Pólo
diferenciado de relações comerciais de São Paulo
A
Rua Vinte e Cinco de Março está localizada no centro da cidade de São Paulo,
próxima ao Mercado Municipal de São Paulo com acesso pela Estação de metrô São
Bento atingindo-a pela Rua Florêncio de Abreu. Pode ser referência também indo
pelo Pátio do Colégio seguindo a Rua Boa Vista, a parte alta da cidade,
descendo a Rua Porto Geral atingindo o local de compras mais famoso de São
Paulo, visitada diariamente como um dos maiores centros comerciais, além de
ponto turístico da capital paulista.
Como a Rua Vinte e Cinco de Março, São Paulo, ganhou
sua fama ao longo do tempo?
A
Rua Vinte e Cinco de Março é uma homenagem da
Câmara Municipal de São Paulo e pelo Poder Executivo, lembrando a data
do juramento da primeira Constituição do Brasil independente, promulgada
por Dom Pedro I, em 25 de março de 1824.
A origem da Rua
Vinte e Cinco de Março remonta ao século 18, quando era conhecida como “Beco
das Sete Voltas”, em referência às várias curvas sinuosas do rio Tamanduateí. A
Rua Vinte e Cinco de Março já foi conhecida pelo nome de “Rua Várzea do
Glicério”, além de “Rua das Sete Voltas”, ou também
como Rua de Baixo, ou de Baixa de São Bento, em referência a igreja na
parte alta da cidade e pela localização abaixo do Mosteiro São Bento, dividindo a cidade em duas partes; Alta e Baixa.
A Rua Vinte e Cinco de Março, antes de
se tornar rua, era a várzea do leito do Rio Tamanduateí, de extrema importância
no final do século 19 e início do século 20, que corria no local traçado pelas suas
águas navegáveis, recebendo como afluente o Rio Anhangabaú e que depois seguia
em direção ao Rio Tietê, rio este que corre para o interior do Brasil ao encontro
do Rio Paraná.
Em 1865, a Rua de Baixo passou a
chamar-se Rua Vinte e Cinco de Março e isso desde a atual Rua Carlos de Souza
Nazaré, limítrofe de um dos lados onde estava o primeiro mercado de gêneros
denominado de Praça do Mercado esquina da atual Praça Fernando Costa, e desse
ponto em diante até a ladeira do Carmo, hoje, Avenida Rangel Pestana.
Neste mercado
(que não tem referência alguma com o atual Mercado Municipal de São Paulo da
Rua Cantareira, inclusive de localidade) eram vendidos frutas, verduras,
legumes e outros produtos agrícolas produzidos por agricultores que atracavam suas
embarcações, que vinham de outros vilarejos e chegavam através do porto que
ficava no rio Tamanduateí, numa de suas curvas, bem perto da “Ladeira do Beco
das Barbas”, que depois passou a chamar-se “Ladeira Porto Geral”, por estar
perto de onde ficava o antigo porto do rio Tamanduateí. A Ladeira Porto
Geral foi anteriormente conhecida por “Ladeira do Tamanduateí”. O “Porto” que
batizou a atual Ladeira Porto Geral se localizava na sétima e última volta do
rio Tamanduateí, aonde também chegavam mercadorias importadas à cidade de São
Paulo de navio através do porto de Santos, subindo depois a Serra do Mar através
de carroças e mais tarde por ferrovia, pela construção, em 1867, da Estrada de Ferro
Santos-Jundiaí e que alcançavam a região do Ipiranga. De lá, eram levadas pelo Rio Tamanduateí até
o porto para barcas, o chamado Porto Geral, nome desta conhecida ladeira íngreme,
travessa da Rua Vinte e Cinco de Março. Estas profundas transformações
econômicas e sociais foram decorrentes da expansão da lavoura cafeeira em várias
regiões paulistas e do afluxo de imigrantes europeus e ampliação circulação de
mercadorias provindas da Europa.
A grande
enchente que marcou a região foi registrada no dia 1º de janeiro de 1850,
através de um temporal que alagou às margens dos Rios Tamanduateí e Anhangabaú.
Das 27 casas destruídas, 14 casas eram de taipas de pilão, construção de barro
socado, típica da cidade e que não possuíam resistência suficiente para
suportar muita água em suas paredes de barro.
Por causa destas inundações, umas maiores outra menores, o
local foi remodelado no tempo do governo de João Teodoro, entre 1873 a 1875. A área da Várzea do
Carmo foi drenada e surgiram as primeiras chácaras na região e uma ilha urbanizada como uma praça foi então criada em 1874 com o nome de Ilha dos Amores, localizava-se
nas margens do Rio
Tamanduateí que estava nas imediações da Rua Vinte e Cinco de Março, na Várzea do Carmo, que depois de
aterrada tornou-se parte do Parque Dom Pedro II. Era uma várzea constantemente
inundável, principalmente em épocas de cheias por causa das chuvas de verão. Depois
desta grande enchente houve mudança no fluxo do rio e mais tarde optou-se pela
canalização e retificação do mesmo, sendo a área toda drenada, sumindo, deste
modo, as curvas do Rio Tamanduateí e a Ilha dos Amores, sendo, no início do
século 20, construída outras condições de engenharia nas edificações para o
local, com transformações urbanísticas que modificaram a região da várzea do
Rio Tamanduateí.
Fragmento do Mapa da Várzea do Tamanduateí: Francisco de Albuquerque e Jules Martin, julho 1877
TAMANDUATEI planta de Affonso A. de Freitas,
destacando intervenções sobre o trecho do Rio Tamanduateí no século
XIX retificado no ano de 1848 e de 1896 a 1914
Muitos libaneses, sírios e outros povos árabes decidiram sonhar com
uma vida melhor, buscando fixar-se na América. A principal fonte de
descontentamento era o domínio turco-otomano que se expandia em constante
conflito belicoso. A imigração libanesa ocorreu por gerações que vieram ao
Brasil em busca de um lugar para trabalharem livremente. Com as grandes
enchentes do Rio Tamanduateí, muitos comerciantes vendiam suas mercadorias
muito abaixo do preço para não arcarem com grandes prejuízos. Essa prática foi
o marco para que a região da Rua Vinte e Cinco de Março fosse conhecida como um
pólo comercial de alta rotatividade e pólo diferenciado de baixo custo e de boa
qualidade.
Registros históricos indicam que a primeira loja aberta
no local foi a Nami Jafet & Irmãos, em 1893 que nesta época constava apenas
com seis lojas: cinco armarinhos e uma mercearia. Oito anos depois, em 1901,
já eram mais de 500 pequenas lojas. Nasciam, assim, duas tradições: a de
imigrantes libaneses se estabelecerem na Rua Vinte e Cinco de Março e a de fornecerem mercadorias
para seus compatriotas recém-chegados a São Paulo mascatearem em bairros distantes
da capital paulista. Deste modo o comércio na Rua Vinte e Cinco de Março prosperou rapidamente.
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Os primeiros
produtos importados na Rua Vinte e Cinco de Março eram porcelanas japonesas e
chinesas, cutelaria alemã, rendas suíças e francesas, casimira inglesa e outras
variedades. Os sírio-libaneses eram na época, a maioria dos comerciantes da
região.
Embora São Paulo
fosse local de trânsito de pessoas, sofreu crescimento vertiginoso na virada do
século 19, sendo que em 1895, São Paulo tinha uma população presumível de 130
mil habitantes, dos quais 71 mil eram estrangeiros, chegando a 239.820 em 1900,
quase o dobro em cinco anos apenas.
Depois da
Revolução de 1930, a indústria nacional consolidou-se como produtora de consumo
e os produtos nacionais passaram a dominar as prateleiras das lojas da Rua
Vinte e Cinco de Março. Vestuário e armarinho eram os principais produtos,
vendidos no atacado e varejo.
Hoje o rio Tamanduateí está canalizado
e todo retilíneo, preso a uma armadura de concreto e suas curvas sumiram, e, o
rio que era bem próximo ao local da Rua Vinte e Cinco de Março está hoje mais distante e as
atividades portuárias que haviam, foram substituídas por um mercado muito ativo
e constante da região, mas feito pela relação de oferta e procura entre os
comerciantes e os “fregueses” na rua de maior afluência de comércio do Brasil.
Os povos de etnia árabe dominaram boa parte do comércio nessa região até os
anos de 1980, quando ganharam a companhia de outras etnias, com a chegada dos
asiáticos, mais precisamente coreanos e chineses.
Endereço
visitado por paulistanos e turistas de todo o Brasil, a Rua Vinte e Cinco de
Março atualmente concentra uma variedade de comércio que atinge todos os
públicos e idades desde produtos gerais de tecidos, bijuterias, acrescido de
vários produtos eletrônicos. Os produtos importados, que representavam
praticamente todas as mercadorias no final do século 19, ao início do século 20,
ainda são marcas registradas no comércio da Rua Vinte e Cinco de Março do século 21.
Vide também:
O pedestal “Marco Zero” de Santo Amaro e a Ilha dos Amores da Rua 25 de
Março, em São Paulo.
Bibliografia
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Reminiscências da Cidade de São Paulo. São Paulo, Hucitec/SMC, 3 vol., 1984.
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MILLIET, Sérgio - Roteiro do Café e outros
ensaios. São Paulo, Prefeitura do Município de São Paulo, 1941 (Coleção
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MORSE, Richard - De Comunidade à Metrópole. São
Paulo, Comissão do IV Centenário da fundação de São Paulo, 1954.
PORTO, Antônio Rodrigues - História Urbanística
da Cidade de São Paulo (1554-1988). São Paulo, Ed. Carthago & Forte,
1992.
SÃO PAULO (CIDADE) - São Paulo: Crise e Mudança.
São Paulo, Prefeitura do Município de São Paulo /Editora Brasiliense, 2ª
edição, s/d.
OLIVEIRA,
Lineu Francisco de. Mascates e
Sacoleiros. São Paulo: Scortecci Editora
Publicações: Revista do Arquivo Municipal - Série
História de Bairros
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