sexta-feira, 10 de novembro de 2023

O NAUFRÁGIO DOS IMIGRANTES ALEMÃES DO VELEIRO “HELENA E MARIA” AO BRASIL, A VIAGEM DO MARQUÊS DE BARBACENA E O ABSOLUTISMO DE PORTUGAL

INTRODUÇÃO 

A imigração germânica no Brasil teve participação direta da arquiduquesa da Áustria, Imperatriz Consorte do Brasil, Dona Leopoldina.  A presença da imperatriz Dona Leopoldina na América atraiu as atenções como forma de “propagandear” o Brasil entre o meio germânico.

Primeiro vieram os suíços, de língua alemã, que  chegaram ao Brasil entre 1819-1820, fixando-se no Rio de Janeiro e fundando a cidade de Nova Friburgo.

Formalizou-se mais tarde a vinda de alemães em 1824, onde a maioria fixou-se no Rio Grande do Sul, Brasil, em São Leopoldo. 

Outro grupo de alemães encaminhou-se como imigrantes em 1829, na região de Santo Amaro, que formaram a primeira Colônia Paulista do Estado de São Paulo. É deste grupo que vamos nos ater, por ter ocorrido momentos que também marcaram o contexto mundial e a história do Brasil. 

"Emigrante alemão é o indivíduo oriundo da Confederação Alemã e depois do Segundo Império, do Império Austríaco e Suíça Alemã, de língua, cultura e etnia alemã, que voluntariamente deixou seu país, sem a intenção de voltar". (Klaus Richter) 

Esta é a saga de imigrantes alemães que embarcaram no porto de Bremen, indo para a Holanda, através do porto de Texel, ilhas Frísias, no navio “Helena e Maria”, em 06 de janeiro de 1828 para o Brasil, naufragando no Canal da Mancha depois de grande tempestade, sendo resgatados e enviados ao porto inglês de Falmouth, onde permaneceram por vários meses, antes de viajarem a bordo do navio James Laing, custeado pelo Império do Brasil, através do Marquês de Barbacena, na Guarda da futura Rainha de Portugal, Dona Maria da Glória, filha de Dom Pedro I, do Brasil, chegando ao Brasil em 8 de fevereiro de 1829. 

DONA LEOPOLDINA, A RESPONSÁVEL PELA IMIGRAÇÃO ALEMÃ AO BRASIL 

Carolina Josefa Leopoldina de Habsburgo-Lorena nasceu em 22 de janeiro de 1797. Era a terceira filha do Imperador da Áustria, Francisco I, e da sua segunda esposa, a Princesa Maria Teresa Carolina de Nápoles e da Sicília. 

Casou-se com o príncipe Dom Pedro, herdeiro do trono de Portugal,  filho de Dom João VI e de Carlota Joaquina da Espanha. O contrato foi assinado em Viena a 29 de novembro de 1816.

O casamento foi realizado por procuração em Viena, no dia 13 de maio de 1817, data de aniversário de dom João VI. O noivo, que não estava presente, foi representado em cerimônia pelo arquiduque Carlos, tio paterno de Leopoldina. Dona Leopoldina desembarcou no Rio de Janeiro em 5 de novembro de 1817.

O Chanceler Metternich, diplomata austríaco, viu no príncipe herdeiro português Dom Pedro a possibilidade de fortalecimento dos laços entre os reinos da Áustria e Portugal, de ideais monárquicos absolutistas.

Para dom João VI, foi a oportunidade de estreitar novas alianças com tradicionais dinastias como forma de se contrapor à excessiva influência da Inglaterra nos seus domínios. O casamento era um ato político e não um impulso sentimental.

No Brasil, Don Leopoldina passou a assinar como “Maria Leopoldina”, por ser uma tradição da família real portuguesa incluir "Maria" entre os nomes das infantas.


Arquiduquesa Maria Leopoldina da Áustria, esposa de Dom Pedro I, assumiu a regência do Brasil quando o Imperador ausentou-se, tornando-se a primeira mulher a governar o Brasil, então como Princesa Real-Regente do Brasil  presidindo a reunião do Conselho de Ministros, em 2 de setembro de 1822, concretizando a independência.

Maria da Glória era a filha mais velha do então príncipe real Pedro de Alcantara e sua primeira esposa, a arquiduquesa Maria Leopoldina da Áustria. Nasceu no Rio de Janeiro em 4 de abril de 1819. Tornou-se Rainha de Portugal, com o nome de Maria II, sendo a única monarca da Europa a nascer fora de terras europeias. Sua mãe, Dona Leopoldina,  faleceu em 11 de dezembro se 1826.

Por sua vez Dom Pedro I, após a morte da esposa, decidiu que precisaria de uma nova esposa. A missão foi concedida ao Marquês de Barbacena. A busca do marquês não seria fácil por haver interferência direta do  Chanceler Metternich, da Áustria que controlava a diplomacia da Europa, querendo preservar as monarquias absolutas e sabendo que Portugal já havia proclamado antes uma Constituição Liberal, restringido o poder do rei, dificultou o contato do enviado para formalizar o segundo casamento de Dom Pedro I.  O Marquês de Barbacena empenhou-se ao encontrar a linda uma princesa que possuísse todas as qualidades exigidas pelo monarca, e ainda levava a bordo do navio em viagem à Europa, . 

A SAGA DA VIAGEM DOS IMIGRANTES ALEMÃES PARA O BRASIL 

O veleiro “Helena e Maria”[1] foi construído em 1813, em Maassluis, Holanda, recebendo o nome de Welbedagt. Era um veleiro de dois mastros e dois decks, tipo brigue[2]. Em 4 de julho foi vendido e recebeu o nome de Thalia. Em 12 de dezembro de 1827 o veleiro sofreu alteração construtiva de 2 para 3 mastros e recebeu o nome de “Helena e Maria”, sendo adquirido pelo capitão Bartolomeus Karstens, oriundo de Amsterdã. Nessa reforma o veleiro teve suas dimensões originais diminuídas. 

O veleiro "Helena e Maria" partiu de Amsterdã, do porto de Texel, a maior das Ilhas Frísias, na Holanda, em 6 de janeiro de 1828 com 350 pessoas, e em 12 de janeiro de 1828 ao passar pelo canal da Mancha em direção ao Atlântico, foi surpreendido com mau tempo e um furacão. O veleiro foi sacudido pela tempestade sofreu avarias ficando a deriva, pois os seus três mastros foram danificados[3]. Para não adernar[4] os mastros que sustentavam as velas, foram encurtados pelos passageiros ficando o “Helena e Maria” à deriva cerca de 40 quilômetros da costa da Cornualha, por aproximadamente duas ou três semanas. 

Os emigrantes foram resgatados pelo navio britânico “Plover Packet”[5] sob o comando do Capitão Edward Jennings. Ele rebocou os destroços para o porto de Falmouth.

O capitão holandês Bartholomeus Karstens, do veleiro "Helena e Maria" ofereceu uma compensação monetária como retribuição por rebocarem os destroços do veleiro, mas a gratificação foi recusada pelo capitão Edward Jennings do Plover Packet, dizendo que julgou necessário fazer o resgate. 

Um considerado número de imigrantes que viriam ao Brasil morreu em Falmonuth, ou em consequência do naufrágio do veleiro “Helena e Maria”, ou ao longo do tempo permanecendo em condições precárias, atacados por enfermidades causadas pelo inverno, ou fadiga, ou pouca alimentação, numa espera longa aguardando pela viagem ao Brasil.

Os emigrantes alemães haviam perdido todos os seus pertences na tempestade, e o valor da passagem que pagaram antecipadamente para viajarem e ao invés de estarem na América do Sul, o objetivo dos seus sonhos, viam-se completamente desprovidos de tudo na Inglaterra invernal. 

A cidade de Falmouth através do “Comitê para Socorro dos Emigrantes Alemães Afligidos” conseguiram abrigar, nutrir e cuidar desafortunados viajantes durante um ano inteiro. O Vice-Presidente desta Sociedade, Lord de Dunstanville[6], teve uma grande participação nesta ação de socorro.

Somente no final de outubro o governo britânico decidiu cuidar do transporte dos alemães para o Brasil. O veleiro “Helena e Maria” foi reparado em um estaleiro, para seguir viagem, mas os imigrantes não aceitaram, pois, inspeções feitas pela Marinha Inglesa, reconheceu a insegurança da embarcação.

 

O AUXÍLIO DO MARQUÊS DE BARBACENA AOS IMIGRANTES ALEMÃES

Felisberto Caldeira Brant Pontes de Oliveira e Horta, o marquês de Barbacena,  é considerado por alguns como a personificação do Primeiro Reinado (1822-1831) e até do Período Regencial (1831-1840). Militar de formação, foi diplomata, senador do Império, ministro da Fazenda e Conselheiro de Estado. Era peça política importante na época, tendo participação ativa nos grandes momentos do reinado de D. Pedro I. 

Era de descendência alemã e foi incumbido por Dom Pedro I em acompanhar sua filha Dona Maria da Glória, futura rainha de Portugal, com o nome de Dona Maria II, que contava apenas nove anos de idade, quando em passagem por Falmouth, em 24 de setembro de 1828[7], pôde constatar o triste estado em que se encontrava aqueles imigrantes que tinham por destino o Brasil, decidiu, às despensas do governo imperial do Brasil, contratar o veleiro James Laing, de bandeira inglesa que chegou a Falmouth em 03 dezembro de 1828, para levar os náufragos do navio “Helena e Maria” ao Brasil. (supostamente chamado Cäcilia, mas não há registros para confirmação da existência dessa embarcação). 

Os emigrantes passaram a bordo para em 02 de janeiro de 1829 partirem para o Brasil. Os imigrantes alemães eram formados por um grupo misto de 313 imigrantes de regiões diferente da Alemanha: Moselanos, Palatinos e Hunsruck[8], sobreviventes do naufrágio na Inglaterra.

O veleiro James Laing foi construído em 1818, na cidade de Stockton, na Inglaterra. Suas dimensões de convés eram de 32,7 metros de comprimento por 9,05 metros de largura, com capacidade de transporte de 418 toneladas. Possuía casco com revestimento de cobre para proteção da corrosão da água salgada do mar. Pertencia a empresa de navegação James Laing & Sons, de Sunderland, Inglaterra. 

Assim, em 03 de janeiro de 1829, os alemães náufragos do veleiro “Helena e Maria” partiram em direção ao Brasil, chegando ao Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1829. 

A VIAGEM DE DONA MARIA DA GLÓRIA, FILHA DE DOM PEDRO I 

Dona Maria da Glória nasceu no Rio de Janeiro, no Palácio de São Cristóvão, em 4 de abril de 1819, recebendo o nome de Maria da Glória Joana Carlota Leopoldina da Cruz Francisca Xavier de Paula Isidora Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga.

Contava a princesa Dona Maria da Glória apenas 7 anos, quando seu pai, proclamado rei de Portugal, como Pedro IV, abdicou do trono de Portugal em seu favor, em abril de 1826, consolidando esse direito em 03 de maio de 1826. Em Portugal anteriormente, em 29 de abril, outorgara uma constituição livre, conhecida pela Carta Constitucional.

A abdicação ao trono de Portugal em favor de sua filha Dona Maria da Glória, o então o legítimo Rei Dom Pedro IV, propunha uma condicional. Sua filha, a princesa Maria da Glória, deveria casar-se com seu tio, o infante Dom Miguel, irmão de Dom Pedro I, do Brasil e enquanto se não realizasse o matrimônio, e não vigorasse em Portugal o novo regime, continuaria a regência em Portugal de D. Isabel Maria em nome de D. Pedro IV. 

A 31 de julho de 1826 foi jurada a Carta Constitucional em Portugal, e Dom Miguel, irmão de Dom Pedro IV, exilado em Viena, Áustria, por tentativa de golpe contra seu pai Dom João VI e a própria Constituição Liberal de Portugal, também a jurou em 4 de outubro de 1926, e efetuou, por procuração, os seus esponsais com a jovem rainha, sua sobrinha, perante a corte de Viena, a 29 de outubro de 1926, sendo dispensado o impedimento de consanguinidade por breve do papa Leão XII.

Dom Pedro IV confiando em seu irmão Dom Miguel, nomeou-o seu lugar-tenente e regente do reino, por decreto de 03 de setembro de 1827, resolvendo enviar sua filha para Viena, Áustria a completar para educação da Corte.

Maria da Glória, deveria casar-se, logo que tivesse idade, com o tio, Dom Miguel, que assumiu a regência do reino em julho de 1826, assumindo a regência, ao chegar a Lisboa, em janeiro de 1828, após ter jurado fidelidade à rainha e à Carta Constitucional.

D. Pedro deste modo nomeou, em nome da rainha D. Maria II, seu irmão o infante Dom Miguel seu lugar-tenente e regente do reino, por decreto de 03 de setembro de 1827, resolvendo enviar sua filha para Viena, Áustria a completar para educação da Corte. 

D. Maria II saiu do Rio de Janeiro a 05 de julho de 1828, sob o título de duquesa do Porto, sendo reconhecidos os seus direitos à coroa de Portugal por algumas das potências europeias. O marquês de Barbacena, Felisberto Caldeira Brant, foi o escolhido por D. Pedro IV para a acompanhá-la.

D. Maria II saiu do Rio de Janeiro a 05 de julho de 1828, sob o título de Duquesa do Porto, sendo reconhecidos os seus direitos à coroa de Portugal por algumas das potências europeias. O marquês de Barbacena, Felisberto Caldeira Brant, foi o escolhido por D. Pedro IV para a acompanhá-la.

O MARQUÊS DE BARBACENA, PROTETOR DE MARIA DA GLÓRIA, FUTURA RAINHA DE PORTUGAL

O marquês de Barbacena, Felisberto Caldeira Brant, por força das missões de que se encarregara ao governo do Imperador Dom Pedro I, foi incumbido de acompanhar Dona Maria da Glória, (futura Rainha Dona Maria II de Portugal) à Europa e tratar do segundo casamento do monarca.

Dona Maria da Glória foi enviada para a Europa em julho de 1828, para defender os seus direitos ao trono.

O marquês de Barbacena chegando a Gibraltar com a real viajante, em 3 de setembro de 1828, teve conhecimento do que se passava em Portugal, em ebulição política, por um emissário que o esperava naquele porto, que Dom Miguel viera de Viena de Áustria para impor novamente o sistema absolutista, contrariando a Corte de Portugal, usurpando o direito ao trono, que pertencia a Dona Maria da Glória, filha de Dom Pedro IV.

 Gottfried Heinrich Handelmann, em sua obra História do Brasil, expõe:

“Quando a filha de D. Pedro, a rainha D. Maria II, depois de muito demorada viagem de mar, chegou a Gibraltar, a 02 de setembro de 1828, e o seu guia, o Marquês de Barbacena, verificou ali, pelos jornais, a atitude dúbia com que a Áustria considerava a usurpação de Dom Miguel, tomou o Marquês a resolução de conduzir a jovem soberana para Londres, em vez de Viena, e a colocou sob a proteção da coroa da Inglaterra. Assim o fez a 24 de setembro, desembarcou, D. Maria em Falmouth e foi ali, assim como na corte de Windsor, acolhida com todas as honras, como rainha reinante.”

DONA AMÉLIA DE LEUCHTENBERG,  SEGUNDA IMPERATRIZ DO BRASIL

O segundo casamento de Dom Pedro possuía a inquietação da Europa, por haver recusas sucedâneas por interferência exclusiva do governo da Áustria através de seu chanceler, Metternich.

Diante de tantos empecilhos, as negociações foram suspensas e Dom Pedro escreveu ao imperador da Áustria agradecendo os seus bons ofícios e pedindo que “não continuasse a procurar repulsas”. Chamado ao Rio de Janeiro para receber novas instruções, o Marques de Barbacena aqui chegou a 12 de maio de 1828. Nem dois meses se demorou o marquês no Brasil. A 5 de julho, zarpava novamente para a Europa, pajeando a rainha de Portugal e encarregado de reiniciar a procura de uma noiva para D. Pedro.

Amélie Auguste Eugénie Napoléone de Beauharnais, nasceu em Milão, Itália em 1812. Era uma princesa franco-bávara da Casa de Beauharnais, tornando-se a segunda esposa do Imperador do Brasil, de 1829 até 1831, quando Som Pedro I, abdicou do trono em favor de seu filho, segundo imperador, Dom Pedro II. Dona Amélia era filha do príncipe Eugênio, Duque de Leuchtenberg, e de sua esposa, a princesa Augusta da Baviera; neta da imperatriz Josefina, casada em segundas núpcias com Napoleão Bonaparte.

Casamento de Dom Pedro I com Amélia de Leuchtenberg, na Igreja de Nossa Senhora do Carmo, RJ. Pintura de Jean Baptiste Debret, 1829

A convenção matrimonial foi assinada na Inglaterra em 30 de maio de 1829, ratificada em 30 de junho, em Munique, pela mãe e tutora da noiva, a Duquesa de Leuchtenberg. Em 30 de julho daquele ano, foi confirmado, no Brasil, o tratado do casamento de Sua Majestade com Amélia.

O casamento realizou-se em Munique a 2 de agosto de 1829, às 13 horas. assinando o contrato de casamento por parte da noiva, o Senhor Cavaleiro Nicolau Luís Planat de la Faye, tenente-coronel do Exército de Sua Majestade o rei da Baviera, gentil homem da Corte, Oficial da Ordem da Legião de Honra  da França, Cavaleiro da Ordem do Mérito Civil da Coroa da Baviera e da Real Ordem da Espada, da Suécia.

Por parte do noivo assinava o Excelentíssimo Senhor Felisberto Caldeira Brant Pontes Oliveira e Horta, Marques de Barbacena, Grande do Império,  gentil-homem da Imperial Câmara, Veador de Sua Majestade a Imperatriz, Alcaide-Mor DA Vila de Jaguaribe, Cavaleiro da Real Ordem da Torre e da Espada, Grã-Cruz da Ordem da Coroa de Ferro da Áustria e depois Grã-Cruz da Imperial Ordem da Rosa.

A 30 de agosto de 1829, levanta ferros de Portsmouth, a divisão Naval brasileira sobe o comando do conde Souzel, Oficial Geral da Armada, composta das fragatas Imperatriz onde estavam a bordo o Principe Dom Augusto e a princesa Dona Maria da Gloria, futura Rainha Maria II, de Portugal. Na fragata Maria Isabel, estava a bordo a segunda Imperatriz do Brasil, Dona Amélie Auguste Eugénie Napoléone de Beauharnais

Na manhã do dia 16 de outubro de 1829, aportou na baía de Guanabara, a fragata Imperatriz, vinda de Oostende, na Bélgica transportando a jovem Amélia Augusta Eugênia Napoleona de Beauharnais, princesa de Leuchtenberg e de Eichsteadt , tendo 17 anos de idade. Desembarca no Arsenal da Marinha em 17 de outubro.

D. Amélia participaria dos acontecimentos de ordem política passados por seu marido, Dom Pedro I, que ao pensando nos direitos portugueses de sua filha D. Maria II, ele abdica em 7 de abril de 1831 e parte com sua esposa e a rainha menina para a Europa uma semana depois, dia 14.

Dona Amélia, portanto, viveu no Brasil apenas um ano e meio. Como duque de Bragança D. Pedro entra na política portuguesa, pondo-se à frente da causa liberal. D. Amélia e D. Maria II ficam no exílio, sobretudo na França. Ali, em dezembro de 1831, nasce sua filha, a princesa Dona Maria Amélia. Com a entrada em Lisboa das tropas liberais, D. Pedro chama sua esposa e ela chega na capital portuguesa a 22 de setembro de 1833.

DOM JOÃO VI

Convenção Secreta sobre a Transferência da Monarquia Portuguesa para o Brasil foi um tratado internacional celebrado entre Portugal e Inglaterra, em 22 de outubro de 1807. 

Neste acordo, a Grã-Bretanha se comprometeu a fornecer escolta naval para a transferência da corte portuguesa para o Brasil. Em troca de todo seu apoio, tanto na defesa naval da frota Real, quanto nas "futuras comunicações entre o Reino e o Império, os subsídios iniciais para sobreviver, os soldados para resistir ao invasor e reconquistar o velho país", a Inglaterra exigiria um alto preço. Conforme afirma Rubens Ricupero na obra A Diplomacia na Construção do Brasil: 1750-2016, os britânicos comprometeram-se "a fornecer uma escolta naval na eventualidade da transferência da Corte para o Brasil bem como a não reconhecer como soberano de Portugal nenhum príncipe que não fosse o herdeiro legítimo da casa de Bragança. Os lusitanos aceitavam entregar temporariamente à Inglaterra a Ilha da Madeira no caso de fechamento dos portos portugueses e obrigavam-se a não permitir que sua frota mercantil ou de guerra tombasse em mãos francesas. Um artigo adicional dispunha que, uma vez a Corte estabelecida no Brasil, se concederia aos ingleses, em compensação pela perda do comércio com a metrópole, um porto em Santa Catarina ou outro ponto do litoral brasileiro no qual as mercadorias provenientes da Inglaterra seriam admitidas com os mesmos direitos prevalecentes em Portugal.

Em 1801, quando Napoleão Bonaparte reinicia sua guerra com a Inglaterra, é assinado o tratado com Portugal: "Convenção secreta sobre a transferência para o Brasil da sede da Monarquia Portuguesa, e ocupação temporária da Ilha da Madeira por tropas britânicas". Nada de se referindo a abertura de portos, mas sim um porto de exclusividade da Inglaterra, em Santa Catarina, no sul do Brasil 

"Napoleão era chamado de 'o flagelo da Europa'. Ele derrubou diversas monarquias, inclusive de parentes da realeza austríaca. Os próprios Habsburgos tiveram que fugir duas vezes de Viena durante guerras entre a Áustria e a França de Napoleão.

João Maria José Francisco Xavier de Paula Luís Antônio Domingos Rafael de Bragança, (Duque de Beja, futuro Dom João VI) era regente da Rainha de Portugal, Dona Maria I, sua mãe. Era casado com dona Carlota Joaquina, que conspirava na Corte portuguesa contra seu marido, procurando tomar a regência, acusando o príncipe de incompetente e ameaçando levar seus 8 filhos para o rei espanhol ampará-los. Em 1805, o casal separa-se e D. Carlota vai viver no Palácio de Queluz. 

A ameaça de invasão de Portugal por tropas francesas e espanholas coligadas obrigou a família real portuguesa a partir para o Brasil, em 1806, protegida pela marinha britânica. O Tratado de Fontainebleau em 1807 dividiu Portugal entre França e Espanha. A invasão do reino por Junot forçou João VI e a família real a se refugiarem no Brasil.

No dia 29 de novembro de 1807, saiu de Portugal uma frota composta de 15 navios da esquadra real e outros navios mercantis. D. João procedia a transferência de toda a Corte e a administração do Reino para o Brasil.

No dia 22 de janeiro de 1808, a esquadra ancora na Bahia debaixo de uma tormenta. O Brasil passou a ser a sede do governo português.

Em 28 de janeiro de 1808, em Salvador, Dom João assinou a carta régia, decretando a abertura dos portos brasileiros ao comércio exterior.

A esquadra chegou ao Rio de Janeiro no dia 7 de março de 1808, onde a corte foi recebida com festas. 

Dom João VI foi coroado rei de Portugal no dia 6 de fevereiro de 1818, no Rio de Janeiro, após a morte da Rainha de Portugal, D. Maria I, que faleceu em 20 de fevereiro de 1816.

A REVOLUÇÃO DO PORTO E A VOLTA DA FAMÍLIA REAL PARA PORTUGAL

Pelo Congresso de Viena ocorrido de setembro 1814 a junho 1815, restabeleceu-se a paz e a estabilidade política na Europa, após a derrota de Napoleão Bonaparte reorganizando as fronteiras europeias, alteradas pelas conquistas do Corso, Imperador da França,  com a restauração do absolutismo monárquico do Antigo Regime.

Portugal estava com o domínio de uma ditadura militar inglesa, comandada por William Carr Beresford que era um militar e político anglo-irlandês que serviu como general no Exército Britânico e Marechal do Exército Português

Foi governador e comandante-chefe, durante seis meses, na Madeira, para evitar a ocupação da ilha pelas forças napoleónicas francesas.

Depois, em 7 de março de 1809, terá sido escolhido pelo governo britânico para comandar o Exército português. É-lhe atribuído o posto de Marechal do Exército. A sua missão era a de compatibilizar a organização e a táctica existentes no exército português com a britânica, permitindo uma atuação conjunta no campo de batalha)

Em 1820, na cidade do Porto, eclodiu a revolução, onde era proclamada o fim da monarquia absoluta, a convocação de uma assembleia constituinte, a recolonização do Brasil, exigindo a volta de Dom João para Lisboa. A situação em Portugal mudara completamente com a Revolução de 1820, que era essencialmente antibritânica e que pelas suas ideias reformadoras e influência política, voltava a olhar para o modelo francês

Os rebeldes formaram a "Junta Provisória do Governo Supremo do Reino". Os acontecimentos levaram Dom João VI a fazer o juramento prévio da Constituição, no dia 7 de março, e anunciar sua partida.

Através de decreto, Dom João atribuiu a seu filho D. Pedro a regência do Brasil. A partida de Dom João VI do Brasil deu-se no dia 26 de abril de 1821. Depois e longa viagem, em 3 de julho de 1821 entrou no porto Tejo as naus com D. João VI e a Corte.

Em 4 de julho de 1821 Dom João VI, após desembarcar na Praça do Comércio, dirige-se às Cortes onde novamente faz o juramento das bases da Constituição.


A CONSTITUIÇÃO LIBERAL DE PORTUGAL

Em 26 de janeiro de 1821 houve em Portugal a Reunião das Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa, escolhida em eleições por sufrágio indireto. As sessões realizam-se no Convento das Necessidades e em  30 de janeiro as Cortes decretam a formação de um Conselho de Regência, para exercer o poder executivo em nome de D. João VI. Em 9 março as bases da nova Constituição Política Portuguesa são aprovadas.

Havia uma Constituição foi votada pelas Cortes Constituintes portuguesas reunidas, em Lisboa em 1821, inclusive com Pedro de Alcantara, Futuro Dom Pedro I do Brasil, jurando-a, no Brasil,  em 5 de junho de 1821. O texto firmado em 23 de setembro de 1822, foi jurado pelo rei, D. João VI, em 1º de outubro de 1822, exercendo influência profunda nas instituições e no direito político, iniciando em Portugal "a organização jurídica da democracia". 

O governo de Portugal estava sobre a guarda de Dona Isabel Maria, quarta filha do rei Dom João IV, e com a morte de seu pai,  em Lisboa em 10 de março de 1826, ela assumiu a regência do reino em nome de seu irmão Pedro IV e de sua sobrinha Maria II  entre 1826 e 1828, ratificando o juramento que prestara à Carta Constitucional perante as Cortes de Portugal que a infanta havia convocado para esse fim.

DOM MIGUEL, USURPADOR DO TRONO DE SUA SOBRINHA, MARIA DA GLÓRIA

Dom Miguel, nasceu no Paço de Queluz em 26 de outubro de 1802. Era Infante e Grão Prior do Crato.

O infante Dom Miguel, irmão de Dom Pedro I, residia em Viena de Áustria, para onde fora exilado por seu pai, Dom João VI, por carta regia de 12 de maio de 1824, depois da revolta de 30 de abril de 1824, que ficou conhecida pela Abrilada, uma revolta político-militar, de caráter absolutista, que aconteceu em abril de 1824, e foi prenunciou da Guerra Civil Portuguesa, entre 1828 até 1834, entre os irmãos Dom Pedro do Brasil e Dom Miguel de Portugal.

O Marques de Barbacena, foi aconselhado pelo chanceler Matternich, que então dirigia a política europeia, que seria perigoso a jovem rainha ir para Viena, na Áustria. O Marquês de Barbacena assumiu a responsabilidade, alterando a direção da viagem, e foi para Londres, julgando que haveria ali mais segurança. 

Enquanto Dona Maria II era recebida na corte de Inglaterra com todas as honras devidas à sua elevada hierarquia, os ingleses impediam os seus súbditos fiéis, ali emigrados, de irem reforçar a guarnição da Ilha Terceira. A política inglesa, não queria tomar partido perante o conflito civil interno existente em Portugal, entre liberais e conservadores do reino, principalmente Dom Miguel.

Então, por segurança, Dona Maria da Glória ficou a residir em Londres, e depois, a partir de 1831, na França, que tinha proclamado os princípios liberais. 

Em 18 de setembro de 1834, o legislativo de Portugal, aprovou a maioridade de Maria II então proclamando a sua maioridade de modo que ela passou a reinar sem a figura do regente. 

Assim Dona Maria da Glória, passa a ser Maria II, Rainha de Portugal e Algarves, 2 de maio de 1826 a 11 de julho de 1828 em um primeiro momento, e de 26 de maio de 1834 a 15 de novembro de 1853.

O ABSOLUTISMO DEFENDIDO POR DOM MIGUEL E SUA MÃE DONA CARLOTA JOAQUINA

D. Miguel, ferrenho partidário do regime absolutista, testemunhou essa reconquista da monarquia na Europa, pois vivia em Viena, Áustria. Em 9 de fevereiro de 1828  voltou para Lisboa, a bordo da fragata portuguesa Pérola, desembarcando no dia 22, recebendo das mãos de Dona Isabel Maria, sua irmã, a regência do reino.

Foi Comandante em Chefe do Exército de 1º de junho de 1823 a 9 de maio de 1824. Em 12 de maio de 1824 saiu de Portugal indo para a Alemanha.

 Dom Miguel era contrário à Carta Constitucional, pois limitava o poder Real, que deveria governar com um novo modelo, onde as decisões deveriam ser tomadas feitas com a Corte com as medidas liberais introduzidas na legislação portuguesa.

 Dom Miguel não tardou a mudar de resolução, e a 13 de março 1823 seguinte dissolveu as Cortes, convocando depois, em 3 de maio, o conselho dos três Estados para decidir a quem pertencia a coroa, pelo direito português. Declarou-se Rei de sua própria autoridade aos 30 de junho de 1828, e foi confirmada esta declaração a 3 de julho de 1828.

É articulado Golpe de Estado em Vila Franca de Xira (Vilafrancada) acontecido de 27 de maio e 3 de junho de 1823, com a rainha D. Carlota Joaquina tendo papel importante na preparação do golpe, que reclamava pelo Absolutismo, contra seu próprio marido, Dom João VI.

A Constituição elaborada pela Cortes foi abolida pelo golpe de D. Miguel  em 29 de maio de 1823, sendo Dom Miguel nomeado comandante-chefe do Exército, e procurando restabelecer a monarquia absoluta, conjeturando Dom Miguel e a rainha Doma Carlota a possível abdicação de D. João VI, que se mantinha fiel à Constituição que jurara. Em 31 de maio de 1823 Dom João VI, na «Proclamação aos habitantes de Lisboa», escrita em Vila Franca, afirma rejeitar o poder absoluto.

As Cortes cedem à pressão dos revolucionários e o rei declarou ser necessário modificar a Constituição. Nomeou-se Dom Miguel comandante-chefe do Exército em 30 de abril de 1823, e constituiu-se um novo Ministério. As Cortes liberais foram dissolvidas em 3 de junho de 1823.

A Constituição de 1822 vigorou menos de um ano, entre 23 de setembro de 1822 a 3 de junho de 1823.

Em 19 junho de 1823 é nomeada de uma Junta para examinar as leis das Cortes.

O conselho, temeroso em perder os direitos de poder, reuniu-se a 21 de junho, e a 25 de junho, proclamaram Dom Miguel rei absoluto.

Em 26 de outubro de 1823 o projeto para afastamento de D. João VI, falha, envolvendo a pretensão de Dom Miguel ao trono com colaboração de sua mãe D. Carlota Joaquina.

Porém, D. João VI decidiu tomar a direção da revolta, encorajado por seus partidários obrigou Dom Miguel a submeter-se-lhe e regressou a Lisboa em triunfo.

O partido da rainha não deixou, porém, de continuar a intrigar, e menos de um ano mais tarde eclodia nova revolta absolutista, a Abrilada (abril de 1824), dando origem ao exílio do próprio filho, o Infante D. Miguel, partindo de Portugal em 13 de maio de 1824, rumo a Áustria.

A Abrilada, foi uma revolta político-militar, de caráter absolutista, que teve lugar em abril de 1824. Sucedeu a Vilafrancada (1823) e prenunciou a Guerra Civil Portuguesa entre os Irmão som Pedro do Brasil e Dom Miguel de Portugal (1828-1834).

Em 30 de abril de 1824 Dom Miguel prepara novo golpe. Os opositores de Dom João VI prendem os principais conselheiros do rei e sequestram-no no Palácio da Bemposta.

Em maio de 1824, os diplomatas obrigam à libertação do rei Dom João VI que se refugia no navio britânico Windsor Castle, ancorado no Tejo, demitindo Dom Miguel do seu cargo de generalíssimo do exército, ordenou a libertação dos presos civis e militares que Dom Miguel havia prendido no Castelo de S. Jorge e na Torre de Belém. D. Miguel é destituído do comando do Exército, e exilado, e D. Carlota Joaquina é intimada a sair de Portugal.

D. João VI dirige-se aos portugueses através de uma proclamação em que descreve cronologicamente todos os acontecimentos, publicada no Suplemento ao nº 110 da Gazeta de Lisboa, 10 de maio de 1824:

«Proclamação de S. M.

Portuguezes! O vosso Rei não vos abandona, pelo contrário só quer libertar-vos do terror, da ansiedade que vos oprime, restabelecer a segurança publica, e remover o véo que vos encobre ainda a verdade; na certeza de que á sua voz toda esta Nação leal se unirá para sustentar o Trono (…)

Meu filho, o Infante D. Miguel, que há tão pouco tempo ainda se cobrira de gloria pela acção heróica que emprehendeo, he o mesmo que impelido agora por sinistras inspirações, e enganado por conselhos traidores, se abalançou a cometer actos, que, ainda quando fossem justos e necessários, só devião emanar da minha Soberana Authoridade, atentando assim contra o Poder Real (…)

Bordo da Náo Ingleza Windsor Castle, surta no Téjo, em nove de maio de 1824.

ELREI Com Guarda». In Hemeroteca Municipal de Lisboa.

Dom João VI faleceu no Paço da Bemposta, em Lisboa, no dia 10 de março de 1826. Com sua morte inicia-se o interesse de sucessão de D. João VI, em Portugal. A Europa vinda de guerras napoleônicas e estruturando  um novo poder geopolítico, ficou de sobressalto com Portugal, que já havia elaborado uma Constituição liberais e era combatida por Dom Miguel interessado em um poder absolutista.

DONA CARLOTA JOAQUINA, TRAINDO DOM JOÃO VI

Carlota Joaquina de Bourbon, nascida Carlota Joaquina Teresa Marcos Caetana Coleta Francisca de Sales Rafaela Vicenta Ferrer Joana Nepomucena Fernanda Josefa Luísa Singorosa Antônia Francisca Bibiana Maria Casilda Rita Januária e Pasquala Nascida como uma infanta da Espanha, ela era a filha primogênita do rei Carlos IV da Espanha.

 Suas aspirações políticas e favorecimento espanhol são confirmados por volta do ano de 1806, quando, após o Príncipe Regente adoecer gravemente, formou-se a Conspiração do Alfeite, composta pelo Conde do Sabugal, o Marquês de Ponte Lima e outras figuras importantes da Corte, para elevar a Infanta Carlota à Regência. Sobre este fato, temos duas cartas da Infanta Dona Carlota, endereçadas a seu pai Carlos IV e sua mãe Maria Luísa. Na primeira carta, a infanta diz ao pai sobre a doença do Príncipe Regente e o motivo da corte lusa solicitar a sua intervenção no governo, com o objetivo de evitar uma guerra civil entre seus partidários e os do príncipe, garantindo um governo equilibrado. Carlota ainda suplica asilo político para si e seus filhos ao pai caso o plano falhe. A carta endereçada a sua mãe Maria Luísa é apenas para ela apoiar efetivamente a anterior reclamação perante Carlos IV. Tais cartas marcam a primeira intervenção documentada de Dona Carlota nos assuntos políticos.[16] Contudo o plano foi descoberto;[17] o Conde de Vila Verde propôs a abertura de um inquérito e a prisão dos implicados; Dom João, desejando evitar um escândalo público, opôs-se à prisão de sua esposa, preferindo confiná-la no Palácio de Queluz, enquanto ele mesmo ia morar para no Palácio de Mafra, separando-se dela.

Durante o governo de D. Miguel, que ascendeu ao trono em 1828, não viria a ter papel relevante na governação daquele que fora, para muitos, o seu filho predileto, pois faleceu (ou suicidou-se) em 1830 em Queluz. De resto, o próprio príncipe não a mandou chamar do desterro assim que subiu ao trono, pelo que faleceu só, esquecida, triste e amargurada.

Retido a bordo do navio Windsor Castle D. Miguel foi obrigado a embarcar com destino a França na fragata Pérola, pondo-se fim à sublevação dos miguelistas.

O CHANCELER METTERNICH, DA ÁUSTRIA

No Congresso de Viena, acontecido de 1º de novembro de 1814 a 9 de junho de 1815, também conhecida como A Santa Aliança, criada após a derrota de Napoleão, foi articulada por Alexandre I da Rússia e Chanceler da Áustria, Metternich.  Era o conjunto dos países que pretendiam o julgamento das ideias liberais oriundas da Revolução Francesa e disseminadas na Europa pelos exércitos napoleónicos.

Era composta inicialmente pela Áustria, Rússia e Prússia. O príncipe encarregue da regência de Inglaterra acabou por assinar também este acordo (1815), a par do rei Luís XVIII de França (1818).

Klemens Wenzel Lothar von Metternich com o fim das guerras napoleônicas, teve a  tarefa da recomposição do equilíbrio político europeu, através das negociações no Congresso de Viena, e impedir a propagação dos ideais revolucionários, o que ficou por conta da Santa Aliança, integrada pelos monarcas da Áustria,  Prússia e Rússia.

Klemens von Metternich tornou-se ministro das Relações Exteriores em 1809. Ele também serviu como chanceler de estado de 1821 a 1848, tanto no reinado de Francisco I, quanto de seu filho Ferdinand I. Sob o controle de Metternich, o Império Áustria entrou em um período de censura e estado policial entre os anos de 1815 a 1848. Metternich manteve mão firme na resistência às liberdades constitucionais exigidas pelos liberais. Foi governado por decretos alfandegários e imperiais (Hofkanzleidekrete). As políticas de Metternich eram fortemente contra a revolução e o liberalismo. Na sua opinião, o liberalismo era uma forma de revolução legalizada. Metternich acreditava que a monarquia absoluta era o único sistema de governo adequado. Esta noção influenciou a sua política antirrevolucionária para garantir a continuidade da monarquia dos Habsburgos na Europa.

Dentro da Santa Aliança, Metternich foi um fator de moderação e equilíbrio sendo  Chanceler da Áustria, D. Pedro encarregou o imperador da Áustria, seu sogro, Francisco I (Que era Imperador Francisco II abdicou em 1806 do Sacro Império Romano-Germânico dissolvido após a derrota para Napoleão. Ficou sendo Francisco I, Imperador da Áustria, de 1804 até 1835, quando faleceu, mesmo que o novo título imperial pudesse soar menos prestigioso que o antigo, a dinastia Habsburgo continuou a dominar a Áustria e vários territórios vizinhos por um longo período) de lhe arranjar uma segunda esposa, depois da morte de Dona Leopoldina, (Maria Leopoldina da Áustria (nascida Leopoldine Caroline Josepha von Habsburg-LothringenViena22 de janeiro de 1797 — Rio de Janeiro11 de dezembro de 1826) ) mas não se deu conta de que quem manobrava tudo era Metternich, que, por razões geopolíticas de equilíbrio entre as potências, era contra esse segundo casamento.

Napoleão deixara um rastro de sua passagem em todos os países: a semente da Revolução. Era preciso destruir essa ameaça sutil para o equilíbrio social de cada Estado. Em Viena, em maio de 1820, fez aprovar uma resolução que vedava aos príncipes a concessão de demasiada liberdade aos súditos, limitava as atribuições das câmaras e a publicidade dos seus debates. E, graças à sua influência, cresceu, em todos os Estados, a pressão policial contra os liberais.

Na luta fratricida em Portugal entre os irmãos Miguel e Pedro, inicialmente, Metternich inclinou-se por Dom Miguel, atuou nos bastidores com propostas concretas para sustentá-lo e organizou um bloco austro-russo-prussiano para garantir a causa miguelista, mas, depois de muitas gestões do representante brasileiro em Viena, passou a apoiar D. Pedro IV, após a guerra civil.

O ministro plenipotenciário do Brasil em Viena, Caldeira Brant, o Marquês de Barbacena, se deu conta das intenções de Metternich e alertou D. Pedro I. Depois de sucessivas manobras com o conhecimento de Metternich, foi escolhida como imperatriz consorte, D. Amelia de Leuchtenberg, filha de família nobre da Baviera e parente por afinidade de Napoleão Bonaparte, com aprovação do chanceler Matternich, que controlava os interesses dos tronos da Europa.

Metternich queria para o sogro era um título brasileiro. Pediu ao Barão de Barbacena, uma lista de nomes geográficos do Brasil e nela procurou, para o título, “algum que não soasse mal na Alemanha e não desse matéria aos gazeteiros liberais de França”.

O pedido foi encaminhado formalmente a D. Pedro: “Seria perfeitamente compensado se V. M., considerando a família de sua esposa inteiramente brasileira, se dignasse a conceder ao seu sogro o título de visconde de uma das cidades de seu império…”.

Dom Pedro I não mandou título nenhum para o sogro de Metternich, nem o nomeou ministro do Brasil junto à Dieta de Frankfurt. Que se arranjassem por lá.

 GUERRA DOS DOIS IRMÃOS

 Acontecimentos que prenunciavam uma Guerra Civil (1828-1834)

Em território português só a Ilha Terceira reconhecia os princípios constitucionais, e ali mesmo começavam a aparecer guerrilhas miguelistas.

A França estava já disposta a reconhecer o governo de D. Miguel, quando em 1830 rebentou em Paris a revolução de julho, o que fez animar muito os liberais portugueses. No ano imediato, os acontecimentos políticos do Brasil levaram D. Pedro a abdicar em 7 de abril a coroa imperial, em seu filho Dom Pedro, irmão de Dona Maria II, e a vir para a Europa acompanhado de sua filha, e de sua segunda mulher, para sustentar os direitos de D. Maria II à, coroa de Portugal, tomando o título de duque de Bragança, e de regente do reino em nome da soberana.

D. Pedro desembarcava em França, sendo acolhido com a máxima simpatia pelo novo governo e pelo novo rei Luís Filipe.

O governo de Dom Miguel desacatara as imunidades dos súbditos franceses, não satisfizera de pronto as reclamações do governo francês, que procedera imediatamente, mandando uma esquadra comandava pelo almirante Roussin forçar a barra de Lisboa e impor a D. Miguel as mais humilhantes condições de paz.

D. Pedro deixou sua filha em Paris para acabar a sua educação, entregue aos cuidados de sua madrasta, deu-lhe os melhores mestres, e partiu para os Açores à frente duma expedição organizada na ilha de Belle-Isle, reunindo todos os partidários devotados da sua causa.

Chegando aos Açores em 3 de março de 1832, formou um novo ministério, juntou um pequeno exército, cujo comando entregou ao conde de Vila Flor, meteu o a bordo duma esquadra que entregou ao oficial inglês Sartorius, e partiu para Portugal, vindo desembarcar em 8 de julho de 1832 mesmo ano nas praias do Mindelo.

 Seguiu-se o cerco do Porto e uma série de combates, na maior parte, gloriosos para os constitucionais, até que chegou o dia 24 de julho de 1833, em que o duque da Terceira entrou vitorioso em Lisboa, depois de ter ganho, na véspera, a batalha ferida na Cova da Piedade. Porto e Lisboa, as duas cidades principais do reino, estavam no poder dos liberais. Tendo notícia destes acontecimentos, D. Pedro veio para Lisboa, e mandou vir sua filha de Paris. 

Com a notícia da vitória do Duque de Bragança em Lisboa, Amélia partiu com sua filha e sua enteada para Portugal chegando a Lisboa a 22 de setembro de 1833. Contava pouco mais de catorze anos de idade. Com Miguel derrotado e exilado de Portugal, Pedro e sua família estabeleceram-se inicialmente no Palácio do Ramalhão  e, mais tarde, no Palácio Real de Queluz.

D. Miguel partia para o estrangeiro, a bordo do navio inglês Stag, com a desistência dos direitos à coroa de Portugal. D. Pedro com agravo da doença de que já sofria, sucumbiu a 21 de setembro desse ano. No dia 15 de agosto tinham-se aberto as cortes. No próprio dia em que faleceu D. Pedro formou-se um novo ministério presidido pelo Duque de Palmela.

Dia 30 de setembro 1833 D. Pedro, Duque de Bragança, assume a regência do reino de Portugal durante a menoridade de D. Maria II.

 A Espanha, toma posição contra Dom Pedro, contra as instituições revolucionárias, sendo favorável ao infante Dom Miguel, candidato dos absolutistas portugueses.

A 1 de dezembro de 1834 o patriarca de Lisboa declarou dissolvido o casamento da rainha que se efetivará por procuração em Viena de Áustria a 29 de outubro de 1826 com seu tio, o infante D. Miguel.

Tratou-se novo casamento, sendo escolhido o príncipe Dom Augusto de Leuchtenberg, nascido em Munique a 9 de dezembro de 1810, irmão da Arquiduquesa Dona Amélia mulher de D. Pedro IV. O consórcio realizou-se, por procuração, em Munique a 5 de novembro de 1834, e em pessoa, na Sé de Lisboa, a 26 de janeiro de 1835. Não deixou descendência, tendo morrido em Lisboa a 28 de março de 1835.

Dona Maria II casou-se segunda vez com Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha, irmão do rei dos Belgas, Leopoldo I, e primo do marido da rainha Vitória da Inglaterra, o príncipe Alberto. O casamento realizou-se em 9 de abril de 1836.

Só em 24 de setembro de 1834, com o fim da Guerra Civil entre os irmão Dom Pedro e Dom Miguel, respectivamente pai e tio de Dona Maria da Glória, tendo ela quinze anos de idade, ganha a maioridade e assume o governo do País, tendo Dom Pedro, seu pai, falecido no Palácio de Queluz, em 24 de setembro de 1834.

Durante o reinado de Dona Maria II, houve conturbados períodos na história de Portugal, com lutas entre liberais e absolutistas, como a  Revolução de Setembro, em 1836, a Belenzada, ano em que a Rainha teve um reinado absoluto de 10 de setembro de 1836 a 4 de abril de 1838, data do juramento da Constituição de 1838. D. Maria II governou Portugal num período difícil da passagem do absolutismo ao constitucionalismo. O reinado de Dona Maria findou com seu passamento ocorrido em 15 de novembro de 1853, sendo oficialmente reconhecida como Sua Majestade Fidelíssima, Maria II, pela Graça de Deus, Rainha de Portugal e Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhora da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc.

 

Nota: Sujeito a revisão sem prévio aviso!

 

Vide outros textos nos Links da imigração: ÍNDICE: TEXTOS SOBRE A COLONIZAÇÃO POR IMIGRANTES NO BRASIL

https://carlosfatorelli27013.blogspot.com/2020/10/indice-textos-sobre-colonizacao-por.html

 

Referências 

SOUSA, Otávio Tarquínio de. História dos fundadores do Império do Brasil. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2015

SERRÃO, Joel. Pequeno Dicionário de História de Portugal, Lisboa, Iniciativas Editoriais, 1976

MIRANDA, Jorge (introd.) As Constituições Portuguesas, de 1822 ao texto actual da Constituição, 4.ª ed., Lisboa, Livraria Petrony, 1977

SCHWARCZ (org.), Lilia Moritz (2011). História do Brasil Nação: 1808-2010, Volume 1: Crise Colonial e Independência. Rio de Janeiro: Objetiva.

FAUSTO, Boris (2015). História do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo.

FEY, Ademar Felipe. Navio Cäcilia: Lenda & Realidade. Caxias do Sul, 2019. Ed. Clube de Autores (vide nota 1)

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/dona-amelia-de-imperatriz-consorte-busca-pelo-reconhecimento-de-dom-pedro-ii.phtml

www.cycletours.com

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https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Peninsular

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Costa, Sergio Corrêa da Pedro I e Metternich: traços de uma guerra diplomática / Sergio Corrêa da Costa — Brasília: FUNAG, 2022

HANDELMANN, Henrique. História do Brasil. [1a ed. 1859]. Trad. pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Rio de Janeiro: Nacional, 1931.

ORGANIZAÇÃO Dr Jorge Silva Rocha. “O Liberalismo e os Militares em Portugal”- Actas do XXVII Colóquio de História Militar. Europress, Comissão Portuguesa de História Militar, 2019

CASTRO, José Ferreira Borges de. Colecção doe Tratados, Convenções, Contratos e Actos Publicos Celebrados Entre a Coroa de Portugal e as Mais Potencias desde 1649 ao Presente. Tomo IV. Imprensa Nacional, 1857  (https://books.google.com.br/books?id=Y9VVAAAAYAAJ&dq=Collec%C3%A7%C3%A3o%20dos%20tratados%2C%20conven%C3%A7%C3%B5es%2C%20contratos%20e%20actos%20publicos&hl=pt-BR&pg=PA3#v=onepage&q&f=false

https://geopedrados.blogspot.com/2020/08/a-revolucao-liberal-do-porto-foi-ha.html

 



[1] A embarcação que recebeu o nome “Helena e Maria”, também chamado “Helena Maria”, que algumas vezes trocam erroneamente o lado dos nomes femininos (Maria Helena) em muitas obras a respeito do assunto do navio que naufragou na costa da Inglaterra, é chamado de Cacilia, Cacilie ou Cecilia, nome esse que aparece na obra “Cem Anos de Germanidade no Rio Grande do Sul”, do padre jesuíta Theodor Amstad (1851/1938) que veio para o Brasil em 1885. Friedrich Huttenberger autor de How the Guilgers came to Brazil-An emigration in 1827- the rediscovery of a forgotten Palatine emigration, escreveu artigo a partir de sua pesquisa sobre imigrantes palatinos deixando claro que o navio Cacilia não existiu e que o navio se chamava na realidade Helena e Maria. (FEY, p. 43, 2019)

 

[2] Um brigue é um tipo de embarcação à vela, com dois mastros com velas quadradas transversais.

[3] Uma semelhança de fatos: O 1º embarque de imigrantes suíços de ascendência alemã para o Brasil foi efetuado pelo navio Argus, ou Argo. Era capitaneado por B. Ehlers e Peter Zink. O comandante do transporte era Conrad Meyer. Partiu em 27.7.1823 do porto de Amsterdã na Holanda e chegou no Rio de Janeiro no dia 7.1.1824. Trazia 284 imigrantes, sendo 150 soldados e 134 colonos destinados a Colônia Alemã de Nova Friburgo no Rio de Janeiro. O navio enfrentou fortes tempestades ainda no Mar do Norte, vindo a perder o seu mastro principal, obrigando-o a atracar na Ilha Texel na Holanda, de onde, após consertado, reiniciou a viagem em 10.9.1823.

[4] Pender, abater duradouramente (embarcação) sobre um dos bordos, quer pelo deslocamento da carga, quer pelo impulso do mar ou do vento (navio a vela), ficar de banda.

[5] Consta que o Plover Packet, também fez viagem em direção ao Brasil, chegando ao Rio de Janeiro em 7 de março de 1829 (FEY, p. 24, 2019)

[6] Francis Basset, 1º Barão de Dunstanville, FRS (9 de agosto de 1757 - 14 de fevereiro de 1835) foi um nobre e político inglês que ocupou cargos na Câmara dos Comuns britânica de 1780 a 1796. Ele era o ramo júnior da família Basset, cuja linha sênior estava sediada em Umberleigh e Heanton Punchardon em North Devon, mas mesmo assim seu ramo da Cornualha possuía mais terras e, das muitas minas de minerais e estanho dentro de suas posses, acumulou grandes fortuna.

Em 1873 (a primeira vez que tal pesquisa foi realizada) eles eram o quarto maior proprietário de terras na Cornualha, conforme revelado pelo Retorno dos Proprietários de Terras de 1873, com 16.969 acres, depois da família Rashleigh de Menabilly (30.156 acres), o Boscawens de Tregothnan (25.910 acres) e Robartes de Lanhydrock (22.234 acres). Dolcoath, uma das minas de cobre mais ricas da Grã-Bretanha, pertencia aos Bassets da Cornualha. A concorrência das minas galesas forçou Francis a fechá-la em 1787, mas a melhoria do mercado de cobre permitiu-lhe reabri-la em 1799. Homem de negócios astuto, foi sócio do Cornish Bank of Truro e presidente da Cornish Metal Company, e acrescentou como resultado, à sua já grande fortuna. Ele era o filho mais velho e herdeiro de Francis Basset (1715–1769) de Tehidy com sua esposa Margaret St. Aubyn, filha de Sir John St Aubyn, 3º Baronete de Clowance na Cornualha.

[7] D. Maria foi enviada do Brasil para a Europa em julho de 1828, para defender os seus direitos ao trono, tendo ficado a residir em Londres, e a partir de  1831 em França.

[8] Hunsruck ( Hoher Rucken) significa Lombas Mais Altas. Região de planalto ondulado encrustado entre os rios Reno, Mosela, Sarre e Nahe, situada na parte sudeste das montanhas Renânia-Palatinado com 400 e 800 metros de altitudes. Dominam a paisagem os morros Idarkopf e o Erbeskopf.

 

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