DE ENTRONCAMENTO DE BOCA DE SERTÃO A MAIOR METRÓPOLE DA AMÉRICA DO SUL: 1ª CIDADE DO INTERIOR DO BRASIL
São Paulo dos Campos de Piratininga era um lugarejo de passagem e habitado por pessoas pobres de parcos recursos. Era apenas um lugar de entroncamento não existindo por parte da Coroa Portuguesa o interesse da expansão das regiões nas bocas de sertão do Brasil, que fugia ao controle por parte da Coroa, preferindo a mesma gerir somente o litoral com os portos de controle numa nítida consolidação de proteção aos inimigos naturais que atacavam possessões portuguesas, principalmente os franceses e holandeses.
A primeira Casa de Câmara somente foi edificada em 1575 (Atas, v.1, p. 76-79) dispondo de um único cômodo, e, deste modo São Paulo passou a contar com dois logradouros, funcionando um deles como praça religiosa e o outro, como praça civil, dualidade que remontava em origem à cidade portuguesa medieval: o terreiro jesuítico, onde fora erguido o pelourinho em 1560, com um cruzeiro em frente da igreja no Paço Municipal, protegida por fraca murada formada por paredes rústicas de casas emparedadas umas as outras.
Em 1591, a Vila de São Paulo vivia em clima de guerra contra os autóctones que viam suas terras serem usurpadas. Ao pátio da igreja e seu colégio foram recolhidos os familiares dos moradores que viviam as margens do local, numa desesperada condição de proteção de resistir aos ataques se porventura fossem desferidos ao local.
BIBLIOGRAFIA:
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São Paulo dos Campos de Piratininga era um lugarejo de passagem e habitado por pessoas pobres de parcos recursos. Era apenas um lugar de entroncamento não existindo por parte da Coroa Portuguesa o interesse da expansão das regiões nas bocas de sertão do Brasil, que fugia ao controle por parte da Coroa, preferindo a mesma gerir somente o litoral com os portos de controle numa nítida consolidação de proteção aos inimigos naturais que atacavam possessões portuguesas, principalmente os franceses e holandeses.
Para São Paulo acorria todo o tipo de gente sem preparo e nenhuma aptidão, que somente usufruíam das benesses dos recursos naturais em nítida condição predatória, tornando-se local de refúgio de todo tipo de casta baixa e sendo povoado por mulheres “erradas” de Portugal, tal a carência de mulheres brancas (citação da carta do Padre Manoel da Nóbrega). Mestiços de “negros da terra” com “brancos” não coabitavam tanto nos casebres destes europeus marginalizados e nem nas aldeias indígenas que os recusavam. Deste modo estes filhos naturais viviam as margens desta fragilidade e tornavam-se salteadores de estradas. As grandes empreitadas de tráfico de escravos negros se concentravam “nas capitais do Brasil”, como o Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, as mais importantes praças de então, sendo que São Paulo supria sua carência de mão de obra através dos traficantes de escravos índios, preados nas matas, famílias inteiras de nativos, os “negros da terra” que eram caçados como braços escravos de pouco custo e alto rendimento. Fora isso havia “uma limpeza na Metrópole” onde embarcavam os condenados que foram deportados como “recurso de pena” para se manterem vivos nas sentenças de degredo. No fim do século 18 o Capitão-General, Morgado de Mateus, veio a São Paulo no período de 1765 a 1775, como adido português para acertar com a Espanha uma nova partilha de terras a partir de São Paulo, e como governante passa informações ao El Rey sobre os paulistas: "é a pior gente do mundo: relaxada, indolente, orgulhosa, selvagem e estúpida”. São Paulo dos Campos de Piratininga era muito pobre sendo que, em 1589, seus cerca de 150 moradores habitavam construções rudimentares com tetos de palha e de toscas paredes de barro batido a sopapos.
“Paço Municipal em 1628” – JOSÉ WASTH RODRIGUES (óleo sobre tela-1920) Acervo do Museu Paulista (SP)
A primeira Casa de Câmara somente foi edificada em 1575 (Atas, v.1, p. 76-79) dispondo de um único cômodo, e, deste modo São Paulo passou a contar com dois logradouros, funcionando um deles como praça religiosa e o outro, como praça civil, dualidade que remontava em origem à cidade portuguesa medieval: o terreiro jesuítico, onde fora erguido o pelourinho em 1560, com um cruzeiro em frente da igreja no Paço Municipal, protegida por fraca murada formada por paredes rústicas de casas emparedadas umas as outras.
Em 1591, a Vila de São Paulo vivia em clima de guerra contra os autóctones que viam suas terras serem usurpadas. Ao pátio da igreja e seu colégio foram recolhidos os familiares dos moradores que viviam as margens do local, numa desesperada condição de proteção de resistir aos ataques se porventura fossem desferidos ao local.
“COMBATE CONTRA BOTOCUDOS”-OBRA DE JEAN BAPTISTE DEBRET, de 1827. Guerra dos bandeirantes contra tribos de Piratininga
O povoado ficava a mercê deste contingente referido e estabelecido em uma região inóspita e abrutalhada pelo tipo de estrutura de planalto, sendo a barreira natural a Serra do Mar distante dos demais centros do Brasil, onde o acesso ao litoral era extremamente difícil chegar bens de consumo que somente poderia ser feito nas costas de indígenas escravizados ou através de muares, aliás, foi esta a fonte de “riqueza” que preservou o local, a negociata com mulas, lucrativo sistema de transporte comercial iniciado com o “ciclo dos mures” no século 18 continuando sem interrupção até o advento das ferrovias, no século 19. O antigo caminho de Peabiru ligando o Pacífico desde Quito, no Equador, afluía para o litoral do Atlântico, determinava o sistema de transporte de muares controlados na Bacia da Prata, de onde saia todo mineral cobiçado pela Coroa espanhola extraído da atual Bolívia, do Cerro de Potosi (argentum/Argentina) cobiça também de Portugal. Sorocaba, em São Paulo, era caminho natural da antiga trilha inca de Peabiru, tornado-se deste modo local de revenda de muares controlados nas Missões jesuíticas do sul que mantinham seu monopólio. Em Campo Largo de Sorocaba estacionavam a “burrama”, que era comercializada nas hospedarias e feiras pelos aquiladores que depois enviavam os animais que passavam pelo planalto rumo as Minas Gerais em corrida para as minas de ouro descobertas no século 18 por iniciativa das bandeiras que partiam de São Paulo.
A necessidade de sal na capitania de São Paulo, “para sustento da vida e para o aumento das criações e subsistência das tropas, que vem do sul” era um problema na era colonial “(p.175, Tropas e Tropeiros na Formação do Brasil, de José Alípio Goulart). Na mesma época o “porto” de Parati, que compreendia área da Capitania de São Vicente, fazia o escoamento do ouro e onde também havia o tráfico controlado por bandeirantes paulistas descobridores do ouro nas Cataguases (Minas Gerais), entre 1693 e 1695 através de Garcia Rodrigues Pais e Antônio Rodrigues Arzão que são apontados como os pioneiros seguidos por Pascoal Moreira Cabral que encontra ouro em Mato Grosso, Cuiabá, em 1719; e Bartolomeu Bueno da Silva, em Goiás, em 1725.
São Paulo não se submetia a Coroa que queria ter todo o controle das províncias, e Portugal sabia que precisava se aproximar da capitania, e não denominava os paulistas como "ladrões destes sertões", mas como "briosos e valentes".
CASA DOS CONTOS(OURO PRETO)
Em 7 de junho de 1710 uma junta composta por vereadores, religiosos e nobres acharam por bem formalizar petição à Coroa para que a Vila se tornasse Cidade, não havendo recusa, fato este concretizado quando os edis paulistanos discutiam na Câmara a falta de sal na cidade. Assim em 11 de julho de 1711 o rei de Portugal, Dom João V, assinava em Lisboa a ordem régia oficializando a elevação de São Paulo a Cidade, passando a servir de residência ao governador e capitão-mor da capitania de São Paulo e Minas do Ouro e ainda com direito a oficializar uma diocese episcopal, condição esta não disponibilizada nas vilas.
São Paulo tornava-se importante centro de atividades comerciais, que somando ao importante ciclo de muares alavancaria mais tarde o advento do ciclo do café no final do século 19, entrando através do Vale do Paraíba e que foi responsável pela expansão da cidade com a “imigração de permanência”, onde mais de 100.000 imigrantes por ano fazia de São Paulo, somados aos existentes habitantes locais, importante Estado da Federação.
BIBLIOGRAFIA:
ALINCOURT, Luís d’. Memória sobre a viagem do porto de Santos à cidade de Cuiabá. São Paulo: Martins; Comissão do IV Centenário da Cidade de São Paulo, 1953.
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