural e artificial do lugar, que também atraíram praticantes esportistas e um laser que refletiu no cotidiano local, uma “praia” de encantos. Já em sua conclusão aficionados a náutica deslocavam-se para a prática de vela, como BERT GREENWOOD, superindendente da Mappin Stores, depois comodoro do Sailing Club, clube da comunidade britânica fundado em 1917, que com barco artesanal das estruturados encaixotamentos de madeira de mercadorias importadas fabricou seu barco com dois mastros e seis metros de comprimento e iniciava desta modo o velejar no São Paulo Yacht Club, tornou-se, mais tarde, primeiro presidente da Federação de Vela do Estado de São Paulo. Grandes campeões do iatismo se serviram do local para treinamentos e ganharam projeção internacional como JOERG BRUDER, muitas vezes campeão brasileiro e sul-americano pelo Yatch Club Paulista, velejador da Represa de Guarapiranga, sendo perpetuado seu nome no Centro esportivo Municipal de Santo Amaro e ROBERT SCHEIDT, que pelo Yacht Club Santo Amaro tornou-se campeão olímpico a partir de 1968.

Outros se serviram da represa para modalidades aéreas como BABY PIGNATARI, da família Matarazzo, proprietário da Chácara Tangará, hoje parque municipal Burle Marx, com administração privada, aproveitava-se do espaço aéreo da década de 40 para os seus aviões Paulistinhas, um sucesso comercial de então. As atrações sucedâneas atraíram adeptos que se serviam da represa com hidroaviões para pouso e decolagem. Assim em 1927 dois aviadores amerissaram na represa de Guarapiranga, o tenente-coronel e chefe do Estado Maior do Comando Geral da Aeronáutica da Itália, Francesco De Pinedo com seu hidroavião “Santa Maria”, e o comandante aviador brasileiro João Ribeiro de Barros, com o antigo “Alcione”, rebatizado JAHÚ, homenageando sua terra natal, independentes com tripulação de navegação aérea, completavam o sonho de muitos outros renomados aviadores (Gago Coutinho e Sacadura Cabral, lograram êxito parcial em 1922 com suporte naval de apoio) e aportaram deste modo na represa de Guarapiranga.
Há nesta citação o fato histórico incontestável e expressivo que foi considerado o marco da aviação comercial entre dois continentes separados pelo Mar Tenebroso, o Oceano Atlântico e esta as urdiduras do tecido histórico na Represa de Santo Amaro.


(Na foto o comandante Joaõ Ribeiro de Barros é o 6º da esquerda para a direita e logo em seguida o prefeito anfitrião Isaías Branco de Araujo)

Em depoimento ao jornal Gazeta de Santo Amaro, de 10 de novembro de 1960, Isaias Branco de Araujo, prefeito de Santo Amaro de 1917 a 1928, na época município do estado de São Paulo declarava no subtítulo “De Pinedo e Conde Matarazzo”:

“Recepcionei De Pinedo quando desceu com o Jaú na represa. Em homenagem ao grande aviador, dei o nome à avenida do bairro do Socorro. Quando o Conde Matarazzo, em nome da colônia italiana, veio a esta cidade tratar do monumento na represa em honra ao aviador, foi por mim recebido. Inicialmente a Light deu contra; a meu pedido consentiu que a estátua fosse colocada onde está, até hoje”


Faz-se jus louvores ao digníssimo homem público de realizações inestimáveis a Santo Amaro, mas quando do depoimento jornalístico, ele já estava afastado da vida pública e cometeu-se neste fragmento jornalístico alguns deslizes que parecem necessários citar:

Os dois aviões semelhantes na forma pertenciam a mesma empresa construtora da aeronave e era ambos Savoia Marchetti, com algumas ressalvas de potência nos motores duplos, em V, de 12 cilindros, Isotta Fraschini, ambos eram, pela óptica do leigo, o mesmo hidroavião, logo foi recepcionado o comandante João Ribeiro de Barros, proprietário do hidroavião Jahú e não (Francesco) De Pinedo.

O fato tem sua relevância quanto às questões da vinda do ilustre industrial Francesco Matarazzo a Santo Amaro conversar sobre o monumento aos aviadores da travessia do Atlântico, e a surpresa da negação, a principio, da empresa canadense “Light & Power”, que o vulto do maior empresário de então reforçado com o pedido do prefeito Isaias Branco de Araujo, convenceu-se da importância histórica do Monumento.

Logicamente, quando do depoimento, o "Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico" ainda não havia sofrido o esbulho[2] de 1987, por parte do governo municipal, que em 2010 recupera-se ao local da Represa de Guarapiranga, através de reintegração de posse, o que sempre foi por direito objeto do litígio e indignação popular antiga, agora reparado.

[1] SUPERFÍCIES COMPARATIVAS:
*MUNICIPIO DE SÃO PAULO SEC.21: 1523 QUILOMETROS QUADRADOS
*MUNICIPIO DE SANTO AMARO ATÉ 1935: 640 QUILOMETROS QUADRADOS COM ABRANGÊNCIA DESDE O CORREGO DA TRAIÇÃO (HOJE APROX. RUA TEXAS, BROOKLIN) ATÉ DIVISA COM ITANHAÉM, MONGANGUÁ E SÃO VICENTE (Serra do Mar)*DISTRITO DE SANTO AMARO SEC.21: 15,60 QUILOMETROS QUADRADOS

[2] Esbulho: Retirada forçada do bem de seu legítimo possuidor, que pode se dar violenta ou clandestinamente. O possuidor esbulhado tem o direito de ter a posse de seu bem restituída utilizando-se, de atos de defesa que não transcendam o indispensável à restituição. O possuidor também poderá valer-se da ação de reintegração de posse para ter seu bem restituído.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

O Monumento aos Aviadores foi passear e não voltou: Furto, Roubo ou Seqüestro em 1987?

Furto, Roubo ou Seqüestro do Monumento aos Aviadores da Represa de Guarapiranga em 1987.
Quais das três transgressões ocorreram à época?

1) Furtar: Ato de ocultar dissimuladamente.

2) Roubar: Apropriar-se de algo, de modo enganoso. Agir desonestamente, ou de modo a prejudicar alguém.

3) Seqüestrar: Desviar da rota mediante violência.
 
Algumas considerações se fazem necessário quanto ao momento histórico, e algumas citações em “De Pinedo foi passear e não voltou” de 1987, se trata de matéria jornalística e não um documento histórico, logicamente respeitando-se reportagem como fonte do fato midiático de então.

Antes se deve colocar uma posição quanto a monumento e estátua que pode ser revisto em:




Não nos esqueçamos também de João Ribeiro de Barros!
 
Faz-se necessário também citar o comandante brasileiro João Ribeiro de Barros, natural da cidade de Jaú, São Paulo, que ousou tanto quanto De Pinedo para completar o reide em 1927, e deve ser sempre lembrado, com as honras merecidas tanto quanto a tripulação, tenente aviador da Força Pública do Estado de São Paulo, João Negrão, pelo navegador capitão da Aviação Militar Newton Braga e pelo mecânico Vasco Cinquini que completou a heróica trajetória, culminado na Represa de Santo Amaro, Guarapiranga.

Os conflitos para que os brasileiros não completassem o feito eram constantes indo ao exagero de interferências diplomáticas por declarações co-piloto do avião, Arthur Cunha, (depois substituido por João Negrão) que chegando a Lisboa, critica os seus companheiros e os desacredita, o que provoca reação imediata de Washington Luis, então Presidente do Brasil, envia um telegrama ao Comandante Barros solicitando-lhe que desistisse de tão arriscado vôo, inclusive para reduzir o impacto causado pelas declarações de Artur Cunha, evitando assim incidências de problemas diplomáticos com a Europa.

Indignado, e não tendo recebido qualquer ajuda do governo, o Comandante sente-se insultado e responde ao Presidente: "Cuide das obrigações de seu cargo, e não se meta em assuntos que não entende e onde não foi chamado"
Início da epopéia do JAHÚ: Lago Maggiore, também chamado de Lago de Locarno ou Verbano, o segundo da Itália em superfície.

Travessia do Atlântico: O ESTADO DE SÃO PAULO 29/4/1927
Na madrugada de 28 de abril de 1927, voando a uma velocidade de 190 km/h, um recorde absoluto, o hidroavião Jahú, depois de 12 horas no ar, pousou no mar, próximo a Fernando de Noronha. Estava concluída a primeira travessia aérea do Atlântico sem esquadra de apoio, feita pelo comandante João Ribeiro de Barros e sua tripulação.
A equipe do Jahú levou a cabo o raide, maratona entre Gênova e São Paulo, com escalas em Gibraltar, Las Palmas, Cabo Verde, Porto Praia, Fernando de Noronha, Natal, Recife, Salvador, Rio de Janeiro e Santos, alcançando finalmente a represa de Santo Amaro (Guarapiranga) no dia 2 de agosto de 1927, concretizando assim a sua árdua missão após ter coberto um percurso de 9.795 quilômetros em 57 horas e 3 minutos de vôo, completando a epopéia do Atlântico.

Reportagem jornalística "GAZETA DE SANTO AMARO de 05 de setembro de 1987:
De Pinedo foi passear e não voltou

 "Recentemente, a estátua de Pinedo, foi retirada de seu local original, próximo a represa de Guarapiranga para ser restaurada. No entanto, na verdade, foi transferida para outro local. Esta sendo instalada em frente à Igreja Nossa Senhora do Brasil, na praça do mesmo nome, no Jardim Europa.
A retirada da estátua da av. De Pinedo causou grande insatisfação nos moradores da região. O monumento, além de evocar um acontecimento histórico, tinha um significado especial para o povo santamarense. Tradicionalmente, fazia parte da imagem do principal ponto turístico da zona sul, compondo com ele um quadro de perfeito equilíbrio.
Os jornais diários desta semana aventaram as conotações fascistas dos símbolos contidos na estátua. Sem dúvida a política de Mussolini na Itália, durante a segunda guerra, é uma página virada da história que todos querem esquecer. Entretanto existe um componente muito mais importante que a simbologia existente nos elementos contidos na estátua. Afinal, o Brasil da época, politicamente não ficava muito longe das ideologias totalitárias e nacionalistas. Nacionalismo exagerado era próprio desse período em boa parte do mundo.

O componente é o símbolo gerado pelo fato histórico em si. Símbolo da força do homem vencendo desafios. Independente de ideologias. Pura e simplesmente o fato. Lugar nenhum é melhor do que a represa de Guarapiranga. Foi lá que Francesco De Pinedo, general, pura contingência da época, acompanhado de Carlo Del Prete e o mecânico Vitale Zachetti, desceu a bordo de um hidroavião após atravessar o Atlântico.

O ato heróico, fato histórico, no local de sua ocorrência. E se um dia resolverem mudar o monumento do Ipiranga para a praça da Sé? A comparação é apropriada. Com as devidas proporções foi o que aconteceu".

Diante disto cuida-se que haja o restauro por completo, não apenas transportar o “Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico” como simples artefato de montagem. Trata-se de memória histórica que as egrégias autoridades municipais não fazem mais do que sua obrigação devolver o Monumento, afinal foram eles que arrebataram-no de seu local original, não importa qual modelo de governo o fez, quem se compromete a dirigir um órgão qualquer, assume compromissos anteriores. Não se furta um povo de seus direitos por simples capricho de seus representantes, que documentam firmando em gabinetes lacônicos “cumpra-se”. Há de se respeitar direitos antes de assumirem deveres administrativos. É antes de tudo uma correção aos desmandos, não é um favor, mais uma obrigação do poder!

quarta-feira, 14 de julho de 2010

METRÔ DE SANTO AMARO NO SÉCULO 20 E O INTERESSE DO FUTEBOL NO SÉCULO 21

ELABORAÇÃO DE PROJETO HÁ 46 ANOS: UM FATO IMPRESSIONANTEMENTE ATUAL!!!

1) INICIADAS OBRAS DO METRÔ[1]

No decorrer desta semana a população santamarense viu o início das demolições do Largo 13 de Maio. Muitas indagações, muitos espantos e descréditos foram ouvidos. Mas, as obras da faixa do metrô tiveram inicio em ritmo acelerado no tocante as demolições e aterros, sem dar ainda uma idéia de como será o tão desejado e necessário metrô.
O aproveitamento da Avenida Vereador José Diniz[2] e outras artérias para o metrô é a idéia inicial dos técnicos. Mas como será ainda, não nos foi possível tomar informações junto aos órgãos encarregados da obra, dado o volume dos estudos.

2) METRÔ DA LINHA SUL VAI TRANSPORTAR 105 MILHÕES[3]
ESTAÇÃO VAI TER LOJAS E VITRINES

A estação do “subway” em Santo Amaro será no Largo 13 de Maio e sua área se estenderá à Rua Voluntário Delmiro Sampaio. Ampla, com lojas e vitrines, terá a profundidade de 10 metros abaixo do nível do solo. Um saguão medindo20 metros de largura por 100 metros de comprimento será a última etapa da linha de Santo Amaro. Há, contudo, projeto no sentido do metrô atingir a av. Marginal. Confirmada a hipótese, será construída uma estação conjunta da CPTM[4] e do metrô, que poderá recolher os passageiros de Interlagos, Parelheiros, etc.

CUSTO
De acordo com o projeto, o metropolitano paulista não será dos mais caros. A linha sul não apresenta dificuldades especiais, a única obra importante, no seu curso, é o túnel do Paraíso.

MATERIAL RODANTE
Muito embora ainda não esteja definitivamente assentado, o metrô paulistano deverá usar vagões (8 em cada composição) equivalente a 135 metros.
LINHA SUL VAI SER PRIMEIRA
De acordo com o projeto a primeira linha recomendada é a de santo amaro e o que poderá ser resolvida e iniciada mesmo sem a fixação do tipo do metropolitano, a sua construção esta prevista em um ou dois anos.

Indagações deste missivista:

O que houve com o projeto original?
Para tudo que é elaborado como projeto é necessária verba! O que aconteceu com a verba antiga, e por que a obra parou?
Quem eram as empreiteiras?
Houve desapropriações?
O lobby dos transportes coletivos à época influenciou a não concretização da obra?
Qual a participação política à época neste caso?
Qual o prejuízo para Santo Amaro?

Mas, hoje devido à “vontade política” e do setor imobiliário abarcada pelas empreiteiras, loteadas por empresários vinculados ao poder, interessados na modernização das grandes capitais visando interesses do “ópio do povo”, o futebol, esta “maravilha” que nos faz esquecer as misérias humanas construídas, vamos disponibilizar alguns “bilhares” (na jogatina) de dólares para fomentar interesses privados; e que venha o trem-bala deixando-nos novamente obsoletos na história!!!
Uma última questão:
Por que vinculam o Hino Nacional aos interesses da nação nos campos de futebol?
É por causa dos investimentos no setor, obrigados por uma federação internacional, que obriga os ditames reguladores do enobrecimento, escondendo as reais necessidades dos povos?
Notas:

[1] Matéria de 18 de junho de 1964, do Jornal Gazeta de Santo Amaro
[2] Denominação atual da antiga Avenida Conselheiro Rodrigues Alves
[3] Matéria de 22 de março de 1963, do Jornal Gazeta de Santo Amaro
[4] Leia-se “Sorocabana”, antiga linha de trem que servia a localidade; no hodierno CPTM

sexta-feira, 9 de julho de 2010

“MONUMENTO É DOCUMENTO”: DOIS MOMENTOS HISTÓRICOS

O Avião Savoia-Marchetti S 55: da Travessia do Atlântico, em 1927, ao Bombardeio de São Paulo, em 1932. Quem sou? Sou um MONUMENTO e muito REPRESENTO!!!

Não irei dissertar sobre mim, pois muitos já o fizeram, e há inúmeros trabalhos sobre o feito ocorrido, para eu representar o que hoje sou!!!

Meu nome: “Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico”. As autoridades já me chamaram de "fascista", a mídia alcunhou-me de "estátua", e até "totem", mas meus braços "são asas" e representam a monumental liberdade! Atravessaram um oceano imenso, correram riscos enormes para eu fazer parte da história da aviação nos nomes de Francesco De Pinedo e João Ribeiro De Barros, pilotando aviões Savoia-Marchetti S55 e eu fui erigido para representar esse momento histórico!Estou voltando da Praça Nossa Senhora do Brasil, nos Jardins, e serei recolocado de onde eu nunca deveria ter saído, no Parque Barragem, próximo a Represa de Guarapiranga; sem muita pompa, transportado em amarras rudimentares, lançado em jateamento de bombardeios de granalhas de aço sujas que mal me limparam, onde as bombas químicas não fizeram o efeito merecido, e o azinhavre, de tom corrosivo verde do bronze, permanece em meu corpo assim como o frio granito que me sustenta, sem contar a peça lapidada do capitel compósito, que completa minha estrutura juntamente com o fuste romano, que será reposta sem merecidos cuidados.
A "CIDADE DE SANTO AMARO" E A REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA
O município de Santo Amaro, promissora cidade do interior paulista, detentora de recursos hídricos da Represa de Guarapiranga, em franca expansão, preparava-se para comemorar seu centenário a 10 de julho de 1932, quando a Revolução Constitucionalista eclodiu, exigindo cancelamento dos festejos. Da vestimenta de gala mudou-se repentinamente para o caqui do uniforme e os santamarenses foram se debater como Voluntários por São Paulo, que lutou bravamente até haver acordo entre constitucionalistas e legalistas. Com a intervenção federal de Armando Salles Oliveira, pelo decreto 6988, expedido em 22 de fevereiro de 1935, Santo Amaro perdia sua autonomia política e administrativa.
Voluntários em frente à Prefeitura Municipal de Santo Amaro
REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA DE 1932: IDEAIS DEMOCRÁTICOS

Mas hoje é o dia da comemoração da "Guerra Paulista", da "Revolução Constitucionalista de 1932", nomes do movimento armado ocorrido no Brasil deflagrada de 9 de julho a 4 de outubro de 1932. Para homenagear e preservar a memória foi edificado o “Obelisco de São Paulo”[1], onde há cenas bíblicas e passagens da história paulista feitas com pastilhas de mosaico veneziano.
O projeto é do escultor ítalo-brasileiro Galileo Ugo Emendabili, que chegou ao Brasil em 1923, aos 34 anos de idade, contrário ao autoritarismo em seu país, a Itália. É o maior Monumento da cidade e tem 72 metros de altura, sendo um monumento funerário brasileiro localizado no Parque do Ibirapuera, São Paulo onde repousam os corpos dos estudantes Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo[2], primeiros que tombaram durante a Revolução de 1932 e de outros ex-combatentes que se eternizaram lutando pelos ideais democráticos contra a afronta do governo autoritário de Getúlio Vargas, resultando após o conflito na promulgação em 16 de julho de 1934, uma nova constituição nacional "para organizar um regime democrático,que assegure à Nação, a unidade, a liberdade, a justiça e o bem-estar social e econômico", conforme seu preâmbulo.O Obelisco paulista possui detalhes que elucidam a data:

São 9 degraus que conduzem à cripta do Monumento; a altura do Obelisco da base até o topo é de 72 metros (7+2 =9) e da cripta até o topo a distância é de 81 metros (8+1=9 e 9x9=81). A soma de aritmética também é curiosa: 7+2+8+1=18 (1+8=9). A simbologia também está presente no desenho do gramado ao redor do Monumento, que possui área de 1.932 metros quadrados e forma um coração onde está fincada a espada, símbolo do Obelisco, que sagrou a vitória política, apesar da derrota militar dos paulistas.
SÃO PAULO: ÚNICA CIDADE DO BRASIL A SOFRER BOMBARDEIO AÉREO!

"Três dias após o rompimento das hostilidades, os primeiros navios da Marinha chegam às costas de São Paulo, iniciando o bloqueio do porto de Santos. Para o apoio a esses navios e a outros que a eles se juntariam, nesse mesmo dia, três Savoia-Marchetti S 55 e dois Martin PM deslocaram-se para Vila Bela, na Ilha de São Sebastião. Além das missões de apoio aéreo às unidades navais, era intenção da Marinha empregar os aviões acima, juntamente com quatro Vought 02U-2A Corsair, em ataques a alvos terrestres. Os Corsair na configuração flutuadores operavam do Galeão, por ser tecnicamente contra-indicado fazê-lo ao largo de Vila Bela, o que levou a Marinha a aumentar o campo de pouso da ilha e utilizar a configuração rodas, a fim de poder operá-los mais próximo da área de combate, fazendo o patrulhamento da costa paulista entre Santos e Parati. Para reforçar a Aviação Militar desdobrada no Vale do Paraíba, dois aviões Corsair permaneceram regularmente em alerta no Galeão, enquanto os outros dois apoiavam as unidades navais, partindo do campo de Vila Bela, já com novas dimensões.
No dia 27 de julho, estes últimos receberam a missão de escoltar um Martin PM e dois Savoia Marchetti S-55 no ataque às instalações da Light em São Paulo, mas a missão foi abortada. No dia seguinte nova tentativa de ataque a Cubatão, também sem sucesso, por conta de precárias condições atmosféricas sobre o alvo. A terceira tentativa, no dia 29, com um Savoia Marchetti e um Corsair foi positiva quanto ao ataque, mas os resultados do bombardeio foram insignificantes".
(Cambeses Júnior, Manuel. O Emprego do Avião na Revolução Constitucionalista de 1932. Instituto Histórico e Cultural da Aeronáutica, p. 14-15) Savoia-Marchetti S55
Martin PM

Vought 02U-2A Corsair

As Lápides que representam Momentos importantes de São Paulo jazem como que a contemplar a história humana, mesmo quando os homens esquecem-se de “seu” passado, e, mesmo que isso ocorra, este “NOVE DE JULHO DE 2010” é lembrança da "Epopéia Paulista" e faz parte da história do Brasil!

Referências Bibliográficas:

SILVA, Hélio – 1932. A Guerra Paulista. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1976, 2ª ed.

RODRIGUES, Sylas - Gaviões de Penacho, Rio de Janeiro, Instituto Histórico e Cultural da Aeronáutica, 2000.

ANDRADE NETO, Manoel Cândido de . Bastidores da Revolução Constitucionalista.
Rio de Janeiro, Estandarte, 1995.

WANDERLEY, Nelson Freire Lavenère. História da Força Aérea Brasileira. Rio de Janeiro, Ministério da AERONÁUTICA, 1974.

DONATO, Hernani. A Revolução de 1932 - São Paulo, Círculo do Livro (Livro Abril), 1982.

Notas:

[1] O Obelisco carrega o simbolismo da lembrança nas raizes gregas: óβελίσκος , obeliskos, diminutivo de óβελός : obelos , pilar pontiagudo, associado à cultura egípcia, reflete a teoria de uma visão comum no nascer e pôr do sol, numa renovação constante.

[2] O dia 23 de maio de 1932 quatro estudantes, Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo foram mortos em choque com a polícia getulista na Praça da República, em São Paulo, tornando-se mártires da revolução constitucionalista, dando origem ao Movimento MMDC. Anos depois, a data foi oficializada como o "Dia da Juventude Constitucionalista", que lembra a participação dos jovens na revolução.