quarta-feira, 27 de abril de 2016

O Bairro-Jardim Pacaembu e o “Estádio Paulo Machado de Carvalho”

O Início do Conceito de Planejamento Urbano em São Paulo: Cidade-Jardim

A  City of São Paulo Improvements and Freehold Land Company Ltd[1] ou simplesmente Cia. City foi fundada em Londres em 1911. Em 1912 instalava seu escritório em São Paulo introduzindo o conceito urbanístico das “garden-cities” inglesas, aproveitando a topografia e grandes áreas verdes existentes criando padrões de zoneamento diferenciados para a época, elaborando toda uma infra-estrutura como água, luz, esgoto, vias pavimentadas e transporte, diferenciando do conceito implantado até então em São Paulo que recebei as primeiras orientações de um plano diretor, ajudando na elaboração de leis municipais de zoneamento que só viriam a ser implantadas em 1972 dando direção a uma urbanização mais direcionada em São Paulo.

A Cia. City foi a empresa que ditou as normas urbanísticas modernas para a Cidade, com novos conceitos que influenciaram engenheiros e urbanistas que trabalharam sobre suas regras, como o caso de Jorge de Macedo Vieira que ao lado de Barry Parker, arquiteto e urbanista inglês responsável pelos projetos do Jardim América e Pacaembu colaborou e adquiriu vasta experiência profissional no conceito urbanístico da “cidade-jardim” espalhando-se pelo Brasil.

Tudo isso teve início através do urbanista e arquiteto francês Joseph Antoine Bouvard que viera rara São Paulo contratado pelo Prefeito Antonio Prado para elaborar um plano urbanístico para o Vale do Anhangabaú. Regressando a Europa procurou investidores convencendo-os no enorme potencial que se oferecia a nova Cidade. Um a gleba imensa estava aberta para novos empreendimentos e muitas dessas terras estavam com o empreendedores imobiliários locais.

A Cia. City assumiu o compromisso de drenar pântanos e charcos na margem do Rio Pinheiros onde depois se tornaria os Bairros Jardim América, seu primeiro loteamento, seguido dos bairros do Pacaembu[2], Alto de Pinheiros, Alto da Lapa, e outros.

“Inúmeras são as razões que aconselham a construção do lar próprio no Pacaembu”, anunciava a Cia. City em 18 de abril de 1938 o mais novo bairro paulistano. O bairro do Pacaembu já estava na planta da cidade desde 1914 e em 1920 havia somente duas construções no bairro: O Asilo dos Expostos e o Hospital Samaritano. Dentro do plano de urbanização local estava a canalização do Córrego e a Avenida Pacaembu, ocorrido em 1922. O loteamento do bairro do Pacaembu localiza-se no Vale do Ribeirão Pacaembu sendo que a da Companhia City iniciou a partir de 1925 e urbanização 998.130 m² acrescidos de mais 400.000 m², adquiridos da Santa Casa de Misericórdia.

O ESTÁDIO DO PACAEMBU

Da área do Bairro Pacaembu a Cia. City cedeu 76.000 m2 para o governo estadual que repassou à prefeitura. Assim em 1936 começava as obres do Estádio Municipal do Pacaembu[3] conforme projeto do Escritório Técnico Ramos de Azevedo-Severo e Villares.

O Estádio do Pacaembu foi inaugurado em 27 de abril de 1940, com capacidade para acolher setenta mil pessoas, teve a presença do então de Getúlio Vargas, então presidente do Brasil, do interventor  Adhemar de Barros e do prefeito de São Paulo Prestes Maia.

Dentre os eventos mais importantes da história esportiva do Estádio do Pacaembu, destacam-se como uma das sedes da Copa do Mundo de 1950.

 Outro destaque realizado no Estádio do Pacaembu foi a disputa de parte dos Jogos Panamericanos de 1963 sendo a cidade de São Paulo sede dos mesmos.

O Estádio Municipal do Pacaembu leva hoje o nome do empresário Paulo Machado de Carvalho o "Marechal da Vitória", por ter sido vitorioso nas campanhas das Copas do Munde de 1958 e 1962, como chefe da delegação brasileira.

O Pacaembu contava ainda com a Concha Acústica, usada para apresentações de ópera e música clássica. Ela, porém, foi demolida em 1969 para a construção do “Tobogã”, arquibancada lateral, atrás de um dos gols.

Em 2008, o estádio do Pacaembu ganhou o Museu do Futebol, que, por meio de equipamentos interativos e tecnológicos, conta a história do esporte brasileiro.

O Pacaembu faz parte da história de São Paulo e seu desenvolvimento vertiginoso segue novas tendências dentro de um plano diretor e alterações de zoneamento no século 21.                               


Referências:

O Estado de São Paulo, 18 de abril de 1938

BONFATO, Antonio Carlos. Macedo Vieira: Ressonâncias do Modelo Cidade-Jardim. São Paulo: Senac, 2008

Cadernos Cidade de São Paulo- Estádios, Instituto Cultural Itaú. São Paulo: ICI, 1994



[1] “Conhecida como Cia. City, a City of São Paulo Improvements and Freehold Land Company Limited foi organizada em 1911, com escritórios em São Paulo, Londres e Paris, associando o arquiteto Joseph Bouvard e o banqueiro Édouard Fontaine de Laveleye, ambos franceses, a um grupo de investidores e proprietários de terras nos arredores de São Paulo, integrantes da elite paulista e com acesso franco à cúpula político-administrativa do estado. Cincinato Braga, político paulista, Horácio Belfort Sabino, advogado e proprietário de terras, e Victor da Silva Freire, professor da Escola Politécnica e diretor de Obras Públicas da Prefeitura de São Paulo, estiveram ligados ao início da atuação da Cia. City. Lord Balfour, presidente da São Paulo Railway Co. e governador do Banco da Escócia, também fazia parte da primeira diretoria da empresa. Com os capitais reunidos, a Cia. City comprou aproximadamente 12 km² de terras nas vizinhanças das áreas que já vinham sendo ocupadas pelas camadas altas da sociedade local. Constituída, a companhia iniciou a urbanização de partes dessas terras e a venda dos lotes, entrando no movimentado mercado imobiliário paulistano. Ainda hoje a Cia. City é atuante nesse mercado e seu sucesso derivou, em grande medida, das estratégias inovadoras e bem traçadas que marcaram seus primeiros anos. Estavam entre essas estratégias, por um lado, técnicas de venda a prazo dos lotes, de financiamento da construção das casas e de seleção dos compradores e, por outro lado, a busca de soluções urbanísticas que tornassem diferentes e atraentes seus loteamentos”. (Jardim América, o subúrbio jardim em versão brasileira, TITO FLÁVIO RODRIGUES DE AGUIAR Arquiteto. Doutorando em História, UFMG)

[2] BAIRRO DO PACAEMBU
Localização: Pacaembu - Processo: 23972/85 - Tombamento: Res. 8 de 14/3/91 - Publicado no Diário Oficial do Estado: Poder Executivo, Seção I, 16.03.1991, p. 37/38 - Retificação: Poder Executivo, Seção I, 19.03.91 - Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico: Inscrição nº 23, p. 307, 25/04/1991

[3] ESTÁDIO PAULO MACHADO DE CARVALHO
Localização: Entre as Ruas Desembargador Paulo Passalacqua, Capivari e Itápolis e Praça Charles Miller Pacaembu Processo: 26288/88 - Tombamento: Res. SC-5 de 21/1/98 - Publicado no Diário Oficial do Estado: Poder Executivo, Seção I, 02.04.1998, p. 60 - Livro do Tombo Histórico: Inscrição nº 322, p. 81, 26/8/1998

sexta-feira, 15 de abril de 2016

A Roupa do monge e a Casa do Povo em São Paulo

Vigiar e punir
Ontem (14-4-2016) , fui à Casa (Municipal) do Povo, ao menos falam que ela o é, para assistir a um evento em São Paulo!
Meu asseio era o mais coerente possível de um indivíduo em um país tropical, uma calça de brim surrada, mas inteira, uma camisa básica, um sapato “mocassim” que já andou mais do que esse observador nas transformações da cidade! Não estava com trajes que pudesse ser inconveniente para a ocasião da abertura de um departamento de acervo para pesquisa em história, nada me comprometia que pudesse desabonar este citadino, somando a isto o asseio da barba feita e cabelo cortado!
No cartaz, que insistem em chamar de fôlder, onde anunciava tal evento que, aliás, o Centro muito contribuirá para pesquisas futuras no âmbito de estudo de vereança, não havia menção de alguma vestimenta padrão ou algum rigor à parte.
Corri contra o tempo, pois São Paulo é uma cidade sem previsão e “tudo pára do nada”.
Cheguei ao local esbaforido e o “relógio corria” e quanto mais eu corria mais o tempo andava. Por sorte o evento era no primeiro andar, nem o elevador esperei e “escalei” escada acima adentrando nas imediações do evento, evidentemente que pelo meu atraso, já estava próximo do final.
Havia a minha frente um obstáculo de dois seguranças gentis no trato, e um destes servidores requereu-me informações básicas do tipo inicial de um “pois não”, aonde o senhor vai?
Prontamente respondi que iria ao evento do lançamento do Centro de Memória. Tomei um susto quando o servidor respondeu se eu estava certo onde eu queria ir, pois “achava” que aquele evento não era o que eu estava interessado. Respondi que não estava cometendo nenhum engano e era ao certo aquele recinto mesmo, e, até falei o nome da sala, pois estava documentado com o endereço do local. Enquanto eu expunha, e o tempo corria, o referido segurança media-me com olhar de censura de cima em baixo, sendo que até o jornal que eu segurava ele leu de pronto, e por fim depois dessas réplicas e tréplicas deixou-me passar.
Quase nada consegui ver e na saída deparei-me com o presidente da Câmara todo radiante em seu corte bem aprumado de terno dando entrevista focando o sucesso do evento parlamentar.
Havia uma pequena mesa de “petiscos-padrões”, básicos de todo evento da Casa nas finalizações de quaisquer eventos, e bolachinhas coloridas enfeitavam a referida mesa. Passei de retro, tomei um café em dois goles, meu vício constante, falei com um amigo e sai rindo da roupa deste monge que vos escreve.

Parabéns ao sistema de Segurança da Casa do Povo, afinal “paletó e gravata” faz parte da praxe de aberturas de portas, mesmo que o “sujeito” seja oco em seu interior!!!

quarta-feira, 6 de abril de 2016

A INTRINCADA REDE DAS ARTES DO PÓS-GUERRA E O MUSEU DE ARTE DE SÃO PAULO

Ação e Reação do comércio de valores: direitos e obrigações

Na atualidade vemos estampada na mídia notícias que herdeiros de renomados artistas europeus tentam reaver obras que vieram para compor o acervo do Museu de Arte de São Paulo que teve todo o incentivo de Assis Chateaubriand sendo reconhecido como seu fundador juntamente com o marchand e crítico de arte italiano Pietro Maria Bardi, em 1947.

Sabe-se que muitas obras foram adquiridas em muitas partes da Europa de grandes artistas de várias tendências, por grandes museus mundiais que detém estes acervos em seus catálogos e são objetos de grande valor em exposições, merecendo toda segurança para preservar sua integridade.

Há referências (etiquetas) nas peças adquiridas para o Masp da galeria Flechtheim, mas isso não tira o direito a propriedade de quem as adquiriu. Há de se perguntar quem é o verdadeiro proprietário das obras que questionam os herdeiros na atualidade. Se houve a venda destas obras provavelmente foram feitas transações legais e regulares de comércio entre o vendedor da galeria que diante de uma quantia financeira fez o devido procedimento de constituir uma nota fiscal de venda do produto para que depois o comprador passasse por alfândegas exibindo a legalidade do produto adquirido que se tornaram integrantes do Museu de Arte de São Paulo!

Com uma visão progressista Chateaubriand foi o grande idealizador dos Diários Associados tendo participação ativa no jornalismo Nacional, sendo ainda responsável pela chegada da televisão ao Brasil, inaugurando em 1950 a primeira emissora do país, a TV Tupi e estava à frente destes negócios de arte percorrendo galerias pela Europa que tentava levantar-se da destruição da Guerra.

"Chatô"[1] sabia ser um bem humorado anfitrião, e graças ao seu senso de aproximar pessoas soube angariar para planos futuros as maiores benesses, e deste modo constituiu o acervo do Museu de Arte de São Paulo com seu amigo, marchand e jornalista italiano Pietro Maria Bardi, que dava a diretriz dizendo: 
“Nós temos que passar como dois hunos sobre a Europa devastada pela guerra comprando quadros. A nobreza e a burguesia européias estão quebradas, seu Bardi, quebradas! Se corrermos, vamos comprar o que há de melhor entre os séculos XIII e XVII a preço de banana! A firme convicção de que havia tesouros na Europa à espera de quem tivesse dinheiro na mão nascera da observação do cotidiano de franceses e ingleses, um ano antes. Chateaubriand fizera uma viagem de poucos dias à Alemanha, França e Inglaterra e voltara impressionado com o estrago e a penúria produzidos pela Segunda Guerra Mundial”. 

Um exemplo das relações com o mercado da arte na Europa em carta cabográfica  para o industrial Francisco Pignatari no endereço de sua residência na Rua Haddock Lobo:



"EM MINHAS MÃOS QUADRO VAN GOGH NOURRICE FASE HOLANDEZA CATÁLOGO COM EXPERTISE SCHOELLE CONSULTE INTERESSA CHATEAUBRIAND RESPONDA URGENTE PANAIR BRASIL PLAZA ATHENEE HOTEL PARIS ABRAÇO-PAULO SOLEDADE"

O Brasil assim, com incentivos das elites empresariais formava um acervo dos mais respeitáveis do mundo.

O Museu de Arte de São Paulo foi inaugurado em 02 de outubro de 1947: Conseguiu arrecadar 3 milhões de cruzeiros (moeda vigente no Brasil à época) da fazendeira Sinhá Junqueira, de Ribeirão Preto, do cafeicultor Geremia Lunardelli (de quem se dizia ser "o maior plantador de café do mundo") e do industrial Francisco "Baby" Pignatari, e não teve dificuldades para obter do presidente Dutra autorização para trocar os cruzeiros por dólares - quase 160 mil dólares uma soma considerael para a época. Quinze dias depois, em fervilhante festa a rigor no casarão da família Jafet, na Avenida Brasil, ele "apresentava à sociedade paulista" o produto das primeiras doações para a galeria - que agora já era chamada por todos de Museu de Arte de São Paulo:

Dois Tintoretto, um Botticelli, um Murillo

Um Francesco Francia

Um Magnasco adquiridos em Roma.

Deste modo se iniciava um acervo dos mais respeitáveis do mundo da arte.

QUEM DETÉM O DIREITO A PROPRIEDADE DO BEM PRODUZIDO E ADQUIRIDO? 
 
Bibliografia:
“O Cruzeiro”, edição de 01 de agosto de 1959, número 42, ano 31.

Morais, Fernando, 1946- Chatô : o rei do Brasil, a vida de Assis Chateaubriand. São Paulo: Companhia das Letras,1994.

Macedo, Ana Macedo de...(et al.). Baby Pignatari: O Centauro de Bronze. Porto Alegre: Metrópole, 2006.

Vide:
Baby Pignatari em Roma: Mecenas do MASP




[1] Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo. 

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Alberto Kuhlmann: Concessão de Terras para lavoura em 1891 em São Paulo

O legislador Kuhlmann e seu interesse na expansão ferroviária

Um modelo de concessão de terras ao longo das vias ferroviárias no inicio da República do Brasil apresentada na Camara dos Deputados do Estado de São Paulo em 1891 para deliberação do avivamento de produção agrícola dando oportunidade aos colonos de adquirirem terras para as condições primordiais de assentamento sendo obrigados a regras de como deveria ser o assentamento e as obrigações sujeitas ao colono para manter seus direitos à terra e quitação da propriedade. (documento com traslado conforme grafia de época)


73ª sessão ordinária em 6 de novembro

Presidência do Sr Miranda de Azevedo

O sr. Alberto Kuhlmann envia a mesa o seguinte

A comissão de agricultura, attendendo a que se faz mister activar e desenvolver a pequena lavoura do Estado, ligando o colono ao solo e tornal-o productivo;
Attendendo a que o meio mais efficaz de chegar-se a esse resultado é aproveitar ads terras situadas nas proximidades das ferro-vias;
Attendendo a que a lei nº 101, de 8 de abril de 1889, nem ao menos como ensaio foi posta em pratica:
Vem offerecer á Camara dos Deputados o seguinte projecto de lei:
O Congresso Legislativo do Estado de S. Paulo decreta:
Art. 1º Fica o presidente do Estado auctorizado a estabelecer nucleos coloniaes nas immediações de todas as estações das estradas de ferro do Estado.

·    1º O centro do nucleo não ficará em distancia superior a cinco kilometros da estação, medidos em linha recta.

·    2º Será o nucleo dividido em lotes, cuja área no mínimo terá dez hectares.

·  3º Nas estações onde não houver terrenos pertencentes ao Estado, para estabelecer os nucleos, serão comprados ou desapropriados os que não estiverem applicados á cultura ou industria e não sejam de extensão menor de cem hectares.

·     4º Os nucleos constarão de dez até 50 lotes

Art. 2º O governo mandará medir e demarcar os lotes e fazer os arruamentos necessários, remettendo á Camara Municipal respectiva copia da planta contendo o calculo da áreas.

Art. 3º Ás Camaras Municipaes compete distribuir os lotes, nas seguintes condições:

1º) aos colonos que provarem haver trabalhado em estabelecimentos agrícolas por mais de um anno, preferindo os que tiverem família;
2º) dará um titulo provisorio ao colono, contendo as condições da concessão, que são as seguintes:
a)      o colono dentro de seis mezes deve estabelecer-se no lote com uma casa provisória e ter roteado, um hectare de terra;
b)      o colono obrigado a, dentro de um anno, ter cercado todo o lote, cabendo aos vizinhos metade deste onus a cada um;
c)      o colono é obrigado a conservar até á linha do eixo as estradas que limitarem o seu lote;
d)      decorridos dois annos, o colono, com guia da Camara Municipal, pagará, na collectoria estadual do logar, a quantia de 50$000, e assim pagará dez prestações annuaes, resgistrando na Camara Municipal cada pagamento;
e)      paga a ultima prestação, a Camara Municipal dará uma guia ao colono pra o presidente do Estado, á vista desta, mandar passar o titulo definitivo;
f)       o colono poderá antecipar os pagamentos, com desconto de 5% ao anno;
g)      o colono que for não pontual no pagamento pagará mais pela mora o juro de 6% ao anno, caducando a concessão si chegar a accumular duas annuidades;
h)      o colono emquanto não tiver o titulo definitivo estará isento de qualquer imposto estadual ou municipal, salvo os sobre industria que exerça, que não a agricola;
i)        o colono que não cumprir as condições a e b perderá o direito o lote e ás bemfeitorias que houver feito, salvo caso de força maior reconhecida pela Camara Municipal que, neste caso, poderá prorrogar os prazos. N a falta do cumprimento da condição c, a Camara compellirá o colono por meio de multas de 5$000 a 20$000, fazendo afinal o serviço á custa deste.
Art. 4º Para a execução da presente lei serão applicadas as disposições orçamentárias relativas á lei nº 101, de 8 de abril de 1889.
Art. 5º Revogam-se s disposições em contrario.
S.R. Sala das sessões, 6 de novembro de 1891.
Alberto Kuhlmann, Paulino de Lima, Fabio Uchoa.

É lido, julgado objecto de deliberação e vae imprimir.

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Algacyr da Rocha Ferreira: Santo Amaro, Sua Arte Viva e os Vitrais Conrado Sorgenicht

A arte imita a vida ou a vida imita a arte?

O artista Algacyr da Rocha Ferreira nasceu em São Paulo em 03 de junho de 1937,  sendo seus pais Carlos Maria da Rocha Ferreira e Irany Cuoco da Rocha Ferreira, completando a família seu irmão Antonio Carlos da Rocha Ferreira.


Teve seu caminho artístico inicialmente direcionada pelo seu tio, o mestre laureado Joaquim da Rocha Ferreira[5] que detinha a técnica de mosaicos e pintura em mural afresco. Sempre atento nas novas tendências frequentou a Escola de Belas Artes de São Paulo  e ainda na Fundação Álvares Penteado  estudou a técnica da arte litográfica com Marcelo Grassmann[1] e Darel de Valença Lins[2].


Atuou com ilustrador do Diário de São Paulo e capas de revistas. Fez sua primeira exposição individual na inauguração da Galeria CBI, no Estado do Rio de Janeiro.


Teve o prazer de participar da pioneira e maior empresa de Vitrais do Brasil, a Casa Conrado fundada pelo artista alemão Conrado Sorgenicht[3] onde adquiriu experiência em painéis esmaltados, vitrificados, gravação por jato em areia e espelhos.

Com essa gama de experiência dos “Vitrais Conrado Sorgenicht”[4] que possuía escritório na Rua Bela Cintra, 67 e a parte de produção na Rua Clodomiro Amazonas, no Itaim Bibi, tendo participação do mosaicista seu tio Joaquim da Rocha Ferreira[5], Algacyr aprimorou-se em painéis esmaltados e aprofundou-se da Arte de Vitrais Sacro tornando-se eximiu restaurador sobre orientação da família Conrado, onde era requisitado para reposição de peças em igrejas, edifícios e bancos.

Conrado Adalberto Sorgenicht (1902-1994), neto do fundador é único dos três Conrados nascido em São Paulo. Já como Sociedade Civil Técnico Decorativa Conrado Sorgenicht Filho Ltda assume como sócia a administração da empresa sua esposa Carolina de Revoredo Sorgenicht. Aparece então a nova sociedade assinada por Conrado Adalberto Sorgenicht que também assinava Conrado Sorgenicht Filho sendo feita admissão da sócia Carolina de Revoredo Sorgenicht e Ivan Fleury Meireles.


Algacyr da Rocha Ferreira figura ainda como Sócio Fundador da Academia Paulista de Belas Artes. Em 1980, já conhecido da arte compõe a Comissão Organizadora do 1º Salão da Academia Paulista de Belas Artes. Em 1987 assumi como presidente do júri do 50º Salão Paulista de Belas Artes. Em 1997 integrou a Comissão Organizadora do 41º Salão Paulista de Belas Artes. 

Foi largamente laureado em obras que apresentou em exposições e que hoje fazem parte de coleções particulares e acervos de galerias.

Junto com vários outros artistas santamarenses fundou a Associação dos Artistas de Santo Amaro, AASA, tendo participação efetiva juntamente com Iracema de Almeida, Marli Cuoco, Eline Martiniano de Carvalho, somado a outros tantos e tendo um impulso de mérito destes artistas na gestão de Carlotta Clara Bauchmann.

Teve em todo esse cabedal a felicidade de trabalhar com Julio Guerra[6], grande artista que detinha a arte do afresco, com mosaico em alto relevo, possuindo grandes obras de vulto de grande representatividade artística, sendo Algacyr um restaurador que já compôs monumentos do referido artista.


Ainda em plena atividade artística o “professor” Algacyr leciona em seu ateliê, localizado em Santo Amaro, à Rua Elias Zarzur, 195, onde transmite a arte em bico de pena, afresco, vitrais, pastel e mosaico.
 

Essa sensibilidade artística é repartida ainda com sua esposa Miriam da Rocha Ferreira e as filhas Monica, Paula, Marina e Gabriela de onde tirou a inspiração para constituir a PMG Studio, sua empresa, onde está em franca atividade artística , sendo seu mote principal a região de Santo Amaro, que tem como inspiração.




“SANTO AMARO EM BICO DE PENA”: ALAMEDA DAS SAUDADES


(Denominação dada pelo próprio artista ALGACYR DA ROCHA FERREIRA)









Referências:

Depoimento feito em 10 DE AGOSTO DE 2015 no ateliê do artista Algacyr da Rocha Ferreira

Outras referências fixadas nas notas de rodapé

Crônica sujeita a alterações para aproximar-se da historiografia local com depoimentos de santamrenses.











[1] Marcelo Grassmann (São Simão, 1925 - São Paulo, 2013). Gravador, desenhista, ilustrador, professor. Estuda fundição, mecânica e entalhe em madeira na Escola Profissional Masculina do Brás, em São Paulo, entre 1939 e 1942. Passa a realizar xilogravuras a partir de 1943. Atua como ilustrador do Suplemento Literário do Diário de São Paulo, entre 1947 e 1948, e do jornal O Estado de S. Paulo, em 1948. Reside no Rio de Janeiro a partir de 1949, atuando como ilustrador do Jornal do Estado da Guanabara. Freqüenta, no Liceu de Artes e Ofícios, os cursos de gravura em metal, com Henrique Oswald (1918 - 1965), e de litografia, com Poty (1924 - 1998). Em 1951, recebe prêmio aquisição da 1ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão do Trianon. Em 1952, reside em Salvador, onde trabalha com Mario Cravo Júnior (1923). Participou de diversas edições da Bienal de Veneza e de São Paulo. Recebe, em 1953, o prêmio de viagem ao exterior do Salão Nacional de Arte Moderna - SNAM, e viaja para Viena, onde estuda na Academia de Artes Aplicadas.. Passa a dedicar-se principalmente ao desenho, à litografia e à gravura em metal. Em 1969, sua obra completa é adquirida pelo governo do Estado de São Paulo, passando a integrar o acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Em 1978, a casa em que nasceu, em São Simão, é transformada em museu, por iniciativa da Secretaria de Cultura, Ciência e Tecnologia de São Paulo, e tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo - Condephaat no mesmo ano. Entre 1991 e 1992, Grassmann é bolsista da Fundação Vitae, em São Paulo.

[2] Darel Valença Lins (Palmares PE 1924). Gravador, pintor, desenhista, ilustrador, professor. Estuda na Escola de Belas Artes do Recife, atual Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, entre 1941 e 1942, e atua como desenhista técnico. Muda-se para o Rio de Janeiro em 1946. Estuda gravura em metal com Henrique Oswald (1918 - 1965) no Liceu de Artes e Ofícios, em 1948. Dois anos depois, entra em contato com Oswaldo Goeldi (1895 - 1961). Atua como ilustrador em diversos periódicos, como a revista Manchete e os jornais Última Hora e Diário de Notícias. Entre 1953 e 1966, encarrega-se das publicações da Sociedade dos Cem Bibliófilos do Brasil. Com o prêmio de viagem ao exterior, recebido no Salão Nacional de Arte Moderna - SNAM do Rio de Janeiro, em 1957, viaja para a Itália, onde permanece até 1960. Ilustra diversos livros, como Memórias de um Sargento de Milícias, 1957, de Manuel Antônio de Almeida (1831 - 1861); Poranduba Amazonense, 1961, de Barbosa Rodrigues (1842 - 1909); São Bernardo, 1992, de Graciliano Ramos (1892 - 1953); e A Polaquinha, 2002, de Dalton Trevisan (1925). Leciona gravura em metal no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp, em 1951; litografia na Escola Nacional de Belas Artes - Enba, no Rio de Janeiro, entre 1955 e 1957; e na Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado - Faap, em São Paulo, de 1961 a 1964. Entre 1968 e 1969, realiza painéis como os do Palácio dos Arcos, sede do Ministério das Relações Exteriores, em Brasília.

[3]Em1874 chega a São Paulo o artesão Conrado Sorgenicht (1835-1901), vindo de Essen, região ao norte da Alemanha, local de imensas catedrais góticas, onde a guerra franco-prussiana assolara parte da Europa, aceitando a imigração em curso no Brasil, aportou com a família em Cananéia, litoral de São Paulo. Busca trabalho na capital paulista e começa uma pequena oficina onde oferece serviços de pintura de ornamentos, imitações de madeira, faixas decorativas, tapeçaria e vidros planos para vidraças. Foi surpreendido pela intensidade do sol tropical, que tornavam as cores do vidro ainda mais intenso daquela conhecida da Europa. São Paulo cresce, e o ateliê vê novos perspectivas de trabalho. Assim em 1889 fundou a “Casa Conrado”, que desenvolveu a atividade do vitral, pioneirismo no Brasil, criando ao longo do tempo mais de 600 obras espalhadas pelo país. Originária do Oriente no século 10, essa técnica ganharia espaço nos principais prédios públicos, igrejas e mansões paulistanas. A família cresceu e seguiram-se três gerações de “vitralistas”, três Conrado Sorgenicht, pai, filho e neto.
Há dois momentos distintos da elaboração dos vitrais mais significativos. O primeiro período decorre de 1920 a 1935 quando o ateliê tem a direção Conrado Sorgenicht (filho). O segundo vai 1950 a 1965, época quando assume Conrado Adalberto Sorgenicht (neto).
Nas obras do arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo possuía a marca Conrado em seus vitrais, dando leveza e arte aos projetos.

[4] A empresa foi autora dos vitrais da Estação Sorocabana, Teatro Municipal, a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, a Catedral da Sé e mais 300 igrejas brasileiras. A confecção dos vitrais do Mercado Municipal demandou a Conrado cinco anos de trabalho árduo iniciados no final da década de 1920. O ponto alto da decoração eram os 55 vitrais em estilo gótico, executados com vidros coloridos vindos da Alemanha, retratando cenas do campo. As peças eram de autoria de Conrado Sorgenicht Filho. No final dos anos 80, Conrado Sorgenicht Neto se encarregou da restauração dos vitrais que seu pai havia criado sessenta anos antes.


[5] Joaquim Ferreira da Rocha (1900: São Paulo, SP – 1965: Idem). Pintor, mosaicista e professor. Iniciou seus estudos artísticos no Liceu de Artes e Ofícios, em São Paulo.
Transferiu-se para Escola Nacional de Belas Artes, onde foi aluno de Lucílio de Albuquerque, no Rio de Janeiro. Viajou para Europa com Julio Guerra, sendo
agraciado com prêmio em arte na Itália, onde se encantou com os mosaicos bizantinos de Ravena, observando a técnica de grandes artistas na Península. Joaquim da Rocha Ferreira, em 1945, contraiu matrimônio com Bianca Maria da Rocha Ferreira na Itália. Participou, entre outras, das seguintes exposições coletivas:
1921, 24, 32 e 36 – Salão Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro (menção honrosa na edição de 1921, medalha de bronze na de 1924, medalha de prata na de 1932, prêmio de viagem ao exterior na de 1936).
1948, 53, 54, 58, 60, 62 e 64 – Salão Paulista de Belas Artes, Galeria Prestes Maia, São Paulo (pequena medalha na edição de 1948 e prêmio viagem ao exterior na de 1962). Foi lembrado, postumamente, na seguinte exposição:
1965 – Salão Paulista de Belas Artes, São Paulo, medalha de honra.

Fontes
LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. p. 448, Artlivre, Rio de Janeiro, 1988.


[6] Júlio Guerra (1912- 2001: Santo Amaro/SP). Escultor e pintor
Iniciou seus estudos na Escola de Belas Artes de São Paulo, em 1930, onde foi aluno de Amadeu Zani. Receberia influência de renomados escultores, como Vitor Brecheret, auxiliando-o na escultura Duque de Caxias de 1942 a 1946, além de Bruno Giorgi e Ernesto de Fiori, mas não aderiu inteiramente aos postulados estéticos dessa corrente, buscando outras alternativas de formas. Em 1938 recebeu do governo paulista um prêmio de viagem ao exterior, o que lhe permitiu ir a Itália e difundir a arte na América do Sul. Em 1946 conquistou a medalha de ouro no Salão Paulista de Belas Artes. Nas décadas de 1950 e 1960 participou de várias edições do Salão Paulista de Arte Moderna, nas quais recebeu diversas premiações, e da Bienal Internacional e São Paulo. Produziu esculturas que ocupam espaços públicos na capital paulista, como do bandeirante Borba Gato, na Avenida Santo Amaro; o mural do Teatro Paulo Eiró, na Avenida Adolfo Pinheiro; e a estátua Mãe Preta, no largo do Paissandu, o Monumento aos Romeiros de Santo Amaro, na Praça Dr. Francisco Ferreira Lopes, na Avenida João Dias. Obras de sua autoria integram os acervos da Pinacoteca do Estado de São Paulo e do Museu de Arte Contemporânea, em Figueira da Foz, em Portugal. Principais exposições coletivas: 1941-46 – Diversas edições do Salão Paulista de Belas Artes, São Paulo, SP – pequena medalha de ouro (1946). 1951-66 – Diversas edições do Salão Paulista de Arte Moderna, São Paulo, SP – grande medalha de ouro e prêmio viagem ao país (1956). 1951-61 - 1ª, 2ª, 3ª, 5ª e 6ª edições da Bienal Internacional de São Paulo, São Paulo, SP.
Fontes
CAVALCANTI, Carlos. Dicionário Brasileiro de Artistas Plásticos. Brasília: MEC/INL, 1974.
MATTOS, Paula de Vincenzo Fidelis Belfort. Júlio Guerra e o Modernismo. Integração. Ano X, n. 38, 2004.