quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Paraventi e o Clube de Campo de São Paulo no Lago de Guarapiranga/SP

Ideologias do poder: Qual a melhor para o povo?

O Barão de Itararé, Apparício Torelly incorporaria em São Paulo um personagem exuberante à sua coleção de amigos, o senhor Celestino Paraventi, proprietário de várias casas elegantes que representavam o Café Paraventi, e dono da primeira torrefação de café de São Paulo, herdada do pai. 

Possuía espírito empreendedor e criativo, sendo pioneiro em marketing numa época em que a publicidade dava seus primeiros lampejos ele ampliava a C. Paraventi & Cia Ltda e a Café Paraventi S.A na Estrada de Santo Amaro, nº 601, além de ampliar o setor de torrefação situada na Alameda Barão de Limeira, nº 652. No seu rol de amigos estavam grandes artistas da época como Anita Malfati, Volpi, Di Cavalcanti.
Café Paraventi,  no Palacete Piratininga, esquina da rua Líbero Badaró com Avenida São João (casa Paraventi ao lado do Café Colombo) em 1916.(Crédito: em pesquisa)

Celestino Paraventi gravou pela Odeon um disco com as valsas “Tardes de Lindoia” e “Longe dos Olhos”, tendo nível cultural estava sempre cercado por belas mulheres, e se interessava por disputas de cavalos de corrida e ainda por carros esportivos. 
                                                      Crédito: chiadofone.blogspot.com.br

Celestino Paraventi frequentava o apartamento de Apporelly (Apparício Torelly, O Barão de Itararé) na Rua Major Quedinho, que ainda recebia integrantes da elite paulista, como Paulo Prado e sua esposa francesa Marjorie Prado, Caio de Alcântara Machado, fundador da primeira agência de publicidade de capital nacional, e Lila Byington, esposa do futuro governador do estado de São Paulo Paulo Egídio Martins.

O Almanaque publicava o anúncio do Café Paraventi:

“Alegria de viver: revigora o organismo e tonifica os nervos: o aroma do Brasil”.

Importou a primeira máquina a vapor da Itália para ser incorporada no espaço da rua XV de Novembro, onde se encontravam poetas, atrizes, pintores que pediam com freqüência a novidade: “Expresso, por favor!”

O excêntrico milionário Celestino Paraventi herdara do pai dezenas de imóveis espalhados pela cidade de São Paulo e uma indústria de torrefação de café onde começara a produzir mais uma modernidade européia: café enlatado a vácuo, que durava meses sem estragar. Paraventi era o porto seguro a quem recorriam os intelectuais pobres, os atores desempregados e os boêmios em geral quando em apuros financeiros, o que lhe valeu o apelido de “Salvador”. (Morais, p. 37)

Paraventi tinha suas convicções políticas e merecia toda atenção da polícia política. “Seu nome figura em nossos arquivos desde 1935, quando foi preso por ocasião da Intentona Comunista. Não foi processado por escassez de provas”, dizia um documento policial a respeito do empresário. Em sua ficha constava: “Adepto do credo de Moscou”. Teria Paraventi contribuído com “grandes somas de dinheiro” os partidos do PCB (Partido Comunista Brasileiro) e ANL, (Aliança Nacional Libertadora) embora, segundo a polícia ele não era visto com freqüência ao lado dos comunistas, parecendo ter “se afastado daquele ambiente”.

Paraventi possuindo suas convicções ideológicas deu guarita a Luis Carlos Prestes e sua esposa Olga Gutmann Benário Prestes[1] em sua residência em Santo Amaro como consta:

“Paraventi recolheu o casal e sua bagagem no Largo do Arouche e minutos depois iam a bordo de um luxuoso automóvel Lincoln do ano, para a casa de campo que possuía no então distante bairro de Santo Amaro, às margens da Represa Guarapiranga” (Morais, p. 38)

“Durou pouco o veraneio de Olga e Prestes na confortável casa de Paraventi às margens da Represa Guarapiranga”. (Morais, p.44)

Quando perguntavam a Paraventi se ele mantinha relação orgânica com o partido comunista, ele respondia com uma gargalhada:
_Eu não tenho ligação com o Partido. O Partido é que tem ligação comigo! (Morais, p. 37)

O Clube de Campo de São Paulo e as terras de Celestino Paraventi

Corria o ano de 1937. São Paulo tinha pouco mais de 1,5 milhões de habitantes; a passagem do bonde, o cafezinho e o jornal custavam 200 réis.

Nesta época reunia-se na Rua Uruguai, número 25, região do Jardim América, os amigos do proprietário da residência Avary dos Santos Cruz, para informalidades habituais como bater um papo de vários assuntos de cunho geral, político e econômico, jogar snooker e bebericar, onde a descontração fluía e as senhoras presentes jogavam cartas.   Aventou-se certo dia a possibilidade da criação de um clube de campo para um contato mais próximo com a natureza, uma agremiação nos moldes que já eram promovidos por americanos e europeus. Deste modo em 3 de julho de 1937 assumia corpo a ideia com a iniciativa do empreendimento cabendo a Avary do Santos Cruz, Euzébio B. de Queiroz Mattozo, Fernando Gomes, Luiz Assumpção Fleury e Luiz Romero Sanson, este último grande empreendedor que foi responsável pela criação do Aeroporto de Congonhas, a Auto Estrada S.A., depois denominado de Washington Luís, que ligava São Paulo à Santo Amaro e a cidade Satélite de Interlagos, projeto em conjunto com o urbanista francês Alfred Agache.

Lista dos presentes à primeira reunião:(Vespúcci, Ana Cândida Johas; Fialdini, Rômulo, p. 16)

O projeto para construir-se um clube de campo era ambicioso para a época que previa-se uma área física de duzentos mil metros quadrados, junto a Represa Velha de Santo Amaro, depois denominada de Guarapiranga, e que era administrada pela Light and Power, com implantação de várias modalidades como equitação, natação, remo, tênis, golfe e iatismo. 

Seria formada uma sociedade de sócios proprietários em número de quinhentos e os demais com direito a usufrutuários, com pagamento de joia de dois contos de réis (2:000$000) e anuidade de  trezentos mil réis(300$000). 
Cheque de Celestino Paraventi:(Vespúcci, Ana Cândida Johas; Fialdini, Rômulo, p. 21)

A reunião ocorreu no restaurante Biarritz com a presença de muitos adeptos que engrossavam a lista de presença. Luis Romero Sanson propôs uma grande área nos arredores da Represa, protegida do vento sul, além de um grande projeto de urbanização com plantas da região. Houve unanimidade na aprovação da ideia e onde estava presente o grande empresário do ramo do café, Celestino Paraventi, que possuía uma gleba de 1.500.000 de metros quadrados e já tinha pequena infra-estrutura e benfeitorias, como casa de campo, restaurante, piscina, cocheiras com vasta arborização. Havia pequenos lotes conjugados à propriedade de Paraventi além de gleba pertencente a própria Light que se tornava resistente em ceder a área. Em julho de 1937 o subgerente do Banco Commercial, Luiz Assumpção Fleury, encarregado de acompanhar as subscrições já tinha em mão 430 subscrições em setembro e atingir os número proposto de 500 subscrições faltavam poucos adeptos.

Em 26 de setembro de 1937 a comissão executiva apresentava seu relatório final na assembléia geral realizada na Associação Auxiliadora das Classes Laboriosas, situada na Rua do Carmo, número 25(atual ROBERTO SIMONSEN). Euzébio B. de Queiroz Mattoso abriu a sessão às 15 horas descrevendo o empreendimento, justificando todas as decisões tomadas até aquele instante e sugeria o nome da entidade de Clube de Campo de São Paulo.

Em 20 de outubro de 1937 na Rua Boa Vista, número 73, 5º andar, a diretoria prestou contas das aquisições de Celestino Paraventi, duas glebas, uma com dez alqueires, constituída pela chácara, e outra com onze alqueires, nas margens da represa onde funcionava o restaurante Biarritz. Somado a essas duas glebas adquiriu-se quatro alqueires de José Schunck.

São Paulo deste modo ganhava mais uma área de lazer somada a Santos e Cantareira: Santo Amaro!



Bibliografia:

Figueiredo, Claudio. Entre Sem Bater: A Vida de Apparício Torelly, O Barão de Itararé. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2012

Morais, Fernando. Olga. São Paulo: Editora Alfa Ômega, 1985

Vespúcci, Ana Cândida Johas; Fialdini, Rômulo. Clube de Campo de São Paulo. São Paulo: Empresa das Artes, 1991

MENDES, Giovana Oliveira. OLGA, DE FERNANDO MORAIS: Memória Histórica de uma Vida sob Regimes Autoritários. REVISTA MEMENTO V. 4, nº 1, jan.-jun. 2013. Revista do mestrado em Letras Linguagem, Discurso e Cultura – UNINCOR




[1] Olga Benario Prestes, grávida de sete meses, foi embarcada no navio La Coruña, no dia 23 de setembro de 1936, rumo a Hamburgo, no norte da Alemanha, ocorrido mesmo sendo contra todas as leis internacionais de navegação, graças à ordem de embarque dada pelo presidente Getúlio Vargas. (MORAIS, p. 218).

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