quinta-feira, 19 de março de 2009

Obediente Desobediência

Obediente Desobediência

“Aceito com entusiasmo o lema "O melhor go­verno é o que menos governa"; e gostaria que ele fosse aplicado mais rápida e sistematicamente. Leva­do às últimas consequências, este lema significa o seguinte, no que também creio: "O melhor go­verno é o que não governa de modo algum"; e, quan­do os homens estiverem preparados, será esse o tipo de governo que terão. O governo, no melhor dos casos, nada mais é do que um artifício conveniente; mas a maioria dos governos é por vezes uma incon­veniência, e todo o governo algum dia acaba por ser in­conveniente. As objecções que têm sido levantadas contra a existência de um exército permanente, nume­rosas e substantivas, e que merecem prevalecer, podem também, no fim das contas, servir para pro­testar contra um governo permanente. O exército permanente é apenas um braço do governo perma­nente. O próprio governo, que é simplesmente uma forma que o povo escolheu para executar a sua von­tade, está igualmente sujeito a abusos e perversões antes mesmo que o povo possa agir através dele...”

“Pois o governo é um artifício através do qual os homens conseguiriam de bom grado deixar em paz uns aos outros; e, como já foi dito, a sua conveniência máxima só ocorre quando os governados são mini­mamente molestados pelos seus governantes...”

“Costuma-se dizer, e com toda a razão, que uma corporação não tem consciência; mas uma corporação de homens conscienciosos é uma corporação com consciência. A lei nunca fez os homens sequer um pouco mais justos; e o respeito reverente pela lei tem levado até mesmo os bem-intencionados a agir quotidianamente como mensageiros da injustiça. Um resultado comum e na­tural de um respeito indevido pela lei é a visão de uma coluna de soldados - coronel, capitão, cabos, combatentes e outros - marchando para a guerra numa ordem impecável, cruzando morros e vales, contra a sua vontade, e como sempre contra o seu senso comum e a sua consciência; por isso essa marcha é mui­to pesada e faz o coração bater forte. Eles sabem per­feitamente que estão envolvidos numa iniciativa mal­dita; eles têm tendências pacíficas. O que são eles, então? Chegarão a ser homens? Ou pequenos fortes e paióis móveis, a serviço de algum inescrupuloso de­tentor do poder?...”

“Estamos acostumados a afirmar que os homens em geral são desprepara­dos; mas as melhorias são lentas, porque os poucos não são substantivamente mais sábios ou melhores do que os muitos. Não é tão importante que muitos sejam tão bons quanto você, e sim que haja em algum lugar alguma porção absoluta de virtude; isso basta­rá para fermentar toda a massa...”

“Será que não poderemos prever alguns votos independen­tes? Não haverá muitas pessoas neste país que não frequentam convenções? Mas não é isso o que ocor­re: percebo que o homem considerado respeitável logo abandona a sua posição e passa a não ter mais esperanças no seu país, quando o mais certo seria que seu país desesperasse dele. A partir disso ele adere a um dos candidatos assim seleccionados por ser o único disponível, apenas para provar que ele mes­mo está disponível para todos os planos do demago­go. O voto de um homem desses não vale mais do que o voto eventualmente comprado de um estran­geiro inescrupuloso ou do nativo venal. Oh! É preciso um homem que seja um homem e que tenha, como diz um vizinho meu, uma coluna dorsal que não se dobre aos poderosos!”

TRECHOS ACIMA DE “A DESOBEDIÊNCIA CIVIL”, de Henry David Thoreau


“A obediência civil deve estar na proporção direta da desobediência que o poder do Estado exerce sobre o cidadão obediente. O sufrágio oferecido por um contrato social é ofertado para que haja equilibrio entre as probabilidades da busca da perfeição das ações em prol da vontade de todos”

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