Escola Normal Secundária de São Carlos e o Instituto Estadual de Educação Prof. Alberto Conte
Há em todo o emaranhado histórico uma flexibilidade de linhas que embora afastadas encontram-se no tempo e espaço. O Brasil não foi um primor na implantação educacional, manteve seu povo a margem do conhecimento por mais de três séculos quando por força das transformações mundiais achou por bem definir suas primeiras regras acadêmicas. Nas correntes dominantes estava enraizada a idéia de somente administrarem as primeiras letras e em seguida usar este contingente como braços de produção agrícola incentivada pelo crescimento demográfico de uma prole local, pois a produção dependia de um processo unicamente deste modelo não havendo uma tecnologia de produção. O país passou assim todo século 19 implantando um sistema de interesses abarcados pela revolução industrial da Inglaterra que incentivava antigas colônias européias adquirir seus equipamentos em troca de produtos disputados pelos emergentes à época, como algodão e café, controlados pelas economias dominantes.
São Paulo adquiria pelos magnatas e grandes fazendeiros a tecnologia das ferrovias de escoamento destes produtos agrícolas, equipamentos fechados em contratos que tinham como os controladores os grandes investidores europeus, em sua maioria, ingleses. Evidentemente que era necessário uma mão de obra mais especializada para que houvesse um mínimo de planejamento e uma logística insipiente que fluísse todo escoamento da produção aos portos locais que ligavam as economias mundiais.
O analfabetismo era alto e as primeiras regras estavam embasadas em administrar um modelo de educação mínima necessária de comandados enquanto que os que iriam controlar o sistema eram preparados nas escolas de alto nível nos moldes europeus que deram origem as grandes estruturas particulares de origem em países europeus para ditarem as normas de controle da massa proletária.
No ano de 1927, 18 municípios paulistas não possuíam uma só escola na zona rural e pela falta de preparo de professores era autorizado pelo artigo 42 do decreto nº 3.858, de 11 de junho de 1925, o Governo mandou proceder a concursos de leigos para a regência interina de escolas em zonas longínquas, para as quais não houve pedido de nomeação por professores diplomados.
(Anuário do Ensino Público do Estado de São Paulo e Relatório do Presidente do Estado de São Paulo, Antonio Dino da Costa Bueno)
Pelo censo escolar de 1926, constava a existência de 496.172 crianças de 7 a 12 anos, das quais 363.628 eram analfabetas e 132.544 sabiam ler. Freqüentavam escolas 269.967 crianças e 277.105 não as freqüentavam. Destas, 201.944 eram analfabetas. (Anuário do Ensino do Estado de São Paulo, 1927).
O analfabetismo era considerado uma doença e o maior inimigo da Pátria que deveria ser combatido heroicamente nas palavras de Sampaio Dória, Secretário de Instrução Pública que propôs a reforma através da Lei 1750, de 1920, que recebeu seu nome e foi regulamentada pelo Decreto nº 3.356 de 31/05/1921 .
Em decorrência da “autonomia didática” proposta pela "Reforma Sampaio Dória" e pelas urgências políticas e sociais de produzir com qualidade, o método estava voltado para a capacitação dos interesses das relações internacionais.
Houve uma resistência dos professores das escolas normais paulistas quanto à utilização do método analítico e começaram a se buscar novas propostas de solução para os problemas do ensino e aprendizagem para desenvolvimento de capacidades cognitiva dos educandos completando suas habilidades numa tentativa de desenvolvimento pedagógico. As dificuldades que se sucederam levaram o autor da reforma a deixar a Secretaria de Instrução Pública que considerou errôneas as interpretações sobre suas propostas de reestruturação. A reforma continuou sendo implementada por seu substituto, Guilherme Kuhlmann, até 1925, quando então foi substituído pelo decreto nº 3.858 de 11 de junho de 1925.
A infra-estrutura material era insuficiente pela proposta, havendo salas com várias faixas etárias e os professores que lecionavam nas escolas isoladas da zona rural não eram diplomados sofriam uma fiscalização maior por parte dos inspetores de instrução pública que orientavam ministrando aulas-modelo para mostrar aos professores práticos como deveriam ensinar seus alunos. No ano de 1927 registrou-se 5.964 aulas-modelo em diferentes escolas isoladas do Estado de São Paulo onde os professores eram leigos, para exercerem sua função, passavam por exames orais e escritos e eram nomeados pelo poder público Presidente do Estado de São Paulo.
História do Professor Alberto Conte e as transformações Luiz Contier.
O professor Alberto Conte nasceu em Avaré, em 12 de junho de 1896, interior de São Paulo. Conheceu o pintor e paisagista Diógenes de Campos Ayres de quem se tornou amigo e por quem foi incentivado e aprendeu as noções de pintura artística, trabalhos estes que lhe rendeu algum retorno financeiro. Mais tarde, com muito esforço de seus pais que eram colonos imigrantes da Itália, transferiu-se para a capital para estudar na Escola Normal Caetano de Campos, na Praça da República, trabalhando como servente na Escola Normal Padre Anchieta, no Brás para custear as despesas. Formou-se professor de Filosofia e Pedagogia sendo transferido para lecionar Escola Normal Secundária de São Carlos, à época considerada em excelência educacional fama que perdura até o hodierno. Sua ascensão tornou-o uma das figuras marcantes do magistério paulista, colaborando intensamente para as mudanças necessárias além de em diversos órgãos da imprensa nacional sendo que seu livro “Monteiro Lobato: o homem e a obra”, da editora Brasiliense, fundada por Caio Prado Júnior foi impresso após negociação com Lobato que concedeu a publicação de suas obras completas. Além desta referência cita-se também: Sentido da Adaptação Biológica e Sociais das Funções Psíquicas, Tratado de Psicologia Geral, Dicionário de Sociologia, em parceria com Aquiles A. Junior, e ainda Elementos de Psicologia, em conjunto com Nelson Cunha Azevedo e Reflexões, sobre lutas, glórias e fracassos da vida.
1- Academia Paulista de Educação – APE
http://www.apedu.org.br/index.php?option=com_joomgallery&func=viewcategory&catid=2&Itemid=10
2- Haidar, Maria de Lourdes Mariotto. A Educação em São Paulo no Império
4- Tamberlini, Angela Rabello Maciel de Barros. Os Ginásios Vocacionais, A Dimensão Política de um Projeto Pedagógico. SÃO PAULO. FAPESP/Editora: ANNABLUME, 2001
Há em todo o emaranhado histórico uma flexibilidade de linhas que embora afastadas encontram-se no tempo e espaço. O Brasil não foi um primor na implantação educacional, manteve seu povo a margem do conhecimento por mais de três séculos quando por força das transformações mundiais achou por bem definir suas primeiras regras acadêmicas. Nas correntes dominantes estava enraizada a idéia de somente administrarem as primeiras letras e em seguida usar este contingente como braços de produção agrícola incentivada pelo crescimento demográfico de uma prole local, pois a produção dependia de um processo unicamente deste modelo não havendo uma tecnologia de produção. O país passou assim todo século 19 implantando um sistema de interesses abarcados pela revolução industrial da Inglaterra que incentivava antigas colônias européias adquirir seus equipamentos em troca de produtos disputados pelos emergentes à época, como algodão e café, controlados pelas economias dominantes.
São Paulo adquiria pelos magnatas e grandes fazendeiros a tecnologia das ferrovias de escoamento destes produtos agrícolas, equipamentos fechados em contratos que tinham como os controladores os grandes investidores europeus, em sua maioria, ingleses. Evidentemente que era necessário uma mão de obra mais especializada para que houvesse um mínimo de planejamento e uma logística insipiente que fluísse todo escoamento da produção aos portos locais que ligavam as economias mundiais.
O analfabetismo era alto e as primeiras regras estavam embasadas em administrar um modelo de educação mínima necessária de comandados enquanto que os que iriam controlar o sistema eram preparados nas escolas de alto nível nos moldes europeus que deram origem as grandes estruturas particulares de origem em países europeus para ditarem as normas de controle da massa proletária.
No ano de 1927, 18 municípios paulistas não possuíam uma só escola na zona rural e pela falta de preparo de professores era autorizado pelo artigo 42 do decreto nº 3.858, de 11 de junho de 1925, o Governo mandou proceder a concursos de leigos para a regência interina de escolas em zonas longínquas, para as quais não houve pedido de nomeação por professores diplomados.
(Anuário do Ensino Público do Estado de São Paulo e Relatório do Presidente do Estado de São Paulo, Antonio Dino da Costa Bueno)
Pelo censo escolar de 1926, constava a existência de 496.172 crianças de 7 a 12 anos, das quais 363.628 eram analfabetas e 132.544 sabiam ler. Freqüentavam escolas 269.967 crianças e 277.105 não as freqüentavam. Destas, 201.944 eram analfabetas. (Anuário do Ensino do Estado de São Paulo, 1927).
O analfabetismo era considerado uma doença e o maior inimigo da Pátria que deveria ser combatido heroicamente nas palavras de Sampaio Dória, Secretário de Instrução Pública que propôs a reforma através da Lei 1750, de 1920, que recebeu seu nome e foi regulamentada pelo Decreto nº 3.356 de 31/05/1921 .
"Governo democrático e ignorância do povo são duas coisas que se chocam, se repulsam, se destroem... Como um povo pode se organizar se não sabe ler, não sabe escrever, não sabe contar?" Sampaio Dória, in Questões de Ensino (1921)
Em decorrência da “autonomia didática” proposta pela "Reforma Sampaio Dória" e pelas urgências políticas e sociais de produzir com qualidade, o método estava voltado para a capacitação dos interesses das relações internacionais.
Houve uma resistência dos professores das escolas normais paulistas quanto à utilização do método analítico e começaram a se buscar novas propostas de solução para os problemas do ensino e aprendizagem para desenvolvimento de capacidades cognitiva dos educandos completando suas habilidades numa tentativa de desenvolvimento pedagógico. As dificuldades que se sucederam levaram o autor da reforma a deixar a Secretaria de Instrução Pública que considerou errôneas as interpretações sobre suas propostas de reestruturação. A reforma continuou sendo implementada por seu substituto, Guilherme Kuhlmann, até 1925, quando então foi substituído pelo decreto nº 3.858 de 11 de junho de 1925.
A infra-estrutura material era insuficiente pela proposta, havendo salas com várias faixas etárias e os professores que lecionavam nas escolas isoladas da zona rural não eram diplomados sofriam uma fiscalização maior por parte dos inspetores de instrução pública que orientavam ministrando aulas-modelo para mostrar aos professores práticos como deveriam ensinar seus alunos. No ano de 1927 registrou-se 5.964 aulas-modelo em diferentes escolas isoladas do Estado de São Paulo onde os professores eram leigos, para exercerem sua função, passavam por exames orais e escritos e eram nomeados pelo poder público Presidente do Estado de São Paulo.
Com todas estas mudanças os problemas eram grandes, pois as lavouras necessitavam de mão de obra dos jovens e absentismo de alunos era alto agravando os índices de analfabetismo. Em 1929, pelos anuários foram matriculados 115.960 alunos sendo que foram alfabetizados 15.085 alunos e promovidos 31.558. (Relatório do Anuário do Estado de São Paulo, 1930).
Na cidade de São Carlos já havia sido fundada a Escola Normal Secundária de São Carlos, em 1911, com estrutura precursora das faculdades de filosofia, formando professores para os Grupos Escolares e que recebeu mais tarde o nome Colégio Estadual e Escola Normal Dr. Álvaro Guião (vide ref. 8), passando depois para Instituto de Educação. Desta instituição é grande colaborador Carlos da Silveira, lente de Psicologia Experimental, Pedagogia e Educação Cívica da Escola Normal de São Carlos, desde 1913. Em 1920 passa como diretor da Escola Normal do Brás. É um grande estudioso da história da educação brasileira, onde publica obras criticas e como dar novo alento na formação dos professores nas Escolas Normais como impulso as mudanças das Escolas Primárias, passando a ser um dos articuladores da reforma de 1920, promovida por Sampaio Doria.
O prof. Alberto Conte era de estatura mediana, cabelos pretos e abundantes, olhos grandes, não usava óculos. Cuidava muito da sua aparência, embora psicólogo, era muito calado, rosto sereno, mas seu tino de transformações o fez colaborador da Revista da Escola Normal de São Carlos onde consta entre os professores da Escola Normal de São Carlos e outros diretores de Escolas Normais implantadas em São Paulo com direção de Carlos da Silveira, da Escola Normal do Brás, um dos grandes incentivadores dos artigos referentes à História da Educação nas Escolas Normais em São Paulo e sobre questões de ensino e o papel educativo da Escola Primária. Não confundia cultura com educação, aliás via a redenção do povo ao dizer:
“Para que um Estado possa levar avante tal transformação deverá ter grande ardor pela redenção do povo e o tempo necessário para poder-se arrancar o povo modificado e sempre pronto a defender os seus projetos das garras desses seculares exploradores e isso se obtém fazendo passar toda uma geração pelo grifo de uma educação e um sentido bem sólido e racionalizador.”
RUA MÁRIO LOPES LEÃO, nº 120 SANTO AMARO/SP (antiga Rua Campos Salles)
O professor Alberto Conte encerrou sua vida sem ver concretizado seu ideal, partindo com a humildade característica e serenidade daqueles que sabem seu dever, em 22 de julho de 1947, sendo homenageado com rua na travessa da Rodovia Anchieta, no Sacomã, e o antigo Instituto Estadual de Educação Prof. Alberto Conte, em Santo Amaro, que se tornou Escola Experimental e Ginásio Vocacional tendo sido um dos mais renomados colégios públicos da cidade de São Paulo e fez parte das escolas experimentais da Capital método elaborado por iniciativa do diretor do Ensino Secundário do Ministério da Educação, Gildásio Amado, que na década de 50 teve aprovação pelo Ministério da Educação autorizando as escolas secundárias e institutos de educação a implantarem as classes experimentais em 1951, quando Luiz Contier (titular da cadeira 26 e fundador da Academia Paulista de Educação)
realizou curso na França sobre “Classes Nouvelles” e é o primeiro a aplicar a metodologia no Brasil em 1956, quando se torna Diretor do Instituto de Educação Alberto Conte, implantando as “Classes Experimentais”, já nessa época ampliando o modelo em 1958 ao assumir como Diretor Geral do Departamento de Educação da Secretaria Estadual de Educação, lançando as bases para as classes experimentais. Os Ginásios Vocacionais teve curta direção, pois foram fechados pelo Golpe de 1964, por ter como meta a idéia emancipadora, e para recuperar o significado da educação e do trabalho confrontando o saber através do conhecimento e a alienação resultante do sistema capitalista.
REFERÊNCIAS:
http://www.apedu.org.br/index.php?option=com_joomgallery&func=viewcategory&catid=2&Itemid=10
Alameda Franca, 219 – Jardim Paulista, São Paulo - SP, 01422-000
2- Haidar, Maria de Lourdes Mariotto. A Educação em São Paulo no Império
3- O BORÉ, Órgão Oficial dos alunos do Instituto Estadual de Educação Prof. Alberto Conte, DÉCADA DE 1960.
4- Tamberlini, Angela Rabello Maciel de Barros. Os Ginásios Vocacionais, A Dimensão Política de um Projeto Pedagógico. SÃO PAULO. FAPESP/Editora: ANNABLUME, 2001
Alberto Conte foi meu tio avô! Que orgulho de sua história.
ResponderEliminarPela primeira vez fico sabendo de sua história.
Não tive muito contato com a família pois meu avô, seu irmão, faleceu muito novo.
Que bom poder conhecer um pouquinho através deste site.