quinta-feira, 3 de novembro de 2022

UMA EXPERIÊNCIA DE VIDA JAMAIS ESQUECIDA

Não havia mimimi

Meu pai trabalhava de sol a sol, minha mãe cuidava de tudo da casa, era um barracão de madeira. Em casa eu tinha que cuidar de um chiqueiro de porcos e um galinheiro. 

O bairro Jardim São Luiz, região de Santo Amaro, era mato puro, cheio de teiús, jaguatiricas, sapos  e cobras de toda raça existente no mundo.

Não tinha luz elétrica, era só na base da lamparina, água era de um poço de 35 metros. Banho era da água de um balde com um chuveiro soldado, não tinha mais que 20 litros, se dava para banhar-se muito que bem, se não, saia cheio de sabão mesmo. Andava até Santo Amaro para pegar o ônibus para ir para a cidade de São Paulo, porque senão tinha que pagar 2 conduções para ir e 2 para voltar.

Uniforme de escola era somente uma peça de roupa, calça azul marinho e camisa branca e um Alpargata Rodas, sapato de pano, com um detalhe: nada era dado pelo governo!

Tive uma cartilha e aprendi ali o bê-á-bá, tinha o nome bonito “Caminho Suave”, mas no dia-a-dia não era muito suave não. Depois alguém me deu de presente o meu primeiro livro, porque não havia dinheiro para comprar “Meu Primeiro Livro”(tenho-o até hoje). O sermão da mãe era constante: Vai estudar moleque, para ser gente...estou tentando ser até hoje, para não prejudicar as pessoas!!!

Para as coisas corriqueiras de quaisquer cozimentos usava-se a lenha seca, galhos mortos das árvores, “mocutas” que era recolhida nas matas, fazia-se feixes de lenha para a finalidade desejada. Gás, era artigo de luxo, quem tinha fogão precisava ter  “cota” para adquirir o botijão no caminhão da empresa. 

Comia o que se colocava na mesa, não podia escolher, era o que tinha para engolir. Minha avó fazia umas omeletes com salsinha e cebolinha que era uma maravilha, pois ovo não faltava em casa, tinha quase uma centena de penosas, era o tesouro de nossa casa. Eu não escolho comida até hoje, aprendi a comer de tudo, pois o pouco era uma delícia e meu pai falava que de comida não se reclamava.

Não tinha tempo de ficar sem fazer nada, os velhos encontravam trabalho para eu fazer rapidinho. Meu avô de tempos em tempos mandava eu pegar um carrinho de madeira e recolher todo o esterco nas ruas de terra, para ele colocar num buraco e fermentar com restos de talos de verduras e legumes, casca de ovo para plantar, tudo orgânico. 

Escondi até agora isso, porque não fui o único que não teve vida fácil, mas fomos felizes e muito, com nossos brinquedos improvisados, nossos piões na cela, nossas disputas nas biroscas com bolinhas de gude, pular corda, esconde-esconde, bate lata, com nossos barriletes com rabos de pano de lençóis velhos rasgados lançados ao vento, passar anel, nossas bolas de meia para as peladas de futebol, e acima de tudo, nossos sonhos, que foram os maiores do mundo, no tempo maravilhoso de nossa felicidade de criança! 

Um belo dia chegou a "luz", foi um grande momento, meu pai ligou um rádio usado americano, tinha uma letras bonitas escrita "Bell". Era Tonico e Tinoco todos os dias às 5 da manhã, música sertaneja verdadeira mesmo, chorada na viola!!! Descobri que o "velho" juntou-se com outros e pagou um poste de madeira para a Light trazer os fios até em nossa casa. 

Um dia precisei ir trabalhar, tinha 14 para 15 anos, ganhava metade do salário-mínimo, pois era o que recebia o menor de 18 anos! Tive que procurar o meu caminho, entrei no Senai, estudar para ser gente e agradecer a meus pais pela vida por forjarem-me como homem!!! 

Agora tudo parece o maior drama do mundo, com tudo que se tem, ainda se reclama e cria-se polêmicas intermináveis!!!

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