quarta-feira, 24 de agosto de 2011

PIONEIROS DA AVIAÇÃO CIVIL NO CAMPO DE MARTE EM SÃO PAULO

(MATÉRIA: “A AVIAÇÃO CIVIL” - DIÁRIO POPULAR DE 30 DE JANEIRO DE 1930)

Não se pode escrever uma síntese da Aviação em São Paulo, sem fazer justiça aos esforços empregados pelo luzido grupo de moços patrícios que constituem a Sociedade Aero Civil. Esses jovens com inabalável fé, estão fazendo prodígios em prol do progresso da aviação civil e comercial no Estado.

Bem poucos, a princípio, conseguiram depois chamar às suas fileiras novos adeptos da causa patriótica e hoje a Sociedade Aero Civil já se constituiu em extraordinária animadora da navegação aérea em terras paulistas.

O governo compreendendo os objetivos patrióticos da novel associação, tem amparado a sua a sua iniciativa e ainda recentemente o Congresso Estadual votou um projeto de lei estabelecendo um auxilio de 100:000$000 ao Aero Civil, para aquisição da sua esquadrilha e mais um premio de 25:000$000 para ressarcir os gastos oriundos da aprendizagem dos alunos pilotos.

A Sociedade Aero Civil conseguiu da prefeitura um vasto terreno para instalação do seu aeroporto nas proximidades da Ponte Grande e atualmente está instalada no hangar do vaiador Fritz Roesler, situado ao lado do aeródromo do Campo de Marte. Trabalha-se ali ativamente pela aviação paulista.

O aeródromo dispõe de oficinas para reparos de aparelhos, almoxarifado, sala para descanso dos pilotos civis, secretaria e sala para reuniões da diretoria. A sede social é à rua Xavier de Toledo.

No hangar da sociedade encontram-se os seguintes aviões pertencentes a associados:

1 Klemm-Daimler - do aviador Amadeu Saraiva

2 Nieuport, de 80 HP/ 1 Caudron, de 120 HP/ 1 Morane Saulnier, de 120 HP/ - pertencentes ao piloto Fritz Roesler

1 Bebê-Nieuport, pertencente ao aviador João de Barros,que ofereceu ao Aero Civil, a fim de ser rifado e o produto doado à viúva do malogrado aviador Vasco Cinquini.(Queda do avião BREDA-15, em Santos, em 11 de janeiro de 1930)

Além desses aviões estão guardados no aeródromo os seguintes que pertencem a “SARA”, empresa italiana que está fazendo o levantamento aero - topográfico da cidade de São Paulo:

1 Caproni, para 6 passageiros, motor Jupiter-Gnome de 120 HP

1 Sva, de 220 HP

1 Fiat, de 100 HP

O Caproni, pilotado pelos aviadores Fischetti e Cattaneo, que o trouxe da Itália,deverá fazer o seu primeiro vôo dentro de poucos dias.

Além desses aviões civis, ainda existe ema São Paulo:

1 AVRO pertencente ao piloto Adolpho Calliera

1 Manocoupé, de propriedade do aluno civil da Escola do Campo de Marte, Sr. Augusto Meirelles

Os irmãos Robba também têm o seu hangar no campo do Aero Civil e nele guardam seus aviões.

A Sociedade Aero Civil vai mandar vir da Europa os aparelhos para instalar dentro em pouco tempo a sua Escola de Aviação para civis.

Por tudo quanto acima foi dito, verifica-se que a aviação em São Paulo está agora em franco progresso e justo é salientar que esse desenvolvimento extraordinário é devido , em grande parte,à ação governamental , auxiliando as iniciativas particulares e cuidando com entusiasmo do grande núcleo aviatório que é a Escola do Campo de Marte.

AVIADORES MORTOS

Não tem sido, felizmente, muito os desastres de aeroplanos em São Paulo, e desses nem todos foram fatais.

As primeiras águias feridas e tombadas do azul em terras paulistas foram: Picollo, João Bertone, morto em conseqüência de um “pane” de motor quando deixava o aeródromo de Indianópolispara fazer um raid a Ribeirão Preto; capitão João Busse, morto em Buri, quando estava realizando um raid Campinas- Curitiba; tenente Edmundo Chantre, um dos melhores pilotos da Esquadrilha da Força Pública, morto em conseqüência de uma capotagem num augusto campo em Uberaba, quando seguia para Goiás; capitão Messias Henrique Ribeiro, e deputado Manoel Lacerda Franco, vitimados na queda do “Anhanguera” nas proximidades de Areado, no sul do Estado; e, por último Vasco Cinquini , o mecânico heróico do hidravião “Jahú”, morto,em Santos,em conseqüência de se haver quebrado uma asa do seu aparelho, quando pela primeira vez o experimentava.

A todos esses bravos, novos Ícaros da Aviação paulista, a saudade dos que aqui ficaram a trabalhar pelo desenvolvimento da 5ª arma, aquela que há de defender um dia a integridade da Pátria, se porventura ela estiver ameaçada.

OS NOVOS AVIÕES

A Escola da Força Pública conta com ótimos aviões para treino dos seus pilotos. O atual governo adquiriu nos Estados Unidos seis aparelhos Curtiss-Fiedgling, equipados com motor Curtiss-Challenger, de 6 cilindros resfriados a ar, de 170 HP e uma velocidade de 176 quilômetros horários , com um raio de ação de 4 horas e 20 minutos de vôo. São esses aviões de duplo comando e tem a fuselagem metálica. Nas provas a que foram submetidos na Escola deram ótimos resultados.

Esses aviões foram divididos em duas esquadrilhas: a Vermelha e a Azul, estando os desta última sendo agora montados e dentro em poucos dias farão os primeiros vôos de experiência.

Além desses estão sendo empregados na instrução dos alunos pilotos mais dois aparelhos: o “São Paulo” e um Avro-Avian, denominado “Itararé”.

Os aviões da Esquadrilha Vermelha receberam a as seguintes denominações: “Campinas”, “São Manoel” e “Itapetininga”.

Os do Azul serão batizados: “Atibaia”, “Avaré” e “Santos”.

ALUNOS PILOTOS CIVIS

O Sr Secretário da Justiça e Segurança Pública, de acordo com o Comando Geral da Força Pública, resolveu patrioticamente que na Escola de Aviação do Campo de Marte, fossem matriculados civis para ali fazerem o curso de pilotagem de aeroplanos.

Essa iniciativa permitirá a Força Pública, dispor em caso de mobilização, de um núcleo de pilotos para suas esquadrilhas, pois os civis, que fizerem o curso de aviação no Campo de Marte, serão considerados como reserva da nossa aviação militar e deverão usar um uniforme especial, que já está sendo estudado.

OS ALUNOS E SEUS MESTRES

Atualmente recebem instrução na Escola os seguintes alunos pilotos civis e militares:

Alunos do capitão João Negrão:

2º tenente João Marques

2º sargento Alfredo Lemos

Civil Plínio de Castro Ferraz

Civil Benedicto Brandão

Major médico dr Jaime Cardoso Americano

Civil Augusto Meirelles

Civil João Michilany

Discípulos do tenente Sebastião Machado:

2º sargento Ascendino Mauricio da Silva

Civil Alberto Americano

Civil Aureliano Ariza

Civil José de Araujo Luzo Junior

Civil Casio Simões

Civil Vicente Magalhães

Alunos do tenente Raul Marcondes:

1º sargento João Baptista Marques

2º sargento Eduardo da Silva

2º sargento Gervasio Brasil

Capitão da 2ª linha do Exército , Amadeu Saraiva, fazendo duplo comando.

Civil Antonio Paulo Sacchitelli

Civil José Ferrinho Visconti

Civil Renato Pacheco Pedroso

Instruídos pelo aviador Hoover:

1º tenente Orlando Marques Machado

2º sargento Milton Ferreira

2º sargento Manoel da Silva Basto

2º sargento Jurandyr de Barros

2º sargento Mario Soares da Rocha

2º tenente Pedro Luiz Pereira (recebendo duplo comando)

Civil Braz Nery


NOTAS:

Titular da Pasta de Justiça: dr Salles Junior
Presidente do Estado: dr Julio Prestes


Bibliografia:

Histórias e Lendas de Santos - Pioneiros do Ar Asas partidas (Tragédia na praia)

CANAVO Fº, José; MELO, Edilberto de Oliveira. Asas e Glórias de São Paulo. São Paulo: IMESP, 2ª Edição, 1978

sábado, 20 de agosto de 2011

SONHOS E REALIDADES DA AVIAÇÃO EM SÃO PAULO NO FINAL DE 1920

“HÁ EM NOSSO ESTADO 40 AVIADORES, 28 AVIÕES EM CONDIÇÕES DE VÔO E 44 CAMPOS PRÓPRIOS PARA ARRIAR” (Matéria O Estado de S. Paulo, 8 de dezembro de 1929)

OS CAMPOS DE AVIAÇÃO

São Paulo possui quatro sítios onde é possível a descida de aeroplanos, porem nenhum deles pode ser chamado de “aeroporto”, tal a deficiência técnica que apresentam. Enfim, tudo deve ser resumido num único e inexplicável motivo: o descaso dos poderes públicos.
CAMPOS DE POUSO E DECOLAGEM NO ESTADO DE SÃO PAULO

1- O CAMPO DE MARTE

Neste campo estão localizados os dois simulacros de “aerodroms” que dispomos: o da Policia Civil e o do Aero Civil de São Paulo. A pista de um está separada do outro, paralelamente, por 500 metros mais ou menos. Se estas pistas fossem unidas por outras duas em sentido normal, e desde que se fizesse a drenagem de todo o terreno, que é fofo e encharcado, São Paulo poderia dizer que dispunha de um excelente aeroporto. Porém, da maneira que está às aterragens de aparelhos pesados representam verdadeiros atos de temeridade do piloto. Tivemos nestes últimos tempos três exemplos irrefutáveis e que atestamos quanto é perigoso o Campo de Marte. Queremos nos referir ao acidente do avião da “The Aircraft Operating” que ao pretender aterrar, capotou completamente devido a terem-se enterrado completamente as rodas no brejo que circunda o campo. Também o anfíbio “Tampa” da “Nyrba Line” ficou atolado, sendo salvo milagrosamente de uma capotagem pela solicitude dos aviadores militares e civis que estavam presente. O terceiro exemplo foi o da subida do “Santiago”, que sendo um aparelho de 16 pessoas, e por isso muito pesado, teve de levantar vôo com pequeno impulso, pois as acanhadas proporções da pista não lhe permitiram uma corrida grande para alçar-se.
A parte que pertence ao Aero Civil de São Paulo, entretanto, está em condições bem melhores, dispondo de dois amplos hangares, respectivamente da S.A.R.A e do aviador Fritz Roesler. Também já está instalada ali uma bomba de gasolina, que graças aos bons ofícios da diretoria do Aero Civil foi obtida gratuitamente da The Texas Company.

2- O CAMPO DE IBIRAPUERA

Há muito tempo que se fala da mudança do aeródromo da Força Pública do Campo de Marte para o de Ibirapuera, na Vila Mariana. Parece, entretanto, que não há muito empenho nesta mudança, visto que ela em nada viria beneficiar os pilotos da Polícia, e tão pouco resolveria a importante questão do aeroporto de São Paulo. Em Ibirapuera há necessidade de movimento de terra grande e demorado, que acarretaria despesas vultosas, a ponto de não compensar o seu fim. Por cálculos feitos por engenheiros interessados no assunto, enquanto os serviços de Ibirapuera importariam em alguns milhares de contos, os do Campo de Marte seriam acomodados com pouco mais de 500 contos. Além disto, este último campo pode ser perfeitamente reconhecido por qualquer aviador, mesmo o que esteja voando pela primeira vez sobre São Paulo, devido a sua localização ao lado do Tietê, Deve-se ainda lembrar que muito próximo do Campo de Marte fica a grande lagoa que fornece areia para São Paulo. Esta lagoa, mesmo depois da retificação do Tietê, vai ser conservada pela Prefeitura, e sua profundidade de 3 ou 4 metros permite a descida de qualquer hidroavião. Assim, parece que o campo de Ibirapuera deve ser posto de margem, pois nunca poderá ser vantajosamente cotejado com o de Marte. Aliás, está rodeado de terrenos de particulares, e a área a que ficaria reduzido, depois de tudo edificado, seria insuficiente para um verdadeiro aeroporto.

3- O CAMPO DE GUARULHOS

A despeito de estar abandonado desde que o grande “az” Edu Chaves abandonou escola de aviação civil que ali fundara, o aeródromo de Guarulhos poderia ainda ser convenientemente aproveitado. É verdade que está já fora de São Paulo, e as despesas que se teriam de fazer para seu acabamento não animam nem o governo nem os interessados na aviação comercial em nossa terra.

4- O CAMPO DO HIPODROMO

Talvez seja o hipódromo do Jockey Club o local mais seguro para a descida de aviões. Mas, o que se quer não é só um campo, mas as instalações.

TRÊS ESCOLAS DE AVIAÇÃO E TRÊS EMPRESAS ESTRANGEIRAS COOPERAM PARA O ÊXITO DA NOSSA AERONÁUTICA

A APRENDIZAGEM DA AVIAÇÃO

Os nossos pilotos aprendem, ou praticam, a pilotagem aérea, em três escolas, duas dais quais são civis. A seguir faremos referência especial a cada uma delas.

1- ESCOLA DA FORÇA PÚBLICA

A instrução desta escola está sobre a responsabilidade do Major Orton Hoover, um dos pilotos de mais destaque, no nosso país. O atual material de vôo da Força Pública, que consiste numa esquadrilha de “Curtiss” de 170 C.V., um avião “São Paulo” e um “Avro”, além de outra esquadrilha, também “Curtiss” em Santos, ainda não montada, permite que o treinamento e aprendizagem dos pilotos da Polícia sejam feitos com eficiência e êxito. Parece que depois do lamentável acidente do “Anhanguera”, em que perderam a vida dois dos maiores entusiastas que a aviação nacional jamais teve, o governo resolveu mudar o nosso aparelhamento de aviação, tirando-lhe o tradicional caráter de “matadouro” com o público pitorescamente lhe chamava.

2- ESCOLA SANTISTA DE AVIAÇÃO

Os aviadores Reynaldo Gonçalves e Rosário Russo, que isoladamente se ocupavam do preparo de novos pilotos, resolveram unir-se para fundar a “Escola Santista de Aviação” , que teve desde o início uma eficiência dobradamente maior que a tinham os cursos individuais de cada um dos seus atuais instrutores.

Justamente hoje a “Escola Santista de Aviação” submete ao exame da comissão técnica do Aero Civil dois dos seus alunos candidatos ao diploma de aviador civil. Com esta afirmação de eficiência e pelos méritos dos aviadores, Rosário Russo e Reynaldo Gonçalves, vê-seque a escola que juntos dirigem está fadada a um brilhante futuro.

3- AERO CIVIL DE SÃO PAULO

Não se pode esconder que o papel mais saliente no desenvolvimento da aviação de São Paulo coube sempre ao Aero Civil, onde todo piloto encontra o amparo que porventura necessite para qualquer empreendimento. A despeito de lutar com dificuldade de varia natureza, o Aero Civil já possui um campo de aviação que embora deficiente, é sem contestação, o melhor da capital.

A sede do Aero Civil é diariamente freqüentada pelos pilotos residentes em São Paulo, criando-se entre eles um espírito de solidariedade que provavelmente os levará a um futuro de realizações. A sua sede está instalada à Rua Xavier de Toledo, 9-A

LISTA DOS AVIADORES RESIDENTES EM SÃO PAULO (40 pilotos)

Amadeu da Silveira Saraiva, amador

Augusto Meirelles, amador

Álvaro Cardoso, amador

Antonio Carneiro da Cunha, amador

Antonio Rodrigues, amador

Adopho Calhera, amador

Cesar Fischetti, profissional

Edu Chaves, amador

Fritz Roesler, profissional

Henrique Robba,profissional

Hanz Guzy, profissional

Irahy Correia, amador

João Ribeiro de Barros, amador

João Carlos Gravé, profissional

Julio Costa, amador

João Robba, profissional

José Camargo, profissional

João Erler, profissional

Luiz Tolesani, amador

Moacyr Barbosa, amador

Nelson Smith, profissional

Renato Pedroso, amador

Reginald Halliwel, profissional

Reynaldo Gonçalves, profissional

Rosário Russo, profissional

Robert Thiry, amador

Raul Barbeta, amador

John Ridgivay, amador

Thereza de Marzo, amadora

Vasco Cinquini, profissional

Vivian Nicol, amador e comandante

Paiva Meira, oficial da Marinha reformado

Pertencentes à Esquadrilha da Força Pública

Major Orton Hoover, instrutor

Capitão Negrão,

Tenente Machado,

Tenente Raul,

Tenente França,

Tenente Toledo,

Tenente Lima,

Brigada Sylvio

Referência:
Texto extraído do "O Estado de S. Paulo", de 8 de dezembro de 1929, com atualização da ortografia
Material ilustrativo: Roland Pierre Julien





segunda-feira, 15 de agosto de 2011

RUAS EM SANTO AMARO: BELCHIOR DE PONTES OU ROBERTO ALVES DE CARVALHO FILHO

MUDANÇAS DE NOMES PARA CAIR NO ESQUECIMENTO O PERTENCIMENTO LOCAL

Mudanças de nomes em ruas não resolvem o problema urbano, inclusive afeta, em muito, documentos já existentes nominados anteriormente e é uma de tantas aberrações dos egrégios representantes além de honerar com as custas financiadas pelo erário público. Por essas arbitrariedades, imagina-se que São Paulo não possue urgências a serem sanadas pelos alcaides e seu edil, representantes máximos da Câmara Municipal. Nomes antigos e representativos para determinada localidade são alterados dando outra referência biográfica sem nenhum pertencimento, fora do contexto da localidade. Não que não merece haver menção, aquele que substiui o primeiro nome, muitas vezes supera em obras, mas não supera em valor de identidade.

EM AMARELO: ANTIGA RUA Pe. BELCHIOR DE PONTES (mapa da década de 1950)
EM AMARELO, A MESMA RUA COM NOME NOVO: GENERAL ROBERTO ALVES DE CARVALHO FILHO (mapa atual)
Vejamos dois dignos nomes, homenagem em uma mesma rua, em momentos diferentes em Santo Amaro e que se tornou referência para o mesmo espaço físico em dois tempos distintos:

PADRE BELCHIOR DE PONTES: BIOGRAFIA

Belchior de Pontes foi missionário, taumaturgo, exercendo seu sacerdócio na “Vila de São Paulo do Campo de Piratininga”, nascido a beira do rio Pirajuçara, São Paulo, sem referência de data precisa e batizado em 6 de dezembro de 1644, batistério que está na Cúria Metropolitana de São Paulo, sendo ele o quinto de uma prole de 15 filhos. Belchior tinha grande devoção a Nossa Senhora e com apenas 6 anos, foi pedir ao pai, Pedro Nunes de Pontes, que levasse sua mãe, Ignes Domingues Ribeira, enferma, que a levasse ao médico, mas que antes passassem pela Aldeia de Pinheiros, “residência criada pelo venerável padre José de Anchieta”, onde se venera(va) Nossa Senhora do Monte Serrat.

PARÓQUIA NOSSA SENHORA DO MONTE SERRAT: PINHEIROS

Após rezarem seguiram para o médico, mas quando este a examinou, achou-a inteiramente sã. Ajudava no sitio do Pirajuçara a lavrar a terra para o sustento de tantos da família até estar na idade dos primeiro rudimentos da gramática e ser enviado para a Companhia de Jesus, no Colégio em São Paulo tendo como Provincial o padre Francisco de Avelar, que o fez seguir para a Bahia, para ter seu noviciado árduo ou desistisse da empreitada, onde foi aceito em 25 de junho de 1670.
HERMA DO PADRE BELCHIOR DE PONTES EM ITAPECERICA DA SERRA:
Cidade instituida em 8 de maio de 1877, quando se emancipou do antigo município de Santo Amaro.
SANTO AMARO NO CAMINHO DE BELCHIOR DE PONTES

“Como era estudante, era justo que também tivesse suas ferias, para que até deste tempo tivesse que aprender. Há junto a cidade de S. Paulo, pouco mais de duas legoas de distancia, hum bairro, a quem deram o título de S. Amaro, porque em huma formosa, ainda que pouco ornada igreja veneraõ seus moradores como patrono este santo.He bairro aprazível por natureza em huma campina de tal sorte levantada, que, não perdendo o titulo de vargem, dá bastante matéria aos olhos para se divertirem.He cortada de hum formozo rio, sobre o qual por dous diversos lugares formarão seus moradores duas pontes, as quaes ainda que não imitaõ na perpetuidade as da Europa, por serem de madeira, imitaõ quanto he possível a perfeição da arte. Cobrem-se suas margens de arvoredo de tal sorte levantado, que servindo de lhe impedir bastantemente os rayos do sol, e produzir fructas, com que se alimentaõ seus peixes, naõ impedem, antes recreaõ a vista de que curiosa attençaõ o considera. He finalmente este lugar cercado por uma parte de outeiros, que como muralhas formadas pela natureza, parece que o querem defender das inclemencias do sol, quando se põem, se he que lhe não querem offertar hum levantado, e formozo mausoleo, quando morre. Neste bairro tam bem dotado da natureza morava huma sua tia, chamada Catharina de Pontes, em cujo sitio passava algumas vezes o tempo das férias nosso estudante...Desta sorte gastava as suas ferias em Santo Amaro” (Fonseca, p.18,19)

Foi consagrado sacerdote é enviado para às missões de São Paulo onde trabalhou por 40 anos nas aldeias de “Taquacocetyba, Mboy, São Joseph (dos Campos), Jacarey, Nazareth, Araçariguama, Marueri, Itapycyryca...” Não o reteve seu zelo no distrito de São Paulo, mas levou-o mais longe: “Ytu, Guaratinguetá, Taubaté, os sertões de Minas Geraes; percorreu ainda a costa até Pernaguá, subindo dali às Serras de Corityba”.

Tinha 73 anos quando foi enviado para a Fazenda de Araçariguama, onde permaneceu por dois anos. Em 22 de setembro de 1719 entregou sua alma ao descanso eterno.

EMBU DAS ARTES: A igreja começou a ser construída por volta de 1700 pelo Padre Belchior de Pontes em substituição à antiga capela da fazenda de Catarina Camacho situada não muito longe dali, também dedicada a Nossa Senhora do Rosário.

Há relatos de vários prodígios miraculosos, e, além disso, sua tenacidade preservou-se na cidade de Embu das Artes, (reconhecida em plebiscito de 1º de maio de 2011) anteriormente denominada M’Boy, interior de São Paulo, onde Belchior de Pontes idealizou a Igreja Nossa Senhora do Rosário que atualmente detém o Museu de Arte Sacra.

GENERAL ROBERTO ALVES DE CARVALHO FILHO: BIOGRAFIA

Nascido no Rio de Janeiro em 16 de julho de 1916, o general Roberto Alves de Carvalho Filho sentou praça em 1934. Chegou a patente de general de brigada em 1971 e a de general de divisão em 1976. Tinha diploma em Artilharia de Campanha e em Armas Modernas, cursos realizados no Forte Sill e Forte Bliss, nos EUA. Exerceu comissões em vários Estados do Brasil e foi chefe de Segurança Internacional do Serviço Federal de Informações. Em seu currículo constam também grande números de medalhas e condecorações, inclusive do Governo de Portugal. O general foi combatente da Força Expedicionária Brasileira - FEB na Itália. Em Fevereiro de 1979 substituiu o general Alvarenga Navarra no comando da 2ª Região Militar, em São Paulo. Faleceu em São Paulo no dia 20 de maio de 1979.(vide ref. 3)

O que fazer para que registros oficiais não sejam alterados de tempos em tempos ao bel prazer da autoridade de plantão da cidade de São Paulo?


Referências:

1- Fonseca, Pe. Manoel da. “Vida do Venerável Padre Belchior de Pontes”, Lisboa: Officina de Francisco da Silva, 1752 (Reeditado: Companhia Melhoramentos de S. Paulo)

2- Jordão, M.F. Embu: Terra das artes e berço das tradições. São Paulo: Noovha América, 2004

3- http://www.dicionarioderuas.com.br/LOGRA.PHP?TxtNome=RUA GENERAL ROBERTO ALVES DE CARVALHO FILHO&dist=72&txtusuario=& TxtQuery=1


Notas:

1- A Lei nº 14.454, de 27 de junho 2007, determina que as placas das ruas, avenidas, praças e logradouros públicos contenham informações sucintas sobre a origem, significado ou biografia de quem empresta o nome à via pública.

2- Em 18 de julho de 1865, em reunião dos vereadores Malaquias Rogério de Salles Guerra apresentou a seguinte proposta: "Havendo ruas e travessas denominadas sem significação alguma, e até menos conviniente, e tratando-se agora por occasião da numeração das cazas de minorar esse ramo do serviço publico, indico que seja nomeada uma Comissão de trez Membros para estudarem a materia e submetterem a aprovação da Câmara ás substituições que entenderem precisas."

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Folclore Paulista e Nacional -COMEMORAÇÃO: 22 DE AGOSTO-

Deslocamento e Aculturação do Saber Popular

Folclore apareceu pela primeira vez em 22 de agosto de 1846, divulgada em Londres pela revista “Athenæum”, artigo de uma coluna assinada com o pseudônimo de “Ambrose Mearton”, que mais tarde foi revelado como sendo Willian John Thoms, editor periódico quinzenal tendo seu primeiro número publicado em 3 de novembro de 1849 “Notes and Queries”, onde aparecem estudos de literatura e história e referências a “THE FOLK-LORE of ENGLAND”, sendo que era estudioso de costumes, superstições e “antiguidades populares”, onde este termo foi usado até aquela data e que somente foi oficializado a palavra “folclore” em 1878, com a fundação, em Londres, da “Folk Lore Society”.
À época coletou-se baladas e lendas, usos e costumes que estariam guardadas na memória popular, percebida no sentir, pensar, agir e reagir do povo na aceitação coletiva do meio e da cultura espontânea dos grupos sociais: “material”, “espiritual” que se somam também o “imaterial” dos campos e das cidades.

O “material” está representado por utensílios, artesanato de composição natural como cestos, abanos, jacás, samburás, balaios, esteiras, além de uma cerâmica típica, cada qual, com sua característica e todos construídos espontâneos e aceitos como parte de um pertencimento local.

No “imaterial” esta a representatividade artística de cada local e vários folguedos são representados nas festas de congadas, moçambique, cavalhada, folias de reis, fandango, o cateretê ou catira, o batuque, o samba de roda, o samba de raiz dos bumbos, samba de lenço além do jongo, a dança de São Gonçalo e de Santa Cruz, que os naturais denominaram de arabaqué.
Encontro de Culturas na Chapada dos Veadeiros, Villa de São Jorge, Goiás. Irmandades Terno de Moçambique (Santo Antonio do Amparo, MG) E Irmandade Nossa Senhora do Rosário (Terno de Cajuru, MG)

ACULTURAÇÃO E DESLOCAMENTOS DO FOLCLORE

Os estudiosos da antropologia cultural e social e historiadores buscam resquícios dos movimentos dentro do espaço urbano e rural, onde muitas vezes foram idealizados os primeiros repentes de tradição através da música de viola e também disseminada pelas culturas engendradas que deram ritmos variados ao jongo, a catira, batuque, congada e tantas outras.
MUSEU DE HISTÓRIA E FOLCLORE MARIA OLÍMPIA-CIDADE DE OLÍMPIA/SÃO PAULO- antigo palacete construído em 1925 pertencente ao imigrante italiano Giosué Tonanni onde no ano de 1973, o professor José Sant’Anna, fundou o Museu na "Capital do Folclore"

Claramente se vê hoje o maior interesse da mídia em mostrar o carnaval dos grandes centros que passa além das fronteiras. A natureza deste ritmo nasceu nos lundus dos terreiros estimulados pela participação de um modelo de roda passando aos entrudos embalando a desconcentração reunindo todas as camadas sociais voltadas a liberdade expansiva dos movimentos. As raízes foram transmitidas pela oralidade mantida por gerações respeitando os valores existentes anteriormente que mantiveram as formações iniciais.

O folclore é coisa relacionada ao passado ou algo que se transforma com o tempo nos ritmos do cotidiano?                                                        
  
As modificações são evidentes diante de uma evolução de deslocamento do que se fazem naturalmente nas ruas onde eram os pontos de encontram do “footing” faceiro nas praças,um espaço livre de expressões naturais, que depois foi confinado restringindo toda expressão aos salões e áreas de estádios ou passarelas construídas para estas finalidades em arenas próprias onde grupos determinados produzem evoluções sistematizadas, que muitas vezes fogem das raízes, mas ainda revelam traços dasa origens, numa mutação constante de movimentos que refletem um modelo diferenciado em uma modificação constante onde alguns valores insistem em manter-se preservados.

As comunidades moldadas pelos movimentos sociais possuem uma identidade e seus componentes estão integrados com um pertencimento local, embora todas as transformações da expansão urbana diluíssem parte dessa estrutura pelo deslocamento de um contingente por força da desapropriação de áreas pela expansão urbana que cortam o vinculo de valores existentes com relação a costumes locais.
DE SANTO AMARO PAULISTANO À PIRAPORA DO BOM JESUS 

Nisto tudo soma-se o envolvimento voltado à espiritualidade pelas tradições e devoções, com no caso das romarias planejadas que se deslocam em montarias em distâncias consideráveis e outra representações como os ritos marítimos em oferendas a determinada santidade em espírito de fé.
Parece existir uma corrente que não se rompe mantendo os elos unidos mesmo que inseridos outros valores mantêm os tradicionais festejos. Usar o folclore como fonte de tese acadêmica para mérito posterior, fazendo parte de uma biografia não transmite a essência dessas raízes e que estes deslocamentos não são necessariamente extinção de deste saber que possui o ritmo de suas transformações mesmo quando fatores políticos de Estado extinguem o foco da somatória de culturas.
APRESENTAÇAÕ NA CHAPADA DOS VEADEIROS, GOIÁS, DA CULTURA INDÍGENA DE PARELHEIROS, EM SANTO AMARO, SÃO PAULO/SP
O folclore como fonte de cultura deve passar a integrar o currículo escolar para manter essas tradições acessas em suas origens mantendo as tradições em um momento por uma geração que manteve viva as raízes para preservação desta historia popular provenientes de várias localidades e que se miscigenam com as muitas etnias existentes (aculturação) num esforço de preservação natural da vida em comunidade que unindo vários elementos formam o colorido da cultura popular.
60ª ROMARIA DE SANTO AMARO, SÃO PAULO, À PIRAPORA DO BOM JESUS /

"CULTURAS MISTURADAS EM BUSCA DE TOMBAMENTO DAS ROMARIAS DE SANTO AMARO/SP COMO PATRIMÔNIO HISTÓRICO"

Referências de estudos do folclore paulistano, estudos e implantação

José Piza- Contos da Roça, 1900

Cornélio Pires, a partir de 1912: Cenas e Paisagens da Minha Terra; Musa Caipira; Conversas ao Pé do Fogo, Sambas e Cateretês

João Phoca- Os Caiçaras, 1917

Carlos da Fonseca- Vida Rústica, 1918

Leôncio de Oliveira- Vida Roceira, 1919

Francisco Damante- Na Roça; O Bom Povo, 1919

Valdomiro Silveira, Os Caboclos; Nas Serras e nas Furnas, 1920

Edmundo Krug, 1910

Afonso Freitas, 1921

Amadeu Amaral, Tradições Populares

Mário de Andrade

Amadeu Amaral Junior

Oneida Tavares de Lima

Alceu Maynard Araujo

Sociedade de Etnografia e Folclore, 1937

Museu do Centro de Pesquisas Folclóricas Mario de Andrade, 1949

Museu de Artes e Técnicas Populares, 1954 (Ibirapuera)

sábado, 6 de agosto de 2011

CENTENÁRIO DA "SOCIEDADE HIPPICA PAULISTA”: 1911-2011

UM MOMENTO DA VIDA SOCIAL EM SÃO PAULO: UM INSTANTE EM 1930

O que é contemporâneo?

É o momento, por ventura, em que se vive e as transformações do meio comumente definido como "progresso", e que será superado por outro momento em outra etapa de nova geração que institui ser aquele instante também de mudanças de “progresso”, passando como um rolo compressor em cada época?

Na busca sobre esportistas deparamos com levantamento dos melhores da década de 1930 onde constava Amadeu da Silveira Saraiva, que foi considerado entre os quatro melhores esportistas de então, resultado colhido através de enquete São Paulo Jornal, finalizado em 9 de fevereiro de 1930 dando como resultado:

1º lugar, Antonio da Silva Prado Junior, com 5013 votos; fundador Club Athletico Paulistano e piloto

2º lugar, Arthur Friedenreich, "El Tigre”, com 2131 votos;
Na foto de 1929, Friedenreich, a esquerda, junto com Formiga

3º lugar, Amadeu da Silveira Saraiva, com 1028 votos; esportista e aviador, na foto, junto ao Klemm Salmson AD.9

4º lugar, Guido Giacominelli, com 982 votos; Industrial, descendente de italianos, presidente e técnico S.C. Corinthians Paulista.

Revendo material historiográfico deparamos também com o Centenário da Sociedade Hípica Paulista (SHP) fundada em 31 de julho de 1911, sendo o primeiro clube de equitação e esportes hípicos da cidade de São Paulo.

Em matéria vinculada nos maiores matutinos de então: Correio Paulistano, O Estado de São Paulo,, Folha da Noite, O Combate, São Paulo Jornal, Diário da Noite, Diário de São Paulo, davam ênfase que em 26 de janeiro de 1930 a Sociedade Hípica Paulista organizaria uma "caça à raposa", curso percurso abrangeria os campos de Pinheiros, Pacaembu e Lapa, numa extensão de 125 quilômetros, com difíceis e interessantes obstáculos naturais a transpor para essa corrida, “em que tomam parte os cavaleiros e amazonas da Hípica, foram convidados os comandantes e oficialidade da 2ª Região Militar do Exército e da Força Pública de São Paulo. A reunião dos caçadores dar-se-á na sede do campo da Sociedade Hípica às 7 e meia horas e a partida será dada às 8 horas em ponto”.

Serviria de raposa, o cavaleiro da Hípica, senhor Amadeu da Silveira Saraiva, e todos iriam encontrar-se na sede e dirigindo-se para o Monumento a Olavo Bilac, no final da Avenida Paulista, na Rua Minas Gerais, onde dar-se-ia o início da caçada. (entre os anos de 1927 a 1930 a Avenida Paulista teve seu nome alterado para Avenida Carlos de Campos, assim como depois da 2ª Guerra a obra seria localizada na Praça que recebeu o nome Expedicionários do Brasil e mais tarde destruida seu entorno foi remodelada em lugar próximo com o nome de Praça Mal. Cordeiro de Farias)
"Monumento a OLAVO BILAC", do escultor sueco William Zadig, fundida na Dinamarca era uma composição das peças com busto ao centro, ladeada por outras representativas: A Tarde, O Caçador de Esmeraldas, O Beijo Eterno, Pátria e Família, inaugurado em 1922,  nas comemorações do Centenário da Independência, pelo governador Washington Luís.
NA ATUALIDADE: DE SUNTUOSO MONUMENTO A SIMPLES HERMA DEPOSITADA NO IBIRAPUERA


O "BEIJO ETERNO" (IDÍLIO), FAZ PARTE DA ATUAL "PAISAGEM" DO LARGO SÃO FRANCISCO- QUAL É HOJE O SENTIDO DA OBRA EM HOMENAGEM A OLAVO BILAC?

Esta modalidade havia sido incorporada após Amadeu da Silveira Saraiva ter estado na Europa e presenciado várias corridas do gênero e estava organizando assim esta modalidade com percurso definido para a caça a raposa, onde ele se prontificava ser a caça.

Foi cedida à banda de clarim da Força Pública através de seu comandante Julio Marcondes Salgado, retribuindo a gentileza do convite.

Os cavaleiros e amazonas estavam galhardamente vestidos com traje próprio para o momento, com casacas vermelhas a moda das grandes caçadas do velho mundo:
“E assim desfilavam todos pelo Jardim América, em direção a Avenida Paulista...Cinqüenta cavalos, batendo duzentas patas em “piaffé” no calçamento do Jardim América; a garrulice que o passeio matutino despertou nas amazonas e cavaleiros cheios de juventude;e envolvendo esse grupo tão bizarro zumbido cadenciado da fanfarra...Assim subindo a rua Ana Cintra, chegou pela Avenida Paulista, até ao ponto da reunião, para a partida da caça esse meio cento de cavaleiros.”
Imediatamente após a chegada de todos, o capitão Amadeu da Silveira Saraiva, montando “Sans-Parole” partiu a galope, levando no braço esquerdo o laço de fita simbólica de “raposa”... “Correndo vertiginosamente pelo campo do Pacaembu, ora sumindo no mato, ora, saltando riacho, de galope sempre, ate desaparecer ao longe, por detrás de um morro...”
Chegados à torre do deposito de água do Sumaré, foi dada a voz de caça livre pelo comandante Salgado!

Logo se dividiu em dois grupos que na vanguarda do primeiro grupo estavam Paulo Goulart, Celso C. Dias, dona Yolanda Penteado da Silva Telles e Candinha Prates. O outro grupo era formado pelo tenente coronel Salgado, E. Forssell, dona Marietta Meirelles dona Dinah de Almeida e Fernando Prestes Neto cabendo a estes dois últimos lograr a retirada da fita da “raposa” encurralando a mesma, representada por Amadeu Saraiva. Depois deste desfecho seguiram para a Villa Pompéia e Lapa em direção ao Anastácio Country Club, em Pirituba, onde os aguardava um churrasco.

Considerações:

Ao esmiuçar parte da história nos deparamos com algumas dificuldades próprias de cada momento que se perde por falta de referência, pois nada se deixou destes momentos contemporâneos e com muitas transformações, mas alguns fragmentos são dignos de serem pesquisados para determinar um instante da vida social de um grupo que viveu cada um deste instantes de “progresso” e que transformaram de vez os campos de Pinheiros, Pacaembu e Lapa, das antigas caçadas reais e imaginárias.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

TERRAS GRILADAS DO PASSADO, LUCRO NO PRESENTE PARA A “FIDALGUIA” DO BRASIL

POSSES ILÍCITAS E JAGUNÇOS GRILEIROS

No livro de Alberto Conte, sobre "Monteiro Lobato: O Homem e a Obra", há nas páginas 42 e 43 a referência sobre como um modelo ainda em uso no Brasil, que causa indignação, pois as conseqüências serão em breve drásticas conseqüências radicais que marginaliza a massa humana nos guetos das periferias das grandes cidades. O Professor Alberto Conte mostra que Monteiro Lobato já demonstrava a prática da grilagem que tira o sentido acreditar que a terra faz parte dos interesses do coletivo produtivo da sociedade brasileira e onde a câmara desfruta de sua impunidade e determina quem tem direito a abarcar terras por métodos ilícitos para depois prover riquezas vendendo parte dessa grilagem ao capital externo. O início começa com uma advertência do Professor Alberto Conte ao dizer:

Abro ao acaso o livro: “A Onda Verde”, e também ao acaso tomo o artigo crônica “O Grilo”. E logo nas primeiras linhas encontramos:

“Insistente nas palestras como certas moscas em dia de calor, é, nas regiões do Noroeste, a palavra "grilo". "Grilo" e seus derivados, "grileiro", "engrilar", em acepção muito diversa da que devem ter entre os nipônicos, onde grileiros engrilam grilos de verdade em gaiolinhas, como fazemos aqui com o sabiá, o canário, o pintassilgo e mais passarinhos tolos que morrem pela garganta”.

Tem aí o leitor a insistência da palavra “grilo” e seus derivados comparados a essas moscas teimosas que nos perseguem e as quais a gente desanima de enxotar. E a seguir, a advertência de que não se trata do grilo bicho esse talzinho que parece ubíquo no seu cri-cri de direção incerta, e depois a observação de ter lá no Noroeste, esse vocábulo, acepção diferente da que entre nipões, onde grileiros engrilam grilos de verdade etc.

No período seguinte, fala-nos da obsessão do “grilo” (terra legalizada por meio de um título falso) e do assunto que ele constitui em certas zonas, onde “todo mundo fala em terras griladas e comenta feitos de grileiros escondidos nas fímbrias do poder, sem rotulá-los”.

A advertência ocorrida há pouco mais de meio século que se repete na atualidade quanto ao uso indevido de um bem em condições ilícitas. Hoje a polêmica está voltada a terra adquirida por estrangeiros, que muitas vezes adquirem terras daquelas que foram griladas por uma aristocracia que querem se beneficiar de lucro da coisa ilícita pela grilagem. As terras ociosas do país são empurradas ao mercado externo, onde há muitos jagunços que vivem deste ilícito do passado. O governo bloqueia negócios de compra e fusão de terras por estrangeiros, mas não detêm a invasão de áreas no País, não aquelas de produção familiar, mas daquela fomentada por manipulação da lei de posse por “posseiros”, “grileiros” e terreiristas nos grandes centros urbanos e que os conselhos debatem como determinar as demandas de terra por ação marginal. A aquisição de terras na atualidade tem como proposta 30 quilômetros quadrados (3 mil hectares) como extensão máxima de terras que pode ser adquirida por empresas com capital estrangeiro que poderão comprar ou arrendar no Brasil, em uma tentativa de frear o avanço de investidores estrangeiros em negócios com imóveis rurais no País. Essas terras são parte daquelas adquiridas de maneira ilícita através de grilagem de terras sem os títulos oficiais de posse, e na maioria pertencem à fidalguia da atualidade que se beneficiaram desta prática por parte de jagunços do passado, que agem como a proteção de gabinetes atuais e presidem os grandes gabinetes.

“As velhas fidalguias da Europa entroncam no banditismo dos cruzados. Ter na linhagem um facínora encoscorado de ferro, que saqueou, queimou, violou, matou à larga no Oriente, é o maior padrão de glória de um marquês de França. Ter entre os avôs um grileiro de hoje vai ser o orgulho supremo dos nossos milionários futuros. Matarás, roubarás, são os mandamentos de alto bordo do decálogo humano, eternos e irredutíveis, que a ingênua lei de Moisés tentou inverter, antepondo-lhes um inócuo ‘não’.”

Verdade pouco agradável, sem dúvida, para os fidalgos europeus, mas na verdade, enfim, com relação, ao menos, à maior parte dessas velhas fidalguias... Ter entre avós um grileiro de hoje vai ser orgulho supremo dos nossos milionários de amanhã.

O grilo come nas terras apossadas pelos caboclos mal apetrechados contra os percevejos da lei, tanto quanto nas terras devolutas, as quais, engriladas a Norte, Sul, Leste e Oeste, estão se derretendo como torrão de açúcar n' água.

Calcula uma autoridade no assunto em três milhões de alqueires a área das terras griladas na Noroeste. E esses milhões caminham para quatro, visto como agora a indústria do grilo passou a interessar os altos paredros da política, verdadeira piranhas em matéria de voracidade.

Não há exagero no cálculo de três milhões, sabendo-se que há grilos de 200, 300 e 400 mil alqueires – territórios equivalentes à metade da Bélgica, quase à Saxônia, e tamanhos como antigos ducados principados alemães!...

“Na atualidade (sec. 21) o mundo alardeia que é necessário nos setores de grãos e algodão R$ 31,2 bilhões onde R$ 13,6 bi para compra de terras e R$ 17,6 bi para formação de lavouras e infraestrutura. Na área de cana é necessária uma demanda de R$ 43,8 bilhões, onde R$ 24,5 para aquisição de terras e R$ 19,2 bilhões para formação de lavouras e infraestrutura e para as florestas outros R$ 18,5 bilhões, sendo que R$ 7,9 bilhões para terras e R$ 10,6 bilhões para infraestrutura. Isso tudo para uma expansão na próxima década de 5,5 milhões de hectares em grãos e algodão, 3,1 milhões de hectares em cana e 2,6 milhões de hectares em reflorestamentos". (O Estado de São Paulo de 18 de abril de 2011)

Hoje nas terras do norte do país, ainda despovoadas é o maior espaço de grilagem e assassinatos do Brasil, com um olhar compassivo do congresso que finge nada ver ou tem lá os seus interesses de agir como intermediário desses crimes, de saques e violação de direitos, onde se “mata a larga”, sem piedade, como se matam animais nas matas para afugentar os intrusos. Os proprietários dessas grilagens estão nos gabinetes do poder e fazem parte desta linhagem de facínoras que pertencem a mais alta linhagem de grileiros e falsários que possuem uma heráldica embasada na mentira e ter a cruzada defendida pelos ímpios.

Apiedar de ti, Brasil, e de seus vendilhões, de tantos milionários facínoras, que não querem mudar de conduta se beneficiando do imediatismo, que pensam no lucro da venda, a quem queira pagar pela grilagem que dá lucro imediato, dinheiro não tem pátria, e além disso estão protegidos pela armadura da impunidade do “viveiro onde se fermenta a aristocracia dinheirosa de amanhã”.