Do Velho Caminho de Bois à
Ligação com a Malha Viária da Cidade de São Paulo
Anteriormente ao grande fluxo de veículos da
atualidade pela Avenida João Dias, transitavam apenas carroças atreladas a
cavalos, onde seus donos mantinham toda relação comercial entre o interior e a
cidade de São Paulo.
Na década de 1950, fixaram-se muitos operários bairros em
formação na localidade, tais como Capão Redondo, Vila das Belezas, Jardim São
Luiz e outros tímidos núcleos habitacionais de onde a maioria se locomovia para
o trabalho de bicicleta, meio de transporte muito usual à época, pela mesma
pista da atual ciclovia do Rio Pinheiros, pois não havia as Marginais do rio,
as Avenidas Nações Unidas, ou caminhando pela madrugada, onde a maioria da
população colocava literalmente o pé na estrada, uma verdadeira legião em
direção às várias indústrias localizadas em Santo Amaro e que se fixaram no pólo
industrial da antiga “Villa” que possuía autonomia de município.
O loteamento do Jardim São Luiz, entrada do primeiro bairro após a ponte do Rio
Pinheiros vindo de Santo Amaro, foi inscrito sob o nº 36, no Registro de Imóveis
da 11ª Circunscrição, conforme Decreto-Lei nº58, de 10 de dezembro de 1937, e
Decreto n º 3079 de 15 de setembro 1938.
"AVENIDA JOÃO DIAS" -DÉCADA DE 1930
PONTE JOÃO DIAS -1960
Do lado oposto havia poucas casas, simples, muitas delas feitas a sopapo, barro batido entre paus retorcidos entrelaçados de construção rudimentar. Neste local situava-se também a residência de Maria Coelho Aguiar, uma senhora que, pelos relatos perdeu a visão, e que depois de seu “passamento” seu nome tornou-se a denominação da antiga Avenida São Luiz, evitando assim confusões advindas da avenida de mesmo nome existente no centro de São Paulo e era "porta de entrada" do bairro Jardim São Luiz. Consta desta oralidade que ela ficava ao portão de sua casa cumprimentando os transeuntes que aguardavam transporte coletivo dos ônibus "esverdeados" da Empresa Emílio Guerra[1], que ligava Santo Amaro a Itapecerica da Serra e Cotia. A Avenida João Dias também foi palco do caminho das boiadas vindas da Fazenda Santa Gertrudes, do Frigorifico Santo Amaro, da família Eder.
CASA DA FAMÍLIA DIAS-CASTELINHO
* Vide breve relato sobre João Dias de Oliveira extraído do Dicionário de Ruas abaixo:
João Dias de Oliveira nasceu em Itapetininga, Estado
de São Paulo, em 12 de julho de 1842. No Império foi agraciado por merecimentos
civis, com carta patente de Alferes da 1ª Cia do batalhão de infantaria de
Itapetininga. Na República foi nomeado por Floriano Peixoto, em 8 de março de
1893, Tenente Quartel Mestre do 112º batalhão de infantaria da guarda nacional
do Estado de São Paulo. Em Santo Amaro onde se
radicou em 1887, trouxe a primeira indústria de pólvora, foi várias vezes
vereador Municipal, exerceu as funções de Inspetor Escolar. Foi o primeiro
tesoureiro da primeira Diretoria da Santa Casa local, sucedeu o fundador da
Santa Casa, Coronel Carlos da Silva Araujo, na provedoria. Faleceu em São Paulo , em 2 de maio
de 1926.
GENEALOGIA DA FAMÍLIA DIAS
As pioneiras do
setor plástico pertenciam também aos santamarenses de costado da família Dias,
com o nome de Plásticos York S/A, prédio que ainda resiste ao tempo entre as
Avenidas Rio Branco e Rua Tenente Coronel Carlos Silva Araújo, ambas convergidas
da Avenida João Dias. A
empresa Dias & Cia Ltda formada pela
Estrella e Cortume (com grafia da época) era uma
sociedade de João Dias de Oliveira com seu irmão Gabriel Dias de Oliveira, que
em 1900 retornou a Sorocaba para tratamento de tuberculose, vindo a falecer em 1902. Com o seu falecimento a
sociedade foi desfeita, ficando a viúva de Gabriel, Raphaela Marciano da Silva
Dias, com a fábrica situada na rua lateral do mercado velho, administrada pelo
seu sobrinho e genro José Dias da Silva, irmão de Antonio Dias da Silva.
A empresa Plásticos York S/A foi sucessora da Dias & Cia. Ltda., que foi, mais tarde, adquirida pela família Cury. A empresa Dias & Cia Ltda., que possuía
a unidade comercial na Avenida Brigadeiro Luiz Antonio, em São Paulo, foi
vendida em maio de 1958, pelos filhos de José Dias da Silva(Juca), José Júnior,
Gabriel, Ary, Paulo, Ana Cândida e Fernando Dias.
Plásticos York S/A - Rua Tenente Coronel Carlos Silva Araújo
Do lado do atual bairro Jardim
São Francisco, existia também um paiol de pólvora da família Dias, com a
produção voltada para a produção industrial de cartuchos variados, mas também
fazia a alegria das festas religiosas com os fogueteiros da época disputando como
especialistas de fogos de artifícios que rasgavam os céus noturnos, límpidos,
com a criançada competindo quem mais recuperava as varetas que cortavam o “espaço
estrelado” varando a noite festiva. Este local era um grande descampado ou de densa
mata nativa, e as festas de outrora seriam coisas inimagináveis na atualidade.
A
Capelinha da Penhinha foi assim denominada em alusão a Nossa Senhora da Penha, padroeira
da cidade de São Paulo. Era ponto de peregrinação de muitos que vinham das
cidades avizinhadas de Santo Amaro, e de muitos romeiros em direção a Pirapora
do Bom Jesus que paravam da Capelinha da Penhinha, com suas charretes, aranhas,
mulas e cavalos para uma oração de proteção a romaria. Foi demolida em maio de 1973, dando lugar a
ENPAVI, Engenharia de Pavimentação. Em seguida fixou-se no local o
empreendimento náutico THE WAVES, mas teve pouca duração no local. Atualmente está
edificado no terreno da antiga capela o supermercado Extra, pertencente
atualmente ao grupo francês Casino.
Um dos sinos que integrava o campanário da Capelinha Penhinha, quando de sua demolição, foi enviado para a Paróquia São Luiz Gonzaga, localizada no bairro Jardim São Luiz, na Rua Antonio da Mata Junior, nº 80, onde faz parte do acervo religioso, podendo se ler na lateral do sino o nome do doador: “Fábrica Estrella”, referência industrial da família Dias, assim como a imagem de Nossa Senhora da Penha e que deu nome a localidade.
Cada indústria localizada na região tinha a sua sirene de sonoridade característica diferenciada em cada uma delas, tocando em horários determinados, como que a chamar toda aquela massa do proletariado. Na Avenida João Dias havia a empresa Hoover, onde depois se fixou a Pial Legrand, de material elétrico. Do lado oposto situava-se a empresa Semp que hoje faz parte da estrutura japonesa Toshiba; e que teve parte de sua construção de alvenaria com tijolos fabricados nas olarias da família Grassmann, família tradicional e que por muito tempo residiu próximo ao atual terminal de ônibus João Dias. Na Avenida João Dias a referida família instalou também um posto de gasolina e mais ao centro da referida avenida existia a empresa “Requipe” de transporte e guindastes para cargas pesadas, próximo da atual faculdade Ítalo Brasileiro, onde do lado oposto ficava a garagem dos ônibus da Viação São Luiz, onde hoje está o depósito de matérias de construção Di Cicco S/A.
Por algum tempo próximo a Bril Loid, ficava o 5º Tabelião e Cartório de Notas, no nº 2320, e no mesmo da avenida lado havia o clube da indústria Pirâmides Brasília S/A ou simplesmente Piraspuma nas imediações da Avenida João Dias, com sua produção fabril no bairro do Jardim São Luiz. Na atualidade situa-se a escola infanto-juvenil do Corinthians, onde há grande interesse imobiliário pela área.
O Esporte Clube Benfica, fundado
em 1934, ficava também na Avenida João Dias, dando lugar mais tarde a empresa
Filtrona. Campeonatos por toda a região não faltavam e aos domingos afluíam
pessoas a assistirem os festivais promovidos entre grandes equipes, localizadas
antes ou depois do Rio Pinheiros onde estava o campo do Continental que na
atualidade são os barracões do departamento de trânsito de região sul, onde era
o início da Estrada (velha) do Morumbi, início da Rua Itapaiúna, no costado da
Chácara Tangará, do industrial Baby Pignatari.
O
laboratório Squibb por várias décadas fez parte do cenário da Avenida João Dias
e era orgulho pertencer ao quadro de funcionários de tão conceituada empresa. Posteriormente
abrigou atividades da empresa Prodotti Laboratório Farmacêutico, depois foi totalmente
demolida para futuramente serem implantados neste local conjuntos imobiliários,
aguardando a descontaminação química total do terreno.
Próximo
ao Clube Hípico de Santo Amaro, uma referência importante de Santo Amaro,
separados pela Rua Visconde de Taunay fica a Biblioteca Municipal Prestes Maia,
que já foi denominada de Presidente Kennedy, (decreto de alteração nº 46. 434,
de outubro de 2005) que financiou parte dos recursos para sua instalação
ocorrida em 1965, em uma aproximação com as relações internacionais do programa
Aliança para o Progresso, sendo prefeito de Santo Amaro, Fernando Scalamandré
Junior. Do lado oposto á biblioteca, na Praça Dr. Francisco Ferreira Lopes
encontra-se a antigo Mercado Municipal de Santo Amaro.
No início da década de 1960 chegaram os primeiros ônibus da Viação São Luiz,
que montou o galpão da garagem na esquina da Avenida João Dias, número 1713, galpão
este ainda em atividade como depósito de materiais de construção da família Di
Cicco. Suas atividades abrangiam os bairros do Capão Redondo, Jardim São Luiz,
Vila das Belezas, Valo Velho até Santo Amaro e depois com o Centro da Cidade. Esta
empresa de ônibus se transferiu depois para o início da Avenida Giovanni
Gronchi, mudando a razão social para Viação Campo Belo, fazendo parte do
Consórcio Sete, idealizado pelo sistema de Transporte Metropolitano de São
Paulo, SPTrans. Na atualidade o Grupo Ruas, detentora do consórcio 7, mantém
boa parte da frota que liga o extremo sul ao centro da cidade de São Paulo em
sua atual garagem situada na Avenida Carlos Lacerda, nº 2551.
A Kodak adquiriu na Rua Cel. Luís Barroso, frontal a Praça Adão Helfenstein, na Avenida João Dias, a empresa
fabricante de material fotográfico de Conrado Wessel, a única na América Latina
a fabricar papel especial para o ramo de fotografia no período da segunda
guerra por um bom tempo se tornou a Faculdade Radial, na atualidade Faculdade
Sumaré.
Muitos outros empreendimentos ocorreram ao longo da
história da referida avenida, no tempo e espaço do foi parte da trilha do Caminho de Carros de Boi,
ligando Santo Amaro à capital paulista, para abastecimento de produtos
agrícolas locais, na atualidade possui novos trilhos no caminho, pelo
prolongamento da linha 5 do metrô, saindo do Capão Redondo atravessando a
Avenida João Dias em direção ao Largo Treze de Maio e que breve terá
prolongamento até a Chácara Klabin.
Considerações:
Se
escrito foi, relatado está por várias vozes que ecoaram e foram confrontadas
para extração daquilo que eram relatos assemelhados! Há muita coisa ainda a ser
relatada e isto é apenas fração sem dúvida incompleta, pois não há como
recuperar o conjunto integral da história, mas somente alguma parte de um todo,
e que outras pessoas possam abrilhantar ainda mais com novos depoimentos, aguardando
sempre a crítica da crônica.
Vide:
SEMP Rádio e Televisão: FINAL DE UM MARCO INDUSTRIAL EM SANTO AMARO/SÃO
PAULO
AS
INDÚSTRIAS E A DESINDUSTRIALIZAÇÃO EM SANTO AMARO
O
Espólio de Pignatari: Chácara Tangará
Baby
Pignatari e Nelita Alves de Lima: Fundação Julita(Jardim São Luiz)
Referências:
Compromisso de Compra e Venda da
Sociedade Paulistana de Terrenos, do lote 11, da quadra 44, da Rua Octacílio de
Carvalho Lopes, Jardim São Luiz.
Contribuição da genealogia familiar
e informações sobre João Dias: JOSE LUIZ MORAES DIAS.
CALDEIRA, João Netto. Álbum de
Santo Amaro. São Paulo: Org. Cruzeiro do Sul, Bentivegna & Netto, 1935. p.
188 a 191; 200, 201
[1]
*Emílio
Guerra foi pioneiro do transporte coletivo ligando a região Itapecerica da
Serra a Santo Amaro. Tornou-se intendente da cidade de Cotia de 1964 a 1969.
Parabéns por descrever detalhatamente algumas das histórias dessa região de São Paulo. Sou morador e gosto do local. Ao saber sobre algumas postagens fotográficas, fiquei supreso ao ver o acervo raro que se tem. Assim, o contexto exclusivo da história local poderá ser contada àqueles que se interessarem.
ResponderEliminarParabéns pela descrição, trabalhei quando menino na Ind. de Oleados Plínio Rodrigues Dias por dois anos e conformo seus escritos, pois ouvia os mais idosos comentarem. Vi ainda em vida a D. Maria Coelho que era deficiente visual, vi muitas vezes o sr Emílio Guerra e, não me lembro o nome, daquela que linda moça, que foi a musa inspiradoura do nome da Vila das Belezas que, embora já idosa, ainda conservava toda formosura, veio a falecer em 1970.
ResponderEliminarTemos nossa família Dias em Casa Branca interior do Estado de São Paulo.
ResponderEliminarMarco Silvério Soares.
Fantástico! Os historiadores geralmente não dão muita atenção aos acontecimentos históricos de Sto Amaro e região! Só um adendo: A Empresa São Luiz Viação Ltda quando migrou para garagem da João Dias para Giovanni Gronchi, ainda estava com a denominação antiga. Depois de adquirir a garagem da Vila Prel ela ainda continuou como São Luiz, depois de alguns anos se tornou Campo Belo.
ResponderEliminarMuito legal,minha família é toda dessa região,Freitas,meu avô Gustavo Antônio de Freitas, tinha tropas de burros,e realizava serviços de abertura de estradas,várias dessas ruas atrás do campo do continental,foi ele quem abriu,fui a algumas festas da Peninha,onde a maioria das pessoas chegavam a cavalo,charretes, bicicleta ou caminhão,minha mãe falava de uma mina d'água que tem lá onde foi o feirão,hoje uma base da PM é um colégio,essa mina ainda existe,meu pai Waldomiro Pereira Leite foi um dos primeiros moradores do Jardim Ibirapuera,local onde passei minha infância,entre chácaras, frutas,mata,e muito paz, assisti toda a chegada dos norfedtinos e mineiros,que vinham em busca de emprego,as seis da manhã começava uma sinfonia de apitos sereias,chamando os funcionários para seu turno,temuito mais história,se houver interesse vou comentando.
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