segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

A Obra Peregrina “São Paulo, Tecelão, Apóstolo Cristão” de Júlio Guerra e os 462 anos da Cidade

O escultor de São Paulo, BOTINA AMARELA DE SANTO AMARO
Por encomenda do prefeito José Vicente Faria Lima, (1909-1969) o escultor Júlio Guerra executou uma imagem do apóstolo São Paulo em pé, em posição frontal que traz nas mãos “A Espada e o Livro, Símbolo da sua Missão, A Lei”, vestido com uma simples túnica curta que anteriormente era pintada na cor vermelha e colocada no centro dos dois Túneis da Avenida 9 de Julho, sem festa ou inauguração no dia 9 de julho de 1969.


Inicialmente projetada, conforme modelo, para a fachada dos Túneis da Avenida 9 de Julho, foi removida do “lugar maldito” (onde antes fora colocado “O Beijo” hoje em frente a Faculdade de Direito do Largo São Francisco) em 1972, sendo alegado à época que “São Paulo” estava sujeito à poluição e fuligem provocada pelo trânsito intenso e levado para um depósito municipal que havia na Rua 25 de Março.

“Os gregos esculpiam o belo para agradar os deuses, mas os romanos não. Eu estudei a escultura dos romanos, que esculpiam para agradar o povo, e por não mentiam: meu São Paulo é a peça mais autentica que já fiz.”

(Depoimento para Folha de São Paulo em 20 de abril de 1988)


Dos anos de sua retirada (1972) até o ano de 1986 ela ficou em depósito municipal que devido ao fato recebeu o comentário irônico de seu autor em depoimento a Folha de São Paulo de 15 de maio de 1975:

“Na Prefeitura disseram-me que levaram meu São Paulo para dar um banho.”

Esta obra “Apóstolo São Paulo” faz parte daquelas que “andam” pela cidade de São Paulo que a professora Giselle Beiguelmam da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo intitula com propriedade ser “monumentos nômades”[1]. Nas fotos de André Turrazzi, parte da exposição, está incluída a obra de Júlio Guerra, “São Paulo – Tecelão, Apóstolo Cristão”, que se inclui no âmbito destes “monumentos peregrinos” da Cidade de São Paulo, pois São Paulo não permaneceu no local para onde foi encomendado.
Foto de André Turrazzi: Mostra "Memória da Amnésia"

Em 23 de julho de 1988, no governo do então prefeito Jânio da Silva Quadros a obra de Julio Guerra foi reinaugurada em 23 de julho de 1988 no Largo Los Andes, próximo ao Shopping Center Morumbi no cruzamento onde esta sendo ampliada a Avenida Doutor Chucri Zaidan.


Aguardemos que a “estátua” São Paulo permaneça neste lugar homenageando os 462 anos e os vindouros da cidade  que leva seu nome!




Referências:

YAJIMA, Eiji. Júlio Guerra, Artista Amador, Formação Acadêmica Conflitante com Tendências Modernas. São Paulo: Univ. Presbiteriana Mackenzie, 2000, p. 60


Prefeitura retira mais uma estátua da cidade. O Estado de São Paulo 19 de novembro de 1972
Folha de São Paulo, 15 de maio de 1975
Folha de São Paulo, 20 de abril de 1988

O Estado de São Paulo, 25 de janeiro de 2016, Metrópole, p. H 16(entrevista Elza Maria Hessel Guerra Sanches)




[1] Exposição, inaugurada dia 12 de dezembro, no Arquivo Histórico de São Paulo, na Praça Cel. Fernando Prestes, 152, Luz permanecendo até 25 de fevereiro de 2016. 

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