sexta-feira, 27 de agosto de 2021

O “BONDE MINAS GERAIS”, PREFIXO 2003, DE SANTO AMARO/SP

Um bonde, dois nomes: De Ypiranga a Minas Gerais

 O bonde[1] (tram) que recebeu o prefixo 2003, que serviu durante muito tempo na Linha de Santo Amaro, foi inaugurado pela The São Paulo Tramway Light and Power Co. Ltd.tendo sido encomendado originalmente da  fabricante americana Saint Louis Car Company, em 1906, como carro de luxo “Ypiranga”, para ser usado em festejos, recepções e inaugurações.

Carro Ypiranga destinado a Cerimônias e Datas Especiais-1911

Primeiramente o bonde Ypiranga fazia o trajeto pela Ponte Grande, (hoje Ponte das Bandeiras) sobre o Rio Tietê, no lugar conhecido por Floresta, ligação da Av. Tiradentes, com a Rua Voluntários da Pátria, caminho para alcançar Santana.

Na cabeceira da ponte, vê-se um dos primeiros bondes da concessionária Light and Power desse meio de transporte. Crédito: AHSP

 Em 1917, foi todo reformado sendo adaptado para entrar na linha que servia a Vila de Santo Amaro em 1921, substituindo  a Companhia Carris de Ferro de São Paulo em Santo Amaro, que fora inaugurada em 25 de janeiro de 1885, com locomotivas a vapor alemãs (Krauss) que possuía uma linha sinuosa que não deve ser confundida com a linha elétrica mais direta construída em 1913, pois a primeira possuía truque para bitola entre rodas de 1050 milímetros sendo as dos bondes para bitolas de 1435 milímetros. (tramway[2])



Pintado anteriormente de azul e nomeado "Ypiranga," o carro foi abençoado pelo Cardeal Arcoverde em 1906 e numerado com o prefixo 2003 e colocado em serviço na linha de Santo Amaro, em 1921, partindo de Santo Amaro até a Praça João Mendes, em São Paulo, trajeto feito até o ano de 1952.

Os motorneiros da linha de Santo Amaro à São Paulo deram-lhe o nome de Minas Gerais em alusão ao encouraçado da marinha brasileira que possuía esse nome, por ser de estrutura forte e ter grande porte.

 

 A FABRICANTE AMERICANA "SAINT LOUIS CAR COMPANY" DO BONDE YPIRANGA OU MINAS GERAIS

A empresa foi formada em abril de 1887 para fabricar e vender bondes e outros tipos de material circulante de “ferrovias de rua”, os bondes.

Nos anos seguintes, a empresa construiu automóveis, incluindo o American Mors, o Skelton e o Standard Six. A divisão St. Louis Aircraft Corporation da empresa fez parceria com a empresa Huttig Sash and Door em 1917 para produzir aeronaves.

Durante as duas guerras mundiais, a empresa fabricou planadores, barcos e gôndolas dirigíveis.

Desenho do bonde idealizado pela Saint Louis Car Company/EUA

A Saint Louis Car Company foi chefiada por Edwin B. Meissner, Sr., que faleceu aos 71 anos em 12 de setembro de 1956. Seu filho Edwin B. Meissner Jr. o sucedeu como presidente da empresa.

Em 1960, a Saint Louis Car Company foi adquirida pela General Steel Industries, diversificando a fabricação não apenas de bondes, mas outros sistemas de transporte como o metrô de Paris, na França.  Em 1964, a empresa concluiu um pedido de 430 vagões para o metrô da cidade de Nova York.

A St. Louis Car continuou seus negócios até 1968 e finalmente parou de operar em 1974.

No catálogo da empresa Saint Louis Car Company, do bonde que circulou por Santo Amaro, estava classificado com o número de ordem 591, datado de 23 de agosto de 1905, mostrando um carro de salão duplo elaborado com janelas em arco. 



 A OFICINA DE REFORMAS DE BONDES “TRAJANO DE MEDEIROS E COMPANHIA”

Muitas das adaptações feitas em bondes da Light and Power eram feitas no Rio de Janeiro nas oficinas da Trajano de Medeiros e Companhia, do engenheiro civil  Trajano Saboia Viriato de Medeiros que já trabalhava para Estrada de Ferro Central do Brasil e a partir de 1903 já fazia o material rodante da Estrada de Ferro Sorocabana. Devido a demanda montou uma sucursal em São Paulo que fazia construção e reconstrução de carros de passageiros em madeira e metálicos e vagões até o final da década de 1960, quando a desativação deste meio de transporte em todo o Brasil ocorreu, sendo substituído por ônibus com motores a explosão alimentados por hidrocarbonetos (Diesel, gasolina). Permaneceu as oficinas da Trajano de Medeiros em manutenções da Rede Ferroviária Federal até 1974, sendo desativada em definitivo em 1994.

O bonde Minas Gerais, ganhou nova pintura, na década de 1940 quando findado o contrato de concessão entre Light and Power e governo, tornando-se a   partir de 10 de outubro de 1946 a Companhia Municipal de Transportes Coletivos, CMTC.




OBSERVAÇÕES:

Crônica sujeita a revisão sem prévio aviso. Aceita-se informações sobre o único bonde com tais características, ou seja, um carro de luxo cerimonial transformado para passageiros.


Outras crônicas do sistema de transporte em Santo Amaro, acesse o link:

ÍNDICE: SISTEMAS DE TRANSPORTE EM SANTO AMARO PAULISTA

http://carlosfatorelli27013.blogspot.com/2021/08/indice-sistemas-de-transporte-em-santo.html

 

 

BIBILIOGRAFIA:

História do Transporte Coletivo em São Paulo Waldemar Corrêa Stiel (USP/Mac Grawhill – 1977)

Tramways in Brazil Allen Morrison (Bonde Press 1989)

A TRIBUNA  nº 1627

Acervo Fundação Energia e Saneamento

RODRIGUEZ, Helio Suêvo “A Formação das Estradas de Ferro no Rio De Janeiro: O Resgate da sua Memória”, Editora Memória do Trem – 2004, p. 26 a 28

Museu dos Transportes Públicos, Av. Cruzeiro do Sul, 780, São Paulo

Boletim Histórico 1986-Eletropaulo



[1] A  palavra  bonde  surgiu  em 1879,  sua  origem  se  deve ao fato de que na época a passagem custava  200 Reis,  mas  não  existiam moedas ou cédulas deste valor em circulação.  Em vista disso, a empresa  teve  a ideia de emitir pequenos bilhetes, em cartelas com cinco unidades, ao preço de mil reis, cédula  que circulava  em grande quantidade. Os  bilhetes  impressos  nos  Estados  Unidos,  foram  chamados  pela população  de  Bonds  (Bônus).

[2] A  palavra TRAMWAY em  inglês  designa uma linha férrea urbana, onde os trilhos (carris de ferro) estão assentados na via pública (ruas), rente ao piso, sem saliências, podendo  outros veículos passarem sobre os mesmos com facilidade,  principalmente nos cruzamentos. Uma linha de Tramway destina-se exclusivamente ao trafego de TRAMS (Bondes). Portanto em inglês  TRAMWAY é o nome da via férrea (trilhos) e nunca do veículo (Tram=bonde).

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