quarta-feira, 19 de abril de 2023

Topônimos indígenas na cidade de São Paulo: 19 de Abril, dia em homenagem aos povos indígenas do Brasil

 Locais com nomes indígenas na cidade de São Paulo

(História original publicada em 04/05/2012 no site São Paulo Minha Cidade, da Secretaria da Cultura)

 

A cidade de São Paulo foi oficiosamente registrada como "São Paulo dos Campos de Piratininga", local de "secar peixes" e que se tornaria a maior cidade da América do Sul. Se já era conhecida como Piratininga a aldeia de Tibiriçá, o "vigilante da terra" o morubixaba. Este "cacique" faz parte da historiografia com sua taba, a aldeia formada no local alto vendo-se todas as terras das águas ao redor das ocas a denominação Piratininga prevalece sobre o registro europeu que originou pelo Pátio do Colégio, mera tapera, casa de pau a pique, onde se pretendia instituir uma escola catequética de interesses da dominação europeia.

O Ibirapuera faz parte de outra localidade do irmão de Tibiriçá, Caiubi, de caá (mato) e obi, ou as "folhas azuis" chefe dos nativos guaianás, que na partilha da "reforma agrária indígena", Piratininga foi dividida pelo morro da atual Avenida Paulista descendo até Santo Amaro, migrando este cacique na procura de região nas proximidades de outras nascentes d'água.

Diz-se que "El Rey", querendo dominar e denominar seus redutos na confluência ao sul do Tratado entre Portugal e Espanha, achou-se por bem encomendar um "agrimensor territorial" que além de delimitar a posse pela ocupação faria a toponímia, a lista de nomes específicos de pontos geográficos e que seriam determinados por vários relevos, como montanhas, rios.

Assim partiu a nau de Portugal rumo as "Terras sem Mal" trazendo o referido agrimensor, para o local mais próximo da divisa sul e apontou no litoral onde antes havia estado Martim Afonso de Souza, com sua Expedição Exploradora, condição esta seguida por muitos no mesmo feitio ao longo do tempo. Foi designado para o acompanhamento de tão honrado demarcador territorial os mais proeminentes guias do grupo de língua tupi, nativos denominados "negros da terra" pelos exploradores, uma língua geral que mesclada originou o dialeto caipira dos caboclos, "gente do mato", e o dialeto paulistano uma mistura de sotaques característicos com o advento das imigrações. A expedição penetrava nas terras e montava acampamento, subindo vagarosamente por Paranapiacaba, onde o "mar estava a vista" do lado de Cubatão, a "terra montanhosa", a Serra do Mar. Deste modo penetrava-se na "Boca do Sertão" por Embu Guaçu, local de "cobra grande" por um caminho que os nativos conheciam com Cupecê, o local da "fronte da borda da mata" onde o "honrado emissário" de Portugal, voltado a certo luxo e um pouco de preguiça, não negava o ócio.

Começou a nomear o local, escrevendo conforme diziam os autóctones que conheciam cada espaço geográfico. Assim seguiu a marcha, parando em Grajaú, local dos "macacos pretos", foi mais adiante, parando no rio Guarapiranga, para matar a sede na "garça vermelha" dando de frente com o rio Jeribatiba, "local de muitas jerivás", palmeiras pendentes indo cortar caminho pelo M' Boi Mirim, local infestado de "cobras pequenas". Seguia a comitiva na trilha que levava a enxergar de longe o Morumbi, uma "colina com muito verde" subindo em direção a um caminho de Moema, um local "doce", um verdadeiro Oasis, seguindo depois em direção a Ibirapuera, ybyrá-pûer-a, tronco seco, árvore morta, típica de charco, indo depois para Iguatemi o "rio verde e escuro" até atingir o Itaim "a pedra pequena" para um descanso merecido. Depois seguia por terra firme pelo Butantã, "lugar de "terra dura" e firme em direção ao planalto cortado pelas águas onde da aldeia via-se o vale do Anhangabaú, onde corria o "rio do mau espírito", que os dogmáticos mudaram para "diabo".

Descendo um pouco mais, atingia-se o Anhembi, local de "ervas de flores amarelas" seguindo o curso para o Tamanduateí, de águas correntes fortes, por ser um "rio de muitas voltas", referência as sete voltas na várzea até atingir o Porto Geral, hoje "cruza-se a pé enxuto" a Rua 25 de Março. Talvez fosse habitado por tamanduás, mas para isso seriam necessárias escavações arqueológicas para confirmação contemporânea. Seguia um seu importante afluente, o Ipiranga, o rio Vermelho, conhecido pela independência, porém nem tanto independente assim. O Tamanduateí descia sinuosamente até encontrar com o Tietê, "o rio verdadeiro", o da integração do território usado para entradas ao interior. Passava-se pelo Carandiru, o "bosque dos carandás", espécie de palmeira de tronco forte, que embelezava a região.

Dizem as más línguas e as boas também, que o primeiro lugar do interior do Brasil em se encontrar o "Eldorado" foi no Pico Jaraguá, o "senhor do Vale", local onde luziu o primeiro veio de ouro, e quem possuía o nome de "senhor" era a montanha e não seu "dono de posse", Afonso Sardinha. Isso tudo se perdia ao longe noutra serra, a da Mantiqueira, "lugar onde chove muito", mas isso debandava mais para a "Boca do Sertão".

Há muitos outros belos exemplares de nomes que pertencem a este universo linguístico das nações indígenas, que na atualidade dizem somar mais de 200 outras línguas que não o português, com território, costumes dos mais variados, com danças, comidas, rituais e, deste modo são realmente nações, mas o medo da balcanização em Pindorama, a "Terra das Palmeiras", não se admite outra nação que não seja o Brasil.

O emissário do rei voltou, mais tarde, para a Metrópole, com os méritos do reino, galgou talvez outros postos pelos préstimos à Coroa e deve ter lotado a "burra" de maravedis, a moeda e ouro da Península Ibérica, a riqueza que lhe deu vida de marajá em algum outro reino das riquezas das Índias Orientais.

São Paulo de Piratininga, das Índias Ocidentais, ganhou a riqueza dos nomes que já existiam, anteriores ao "Achamento do Brasil" e ligava o Atlântico ao Pacifico pelo Peaberu "caminho (inca) do gramado amassado" que unia o Império em Cuzco, no Peru, a Capitania de São Vicente, ligação de um Mercosul antigo. Há muito “nhen-nhen-nhen” constante para "ficar falando sem parar", sobre este imenso vocabulário que ficou como legado indígena, um presente para São Paulo e que falamos constantemente no dia a dia, sem pretensão de um glossário, pois há tantas análises de especialistas competentes, sendo apenas uma maneira de "enxergar" a cidade de São Paulo de tantos matizes.

Navarro, Eduardo de Almeida. Método Moderno de Tupi Antigo. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1998

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