A MAIOR
FUNDIÇÃO ARTÍSTICA EM FERRO FUNDIDO: ESTILO EXPORTADO PELO MUNDO
O ferro fundido moldado, com seus ornamentos muito trabalhados, torna-se um componente maior das paisagens urbanas do século XIX com presença constante na construção. O material faz assim concorrência ao bronze e substitui o ferro forjado, a pedra e a madeira. Dessa forma, a utilização de colunas em ferro fundido (material de alta resistência a compressão) nos prédios públicos permite a construção de espaços internos de elevado pé-direito, muito espaçosos e claros.
O ferro fundido moldado, com seus ornamentos muito trabalhados, torna-se um componente maior das paisagens urbanas do século XIX com presença constante na construção. O material faz assim concorrência ao bronze e substitui o ferro forjado, a pedra e a madeira. Dessa forma, a utilização de colunas em ferro fundido (material de alta resistência a compressão) nos prédios públicos permite a construção de espaços internos de elevado pé-direito, muito espaçosos e claros.
Nas proximidades deste mesmo local nasceria um
novo conceito em fundição de peças que transformaria de vez as artes francesas
e mundial através de um visionário chamado Jean-Pierre Victor André.
Em 1833 André era gerente de forjaria da metalúrgica
Brousseval (localizada em duas comunas Cousances-aux-Forges
et Thonnance-lès-Joinville)
e estava às “turras”
com o empresário da referida empresa pois havia ideia de expansão de negócios por
parte de André que não eram aceitas.
Para romper com o modelo tradicional, André achou
melhor fomentar seu próprio negócio. Endereçou requerimento ao Rei de França,
Luís Filipe, em 28 de Outubro de 1834 requerendo homologação para a construção de um forno de
fusão para formar uma empresa de exploração no pequeno Vale e constituir desta
forma a fundição Val D’Osne[1]!
Todos acreditavam ser algo excêntrico por parte
de André, pois no referido Vale, no
local onde pensava instalar a fundição, havia apenas um pequeno ribeirão sem
força costumeira dos grandes rios.
Como iria conseguir bastante potência para
movimentar forjas?
Por que ir tão longe dos acessos normais das
estradas principais?
Apenas mais tarde, contrário ao senso comum, André conseguiu seu intento
no que estava reservado a sua empresa Val d’Osne, pois o vale era rico em minério
e areia, matéria prima necessária para moldagem de fundição, que possuia outro
conceito, contrário as grandes máquinas propulsoras de forjaria do aço, que
necessitava de grandes impactos de força motriz.
Deste modo,
foi promulgada a autorização atraves de Edito Real em 5 de abril de 1836 e André
se tornou proprietário da Fundição Val d’Osne, iniciando primeiramente a
produção de tubos(em ferro gusa), jarros, placas de proteção (firebacks) e outros
acessórios. Seu primeiro
endereço de Paris foi no Rue Neuve, 14, Ménilmontant.
Sua ideia maior estava voltada
para a criação de produtos decorativos que seriam produzidos partindo de
experimentos com vários elementos em arte geral e esculturas. André morou em
Paris por vários anos e presenciou o
auge da revolução industrial e além disso pertencia a um círculo de
artistas conhecidos e onde poderia encontrar escultores para esboçar peças de
portões, balcões, escadarias, gradis, fontes, estátuas, icones religiosos e até
peças para armamentos bélicos.A expansão das ferrovias também recebeu atenção
da fundição Val d’Osne, onde muitas peças ornamentavam estações
ferroviárias. O uso de ferro fundido para ornamentar jardins tornou-se difundido
particularmente neste momento, como as possibilidades de sua produção ser em comparação
de massa ser uma fração do custo do bronze, tornando o ferro fundido para ornamento
estatuário de interiores e exteriores, iluminação figurativa, fontes e vasos. O
material era, deste modo, escolhido por agregar valores menos dipendiosos e foi
desmonstrado em feiras de arte a beleza das peças fundidas em ferro.
Nínguém ainda tinha concebido o ferro fundido (cinzento)
como material para construção de peças artísticas, pois tudo que era beleza na
arte era concebido ou pelo mármore ou pelo bronze. Isto aconteceu até o
aprecimento de seu criador e inovador, Jean-Pierre
Victor André.
A fundição artística nasceu nos
anos 1830. Os primeiros fundidores artísticos franceses foram Jean Pierre
Victor André, em Val d'Osne, Haute Marne, Calla em Paris, Ducel em Pocé, Indre.
Aparentemente, o Le Val d'Osne, aparecia
bem cotada no relatório da exposição universal de 1844: "Deve ser lembrado
que o senhor André é o criador da moldagem em Champagne. Acreditou-se durante
muito tempo que as fundições, geralmente convertidas em ferro, não dispunham
das qualidades necessárias para serem usadas em “substituição” ao bronze.
Assim, confeccionavam-se apenas grelhas e placas. O senhor André foi o primeiro
a tentar utilizar o ferro fundido para outra finalidade".
Outros grandes fundidores, como
Muel em Tusey-Vaucouleurs, Meuse, Durenne em Sommevoire, Capitain-Gény em
Bussy, Fundições de Saint-Dizier (parceiros exclusivos de Hector Guimard) em
Haute-Marne, Denonvilliers em Sermaize-sur-Saulx, Marne, Thiébaut em Paris e
Voruz em Nantes, produzirão de modo consequente peças ornamentais que podem ser
admiradas até hoje no mundo inteiro. As primeiras estátuas em ferro fundido
cinzento foram realizadas a partir de modelos provenientes da oficina de moldagem
do museu do Louvre.
Assim, mais de 200 escultores,
dentre os quais Bartholdi, Carpeaux, Carrier-Belleuse, Diélbot, Guimard,
Jacquemart, Mathurin Moreau, Pradier, Rouillard e Rude, irão criar, em
colaboração com os operários fundidores, modelos destinados a serem moldados em
série para ornamentarem não somente praças, chafarizes e jardins públicos como
também o interior das residências de uma burguesia em expansão, ávida por
presentear-se com moradas que antes eram reservadas aos príncipes.
Os fundidores artísticos expõem
desde 1851, em Londres, no famoso Crystal Palace, palácio em ferro e vidro. Não
hesitam em exibir objetos monumentais. Em 1862, Val d'Osne expõem novamente em
Londres, uma fonte monumental de dez metros de altura, idêntica à peça
instalada na Praça Monroe, no Rio.
A Val d'Osne
iniciou produzindo itens também de alta beleza. Sua pequena fundição era
provida de alto forno (forno de primeira fusão formando lingotes provindo do
minério de ferro, calcáreo e carvão) um Forno Cubilot[2],
mais tarde acrescido de mais dois fornos, empregando 220 fundidores em 1844,
fazendo o encontro entre o escultor com o fundidor na fundição
artística onde o "industrial tornou-se artista e o artista industrial.
Em apenas 8
anos André havia introduzido no meio artístico um novo conceito de arte, quando
ninguém havia tentado nada semelhante, sendo então cercado de todo prestígio e
rodeado por industriais e negociadores de ramo, pela alta qualidade de seus
produtos.
A paixão de
André estava deste modo completada quando uniu o processo produtivo da indústria com a arte, criando o
que se tornaria conhecida como “Fonte da
Arte”.
A inspiração descoberta por André maravilhava os especialistas, mas pouco viveria para ver a grandeza da Val d'Osne[3] e vencer seu primeiro prêmio na Exposição Universal, realizada em Paris, em 1855, onde sua nova arte se tornaria uma mania pelo mundo, distribuindo trabalho pelos 16 escultores franceses através de 33 países. Ele faleceria trabalhando na fundição em 1851. (havia nascido em 26 de dezembro de 1790)
PALÁCIO DE BELAS ARTES-1855
A inspiração descoberta por André maravilhava os especialistas, mas pouco viveria para ver a grandeza da Val d'Osne[3] e vencer seu primeiro prêmio na Exposição Universal, realizada em Paris, em 1855, onde sua nova arte se tornaria uma mania pelo mundo, distribuindo trabalho pelos 16 escultores franceses através de 33 países. Ele faleceria trabalhando na fundição em 1851. (havia nascido em 26 de dezembro de 1790)
Viajantes
pelo mundo afora podem ver-se peças da Val d'Osne ou sua influência artística
através da Europa, Rússia, particularmente em São Petersburgo, no Soho,
igualmente em Londres e Nova York, em Nova Orleans, Los Angeles, por toda a parte da França, México e no
Brasil, mais especificamente no Rio de Janeiro, onde foram protegidas de duas
grandes guerras mundiais, sendo um museu a céu aberto nas praças públicas
daquela cidade.
Unindo os maiores escultores do
século 19, André uniu a arte com a indústria, que a
fundição do ferro recebendo impulso grande, criando e aprimorando novas
técnicas e construindo uma obra que será
a herança cultural para a Haute-Marne.
Muitos fizeram a fama na arte construída por
escultores que colaboraram no século 19 com a Val d'Osne, Henri Marie Alfred Jacquemart;
Jean-Jacques Pradier; Alphonse Lerolle; Pierre Loison; Jules Salmson; Henri
Frédéric Iselin; Louis Sauvageau; Jean de Bologne, Albert Ernest Carrier-Belleuse;
Gabriel Dubray; Pierre Louis Rouillard; August Martin; Provin Serres; Joseph de
Nogent; Charles Auguste Lebourg; Guillaume Coustou; Pierre Lepautre; Georges
Prosper Clère; Eugéne Louis Leguesne, Isidore Bonheur, Delaplanche, Gautherin, Liénard e
outros mais talentosos artistas que tiveram auspicioso comando do nome mais famoso da Val
d'Osne, Mathurin Moreau, criador de fontes, monumentos e esculturas catalogadas
nesta época, período em que a obra de Moreau denota um estilo clássico,
elegante e refinado nesta arte, além de ter a sensibilidadee delicadeza para
expresar de maneira sublime o lado feminino, um avanço de estilo para o que foi
denominado de “art-nouveau”.
Mathurin Moreau compreendia todos os estilos e processos
de fundição criando peças que eram apreciadas pelo alto requinte, mas também
era um especialista em moldar o gesso, mármore, bronze e a prata, estes dois
últimos de grande fluidez, o que faciltava a moldagem. Possuia um
interesse na inovação das técnicas
empreendidas, sendo que o local onde estava localizada a fundição no século 19
tornou-se o maior distrito da cidade de Paris em função da criação da Val
d'Osne. Moreau faleceu com a idade de 90 anos (1821-1912) sempre produzindo
arte, sendo condecorado em muitas exposições ao longo de sua história.
Depois da morte de André, sua
esposa gerenciou a Val d'Osne por alguns anos antes de vendê-la para Gustave
Barbezat, um protegido de André que deu continuidade à expansão da fundição ampliando a produção
estabelecendo-se como o maior empregador da França em 1866. Em 1855 a fundição Val
d'Osne passou a denominação Société Barbezat & Cie. Em 1867 Barbezat et Cie
passou a empresa para Fourment Houillé & Cie. Em seguida, em 1870, a
denominação da fundição passou a ser Société Anonyme des Hauts-Forneaux et
Fonderies du Val d'Osne, ampliando sua produção. Com a mudança de nome veio a
mudança de marca de fundição e endereço: Arte de Fonderies du Val d'Osne, Boulevard
Voltaire, 58, em Paris ou simplesmente Val d'Osne.
Após
Barbezat, a Val d'Osne continuou sendo a maior do ramo de arte em ferro fundido
com o saneamento do planejamento de Charles Hanoteau, dando enfase ao processo
eletrolítico contra oxidação do ferro, delegando o continuismo administrativo
ao seu filho Henri em 1895. Dos anos de 1870 a 1892 foram anos aúreos para a
grandeza da produção artistica, pois somou-se em 1878 o acervo dos modelos
artísticos de J.J. Ducel.
No século 20 as guerras interroperam o ciclo e em
1917 a maior produção daVal d'Osne passou a ser de granadas e obuses, placas estruturais
de contenção de combate requisitadas pelo governo de França que proveu recursos
para esta finalidade até o final da Primeiro Grande Guerra Mundial. Em 1931
passou a ser controlada pela Societé Durenne, em Sommevoire, Haute Marne que
recebeu a denominação Société Anonyme Durenne
et du Val d'Osne, sendo direcionada
para a fabricação decorativa e suprimindo a fundição artística sendo esta
substituída pela fabricação de peças mecânicas. Com o advento da 2ª Guerra
Mundial, sendo a França invadida por tropas alemãs as dificuldades se
avolumaram, mas assim mesmo manteve suas atividades até encerrar suas
atividades em 1986, pois os tempos eram outros e novos modelos de planejamento
e produtividade fora alterados.
A histórica
empresa Val d'Osne tem ainda seu reflexo continuado de produção decorativa de
fontes, candelabros, estátuas, chafarizes e peças mecanicas industriais
seguidas pela Societé Générale D’
Hydraulique et de Mécanique, GMH, comuna de Sommevoire, no Haute Marne, que
ainda possui modelos do século 19 e que ainda são atuais como peças artísticas.
Depois de Jean-Pierre Victor André, Barbezat & Cie, Fourment, Houille &
Cie, J.J.Ducel criadores das indústrias reponsáveis pela Fonte da Arte os
conceitos artisticos ganharam novos conceitos e nova ótica.
Referências:
Luz, Jan de. The French Touch.
Utah: Ed. Gibbs Smith, 2004 (Discovering Passion, p.70)
Fontes d’Art. Album nº 2. Société
Anonyme des Hauts-Forneaux et Fonderies du Val d'Osne.
Junqueira, Eulalia; Cruz,
Pedro Oswaldo e outros. Arte Francesa no Ferro no Rio de Janeiro-Memória
Brasil. J. Sholna Reproduções Gráficas, UTE Norte Fluminense. ISBN
85-98227-02-1(Lei de Incentivo a Cultura)
Exposition universelle de 1855 http://fr.wikipedia.org/wiki/Exposition_universelle_de_1855
Benedict, Otis Jr. Tradução Francisco J. Buecken. Manual Prático de Fundição. São Paulo: Companhia Melhoramentos. 1947.
Lima e Silva, Waldemar de. Fabricação do Ferro Fundido. Rio de Janeiro: F. Briguiet & Cia. 1944
Doe, Edwin W. Foundry Work. U.S.A.: THE AMERICAN FOUNDRYMEN'S SOCIETY. 1951
Lima e Silva, Waldemar de. Fabricação do Ferro Fundido. Rio de Janeiro: F. Briguiet & Cia. 1944
Doe, Edwin W. Foundry Work. U.S.A.: THE AMERICAN FOUNDRYMEN'S SOCIETY. 1951
[1]
No Vale Haute Marne, em Champagne-Ardenne, a leste de Paris foi
produzido ferro por longos 25 séculos para fabricação de espadas e ferraduras
para as cavalgaduras usando o minério de boa qualidade de Marne, além de nas
proximidades da mineradora haver um grande quantidade de madeira para combustível
dos fornos, além da potência provinda das rodas d’água alimentada pela força dos
rios que acionavam máquinas propulsoras das forjas alimentando uma dúzia de
algumas metalúrgicas que produziam tubulações para as fontes de praças e para o
aquecimento (firebacks) em Versalhes do século 17.
- O MINÉRIO DE FERRO
O ferro nativo, de origem
plutoniana ou meteórica, e os minerais carbonatados são relativamente raros na
França. Em compensação, os minérios oxidados, hematita vermelha, magnetita
negra, limonita parda e minérios oolíticos são abundantes naquele país.
Na Haute-Marne, trata-se de
minério de ferro hidratado, granuloso ou minério em grãos, denominado minério
neocomiano ou minério portland. Caso o tratado de fundição redigido em 1847 por
Guettier tenha credibilidade, esse tipo de minério tem a reputação de fornecer
as mais belas peças moldadas em ferro fundido e de ser menos vulnerável ao
ataque do contato com o ar.
Com teor médio de ferro de 50%,
este minério também contém, em proporções reduzidas, outros elementos que irão
influir nas características do metal. Deste modo por longos 200 anos
o Marne continuou a ser o maior fornecedor de minério da França para a produção
industrial da região.
[2] O forno Cubilot foi inventado no século 19 pelo pesquisador de metalurgia, o francês Réaumur, sendo o
principal meio de fusão destinado a gerar ferro fundido cinzento, material
utilizado desde então para a confecção de peças artísticas e industriais em
ferro fundido.
[3] Nada foi a popularidade e o uso do ferro fundido ornamento maior do que
em França, onde na segunda metade do século XIX duas fundições em particular
dominavam a produção para o mercado interno e para exportação. A mais
importante foi oficialmente denominada Société Anonyme des Hauts-Fourneaux et
Fonderies du Val-D'Osne, (conhecida após 1870 como simplesmente Val-D'Osne)
maisons Anciennes J.P.V. André et J.J. Ducel et Fils. Menor do que a Val
D'Osne, a empresa de A. A. Durenne, foi fundada em 1847 no Sommevoire e
investia também neste importante ramo da fabricação de ferro fundido. Val
D'Osne e Durenne freqüentemente receberam medalhas para seus trabalhos em
muitas exposições internacionais da segunda metade do século XIX.
Muito bom artigo. Sou grande admirador das obras de Val D’Osne aqui no Rio de Janeiro. Com as devidas referências vou compartilhar numa página que administro no Facebook. Obrigado !
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