quinta-feira, 23 de maio de 2013

O Cemitério de Santo Amaro e Bento do Portão!

“CAMPO SANTO” DE SANTO AMARO


Os cemitérios foram decretados pelo Imperador do Brasil, Dom Pedro I, em 1828, por uma contingência necessária de se evitar que os fiéis defuntos de determinada ordem religiosa fossem depostos nas dependências das referidas paróquias em determinada Freguesia[1]. Os primeiros cemitérios foram criados para manterem-se próximos das igrejas, ou seja, ao redor destas, onde serviam determinada congregação e estavam em volta destas matrizes ou capelas. Logicamente com a expansão urbana houve a necessidade de ampliar estas áreas físicas depositárias, e no caso o poder municipal achou por bem determinar locais apropriados para este cunho específico, quebrando deste modo o vinculo exclusivo de determinada irmandade, (em Santo Amaro, em 1836 estavam registradas quatro irmandades: do Santíssimo Sacramento, de São Miguel, das Almas e do Rosário, CALDEIRA, p.66) não mais cabendo todo o ritual do féretro, sendo às exéquias unicamente parte do serviço religioso dentro ou ao redor das paróquias, assumindo a deposição do corpo a sepultar ao poder municipal de cada cidade.


Cumprindo determinações a respeito e tendo em vista unicamente o sentido da saúde local houve por bem aceitar as determinações e a interferência sanitarista.
O século 19 todas as doenças diagnosticadas estavam relacionadas às febres temíveis e em São Paulo não era diferente, espalhando a febre palustre, a terçã, tifoide, inflamatória, intermitente ou remitente e a perniciosa, numa gama enorme de ainda desconhecidas doenças que se somavam a falta de higiene que alastrava também a peste bubônica e a varíola que eram temidas pela população urbana de concentração mais elevada[2]

O pensamento da época sustentava que as aglomerações de cortiços favoreciam maior foco de epidemias, pois estes locais concentravam um grande número de pessoas em ambientes insalubres, sendo grande foco de contágio. As anemias contribuíam para que os óbitos crescessem assustadoramente, pois as parcas sustentações alimentares agravavam o enfraquecimento e alastravam as doenças, que atacavam os mais fracos, e, neste grupo muitas crianças eram afetadas em número alarmante.

Havia correntes que se preocupavam com a higienização, que demandavam uma nova concepção de espaço urbano e de suas infraestruturas, exigindo um modelo de combate em locais segregados, fileiras de grande massa operária, exigindo saneamento básico compatível com o crescimento. As latrinas não mais deveriam despejar seus detritos a céu aberto e as águas deveriam ter tratamento compatível às necessidades locais. As teorias parlamentares campeavam nas repartições públicas, sem embasamento suficiente para combate eficaz das moléstias mais comuns da época.

Em decreto de 14 de setembro 1891, extinguiu-se a “Inspetoria de Higiene de São Paulo”, reorientando os serviços públicos de saúde. Novas estruturas evoluíam quanto mais se necessitava o combate às doenças mais comuns entre a população.

O serviço Sanitário foi instituído em 28 de outubro de 1891, através da lei nº 12. 

Em 18 de julho de 1892, a lei nº 43 regulamentava o modelo sanitarista, criando o “Laboratório de Análises Químicas” para controle de alimentos, o Laboratório de Bacteriologia, o Instituto Vacinogênico para os trabalhos de produção de vacina antivariólica, e o Laboratório Farmacêutico, para produção de medicamentos.
Com a larga escala de navios aportando em Santos com a alta demanda de imigrantes de várias partes do mundo que afluíam para a Cidade de São Paulo do século 19, e deslocamento de populações, houve a preocupação com a peste bubônica, sendo os ratos os agentes transmissores da peste, houve precauções visando que o mal chegasse a capital paulista.

Cemitério de Santo Amaro

O Cemitério de Santo Amaro possui sua entrada mais antiga localizada na Rua Carlos Gomes, sem numeração e a entrada oficial à Rua Ministro Roberto Cardoso Alves, nº 186, na esquina da Rua Padre José de Anchieta. 

Deste modo houve a criação do Cemitério de Santo Amaro, inaugurado em 9 de maio de 1856, (o Cemitério da Consolação, considerado o primeiro cemitério da cidade de São Paulo foi inaugurado 15 de agosto de 1858) quando Santo Amaro possuía autonomia administrativa (Cidade de 1832 a 1935) cumprindo o artigo 66, da Lei Régia de 1º de outubro de 1828, exigindo que a deposição dos corpos dos fiéis defuntos não deveriam ser colocados dentro das Igrejas, sob assoalhos onde se mantinham as referidas campas, pois com o tempo exalava odores insuportáveis pela putrefação da decomposição orgânica sendo esta prática  um grande risco a saúde.
Cópia de documento de 1828(fração)

O primeiro enterro do Cemitério de Santo Amaro conforme registros historiográficos ocorreu em 5 de janeiro de 1857. Logicamente com a rotatividade na área física do cemitério não houve a preservação do espaço destes primeiros túmulos depositários, ficando como indício do século 19 a lápide do Comandante José Foster, que participou da Guerra da Cisplatina e que nasceu em Wertemberg na Alemanha, em 27 de setembro de 1800, vindo a falecer em 14 de outubro de 1886 em Santo Amaro, São Paulo, Brasil.

Muita história local foi depositada neste “campo santo”. Além de muitas atribuições exercidas em Santo Amaro coube-lhe ainda ser o primeiro administrador foi Adolpho Alves Pinheiro de Paiva (1814-1880).

Através de observação no Cemitério de Santo Amaro é possível conhecer sepulturas de importantes personagens santamarenses. Deste modo podem- ser vistas lapides de famílias tradicionais que muito contribuíram para o desenvolvimento da Cidade de Santo Amaro: 


Araújo, Moraes, Zillig, Sgarbi, Luz, Lamera, Diniz, Lang, Foster, Hessel, Barroso, Zenha, Schmidt, Guerra, Rivellino, De Luca, Amaro, Borba, Roschel, Klein, Piccarolo, Schunck, Bechara, Grassmann, Fares, Martins, Carvalho, Abrantes, Mendes, Czernik, Cortez, Petrillo e tantos outros nascidos nestas paragens ou imigrados que vieram de lugares diversos que podem ser aqui acrescidos e que merecem sempre o réquiem e o silêncio do respeito de todas as gerações demarcada pelo Cruzeiro, farol de luz entre os que estão aqui e aos que tiveram “passamento” pela vida. 

Bento do Portão: Santo para o povo!

Antônio Bento nasceu em 20 de janeiro de 1875 no estado da Bahia, Brasil. 


Tornou-se figura de devoção em Santo Amaro. Bento do Portão como se tornou conhecido, viveu em boa parte de sua existência em Santo Amaro espalhando bondade, com labor da vida diária, ora carregando lenha, fonte de energia local e da cidade como um todo, ora sendo o “agueiro” recolhido das minas d’água da Iguatinga, recebendo as benesses populares desta labuta, tendo como “morada” o portão do Cemitério de Santo Amaro ou acomodava-se diante da ombreira e verga das grandes portas das residências dos domicílios de onde usufruísse de seu sustento, sendo essa casa abençoada pela benevolência. 

Veio a falecer em 29 de junho de 1917 sendo sepultado no Cemitério de Santo Amaro e em sua exumação após o período de sete anos, seu corpo permanecia intacto. Seu túmulo, no Cemitério de Santo Amaro possui alta frequência, sendo diferenciada dos demais por uma estrutura coberta próxima a capela. Os leigos religiosos tem grande apreço nas interseções e através de orações elevam graças ao Deus Criador, sendo Bento do Portão o instrumento elevado pela força do Espírito Santo, um dia, quem sabe, sua beatificação, cabendo à prova taumaturga, pela fé cristã, torne-se um grande acontecimento de santidade em Santo Amaro.

Referências:

Colaboração do administrador do Cemitério de Santo Amaro, Amaro Machado
Trabalho de Conclusão de Curso: Elisandra Martins e equipe- Universidade Unisa
Revistas do Arquivo Municipal. Publicação da Divisão do Arquivo Histórico, do Departamento de Cultura, da Secretária de Educação e Cultura, da Prefeitura de São Paulo.
GUERRA, Juvêncio, Guerra Jurandyr. Almanack Commemorativo do 1º Centenário do Município de Santo Amaro.São Paulo: Estab. Graphico Rossolillo - p. 79.

CALDEIRA, Netto Caldeira. Álbum de Santo Amaro. São Paulo: Organização Cruzeiro do Sul-Bentivegna & Netto, 1935.


[1] Freguês: Da expressão latina fillius eclesiae, filho da igreja, logo a Freguesia era uma divisão administrativa pequena dentro dos municípios, (“concelhos”, em Portugal) civil ou eclesiástica. O território eclesiástico no Brasil são distintos aos territórios político-administrativos. 
[2] Em Santo Amaro, não havia um perigo concentrado, pois existiam poucos “fogos” com uma população um pouco maior do que dez mil habitantes (em 1876/77, apenas 426 fogos (casas), em uma área total de 40 léguas quadradas, CALDEIRA, p.73).

segunda-feira, 20 de maio de 2013

A OBRA “CRUZ DE ANCHIETA” na PRAÇA SANTA CRUZ em SANTO AMARO/SP

VICENTE LAROCCA E JOSÉ WASTH RODRIGUES


Muitos artistas que norteiam obras por São Paulo foram integrantes da Escola de Belas Artes de São Paulo, iniciadas suas atividades em 1925, fundada por iniciativa de Pedro Augusto Gomes Cardim[1] juntamente com outros colaboradores. Foram sujeitos e objetos para análises historiográficas para o desenvolvimento do patrimônio do “monumento-documento” objetivo primordial para um reavivar o espaço urbano e sua valorização de uso comunitário.

VICENTE LAROCCA, AUTOR DA ESCULTURA[2] CRUZ DE ANCHIETA.


Vicente Larocca foi o artista responsável pela obra Cruz de Anchieta juntamente com José Wasth Rodrigues, que criou a parte artística dos azulejos, conjunto idealizado em 1938 e localizado na Praça Santa Cruz, com seu frontispício voltado para a Avenida Adolfo Pinheiro, em Santo Amaro.

Vicente Larocca era professor catedrático e depois diretor da Escola de Belas Artes de São Paulo, lecionando modelagem, escultura, anatomia e fisiologia. Foi organizador de diversos Salões Paulistas de Belas Artes de São Paulo, influenciando novos escultores. Larocca seguia a base da escola clássica, buscando reproduzir os traços das linhas e curvas do corpo humano, nas proporções do Homem Vitruviano. Consagrou-se no Brasil e no exterior do século XX. Nasceu em São Paulo, em 2 de janeiro de 1892.
Estudou no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, com os renomados profissionais Fernando Caldas e Antonino Matos. Larocca foi professor da Escola de Belas Artes de São Paulo, lecionando escultura e talho direto[3], o qual era especialista. É autor da “Introdução a Modelagem” e “Anatomia Artística do Corpo Humano”. 

Participou em Exposições de Belas Artes na década de 1920, no Estado do Rio de Janeiro. Participou do Salão Paulista de Belas-Artes, conquistando as medalhas de ouro de 1943 e 1958, além do prêmio instituído pela prefeitura de São Paulo em 1946 e 1956, o segundo prêmio do concurso Euclides da Cunha em 1946, o premio Governo do Estado de São Paulo em 1954, 1957, 1958 e 1960. 

Em 1958, participou do II Salão Pan-americano de Arte, comemorativo do Cinquentenário do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. No seu currículo, além dos prêmios recebidos, consta que exerceu por diversas vezes funções como Membro da Comissão de Seleção e Premiação no Salão Paulista de Belas Artes e, em 1934, foi membro da Comissão Organizadora do 1º Salão Paulista de Belas Artes, onde apresentou as seguintes obras: Mulher, Serenidade, Pedro Alexandrino, Inocência e Cabeça de Criança.

Autor de esculturas e monumentos como: Monumento aos Mortos da Revolução de 1924 que se encontra no pátio do Quartel da Luz, em São Paulo; Monumento Cruz de Anchieta na Praça Santa Cruz, em Santo Amaro, São Paulo, Monumento em Homenagem a Baden Powel, na Praça da República, em São Paulo, Monumento Comemorativo do Tricentenário de Ubatuba. Busto de Pedro Alexandrino, e Serenidade, na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Seguem outras obras no Rio de Janeiro; Caracas, Venezuela.

Vicente Larocca faleceu em São Paulo, em 27 de julho de 1963.

JOSÉ WASTH RODRIGUES, AUTOR DOS AZULEJOS DA CRUZ DE ANCHIETA.

José Wasth Rodrigues (1891-1957) foi pintor, desenhista, ilustrador, ceramista, professor e historiador, (publicou o “Documentário Arquitetônico”, em oito volumes) reintroduzindo a tradição de pintura em azulejos nas obras de arte públicas de São Paulo. Executou painéis decorativos para os monumentos que ornamentam a Calçada do Lorena e, nos anos de 1920, realizou os monumentos revestidos de azulejos no Caminho do Mar ou Estrada Velha São Paulo-Santos.

Wasth Rodrigues atuou em parceria com Vicente Larocca na elaboração dos azulejos da obra da Cruz de Anchieta de 1938, localizado na Praça Santa Cruz em Santo Amaro, e com Roque de Mingo em 1927 no projeto do Monumento Vitórias Esportivas na Europa, próximo ao Clube Paulistano, no Jardim Europa, em São Paulo.  

Na “Cruz de Anchieta” os azulejos representam os ensinamentos do Padre José de Anchieta com os nativos e o engenho de ferro de Santo Amaro, o primeiro das Américas, de 1607. 

Existiam brasões que representam as armas da família de Anchieta as armas de Santo Amaro. (furtado) 

Contribuiu na reforma do Largo da Memória, no primeiro monumento da cidade de São Paulo, construído em 1814, monumento mais antigo da cidade de autoria de Vicente Gomes Pereira e Daniel Pedro Müller, implantando novo chafariz, escadarias e azulejos decorativos com o brasão da cidade, escolhido por concurso público, vencido em parceria com Guilherme de Almeida no ano de 1917. 

Em 1919, integrando as comemorações do Centenário da Independência, o arquiteto Victor Dubugras e o artista plástico José Wasth Rodrigues, elaboraram um projeto para o Largo da Memória, que incluía a construção de um chafariz e de escadarias. Nos azulejos decorativos da obra vemos o brasão da cidade, escolhido por concurso público em 1917 e vencido pela parceria Guilherme de Almeida e Wasth Rodrigues.
 
Obras  de José Wasth Rodrigues em bico de pena retratando Santo Amaro/SP (Revista Interlagos)





Vide mais em:

O pedestal “Marco Zero” de Santo Amaro e a Ilha dos Amores da Rua 25 de Março, em São Paulo.



Bibliografia:

PONTUAL, Roberto. Dicionário das artes plásticas no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969.

SÃO PAULO (Cidade). Prefeitura Municipal. Secretaria Municipal de Cultura. Departamento do Patrimônio Histórico. Divisão de Preservação. – Catálogo das obras de arte em logradouros públicos de São Paulo: Regional Sé. São Paulo: Departamento do Patrimônio Histórico, 1987.

MODERNELL, Renato. Belas Artes 75 anos. São Paulo: Faculdade de Belas Artes
de São Paulo, 2001.

ANDRADE, Mário de. Evocação de Gomes Cardim. São Paulo: Faculdade de Belas
Artes de São Paulo, 1995.

http://www.muba.com.br/pdf/cidade-academia.pdf
Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 28 ago. 1923, p.5.
Departamento do Patrimônio Histórico – www.prefeitura.sp.gov.br


[1] Gomes Cardim fundou a “Academia de Belas Artes” que passou a denominação de “Escola de Belas Artes de São Paulo”, em 1932, ficando responsável pelo acervo da Pinacoteca do Estado, sendo Gomes Cardim seu diretor até 1939.

[2] Escultura – é um meio de expressão que cria formas plásticas em volumes ou relevos, tanto pela modelagem de substâncias maleáveis e/ou moldáveis, como pelo desbaste de sólidos ou pela reunião de materiais e/ou objetos diversos. Fonte:
Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. “Peculiarmente situado na junção entre repouso e movimento, entre o tempo capturado e a passagem do tempo. É dessa tensão, que define a condição mesmo da escultura, que provém seu enorme poder expressivo”.
Fonte: KRAUSS, Rosalind.  Caminhos da escultura moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1998, p. 6.

Granito – uma rocha ígnea de grão grosseiro, composta essencialmente por quartzo e feldspatos alcalinos, tendo como minerais acessórios freqüentes biotite, moscovite ou anfíbolas. A cor negra variavelmente impregnada na matriz das rochas silicatadas é conferida pelos minerais máficos (silicatos ferro-magnesianos), sobretudo anfíbolas (hornblenda) e micas (biotite), chamados vulgarmente de “carvão”.
Fonte: pt.wikipedia.org/wiki/Granito.

[3]Talho direto: “O processo de esculpir pelo talhe direto consiste em retirar lentamente o material da pedra. As técnicas usadas podem ser o estilhaço, quando a pedra for de tamanho superior à forma desejada pelo artista; desbaste retirando camadas com a utilização do ponteiro, uma ferramenta que permite retiradas de matérias que vão desenvolvendo o processo de esculpir; e o uso do cinzel ou gradim, (Instrumento de escultor para acabar de alisar a pedra).ferramentas usadas para definir as formas e texturas da obra e que permitem modelagens mais minuciosas de tamanho superior à forma desejada”. Fonte: SANTAMERA, Camí. A escultura em pedra. Lisboa: Estampa, 2001.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Fundição de Val d'Osne e o Parque Buenos Aires, Bairro de Higienópolis, São Paulo.

Produção e Reprodução historiográfica


Investigação deve existir sempre que as provas não são consistentes. Isso acontece quando os depoimentos deixam dúvidas, e deste modo deve-se recorrer a novos parâmetros para elucidar e comprovar os desvios investigativos anteriores. Historicamente devemos sentir cada momento e fazer a diferença entre reprodução e produção histórica. Quando reproduzimos com critérios de “copistas” podemos criar situações repetitivas de fatos que não condizem com o real, aquilo que é palpável de fato, e deste modo retransmitimos constantes enganos que são repassados sem questionamentos. As fontes devem ter embasamento de pesquisa e possuir critérios analíticos.

O objetivo desta explanação é demonstrar que o campo investigativo diz respeito às duas peças da fundição francesa Val d’ Osne que estão disponíveis a visitação pública no Parque Buenos Aires, em Higienópolis, na Avenida Angélica, altura do nº 1500, São Paulo. 

 OBSERVATÓRIO ASTRONÔMICO – 1931

O espaço urbanístico de pouco mais de 20 mil metros quadrados, foi criado a partir de uma área que pertencia a Germaine Lucie Burchard, filha de Martin (também chamado Martinho) Buchard, (Em 1890, esse comerciante alemão, juntamente com Victor Nothmann compraram parte da região do Barão de Ramalho e iniciaram o loteamento das terras, primeiramente denominado “Boulevard Burchard”, mas que não vingou sendo reconhecido mesmo como Higienópolis) incorporada ao município pela Prefeitura em 1912, com o intuito de preservação e conservação da vista do Vale do Pacaembu como um mirante e onde foi instalado anteriormente um telescópio, como observatório de , onde hoje há a escultura Mãe[1], do professor da FAUUSP e escultor, Caetano Fracaroli, confeccionada em mármore com massa física de 20 toneladas.

 Mãe, obra de Caetano Fracaroli


OBSERVATÓRIO ASTRONÔMICO da POLI – 1933. Foi demolido em 1968. A Praça Buenos Aires se transformou em Parque e, no lugar do observatório, foi construída uma área de lazer infantil e instalada a obra "Mãe" (crédito das fotos: em pesquisa)

Na gestão do prefeito Raymundo da Silva Duprat ( Barão Duprat- 1911 a 1914), o urbanista e paisagista francês Joseph Antoine Bouvard foi contratado com a finalidade de projetar a construção de parques e praças que embelezassem a cidade, dando continuidade em suas intervenções urbanas no governo de Washington Luís (1914-1919). Seu trabalho, que ficou conhecido como Plano Bouvard tinha como colaborador em sua equipe outro paisagista francês, Cochet, que resultou na implantação de um estilo conhecido com “paysager”  desenvolvida com um refinado paisagismo somando o setor lúdico, propondo o lazer no uso destes espaços livres como lazer de massas, mantendo os padrões de higiene da expansão das grandes cidades mantendo a estética urbana além de propiciar as condições de filtração do ar da cidades em franco desenvolvimento industrial. 

Dois grandes jardins públicos, um no Vale do Anhangabaú e outro na Várzea do Carmo, posteriormente denominado como Parque Dom Pedro II entregue na gestão de Firmiano de Morais Pinto (1920-1926) em comemoração ao Centenário da Independência e onde foi implantada a obra “Jovem Pajem”. 

A fundição francesa Val d’Osne também colaborou com duas obras do Parque Buenos Aires, em Higienópolis, onde estão localizadas as obras “Leão Lutando com uma Serpente” e “Veado Lutando com Três Tigres” também da fundição Val d’Osne implantadas no local e encomendadas pelo paisagista francês Bouvard que em 1912, que concebeu a Praça Higienópolis, que depois de um ano passou a denominação Praça Buenos Aires, alterada para Parque no final de 1987.
“Leão Lutando com uma Serpente”
“Veado Lutando com Três Tigres”
 
Em Relatório de 5 de maio de 1911, Bouvard sugere a construção de três parques na cidade de São Paulo, o da Várzea do Carmo, o do Anhangabaú e a Praça Buenos Aires. “Lugares de passeio para os habitantes, focos de higiene e de bem estar, necessário à saúde pública, tanto moral como física”.

O urbanista e paisagista francês Joseph Antoine Bouvard, havia sido Diretor do Serviço de Arquitetura, passeios e Jardins de Paris, havendo participado das feiras internacionais de Paris, Viena e Londres, e possuía dados de planejamento urbano que trouxe na bagagem em suas intervenções urbanas em Buenos Aires, Argentina e São Paulo, Brasil.

Obras  “Leão Lutando com uma Serpente” e “Veado Lutando com Três Tigres” da Fonderies du Val d'Osne foram produzidas em ferro fundido e não em bronze fundido!!!

ACIMA: obras “Leão Lutando com uma Serpente” e “Veado Lutando com Três Tigres”  da Fundição Val d’Osne, fabricadas em ferro fundido cinzento


O acervo da fundição francesa Val d’ Osne, na cidade de  São Paulo é pequeno, mas mesmo assim pouca importância é dada às duas obras que estão depositadas no parque Buenos Aires: “Leão Lutando com uma Serpente” e “Veado Lutando com Três Tigres”, e que aparecem em vários sites e com as denominações simplificadas de “Leão Atacado” e “Veado Atacado” e produzidas, ambas, em bronze o que não condiz como material utilizado, pois as referidas peças foram produzidas em ferro fundido!

A Fundição Val d’ Osne que perpetou a arte em peças fundidas em ferro tinho o nome pomposo e merecido de “Société Anonyme des Hauts-Forneaux et Fonderies du Val d'Osne, idealizada com autorização Édito Real da França em 5 de abril de 1836 e foi sem dúvida a empresa que embelezou muitas praças e parques pelo mundo afora, inclusive dando graça a Praça-Parque Buenos Aires, em Higienópolis, com suas duas obras “Leão Lutando com uma Serpente” e “Veado Lutando com Três Tigres”, trazidas a pedido do paisagista francês Joseph Antoine Bouvard para complemento urbanístico em São Paulo.

Outras Obras do Parque Buenos Aires, em Higienópolis
Dom Bernardino Rivadávia, de J.C. Oliva Navarro.
Escultura do Lago, Figura mitológica de casal de seres marinhos: Anfitride e Tritão.
Escultura "Emigrantes"(réplica),de Lasar Segall.
Herma do ex-prefeito Firmiano de Morais Pinto, de Luiz Morrone.
Nascer, de Daisy Nasser.
O Tango, de Roberto Vivas.




Vide complemento no blog:


A Fundição de Val d'Osne e a Aurora de Santo Amaro, SP 

http://carlosfatorelli27013.blogspot.com.br/2013/04/a-fundicao-de-val-dosne-e-aurora-de.html


Bibliografia:

Niemeyer, Carlos Augusto da Costa. Parques infantis de São Paulo: Lazer como expressão de cidadania. São Paulo: Annablume- FAPESP, 2002.

Homenagem aos Mestres: Esculturas na USP. Comissão de Patrimônio Cultural da USP. EDUSP. 2002.

Guia dos Parques Municipais de São Paulo:

Bairro de Higienópolis. Cadernos Cidade de São Paulo. Editor: Instituto Cultural Itaú. São Paulo. 1996.


Sites auxiliares:

 
http://smdu.prefeitura.sp.gov.br/historico_demografico/1900.php

http://www.monumentos.art.br/monumento/mae


 


[1] Idealizada para homenagear as mães do Brasil, a escultura foi criada em 1965, mas somente inaugurada em 13 de maio de 1970. Para o artista, a escultura deveria estar exposta na parte baixa da praça, próxima ao espelho d’água, rodeada de grama, “como se brotasse da terra”, e não no alto da área circundada por concreto.