Locais com nomes indígenas na cidade de São Paulo
(História original publicada em 04/05/2012 no site São Paulo Minha Cidade, da Secretaria da Cultura)
A cidade de São Paulo foi oficiosamente registrada
como "São Paulo dos Campos de Piratininga", local de "secar
peixes" e que se tornaria a maior cidade da América do Sul. Se já era
conhecida como Piratininga a aldeia de Tibiriçá, o "vigilante da terra"
o morubixaba. Este "cacique" faz parte da historiografia com sua
taba, a aldeia formada no local alto vendo-se todas as terras das águas ao
redor das ocas a denominação Piratininga prevalece sobre o registro europeu que
originou pelo Pátio do Colégio, mera tapera, casa de pau a pique, onde se
pretendia instituir uma escola catequética de interesses da dominação europeia.
O Ibirapuera faz parte de outra
localidade do irmão de Tibiriçá, Caiubi, de caá (mato) e obi, ou as
"folhas azuis" chefe dos nativos guaianás, que na partilha da
"reforma agrária indígena", Piratininga foi dividida pelo morro da
atual Avenida Paulista descendo até Santo Amaro, migrando este cacique na
procura de região nas proximidades de outras nascentes d'água.
Diz-se que "El Rey", querendo dominar e denominar seus redutos na
confluência ao sul do Tratado entre Portugal e Espanha, achou-se por bem
encomendar um "agrimensor territorial" que além de delimitar a posse
pela ocupação faria a toponímia, a lista de nomes específicos de pontos geográficos
e que seriam determinados por vários relevos, como montanhas, rios.
Assim partiu a nau de Portugal
rumo as "Terras sem Mal" trazendo o referido agrimensor, para o local
mais próximo da divisa sul e apontou no litoral onde antes havia estado Martim
Afonso de Souza, com sua Expedição Exploradora, condição esta seguida por
muitos no mesmo feitio ao longo do tempo. Foi designado para o acompanhamento
de tão honrado demarcador territorial os mais proeminentes guias do grupo de
língua tupi, nativos denominados "negros da terra" pelos
exploradores, uma língua geral que mesclada originou o dialeto caipira dos
caboclos, "gente do mato", e o dialeto paulistano uma mistura de
sotaques característicos com o advento das imigrações. A expedição penetrava
nas terras e montava acampamento, subindo vagarosamente por Paranapiacaba, onde
o "mar estava a vista" do lado de Cubatão, a "terra
montanhosa", a Serra do Mar. Deste modo penetrava-se na "Boca do
Sertão" por Embu Guaçu, local de "cobra grande" por um caminho
que os nativos conheciam com Cupecê, o local da "fronte da borda da
mata" onde o "honrado emissário" de Portugal, voltado a certo
luxo e um pouco de preguiça, não negava o ócio.
Começou a nomear o local,
escrevendo conforme diziam os autóctones que conheciam cada espaço geográfico.
Assim seguiu a marcha, parando em Grajaú, local dos "macacos pretos",
foi mais adiante, parando no rio Guarapiranga, para matar a sede na "garça
vermelha" dando de frente com o rio Jeribatiba, "local de muitas
jerivás", palmeiras pendentes indo cortar caminho pelo M' Boi Mirim, local
infestado de "cobras pequenas". Seguia a comitiva na trilha que
levava a enxergar de longe o Morumbi, uma "colina com muito verde"
subindo em direção a um caminho de Moema, um local "doce", um
verdadeiro Oasis, seguindo depois em direção a Ibirapuera, ybyrá-pûer-a, tronco
seco, árvore morta, típica de charco, indo depois para Iguatemi o "rio
verde e escuro" até atingir o Itaim "a pedra pequena" para um
descanso merecido. Depois seguia por terra firme pelo Butantã, "lugar de
"terra dura" e firme em direção ao planalto cortado pelas águas onde
da aldeia via-se o vale do Anhangabaú, onde corria o "rio do mau
espírito", que os dogmáticos mudaram para "diabo".
Descendo um pouco mais, atingia-se o Anhembi, local de "ervas de flores
amarelas" seguindo o curso para o Tamanduateí, de águas correntes fortes,
por ser um "rio de muitas voltas", referência as sete voltas na
várzea até atingir o Porto Geral, hoje "cruza-se a pé enxuto" a Rua
25 de Março. Talvez fosse habitado por tamanduás, mas para isso seriam
necessárias escavações arqueológicas para confirmação contemporânea. Seguia um
seu importante afluente, o Ipiranga, o rio Vermelho, conhecido pela
independência, porém nem tanto independente assim. O Tamanduateí descia sinuosamente
até encontrar com o Tietê, "o rio verdadeiro", o da integração do
território usado para entradas ao interior. Passava-se pelo Carandiru, o
"bosque dos carandás", espécie de palmeira de tronco forte, que
embelezava a região.
Dizem as más línguas e as boas
também, que o primeiro lugar do interior do Brasil em se encontrar o
"Eldorado" foi no Pico Jaraguá, o "senhor do Vale", local
onde luziu o primeiro veio de ouro, e quem possuía o nome de "senhor"
era a montanha e não seu "dono de posse", Afonso Sardinha. Isso tudo
se perdia ao longe noutra serra, a da Mantiqueira, "lugar onde chove
muito", mas isso debandava mais para a "Boca do Sertão".
Há muitos outros belos exemplares de nomes que pertencem a este universo
linguístico das nações indígenas, que na atualidade dizem somar mais de 200
outras línguas que não o português, com território, costumes dos mais variados,
com danças, comidas, rituais e, deste modo são realmente nações, mas o medo da
balcanização em Pindorama, a "Terra das Palmeiras", não se admite
outra nação que não seja o Brasil.
O emissário do rei voltou, mais tarde, para a Metrópole, com os méritos do
reino, galgou talvez outros postos pelos préstimos à Coroa e deve ter lotado a
"burra" de maravedis, a moeda e ouro da Península Ibérica, a riqueza
que lhe deu vida de marajá em algum outro reino das riquezas das Índias
Orientais.
São Paulo de Piratininga, das
Índias Ocidentais, ganhou a riqueza dos nomes que já existiam, anteriores ao
"Achamento do Brasil" e ligava o Atlântico ao Pacifico pelo Peaberu
"caminho (inca) do gramado amassado" que unia o Império em Cuzco, no
Peru, a Capitania de São Vicente, ligação de um Mercosul antigo. Há muito
“nhen-nhen-nhen” constante para "ficar falando sem parar", sobre este
imenso vocabulário que ficou como legado indígena, um presente para São Paulo e
que falamos constantemente no dia a dia, sem pretensão de um glossário, pois há
tantas análises de especialistas competentes, sendo apenas uma maneira de
"enxergar" a cidade de São Paulo de tantos matizes.
Navarro, Eduardo de Almeida.
Método Moderno de Tupi Antigo. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1998