sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Joaquim Pinto de Oliveira, ou o "Tebas Construtor do século 18"

São Paulo era uma cidade de passagem, sem muitos atrativos como Rio de Janeiro, Bahia ou Recife. Seus recursos parcos faziam que as casas e outros edifícios fossem construídos com o que se tinha à mão, ou seja, barro e paus recolhidos nas matas que deram origem as construções de “sopapos”, ou seja, uma armação de varas entrelaçadas preenchidas com barro para a formação das paredes. Mais tarde essa técnica foi evoluindo constituindo as armações de taipa, de paredes grossas, por vezes mais de um metro de espessura, piladas, levando por vezes pedras que compunham com o barro essa estrutura, resultando o que comumente chamamos de taipa de pilão.  

 Tebas nasceu em 1721, na cidade de Santos, em São Paulo, sendo seu senhor Bento de Oliveira Lima, português mestre de obras da região. Foi com ele que Tebas teve seus primeiros ensinamentos de pedreiro. Ambos subiram a serra em busca de serviço na cidade de São Paulo em 1740.

Por volta de 1750, Tebas ganhou fama em seu ofício de construtor, sendo o responsável na cidade de São Paulo pela construção do Chafariz de Tebas, no Largo da Misericórdia (1793), sua obra mais conhecida, de fachadas das principais igrejas paulistanas da época, como a da Ordem Terceira do Carmo (1775-1776), a do Mosteiro de São Bento (1766 e 1798), a da velha Catedral da Sé (1778), a da Ordem Terceira do Seráfico São Francisco (1783).

Antiga Igreja Matriz da Sé. Tebas construiu a torre em 1750 e executou a reforma do prédio entre 1777 e 1778

Alforriado entre 1777 e 1778, aos 57 anos de idade, Tebas morreu no dia 11 de janeiro de 1811. O velório e o sepultamento foram realizados na Igreja de São Gonçalo, na Praça João Mendes.

 Uma curiosidade sobre o arquiteto

 No século XVIII, enquanto construíam a primeira catedral da Sé, em São Paulo, Tebas passava um bom tempo observando as obras. Intrigado com a curiosidade do escravo, o padre Justino, capelão do Convento do Carmo, perguntou-lhe o motivo dele estar ali. Tebas retribuiu com outra pergunta: Cadê a torre? o padre Justino disse que não havia nenhum construtor capaz de erguer tal torre. Tebas, que dominava a técnica de taipa e pilão, entendia de alvenaria e hidráulica, se dispôs a construí-la, sob duas condições: receber sua carta de alforria e que o primeiro casamento da catedral fosse o dele. E, em 1755, ficou pronta a primeira catedral da Sé, com a torre construída por Tebas. 

                                                   O Chafariz da Misericórdia

 Ali fora instalado em 1793 o Chafariz da Misericórdia, no governo do Capitão Geral de São Paulo, governador da capitania, Bernardo José de Lorena que contratou o astrônomo e geógrafo português Bento Sanches D’Orta, em 1791, para analisar a qualidade da água para consumo público em São Paulo, que possuía alto índice de insalubridade, mas nenhuma providência foi tomada para melhoria de sua qualidade. 

A construção do chafariz ficou a cargo do mestre de obras, alforriado por seu senhor, Joaquim Pinto de Oliveira Tebas, contratado como jornaleiro por 600 réis, para edificar em pedra de quatro lados para abastecer a sedenta população sendo o primeiro chafariz público da cidade de São Paulo.

 

Igreja e Chafariz da Misericórdia (Chafariz do Tebas)

Desenho de José Wasth Rodrigues

 Consta ainda como referência, embora a comprovação seja remota, que a pedra fora trazida dos arredores de Santo Amaro, conforme citação do historiador Silvério de Arruda Sant’ Anna, que era conhecido pelo pseudônimo de Nuto Santana. Há de se ter em mente que Santo Amaro em seu núcleo histórico da citada Vila, não possui prospecção de minério, logo se há nisso um cunho de verdade o granito que deu origem ao chafariz em São Paulo, seja algo proveniente das periferias que deram na atualidade novas cidades como Itapecerica da Serra ou Embu das Artes, antes denominada simplesmente de M’ Boy.

O Chafariz da Misericórdia, também conhecido como Chafariz do Tebas, era abastecido das águas que afluíam da formação na nascente do ribeirão Anhangabaú, que ficava no antigo Morro do Caaguaçu, onde na atualidade se situa a Avenida Paulista, na região do Paraíso. As águas eram recolhidas em barricas e depois transportadas para as residências locais por cativos que serviam seus senhores ou por homens livres denominados “aguadeiros” que se serviam deste afazer diário ao preço de 40 réis o barril de 20 litros em pipas carregadas por carroças de burros, podendo encarecer dependendo da dificuldade de fornecimento da água.

 









Hoje, 20 de novembro de 2020, Dia da Consciência Negra, Tebas Arquiteto, recebe justa homenagem com a inauguração da obra na praça Clóvis Beviláqua, em São Paulo, dos artistas plásticos Francine Moura e Lumumba Afroindígena.


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