“HÁ EM NOSSO ESTADO 40 AVIADORES, 28 AVIÕES EM CONDIÇÕES DE VÔO E 44 CAMPOS PRÓPRIOS PARA ARRIAR” (Matéria O Estado de S. Paulo, 8 de dezembro de 1929)
OS CAMPOS DE AVIAÇÃO
São Paulo possui quatro sítios onde é possível a descida de aeroplanos, porem nenhum deles pode ser chamado de “aeroporto”, tal a deficiência técnica que apresentam. Enfim, tudo deve ser resumido num único e inexplicável motivo: o descaso dos poderes públicos.
CAMPOS DE POUSO E DECOLAGEM NO ESTADO DE SÃO PAULO
1- O CAMPO DE MARTE
Neste campo estão localizados os dois simulacros de “aerodroms” que dispomos: o da Policia Civil e o do Aero Civil de São Paulo. A pista de um está separada do outro, paralelamente, por 500 metros mais ou menos. Se estas pistas fossem unidas por outras duas em sentido normal, e desde que se fizesse a drenagem de todo o terreno, que é fofo e encharcado, São Paulo poderia dizer que dispunha de um excelente aeroporto. Porém, da maneira que está às aterragens de aparelhos pesados representam verdadeiros atos de temeridade do piloto. Tivemos nestes últimos tempos três exemplos irrefutáveis e que atestamos quanto é perigoso o Campo de Marte. Queremos nos referir ao acidente do avião da “The Aircraft Operating” que ao pretender aterrar, capotou completamente devido a terem-se enterrado completamente as rodas no brejo que circunda o campo. Também o anfíbio “Tampa” da “Nyrba Line” ficou atolado, sendo salvo milagrosamente de uma capotagem pela solicitude dos aviadores militares e civis que estavam presente. O terceiro exemplo foi o da subida do “Santiago”, que sendo um aparelho de 16 pessoas, e por isso muito pesado, teve de levantar vôo com pequeno impulso, pois as acanhadas proporções da pista não lhe permitiram uma corrida grande para alçar-se.
A parte que pertence ao Aero Civil de São Paulo, entretanto, está em condições bem melhores, dispondo de dois amplos hangares, respectivamente da S.A.R.A e do aviador Fritz Roesler. Também já está instalada ali uma bomba de gasolina, que graças aos bons ofícios da diretoria do Aero Civil foi obtida gratuitamente da The Texas Company.2- O CAMPO DE IBIRAPUERA
Há muito tempo que se fala da mudança do aeródromo da Força Pública do Campo de Marte para o de Ibirapuera, na Vila Mariana. Parece, entretanto, que não há muito empenho nesta mudança, visto que ela em nada viria beneficiar os pilotos da Polícia, e tão pouco resolveria a importante questão do aeroporto de São Paulo. Em Ibirapuera há necessidade de movimento de terra grande e demorado, que acarretaria despesas vultosas, a ponto de não compensar o seu fim. Por cálculos feitos por engenheiros interessados no assunto, enquanto os serviços de Ibirapuera importariam em alguns milhares de contos, os do Campo de Marte seriam acomodados com pouco mais de 500 contos. Além disto, este último campo pode ser perfeitamente reconhecido por qualquer aviador, mesmo o que esteja voando pela primeira vez sobre São Paulo, devido a sua localização ao lado do Tietê, Deve-se ainda lembrar que muito próximo do Campo de Marte fica a grande lagoa que fornece areia para São Paulo. Esta lagoa, mesmo depois da retificação do Tietê, vai ser conservada pela Prefeitura, e sua profundidade de 3 ou 4 metros permite a descida de qualquer hidroavião. Assim, parece que o campo de Ibirapuera deve ser posto de margem, pois nunca poderá ser vantajosamente cotejado com o de Marte. Aliás, está rodeado de terrenos de particulares, e a área a que ficaria reduzido, depois de tudo edificado, seria insuficiente para um verdadeiro aeroporto.
3- O CAMPO DE GUARULHOS
A despeito de estar abandonado desde que o grande “az” Edu Chaves abandonou escola de aviação civil que ali fundara, o aeródromo de Guarulhos poderia ainda ser convenientemente aproveitado. É verdade que está já fora de São Paulo, e as despesas que se teriam de fazer para seu acabamento não animam nem o governo nem os interessados na aviação comercial em nossa terra.
4- O CAMPO DO HIPODROMO
Talvez seja o hipódromo do Jockey Club o local mais seguro para a descida de aviões. Mas, o que se quer não é só um campo, mas as instalações.
TRÊS ESCOLAS DE AVIAÇÃO E TRÊS EMPRESAS ESTRANGEIRAS COOPERAM PARA O ÊXITO DA NOSSA AERONÁUTICA
A APRENDIZAGEM DA AVIAÇÃO
Os nossos pilotos aprendem, ou praticam, a pilotagem aérea, em três escolas, duas dais quais são civis. A seguir faremos referência especial a cada uma delas.
1- ESCOLA DA FORÇA PÚBLICA
A instrução desta escola está sobre a responsabilidade do Major Orton Hoover, um dos pilotos de mais destaque, no nosso país. O atual material de vôo da Força Pública, que consiste numa esquadrilha de “Curtiss” de 170 C.V., um avião “São Paulo” e um “Avro”, além de outra esquadrilha, também “Curtiss” em Santos, ainda não montada, permite que o treinamento e aprendizagem dos pilotos da Polícia sejam feitos com eficiência e êxito. Parece que depois do lamentável acidente do “Anhanguera”, em que perderam a vida dois dos maiores entusiastas que a aviação nacional jamais teve, o governo resolveu mudar o nosso aparelhamento de aviação, tirando-lhe o tradicional caráter de “matadouro” com o público pitorescamente lhe chamava.
2- ESCOLA SANTISTA DE AVIAÇÃO
Os aviadores Reynaldo Gonçalves e Rosário Russo, que isoladamente se ocupavam do preparo de novos pilotos, resolveram unir-se para fundar a “Escola Santista de Aviação” , que teve desde o início uma eficiência dobradamente maior que a tinham os cursos individuais de cada um dos seus atuais instrutores.
Justamente hoje a “Escola Santista de Aviação” submete ao exame da comissão técnica do Aero Civil dois dos seus alunos candidatos ao diploma de aviador civil. Com esta afirmação de eficiência e pelos méritos dos aviadores, Rosário Russo e Reynaldo Gonçalves, vê-seque a escola que juntos dirigem está fadada a um brilhante futuro.
3- AERO CIVIL DE SÃO PAULO
Não se pode esconder que o papel mais saliente no desenvolvimento da aviação de São Paulo coube sempre ao Aero Civil, onde todo piloto encontra o amparo que porventura necessite para qualquer empreendimento. A despeito de lutar com dificuldade de varia natureza, o Aero Civil já possui um campo de aviação que embora deficiente, é sem contestação, o melhor da capital.
LISTA DOS AVIADORES RESIDENTES EM SÃO PAULO (40 pilotos)
Amadeu da Silveira Saraiva, amador
Augusto Meirelles, amador
Álvaro Cardoso, amador
Antonio Carneiro da Cunha, amador
Antonio Rodrigues, amador
Adopho Calhera, amador
Cesar Fischetti, profissional
Edu Chaves, amador
Fritz Roesler, profissional
Henrique Robba,profissional
Hanz Guzy, profissional
Irahy Correia, amador
João Ribeiro de Barros, amador
João Carlos Gravé, profissional
Julio Costa, amador
João Robba, profissional
José Camargo, profissional
João Erler, profissional
Luiz Tolesani, amador
Moacyr Barbosa, amador
Nelson Smith, profissional
Renato Pedroso, amador
Reginald Halliwel, profissional
Reynaldo Gonçalves, profissional
Rosário Russo, profissional
Robert Thiry, amador
Raul Barbeta, amador
John Ridgivay, amador
Thereza de Marzo, amadora
Vasco Cinquini, profissional
Vivian Nicol, amador e comandante
Paiva Meira, oficial da Marinha reformado
Pertencentes à Esquadrilha da Força Pública
Major Orton Hoover, instrutor
Capitão Negrão,
Tenente Raul,
Tenente França,
Tenente Toledo,
Tenente Lima,
Brigada Sylvio
Referência:
Texto extraído do "O Estado de S. Paulo", de 8 de dezembro de 1929, com atualização da ortografia
Material ilustrativo: Roland Pierre Julien
Caro Sr. Carlos:
ResponderEliminarEu sou o Tenente Coronel Galdino do Grupamento de Radiopatrulha Aérea da PMESP.
Inicialmente parabéns pelo resgate histórico de nosso querido Estado.
Neste ano, a PMESP completa 100 anos e gostaríamos de usar o mapa dos aeródromos que V.Sa. apresenta nesta postagem. Seria possível conseguir uma imagem com boa resolução para fins de publicarmos em nossa revista comemorativa?
Claro que daremos o devido crédito.
Meu email: galdino.neto@hotmail.com.br