quarta-feira, 3 de agosto de 2011

TERRAS GRILADAS DO PASSADO, LUCRO NO PRESENTE PARA A “FIDALGUIA” DO BRASIL

POSSES ILÍCITAS E JAGUNÇOS GRILEIROS

No livro de Alberto Conte, sobre "Monteiro Lobato: O Homem e a Obra", há nas páginas 42 e 43 a referência sobre como um modelo ainda em uso no Brasil, que causa indignação, pois as conseqüências serão em breve drásticas conseqüências radicais que marginaliza a massa humana nos guetos das periferias das grandes cidades. O Professor Alberto Conte mostra que Monteiro Lobato já demonstrava a prática da grilagem que tira o sentido acreditar que a terra faz parte dos interesses do coletivo produtivo da sociedade brasileira e onde a câmara desfruta de sua impunidade e determina quem tem direito a abarcar terras por métodos ilícitos para depois prover riquezas vendendo parte dessa grilagem ao capital externo. O início começa com uma advertência do Professor Alberto Conte ao dizer:

Abro ao acaso o livro: “A Onda Verde”, e também ao acaso tomo o artigo crônica “O Grilo”. E logo nas primeiras linhas encontramos:

“Insistente nas palestras como certas moscas em dia de calor, é, nas regiões do Noroeste, a palavra "grilo". "Grilo" e seus derivados, "grileiro", "engrilar", em acepção muito diversa da que devem ter entre os nipônicos, onde grileiros engrilam grilos de verdade em gaiolinhas, como fazemos aqui com o sabiá, o canário, o pintassilgo e mais passarinhos tolos que morrem pela garganta”.

Tem aí o leitor a insistência da palavra “grilo” e seus derivados comparados a essas moscas teimosas que nos perseguem e as quais a gente desanima de enxotar. E a seguir, a advertência de que não se trata do grilo bicho esse talzinho que parece ubíquo no seu cri-cri de direção incerta, e depois a observação de ter lá no Noroeste, esse vocábulo, acepção diferente da que entre nipões, onde grileiros engrilam grilos de verdade etc.

No período seguinte, fala-nos da obsessão do “grilo” (terra legalizada por meio de um título falso) e do assunto que ele constitui em certas zonas, onde “todo mundo fala em terras griladas e comenta feitos de grileiros escondidos nas fímbrias do poder, sem rotulá-los”.

A advertência ocorrida há pouco mais de meio século que se repete na atualidade quanto ao uso indevido de um bem em condições ilícitas. Hoje a polêmica está voltada a terra adquirida por estrangeiros, que muitas vezes adquirem terras daquelas que foram griladas por uma aristocracia que querem se beneficiar de lucro da coisa ilícita pela grilagem. As terras ociosas do país são empurradas ao mercado externo, onde há muitos jagunços que vivem deste ilícito do passado. O governo bloqueia negócios de compra e fusão de terras por estrangeiros, mas não detêm a invasão de áreas no País, não aquelas de produção familiar, mas daquela fomentada por manipulação da lei de posse por “posseiros”, “grileiros” e terreiristas nos grandes centros urbanos e que os conselhos debatem como determinar as demandas de terra por ação marginal. A aquisição de terras na atualidade tem como proposta 30 quilômetros quadrados (3 mil hectares) como extensão máxima de terras que pode ser adquirida por empresas com capital estrangeiro que poderão comprar ou arrendar no Brasil, em uma tentativa de frear o avanço de investidores estrangeiros em negócios com imóveis rurais no País. Essas terras são parte daquelas adquiridas de maneira ilícita através de grilagem de terras sem os títulos oficiais de posse, e na maioria pertencem à fidalguia da atualidade que se beneficiaram desta prática por parte de jagunços do passado, que agem como a proteção de gabinetes atuais e presidem os grandes gabinetes.

“As velhas fidalguias da Europa entroncam no banditismo dos cruzados. Ter na linhagem um facínora encoscorado de ferro, que saqueou, queimou, violou, matou à larga no Oriente, é o maior padrão de glória de um marquês de França. Ter entre os avôs um grileiro de hoje vai ser o orgulho supremo dos nossos milionários futuros. Matarás, roubarás, são os mandamentos de alto bordo do decálogo humano, eternos e irredutíveis, que a ingênua lei de Moisés tentou inverter, antepondo-lhes um inócuo ‘não’.”

Verdade pouco agradável, sem dúvida, para os fidalgos europeus, mas na verdade, enfim, com relação, ao menos, à maior parte dessas velhas fidalguias... Ter entre avós um grileiro de hoje vai ser orgulho supremo dos nossos milionários de amanhã.

O grilo come nas terras apossadas pelos caboclos mal apetrechados contra os percevejos da lei, tanto quanto nas terras devolutas, as quais, engriladas a Norte, Sul, Leste e Oeste, estão se derretendo como torrão de açúcar n' água.

Calcula uma autoridade no assunto em três milhões de alqueires a área das terras griladas na Noroeste. E esses milhões caminham para quatro, visto como agora a indústria do grilo passou a interessar os altos paredros da política, verdadeira piranhas em matéria de voracidade.

Não há exagero no cálculo de três milhões, sabendo-se que há grilos de 200, 300 e 400 mil alqueires – territórios equivalentes à metade da Bélgica, quase à Saxônia, e tamanhos como antigos ducados principados alemães!...

“Na atualidade (sec. 21) o mundo alardeia que é necessário nos setores de grãos e algodão R$ 31,2 bilhões onde R$ 13,6 bi para compra de terras e R$ 17,6 bi para formação de lavouras e infraestrutura. Na área de cana é necessária uma demanda de R$ 43,8 bilhões, onde R$ 24,5 para aquisição de terras e R$ 19,2 bilhões para formação de lavouras e infraestrutura e para as florestas outros R$ 18,5 bilhões, sendo que R$ 7,9 bilhões para terras e R$ 10,6 bilhões para infraestrutura. Isso tudo para uma expansão na próxima década de 5,5 milhões de hectares em grãos e algodão, 3,1 milhões de hectares em cana e 2,6 milhões de hectares em reflorestamentos". (O Estado de São Paulo de 18 de abril de 2011)

Hoje nas terras do norte do país, ainda despovoadas é o maior espaço de grilagem e assassinatos do Brasil, com um olhar compassivo do congresso que finge nada ver ou tem lá os seus interesses de agir como intermediário desses crimes, de saques e violação de direitos, onde se “mata a larga”, sem piedade, como se matam animais nas matas para afugentar os intrusos. Os proprietários dessas grilagens estão nos gabinetes do poder e fazem parte desta linhagem de facínoras que pertencem a mais alta linhagem de grileiros e falsários que possuem uma heráldica embasada na mentira e ter a cruzada defendida pelos ímpios.

Apiedar de ti, Brasil, e de seus vendilhões, de tantos milionários facínoras, que não querem mudar de conduta se beneficiando do imediatismo, que pensam no lucro da venda, a quem queira pagar pela grilagem que dá lucro imediato, dinheiro não tem pátria, e além disso estão protegidos pela armadura da impunidade do “viveiro onde se fermenta a aristocracia dinheirosa de amanhã”.

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