sexta-feira, 12 de agosto de 2016

JOSÉ WASTH RODRIGUES E O SEMINÁRIO MENOR METROPOLITANO DE SÃO PAULO EM PIRAPORA DO BOM JESUS[1]

OS PREMONSTRATENSES[2] DA BELGICA PARA PIRAPORA

Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti[3], conhecido posteriormente como Cardeal Arcoverde, foi empossado em 26 de agosto de 1892, como bispo auxiliar de Dom Lino Deodato Rodrigues de Carvalho, arcebispo de São Paulo e da transição do Império para a República. Enviou em 1894 para a Europa para entrar em contato com congregações para virem ao Brasil e promoverem ações missionárias e educacionais estando relacionados os redentoristas, lazaristas e premonstratenses.
Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti

Dirigiu-se ao prelado da Abadia de Averbode, Bélgica, da ordem premonstratenses, solicitando sacerdotes para sua diocese. Após aceitar o convite, Dom Gumaro Crets, nomeou os primeiros cônegos destinados à nova fundação. 

Assim, no ano de 1896, Vicente Van Togel e Rafael Goris dois religiosos premonstratenses, chegaram ao Brasil, e em 26 de dezembro de 1896 iniciaram seu apostolado na Vila de Pirapora, lugarejo localizado às margens do rio Tietê. Havia no local o Santuário do Bom Jesus, que atraía romeiros de outras cidades de São Paulo e outros estados do Brasil. 

Em 1897 lançaram a pedra fundamental do Seminário Premonstratense que se tornou o Seminário Menor Metropolitano de São Paulo, de 1905 a 1949.






A capela do seminário foi construída entre 1926 e 1928, e foi inaugurada na mesma época, por Dom Duarte Leopoldo e Silva, então Arcebispo de São Paulo.



O ANTES E O DEPOIS:CAPELA

Depois no local funcionou o Seminário Premonstratense[4] de 1949 a 1973. Até 1973, o convento de Pirapora foi a casa central da canonia(estrutura da ordem religiosa). Em dezembro de 1973 foram encerradas as funções da formação religiosa do Seminário tornando-se então residência dos cônegos.




Todas as obras entalhadas em estilo gótico foram feitas pelo irmão premonstratense José Withofs, belga, que viveu no Brasil de 1905 até 1959, quando faleceu.  


Os vitrais foram feitos pela Casa Conrado Sorgenicht, com vidros importados da Bélgica e Alemanha.


JOSÉ WASTH RODRIGUES NO SEMINÁRIO DE PIRAPORA

José Wasth Rodrigues nasceu em São Paulo em 19 de março de 1891 e quando jovem frequentou o Seminário de Pirapora do Bom Jesus até 1907, da Ordem Premonstratense[5], também denominada Ordem de São Norberto e seus membros conhecidos com Padres Brancos, pela vestimenta corriqueira. 


Idealizou os azulejos do Brasão de Dom Alderico Lambrechts, Abade Titular da Abadia de São Miguel em Antuérpia e reitor do Seminário de Pirapora de 1920 a 1936 e que podem ser vista ainda hoje nas dependência do antigo seminário.

Há no Museu do antigo Seminário da cidade de Pirapora do Bom Jesus há alguns trabalhos do artista que estão expostos daquele que foi um dos grandes ilustradores da história do Brasil.




Não se confirma se são desenhos originais, mas repara-se que em alguns trabalhos expostos há destruição por cupins e outros insetos nefastos que já causaram estragos irreparáveis em certas obras expostas.


OBRA MOSTRA O SEMINÁRIO: TELA TOTALMENTE DESTRUÍDA 


JOSÉ WASTH RODRIGUES: PINTOR, DESENHISTA, ILUSTRADOR, CERAMISTA, PROFESSOR E HISTORIADOR

Depois de se afastar do seminário estudou pintura com Oscar Pereira da Silva. Foi agraciado em 1910 com uma bolsa do Pensionato Artístico do Estado de São Paulo de 5 anos para se aperfeiçoar na Escola de Artes de Paris e a Academia Julien. Em 1914, três de seus quadros são expostos no Salão da Sociedade dos Artistas Franceses e vende seu primeiro quadro no exterior por 400 francos! Eclodindo a Primeira Guerra, voltou para São Paulo onde se casou com Argentina Guimarães tendo os filhos Roberto e Raquel.
Em 1916 fez paisagens do interior de Pirapora, Viturina e Tietê.


Foi "descoberto" por Monteiro Lobato que o publica na Revista do Brasil. O jovem completava sua renda dando aulas de pintura e retratava por encomenda. Viaja para o interior e as aquarelas e o bico de pena retrata a arquitetura colonial de Minas Gerais para onde se desloca. Vai depois para Bahia, Pernambuco e Maranhão, no ano de 1921. Trabalhou para a Ilustração Brasileira em 1927 onde fez desenhos a bico de pena cujo tema era o beneficiamento do café, com o pilão, a roda d’ água e o carretão. Depois fez desenhos de mobiliários para a Associação Comercial de São Paulo.

Monteiro Lobato, contratou José Wasth Rodrigues para ser ilustrador da Editora Companhia Nacional e em 1918 ilustra a obra Urupês. Monteiro Lobato tinha-o como representante das coisas genuínas promovendo esse interesse pelo campo aconselhava o artista a pintar o Brasil o que “está no interior, nas serras, nos sertões, nas cochilas onde bate o monjolo, onde floresce os cafeeiros, nos garimpos, nas catingas estorricadas, na palhoça de sapé e barro”.

Escreveu para a Revista do Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - DPHAN sobre “Móveis Antigos de Minas Gerais e “A Casa de Moradia no Brasil Antigo”. Fez Desenhos e aquarelas dos Uniformes do Exercito Brasileiro 1730-1922 organizado por Gustavo Barroso e publicado em Paris, além de ilustrar o livro “Brasões das Bandeiras do Brasil” de Clóvis Ribeiro publicado em 1933. Com sua vasta experiência fez muitos brasões e junto com Guilherme de Almeida, produziu o Brasão da Cidade de São Paulo oficializado em 8 de março de 1917 pelo prefeito Washington Luís e retratou parte da mesma cidade com as suas várzeas e igrejas. Em 1928 viajou para Alemanha, Áustria, França e Portugal. 

Na década de 1930 o artista José Wasth Rodrigues confeccionaria para o jornal O Estado de São Paulo seu ex-libris, perpetuado por anos.

Em 29 de agosto de 1932, São Paulo passa a ostentar o Brasão D’Armas aprovado pelo  governador do Estado, Pedro de Toledo, obra de Wasth Rodrigues completada com o Mapa da Revolução Constitucionalista.  Uma das mais difíceis obras por Washt Rodrigues foi o “Dicionário Histórico Militar” com 1660 páginas e 400 ilustrações que foi doado ao Centro de Documentação do Exército que o editou.
Seus trabalhos são em técnicas a lápis, bico de pena, guache, óleo que reproduziram velhos casarões e costumes cotidianos. São seus guardiões a Pinacoteca de São Paulo e o Museu Paulista. Seu passamento ocorreu em 21 de abril de 1957, no Rio de Janeiro.

Carlos Drumond de Andrade o define em poucas palavras:

“Wasth não ostentava ciência, possuía-a simplesmente. Ninguém o via deitando doutrina em rodas de artistas, críticos ou pesquisadores; consultado, informava e calava-se, com um silêncio astuto de caipira, esse caipira civilizado, que perdurava ainda na sua voz. Diante de falastrões, olhava, no máximo sorria de leve, não contraditava”



Vide:
Algacyr da Rocha Ferreira: Santo Amaro, Sua Arte Viva e os Vitrais Conrado Sorgenicht




Referências:

TRASANTCHI, Ruth Sprung. Pintores Paisagistas: São Paulo 1890 a 1920. São Paulo: Editora USP, 2002

Andrade, Oswaldo. “José Wasth”, Correio Paulistano, 12-01-1916

Rodrigues, Wasth. Tropas Paulistas de Outrora.




https://patrimonioespiritual.org/2015/04/14/capela-do-seminario-premonstratense-pirapora-do-bom-jesus-sp/




[1] A capela de Pirapora foi fundada em 31 de Maio de 1730, por José de Almeida Neves, doando 200 braças de terra com registro em Cartório do Tabelião de Parnaíba.

[2] Prémontré, comuna francesa, fundada por Norberto de Gennep, filho do conde de Gennep
Veja mais em: http://www.saosebastiaojau.com.br/abadia.php

[3] Tornou-se o primeiro Cardeal na América Latina, em 1905

[4] Seminário Premonstratense: Rua Nossa Senhora de Fátima, 24, Pirapora do Bom Jesus, São Paulo

[5] Premonstratenses, são Cônegos Regulares, ou seja, religiosos que formam uma igreja local em torno do Abade e em comunhão com a Igreja de Roma. A Abadia São Norberto está localizada na cidade de Jahu, São Paulo, à Rua Tenente Navarro, 446

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