quarta-feira, 6 de maio de 2020

AS EMPRESAS WALITA E WAPSA: Pioneirismo no Brasil no “Parque Industrial” de Santo Amaro/SP


A “revolução” industrial tardia do Brasil e a alteração de mãos:
WALITA=PHILIPS / WAPSA=BOSCH

1-Eletro Indústria Walita Ltda

De uma modesta empresa denominada Indústria Luminotécnica Waldemar Clemente Ltda surgiu a renomada empresa Walita. Neste período, o descendente de alemão, Waldemar Clemente, era engenheiro da General Eletric.

Em 1939, Waldemar Clemente monta seu escritório de representação de material elétrico, originando uma pequena fábrica no Largo do Arouche, desenvolvendo tomadas, plugs, interruptores e calhas de iluminação.

Como consequência, logo no ano seguinte, em 1940, a Walita inicialmente se instalou em um pequeno terreno de 500 metros quadrados, na Rua Álvaro Alvim, número 79, no bairro paulistano da Vila Mariana. A empresa se especializou em iluminação fluorescente, tornando-se referência de qualidade em todo o país.

Em 1943, um novo acaso viria a transformar a história da Walita projetando seu nome. Convidada pela Ford e outras montadoras a colaborar na fabricação de aparelhos de gasogênio (no auge da Segunda Guerra, todo combustível era voltado para o fim bélico e houve falta da gasolina e começou-se a adaptar carros movidos a gasogênio.), a Walita começou a produzir motores para ventoinhas que serviam para controlar a temperatura do equipamento. A experiência com motores foi tão bem-sucedida que, em 1944, Waldemar associou-se ao irmão (Antônio), dando início à fabricação de eletrodomésticos.

A empresa passou a ter a razão social Eletro Indústria Walita Ltda. O nome Walita se formou da junção do nome de Waldemar com o de sua esposa, Lita Clemente, que teve grande participação no desenvolvimento da empresa, resultando o nome que representaria qualidade e garantia nos aparelhos domésticos: WALITA.

O Brasil ainda estava buscando novos rumos com o final da guerra, saindo de sua condição exclusivamente agrícola, expandia para setores industriais. Neste momento surge a novidade que iria projetar o nome Walita a partir de 1944: o liquidificador modelo Walita-Nêutron, o primeiro aparelho a sair da linha de montagem totalmente fabricado no Brasil. A empresa fabricou e comercializou o modelo de liquidificador o Nêutron de 1944 a 1960, tornando-se o campeão de vendas da empresa.

Em 1945, a Walita produz o primeiro ventilador produzido no Brasil. Com o final da segunda guerra mundial, há grande produção de eletrodomésticos começam a surgir importados no mercado nacional, como batedeira de bolos, aspirador de pó, centrífugas, enceradeiras com uma e três escovas, ferro elétrico, e a Walita evolui com projetos e fabricação própria. Em 1946 são produzidas as primeiras batedeiras nacionais.

Os nomes "Liquidificador" e "Centrifuga", foram assim batizados pela Walita. Em 1947, a Walita se torna empresa Sociedade Anônima com capital investido de um milhão de cruzeiros velhos, agora sendo nomeada de Eletro Indústria Walita S.A.
A empresa não se limitava a produzir os aparelhos, mas levava ao público o conhecimento para utilizá-los com eficiência de ensinar e produzir a culinária com suas receitas, através da Escolinha Walita, criada em 1953.  

Em 1955 a Walita exporta para o Uruguai. Nesta época chegava à casa de meio milhão de aparelhos produzidos.

Em 1957, a Walita desenvolve o Motor Monofásico aplicado em seus produtos.

Em 1963, a razão social da empressa em franca expansão passa a ser Eletro Indústria Walita Ltda 


(Imagem crédito em pesquisa)


Entre 1968 e 1969 inicia-se a construção de uma nova fábrica da Walita, em Jurubatuba, na Avenida Eng. Euzébio Stevaux 823, no bairro Capela do Socorro/Interlagos, região de Santo Amaro, São Paulo. (Atualmente é a Unidade Nações Unidas do SENAC)


Com o 1º Plano de Desenvolvimento Econômico aplicado no Brasil, começa a diminuir o ritmo de investimentos. A Organização Philips do Brasil, empresa sediada na Holanda, em 1971, decidiu comprar a Walita Eletrodomésticos Ltda. A nova nomenclatura passa a ser Philips do Brasil - Divisão Walita, mantendo a marca como nome fantasia, ampliando sua participação de componentes de cozinha na América Latina.[1]

A Walita continua a desenvolver uma gama grande de produtos como batedeiras, liquidificadores, ferros de passar, cafeteiras, espremedores; barbeadores, depiladores, secadores de cabelo e acessórios de reposição.

Em 1994, faleceu o fundador da Walita, Waldemar Clemente, aos 89 anos.

Em janeiro de 2000, a Walita inaugurou a fábrica em Varginha, Minas Gerais com investimento na ordem de 4,5 milhões de reais. No ano de 2004, a Philips incorporou seu nome junto à marca Walita, criando, assim, a linha de produtos Philips Walita.

Outros aparelhos foram sendo desenvolvidos a partir de então surgindo nesse segmento ventiladores, batedeiras de bolo, aspiradores de pó, ferros elétricos, exaustores, centrifugas, furadeiras e tantos outros aparelhos eletro domésticos e ferramentas motrizes.



2- WAPSA: Walita Auto-Peças S.A.

O Grupo Industrial Walita era integrado pela Eletro Indústria Walita Ltda e a Wapsa Auto-Peças S.A., para atender a demanda crescente de eletro domésticos ainda insipiente no Brasil dos anos de 1940 somada a demanda de componentes automotores da segunda metade da década de 1950.

A Wapsa Auto-Peças S.A. primeiramente possuía a razão social Walita Auto-Peças S.A., e fazia parte do Grupo Industrial Walita.

A WAPSA foi fundada em 28 de maio de 1957, em São Paulo, idealizada para produzir equipamentos elétricos para veículos, que começaram a ser fabricados no Brasil através do Plano de Metas do governo federal dentro do estabelecido pelo Grupo de Estudos da Indústria Automobilística, que ficou conhecido por GEIA[2].


Neste mesmo ano o Grupo Industrial Walita firmou contrato e assistência técnica com a The Eletric Auto Lite Company[3], com razão social mais tarde alterada para Prestolite International Corparation, com sede em Toledo, Ohio, Estados Unidos. Em 1958, a Walita consegue junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico, BNDE, financiamento na ordem de 58 milhões de cruzeiros.


Toda essa transação possibilitou a construção da Fábrica Walita Auto-Peças, WAPSA, que se estabeleceu em Santo Amaro, á Rua Dr.Rubens Gomes Bueno, anteriormente denominada Rua Piratininga, número 462. Essa fábrica foi idealizada com o mais alto padrão de máquinas operatrizes para produção de dínamos, motores de partida, caixas de reguladores, distribuidores, bobinas de ignição, e outros tantos componentes usados pelos fabricantes veiculares que começou a produção nacional iniciada pela Mercedes Benz.[4]

Para testar seus equipamentos a WAPSA patrocinava eventos automobilísticos no Autódromo de Interlagos (José Carlos Pace) em São Paulo.


As exigências de nacionalização deveriam chegar na casa dos 95% e as montadoras precisavam ter toda estrutura para atingir esse objetivo exigido pelo governo brasileiro. Anteriormente as peças vinham desmontadas e eram montadas no Brasil e o fabricante estrangeiro detinha a licença sobre o veículo. Esse processo era chamado CKD, kit completamente desmontado.[5] A República Federal da Alemanha[6] tinha o Brasil como uma de suas prioridades comerciais e para investimentos privados e o Brasil em franca expansão em uma “revolução” industrial tardia, estimulou a produção nacional de automotores expandindo rodovias em detrimento das ferrovias.


Para atingir o alto nível de produção foi formado um corpo técnico pela Walita que recebeu todo o conhecimento na matriz da Prestolite, Ohio, Estados Unidos, que foram os responsáveis para dar início nas atividades industriais da empresa Wapsa no início de 1958 sendo a inauguração da fábrica ocorrida em 18 de dezembro de 1958 em uma área de 14.200 metros quadrados cuidando de formar pessoal para um corpo técnico de assistência de eletricidade de veículos e de mecânicos especializados que foram formados na Escola Técnica de Serviço da própria empresa e uma escola móvel montada em chassi monobloco da Mercedes Benz para atender a demanda em vários locais do Brasil.

O pronunciamento do próprio Presidente da República em Mensagem ao Congresso Nacional compelia a estimular a produção industrial:

“Ainda no que toca à política geral, outra medida a que o governo atribui grande importância refere-se à atração dos empresários estrangeiros que, com a sua técnica e o seu capital, poderão prestar valiosa ajuda na construção do nosso parque industrial. São condições essenciais de uma política de estímulo ao capital estrangeiro a estabilidade política, cambial e monetária.”

A década de 1950 foi início do boom industrial no Brasil, onde o setor industrial foi alavancado com implantações de indústrias de base.

A Wapsa Auto Peças passou ao controle da Robert Bosch Ltda[7]. A tecnologia empregada na WAPSA era importada da Prestolite. Em 1984, a Bosch adquiriu parte das ações da Prestolite e passou a fornecer a tecnologia para os produtos da WAPSA. Em 1994, a Bosch comprou 100% das ações da WAPSA, incorporando-a à unidade ao grupo Robert Bosch no Brasil.

Em 1998, foi transferida para Campinas a produção de motores de partida e alternadores de veículos pesados, ficando em São Paulo a fabricação de pequenos motores, como limpadores de para-brisa, acionamento de vidro e motores de ventilação e arrefecimento. São Paulo somente poderia ser competitiva se houvesse a junção da produção de Campinas com a de São Paulo. O objetivo era transferir todo efetivo até 2005 para Campinas.

Hoje ambas empresas mudaram de donos e de cidades.


*Philips do Brasil Ltda-Divisão Walita
End.: Av. Otto Salgado, 250 - Rezende, Varginha, Minas Gerais

*Robert Bosch Ltda (WAPSA)
End.: Via Anhanguera, km 98. Vila Boa Vista, Campinas, SP.



Obs.:

Sujeito a revião sem prévio aviso.

Aceita-se informações baseadas em documentos históricos de ambas empresas.




Referências:







MARCOVITCH, Jacques. Pioneiros e Empreendedores: A Saga do Desenvolvimento no Brasil.  São Paulo: EDUSP, 2003.

Brazil, Survey of U.S. export opportunities. U.S. DEPARTMENT OF COMMERCE, Domestic and International Business Administration, Bureau of International Commerce, august 1974

IANNI, Octávio. Estado e Planejamento Econômico no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1986, 4a ed.

Revista "Em Guarda", Ano 4, número 1

BANDEIRA, Moniz. O Milagre Alemão e o Desenvolvimento do Brasil.: As Relações da Alemanha com o Brasil e a América Latina (1949-1994). São Paulo: Editora Ensaio. 1994




[1] Em 24 de julho de 1924, surgia a Philips Brasil SA, no Rio de Janeiro, com objetivo de importar lâmpadas incandescentes e posteriormente, rádios receptores

[2] Em 16 de junho de 1956 no governo de Juscelino Kubitschek houve a nomeação do almirante  Lúcio Martins Meira para o Ministério da Viação e Obras Públicas, sendo criado o GEIA (Grupo de Estudos da Indústria Automobilística) que reunia empresas fabricantes de autoveículos, como automóveis, comerciais leves, caminhões, ônibus e máquinas agrícolas automotrizes, como tratores de rodas e de esteiras, cultivadores motorizados, colheitadeiras e retroescavadeiras. Conforme previa o GEIA, até 1960, 90% de peças dos caminhões e utilitários vendidos no Brasil deveria ser de componentes nacionais. Para automóveis de passeio, 95%.

[3] A Ford entrou no lucrativo mercado de reparos e peças de reposição no final dos anos 50. Após esforços iniciais insatisfatórios para comercializar peças de reparo, a Ford começou a explorar outras opções de marketing. Acreditando que um bom nome comercial era uma chave que poderia abrir as portas do mercado de peças de reparo, a Ford iniciou negociações com a Electric Autolite Company. A Electric Autolite, fornecedora principal de peças para a Chrysler, era uma grande fabricante de peças de reparo de automóveis. Em 1961, foi alcançado um acordo segundo o qual a Ford adquiriu da Electric Autolite o nome comercial "Autolite", uma fábrica de velas de ignição em Ohio, uma instalação de baterias no Michigan, direitos limitados de distribuição e os serviços de vários funcionários. “Os ventos da mudança” foram notáveis ​​na indústria automotiva e, em 1961, a Ford Motor Company de Dearborn, Michigan, adquiriu o nome comercial de “Autolite”, juntamente com a Divisão Spark Plug em Fostoria, Ohio e a Usina de Bateria Owosso em Owosso, Michigan. A parte remanescente do Electric Autolite foi renomeada como "Eltra Corporation". A principal fábrica da Eltra estava localizada na Champlain Street, em Toledo, e em 1962, após problemas contínuos de trabalho e a deterioração dos equipamentos de fabricação, a fábrica foi desmantelada e reorganizada com sua subsidiária Prestolite, cuja sede de quatro divisões era em Toledo.

[4] A Mercedes Benz (Daimler) começou a fabricação do caminhão L-312, que ficou conhecido por Torpedo[4] que saiu da linha de montagem em São Bernardo do Campo, São Paulo, no dia 28 de setembro de 1956.

[5] CKD (Completely Knock-Down) é um kit das partes completamente desmontadas de um produto. É também um método de fornecimento de peças para um mercado, particularmente no transporte para nações estrangeiras, e serve como uma forma de contagem ou determinação de preços. No estado do Rio de Janeiro na década de 1940, por necessidade de alta produção industrial de aeronaves para o esforço de guerra foi idealizada uma fábrica  para construção de motores de alta performance de aviões, tratores e tanques, em cooperação brasileira-americana sendo o equipamento obtido por intermédio do Empréstimo e Arrendamento e créditos pelo Banco de Exportação e Importação. O Know-how pertencia a Wright Aeronautical Corparation e a Fairchild Engine and Airplan Corporation. Coube ao brigadeiro Antônio Guedes Muniz dirigir toda a empreitada para serem produzidos motores radiais aeronáuticos. Em 1949 essas instalações estavam ociosas e o Brasil aproveitando as instalações formou consórcio com a empresa italiana Isotta Fraschinni a empresa Fábrica Nacional de Motores, que ficou conhecida por FNM. Nessas instalações foram iniciadas a produção de caminhões de 7,5 toneladas de capacidade, sob licença italiana. O modelo D-7300 da FNM em 1949, era impulsionado por motor de 6 cilindros diesel de 7,3 litros e 100 cv, nunca se soube ao certo na nacionalização de peças, mas provavelmente representava 1/3 de peças produzidas no Brasil, o resto era proveniente da Itália.

[6] Através do cônsul alemão, Friedrich Karl von Oppenheim, as conversações entre os dois países foram feitas com empresários alemães com Alfried Krupp von Bohlen und Halbach da firma Fried Krupp, gigante do setor siderúrgico e com a firma Daimler-Benz, tendo com seu representante Fritz Konecke. A Alemanha tornava-se assim o 2º maior parceiro do Brasil, atrás somente dos Estados Unidos. As bases de reconstrução da Alemanha do pós guerra, teve no Brasil, seu mais fiel colaborador, pois a Alemanha teria que repor todo o investimento do Plano americano Marshall de reconstrução da Alemanha. E o Brasil viu a possibilidade de atrair investimentos vultuosos para sua economia até da implantação da indústria nacional de automotores, além de ter capital para idealizar sua nova capital, Brasília. Nos primeiros cinco anos, da Alemanha Federal, fundada em 1949, o PIB cresceu uma média de 8.8% ao ano, em 1955, até cresceu 12%. O Milagre Económico Alemão adveio de suas estruturas industriais para sua recuperação econômica e quitar sua parcela do Plano Marshall (conhecido oficialmente como Programa de Recuperação Europeia) de aproximadamente 1,45 bilhões de dólares, em várias divisões contratuais, entre 1948 e 1951, correspondendo a 10,34% do montante total dos 14 bilhões de dólares de recuperação da Europa.

[7] A área de Tecnologia Automotiva é o setor mais significativo da Bosch, com vendas de 23,2 bilhões de euros em 2001, sendo responsável por 66,8% do seu faturamento total. A empresa Robert Bosch Ltda. iniciou suas atividades no Brasil em 1954, durante a implantação da indústria automobilística. Atualmente, o Grupo Bosch controla no Brasil a Robert Bosch Ltda, com cinco plantas industriais, e mais três empresas resultantes de fusões. Das cinco plantas industriais da Robert Bosch, três estão localizadas no estado de São Paulo, duas na cidade de Campinas e uma na capital. Na Bahia, a planta funciona no centro industrial de Aratú, e no Paraná, localiza-se na cidade industrial em Curitiba. As duas maiores plantas produtivas da Robert Bosch Ltda. no Brasil são as de Curitiba (Paraná) e de Campinas (São Paulo), sendo esta última, a maior e mais antiga unidade no Brasil, fundada em 1956. No Brasil, são produzidos pela Robert Bosch Ltda. os seguintes materiais3 : componentes autoelétricos, ignição eletrônica, injeção eletrônica, gerenciamento de motores, máquinas e sistemas industriais, ferramentas elétricas, sistemas de freios, buzinas, motores de acionamento, máquinas de embalagem, velas de ignição, bobinas asfálticas, platinados, reguladores mecânicos e sistemas de injeção a diesel.

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